Uma Luz na Torre escrita por Silver Lady


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Não tem situações de sexo, nem violência exagerada. Mas, como tem um bocado de tortura psicológica e situação de suicídio, achei melhor botar pra 13 anos, porque é uma história muito angustiosa. Acho que devo ser a única autora brasileira que escreve sobre O Estranho Mundo de Jack, tanto que originalmente  este fic foi escrito em inglês (o filme é muito popular em sites internacionais). Espero q meus fics ajudem a divulgar mais este filme maravilhoso. :) (a gente tem que ter esperança, né?)



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Uma Luz na Torre

(A Light in the Tower)

 

Parte 1

 

 

Seguro por trás destas janelas e parapeitos de pedra

Gazing at the people down below me

Olhando as pessoas abaixo de mim

All my life I watch them as I hide up here alone

Toda a minha vida tenho-as observado enquanto me escondo aqui sozinha

Hungry for the histories they show me

Ávida pelas histórias que me mostram

All my life I memorize their faces

Toda a minha vida tenho memorizado seus rostos

Knowing them as they will never know me

Conhecendo-os, mesmo que nunca cheguem a me conhecer

All my life I wonder how it feels to pass a day

Toda a minha vida quis saber como seria passar um dia

Not above them

Não acima deles

But part of them

Mas como parte deles

And out there

E lá fora

Living in the sun

Vivendo à luz do sol i>

 

Out There (Lá Fora), do filme O Corcunda de Notre Dame

 

 

Caía a tarde em Halloweentown, pintando suas ruas com tons dourados. Na praça, a pequena Múmia brincava de pegar com o gordinho de camisa listrada. Um homem grande com um machado cravado na cabeça vinha pelo outro lado com um carrinho cheio de abóboras e quase foi atropelado pelos dois garotos. Perto da fonte, as duas bruxas ferviam alguma coisa fumacenta em seu caldeirão, como sempre. O lobisomem conversava com aquele sujeito preto que tinha coisas listradas de vermelho na cabeça.

Pensativa, a garota ergueu os olhos. Seu olhar dirigiu-se para o topo de uma torre alta e escura, que reinava como senhora absoluta dos telhados e chaminés tortas abaixo dela.

A torre do Rei Abóbora. Jack Skellington, o terrível e fabuloso Rei do Halloween, temido por todos, excetuando talvez seu mestre e criador, o Doutor Finkelstein.

Tristemente, Sally tirou os olhos da torre e voltou à sua costura. De sua janela, o mundo lá fora não parecia tão mau e perigoso quanto seu mestre dizia. Tão perigoso que ele não se atrevia a deixá-la sair. Ela era demasiado jovem e inocente e também não sabia ainda o bastante sequer para ser-lhe realmente útil, quanto mais para poder participar das atividades do Halloween. Se alguma coisa lhe acontecesse, ele nunca se perdoaria. E depois, o que seria dele, um pobre velhinho, solitário e indefeso em seu laboratório?

Sempre que ele dizia isso, Sally sentia-se tão egoísta e ingrata por pensar somente em se divertir e por negligenciar seu pobre amo, que era como um pai para ela. Ela tentava abraçá-lo, jurando que nunca o abandonaria, porém a mudança era instantânea. O velho rudemente a empurrava, dizendo que deixasse de besteiras e "fizesse alguma coisa útil, pra variar", o que geralmente queria dizer para preparar-lhe uma sopa. Ela obedecia, mas assim entrava na cozinha, caminhava até a pequena janela gradeada do aposento para espiar o sol lá fora com um misto de desejo e culpa.

Enquanto tudo isso passava por sua cabeça, Sally suspirou de novo, meditando sobre o enigma que era seu criador. Arrematou a costura com um nó e mordeu fora o excesso de linha, depois fitou a sua coxa recém-consertada. Um meio-sorriso torceu o canto de sua boca: muuuito melhor. Estava melhorando rapidamente. O mestre teria uma surpresa; talvez agora sua opinião sobre ela mudasse... ou talvez não. O sorriso se desfez na boca costurada de Sally. Na certa diria que ela havia feito tudo errado e refaria as costuras ele mesmo. Às vezes, Sally se perguntava para que o mestre precisava tanto dela, pois não conseguia fazer nada direito. A sopa sempre estava muito quente, muito fria, temperada demais ou sem gosto algum; sempre havia um dedinho de poeira escapando de suas limpezas mais minuciosas e os jalecos do Doutor nunca ficavam brancos o suficiente, por mais que os lavasse. Era raro o dia em que não recebia pelo menos uma crítica; quando ele não falava nada, parecia-lhe uma recompensa.

Talvez fosse por isso que ele insistia tanto que ela não estava pronta para enfrentar o mundo exterior; se fosse, então talvez ela nunca estaria. Ou então, quando o dia finalmente chegasse, estaria velha demais para ter qualquer interesse no que se passava além do seu confinado mundo, igualzinha ao amo. Tentou se imaginar como uma versão mais alta dele, com jaleco branco e óculos escuros numa cadeira de rodas, e estremeceu. Abanou a cabeça, censurando-se: não era direito pensar mal assim do seu mestre: ele agia assim para o seu próprio bem. Ele era apenas um pouco... severo, acrescentou, e seus lábios se torceram num sorriso forçado. Bruscamente, ajeitou a saia e levantou-se, apanhou um velho pente de madeira sobre a cômoda, depois se sentou de novo. Enquanto corria o pente pelos seus macios cabelos avermelhados, seus olhos pousaram de novo sobre a torre do Rei Abóbora.

De todas as coisas que aprendera sobre o Halloween, Jack Skellington, o Rei Abóbora, era a que a fascinava mais. Não sabia muito sobre o misterioso monarca, apenas o que seu relutante mestre lhe dissera: que ele era um horrendo esqueleto que viajava pelo mundo dos vivos toda noite de Halloween, matando os humanos de medo e às vezes até derramando seu sangue. Sally o imaginava como uma figura que vira uma vez num livro: um esqueleto amarelo de sorriso medonho, envolto num manto negro e carregando uma foice. Mas por mais assustadora que parecesse essa imagem, ou mais cruel que pudesse ser, Sally não conseguia temê-lo, por uma razão muito particular.

Havia noites em que Sally se revirava na cama, incapaz de dormir. Quando isso acontecia, ela se sentava à janela e praticava sua costura à luz do luar. Era comum então ver uma pequena luz brilhando pela janela da torre, indicando que ela não era a única pessoa sem sono na cidade. A luz permanecia acesa lá mesmo depois que suas pálpebras finalmente começavam a pesar e ela voltava para a cama. Até mesmo o todo-poderoso Rei Abóbora podia sofrer de insônia.

De certa forma, essa idéia consolava Sally. Não que ficasse contente por ele ter um problema, ela era sensível demais para ver alguém infeliz. Mas era um tanto recomfortante saber que o ser mais importante da terra do Halloween tinha algo em comum com uma boneca de pano insignificante como ela; aliviava um pouco sua solidão. Ela costumava pensar no que ele estaria fazendo acordado tão tarde da noite e como vivia. Se fazia maldades o tempo todo ou se havia algo de bom nele. Se tinha amigos... sendo tão terrível e temido por todos, ele não deveria ter nenhum, portanto seria tão solitário quanto ela. Na privacidade de seu quarto, chegava a chamá-lo de Jack e a trocar confidências com ele. Ninguém precisava lhe dizer que era idiotice: o verdadeiro Jack Skellington jamais perderia tempo com uma boneca de trapo; no máximo, a faria em pedaços pelo atrevimento de dirigir-lhe a palavra. Era apenas uma fantasia inocente, uma perda de tempo sim, porém ao menos a impedia de enlouquecer presa ali dentro. Ela nunca tivera ninguém com quem conversar e partilhar seus sentimentos, seus dissabores, a maneira como se sentia dividida entre seus sonhos e seu dever para com o homem que lhe dera vida. Nada a não ser fantasias sobre um estranho. Talvez fosse besteira, mas ainda era muito melhor do que pensar mal de seu mestre ou se indagar por que não conseguia ficar satisfeita com a vida que levav...

—Sally!_chamou uma voz áspera.

 

Continua.

 

Este fanfic não é só mais uma tradução; é meu mesmo, escrito originalmente em inglês para a Fanfiction.net (e alguns outros sites). Eu adoro o Estranho Mundo de Jack e tinha vontade de colocá-lo aqui, mas sempre tive dúvidas se alguém o leria, ou sequer iria entender, já que não é um filme muito popular no Brasil. Bom, segundo as respostas no fórum, parece que também há apreciadores de Jack e Sally na UMDB...

A canção de Quasímodo está passada aqui na versão original em inglês, não a dublada. Sempre achei que tinha tudo a ver com Sally e o Dr. Finkelstein.

 

 


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