Pense uma coisa bem boa,
Que num instante você voa,
Lembre o natal a chegar,
Pense em nuvens a passar,
E logo pelo ar,
Vai voar
Vai voar
Vai voar

Pense uma coisa bem linda,
Se você não voa ainda,
Quando a lua despontar,
Siga o raio de luar,
E quando ela piscar,
A voar
A voar
A voar

Você vai, vai ver onde vai
Até onde não se vê
A um terra encantada do além
Com tudo de bom e de bem
A esperar, A esperar por você

Muito você vai gostar,
Quando se sentir levar,
Lindos castelos no ar,
Estrelinhas a brilhar,
Você vai encontrar
Ao voar
Ao voar
Ao voar
Ao voar
Ao voar.

Eu consegui. Eu voei. Enquanto Peter me ensinava, eu pensava que nunca mais iria conseguir voar novamente, pois havia perdido a prática. Além do fato de que na época eu já não voava muito bem, pois precisei do pó de Sininho. Como será que ela estaria? Será que ainda me odiava? Será que foi vítima de um “fadas não existem”? Não gostava nem de pensar na possibilidade. Apesar de que nós não éramos muito amigas, eu sabia que ela e Peter eram. Mas será que ela ao menos se lembrava de nós? Poderia ter encontrado alguém, era realmente uma bela fada...

De repente, estes pensamentos foram afastados. Lembrei-me de Daniel. Que nada importava, senão a felicidade do meu filho. Eu precisava encontrá-lo. Mas onde estaria? E se ele não tivesse sido sequestrado por Gancho, e sim por alguém pior, do mundo real? Logo me arrependi de ter me lembrado disso, pois perdi o equilíbrio no voo. Comecei a pensar novamente em mim e em Peter, no dia em que nos conhecemos, mas não adiantava. Eu estava caindo, e nada poderia afastar meus pensamentos disso.

- Peter! – gritei – Peter, me ajude!

- Wendy! – gritou, voando o mais rápido possível para me pegar.

Mas já não adiantava mais. O chão se aproximava. Aquele era o último momento da minha vida. Tudo o que eu mais desejava no momento era que Peter conseguisse salvar Daniel. Fechei os olhos. Desejei profundamente que tudo ficasse bem no final, que Peter e Daniel conseguissem ser felizes. Mas notei que estava demorando demais para que eu chegasse ao chão. Eu só queria que aquilo acabasse logo. Ainda assim, abri os olhos.

Eu estava a poucos metros da rua movimentada, mas não estava mais caindo. Senti que estava flutuando. Mas como? Não consegui pensar em coisas boas. Quando olhei em volta do meu corpo, vi que estava com um brilho dourado parecido com... Pó de fada! Sininho!

Eu ainda não conseguia falar nada. Estava assustada demais para falar. Escutei Sininho tilintar:

- Você está bem, Wendy?

- Acho que sim... Obrigada.

- Como você me entende?

- Eu...

- Wendy! – escutei Peter gritar de longe.

- Peter!

- Wendy... – repetiu, me abraçando. – pensei que fosse te perder novamente!

Não sei o que deu em mim, mas eu comecei a chorar. Pela queda (ou “quase” queda), por Daniel, por lembrar que ele realmente quase me perdeu um dia...

- Não chore. Vai ficar tudo bem. – então se virou pra Sininho. – Obrigado, Sininho! Você salvou Wendy!

- Peter, algo terrível acabou de acontecer, eu vi! Seu filho está com Gancho!

- Eu sei, eu sei... Espera! Como sabe que eu tenho um filho, Sininho? – perguntou Peter.

Sininho ficou um pouco envergonhada e contou que escutou uma conversa de Gancho com Mr. Smee, dizendo que ele pretendia sequestrar seu filho para que conseguisse atraí-lo. Eu escutei toda a história com muita atenção enquanto ela contava, e, por incrível que pareça, entendendo tudo.

- Então Daniel está mesmo com Gancho? – perguntei.

- Pior. Ele se deixou levar por Gancho.

- Como assim?

- Vai virar um pirata e não pretende ir embora da Terra do Nunca tão cedo.

Dessa vez eu não aguentei. Comecei a chorar. Não conseguia suportar a ideia de que meu filho havia acabado de cometer o mesmo erro que eu. A ideia de se tornar uma pirata foi o pior erro que eu já cometi na minha vida, ele não tinha que herdar isso de mim!

- Não, por favor, não chore! Eu sinto muito ter contado isso!

- Não... – disse eu, enxugando as lágrimas – está tudo bem... Eu vou ficar bem. É só que... Não dá pra suportar isso. Eu não consigo... Peter, não dá! Eu não vou suportar vê-lo cometendo o meu maior erro...

- Wendy... Se eu suportei te ver como pirata e te salvar disso, você consegue suportar Daniel.

- Não! Mas é diferente! Você nunca cometeu esse erro... Não sabe como é ver o seu maior defeito no seu filho, ele...

- Wendy, fica calma, respira. O Daniel também tem muitos dos meus defeitos. Mas veja só no que ele se parece com você: é doce, é gentil, tem a beleza da mãe...

- Peter! Não é hora de tentar me agradar! Nosso filho virou um pirata, ele tem o mesmo instinto de querer estar acima das pessoas que eu tinha... Nós temos que salvá-lo! Temos que tirá-lo das mãos de Gancho, não podemos simplesmente ficar parados e...

- Sabe outra coisa que ele puxou de você? A inteligência. Ele vai saber que se meteu com a pessoa errada e que o certo a fazer é voltar para casa. Ficaremos de olho, quando ele decidir isso nós entramos em cena.

- Mas... Nós temos que ajudá-lo...

- Não. É apenas isso que Gancho quer. Quer nos atrair.

- É verdade – começou Sininho – ele mesmo disse isso, eu ouvi.

Eles estavam certos. Gancho só queria nos atrair para finalmente conseguir derrotar Peter e se vingar de mim. Eu só torcia para que Daniel realmente se tocasse de que ser pirata era uma péssima ideia.

- Vamos. Ainda temos uma longa viagem pela frente até a Terra do Nunca. Sininho?

Sininho jogou em mim o máximo de pó que pôde e fomos voando até a segunda estrela mais brilhante. Eu estava torcendo para que chegássemos logo.