Kit Black: Viajantes De Mundos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 2
Uma Segunda Chance


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo...boa leitura.



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Quando ela abriu seus olhos, parecia que tinha dormido por um século. A dor tinha passado, mas Alyson não se sentia normal. Ela estava num parque, cercada por árvores, com uma luz dourada emanando de todo o lugar. Um vulto negro encapuzado estava ao seu lado.

Quem é você?

Eu? -O vulto dirigiu-se a ela, numa voz feminina e calma: -Em alguns lugares sou conhecida como o fim da vida, em outros como destruidora, outros ainda me chamam de ladra. -Fez uma pausa, na qual Alyson balançou tristemente a cabeça, e continuou: -Mas para você, sou apenas Morte.

E você vai me levar para o céu, ou para o inferno?

Para nenhum dos dois. -Respondeu a Morte, tirando o capuz e mostrando-se para a jovem. Essa esperava ver um crânio chamejante, mas logo se tranqüilizou: o rosto da Morte era bonito, mais belo, talvez, de que qualquer rosto que existe sobre a terra. Tinha cabelos negros, que chegavam até a cintura, olhos negros, nada assustadores, mas cheios de mistérios intrigantes. A pele era pálida como a luz da lua, os lábios vermelhos e carnudos.

Mas eu não morri?

Você está morta.

Então eu tenho que ir para algum lugar, não é?

Isso é o que acontece com todos.

E?

Bom, aconteceria com você também, porém há uma missão valiosa a cumprir.

Missão?Que tipo de missão?

Siga-me. -Chamou a Morte. Alyson a seguiu por toda a estrada em meio ao parque, depois pelo caminho que levava até uma colina alta e coberta de uma grama verde quase cintilante. Subiram a colina e no seu topo havia um lago minúsculo.

Sente-se.

A garota sentou-se com as pernas cruzadas na grama, e olhou para a Morte.

Você é uma garota de coração nobre. Preferiu morrer sozinha a compartilhar essa experiência com os seus amigos, e depois de tanto pedir para morrer, não se arrependeu. Por quê?

Não acredito que a morte seja um castigo, nem uma falta de sorte.

É mais diferente do que aparenta, Alyson Valoem, ou não seria melhor dizer Kit Black?

Kit Black é meu codinome.

Claro. -Concordou a Morte, mas de um jeito estranho.

Mas... A senhora não disse que eu tenho uma missão?

Tem. Precisa deter uma assassina fria e cruel.

Deter?

É. De tentar dominar os mundos. Mas isso você vai descobrir com o tempo. Para mim foi dada apenas a obrigação de lhe entregar isso. -E dizendo isso, a Morte botou um cordão no pescoço de Alyson. O cordão era prateado, e tinha a forma de uma estrela envolvida por uma lua, e ao seu redor havia um aro de prata.

E como estão os outros?

Isso você mesma pode ver. -Disse a Morte, tocando com o dedo indicador o lago. A superfície lisa e transparente agitou, e no seu centro apareceu uma imagem embaçada.

Por que está tudo embaçado? -Perguntou Alyson.

Infelizmente o Mundo Real é altamente suscetível a se corromper. E a maldade se espalha pelos corações humanos tão rápido quanto um veneno num corpo frágil.

Alyson olhou para o lago. A imagem tinha se tornado finalmente visível. Ela viu alguém chorando sobre o seu corpo, desconsoladamente. Não demorou muito para perceber quem era: Ken!

Pelo amor de Deus, Ken, ela morreu, chorar não vai trazê-la de volta. Eu gostaria muito de te mandar para junto dela, mas eu prefiro não atacar pelas costas. Quero muito me divertir com isso. -Disse um rapaz ao seu lado, dramaticamente.

Vai para o inferno! -Ken deitou o corpo de Alyson delicadamente no chão e levantou-se. Cravou seu olhar no rapaz, seu rosto expressava um ódio quase homicida. -Eu vou matar você, Driguem. Essa é a gota dágua.

É a hora de você voltar. -Alegou a Morte, voltando-se para Alyson. -Por mais que Driguem mereça morrer, essa não é a hora dele. E não me preocupo só com a morte dele, mas também com Kensuke. Vá, e evite que ocorra algo grave. Todos têm um papel a cumprir, e pode ser que esses dois sejam muito importantes no seu destino.

Alyson levantou-se: -Posso saber uma coisa?

O quê?

Por que os humanos temem tanto você?

Eu sou o oposto da coisa que todos os homens mais cobiçam. A imortalidade. Na realidade, ela é abençoada por aqueles que nunca poderão tê-la, e amaldiçoada por quem a tem na mão.

Obrigada. Mas creio que é a hora de dizer adeus.

Não diga adeus. Diga até outro dia. Nós ainda nos encontraremos, mais vai demorar muito.

Alyson viu a linda paisagem ao seu redor desvanecer, e sentiu que mais uma vez mergulhava na escuridão. Seu corpo começou a doer e ela abriu os olhos. Estava novamente na rua em que morrera, e sua roupa estava empapada de sangue. Mas, ao invés do ferimento que havia lhe tirado a vida, apenas uma cicatriz, em forma de cruz, restara. A dor desapareceu completamente, e só ficou a memória da Morte, nada mais Além do medalhão, que ainda estava em seu pescoço.

Alyson levantou-se com esforço e tentou desesperadamente achar Ken. -Espero que eu não tenha chegado tarde demais.

Olhou de um lado para o outro e conseguiu localizá-los. Os dois travavam uma batalha violenta, que terminou com a espada de Ken voando longe e Driguem mirando o arco em seu coração. Alyson quase teve um colapso nervoso: -Qual é! E agora o que eu faço? -Olhou injuriada para o cordão no seu pescoço e retirou-o. -Vamos, me dê uma luz! -Por um instante algo passou pela sua cabeça. Uma voz familiar dizia para mostrar sua verdadeira forma. Ela reconheceu prontamente a voz que havia lhe avisado que iria morrer. Concentrou-se no medalhão e começou a repetir para si mesma sem cessar: mostre minha verdadeira forma, mostre minha verdadeira forma, mostre....

Repentinamente sentiu que estava mudando. Mas não sabia nem como, nem por quê. Quando deu por si, tinha orelhas de gato, uma cauda negra e suas unhas tinham ficado afiadas como garras. O seu espanto foi logo subjugado pelo pensamento em Ken, que daqui a poucos minutos seria transpassado por uma flecha. -Ah, ele não vai. Não vai mesmo!

Com todos os motivos para matar alguém, qualquer pessoa normal pensaria duas vezes antes de cometer um crime. E a grande pergunta é: Até que ponto você iria até que tivesse a vontade de matar alguém?

Foi uma questão de minutos (ou seriam segundos?), para Alyson chegar aonde queria. Mais uma pequena pergunta: Se alguém ameaçasse matar o seu futuro namorado, o que você faria?

Se encostar em mais um fio de cabelo dele, você é um homem morto. -A voz de Alyson chegou como uma apunhalada, bem atrás de Driguem.

Quem deveria estar morta aqui é você, não? -Disse Driguem, virando-se e encarando Alyson com olhos vermelhos como brasa. -Nunca pensei que iria me sentir tão bem em conhecê-la, Kit Black.

Não use o meu nome em vão -ela disse instantaneamente e, antes que pudesse reparar no que tinha dito, foi cortada por Driguem.

Claro, se é assim que prefere.

Eu preferiria que você fosse embora enquanto pode, para que eu não precise sujar as minhas mãos te mandando para o inferno!

Eu vou, queridinha, mas eu volto. E quando eu voltar é bom estar preparada para pagar por sua ousadia.

Se voltar, pode ter certeza que não terei misericórdia.

Palavras bonitas para quem acabou de reviver. Ou será que os boatos são verdadeiros e a grande salvadora de Diamante retornará finalmente? Eu não gostaria de estar na sua pele, principalmente quando Haradja te encontrar.

Quem? -Alyson perguntou, mas tarde demais. Driguem tinha desaparecido numa nuvem de fumaça, e deixado atrás de si várias perguntas.

Ken levantou-se meio em choque e olhou para Alyson: - Está viva? Como você sobreviveu?

É uma longa história. -Respondeu a garota. -Você está bem?

Na medida do possível. Mas eu quero saber o que aconteceu com você.

Comigo? Nada não, eu só bati um papo com a Morte. Eu tenho uma moral com o pessoal lá de cima e nem sabia. -Comentou, olhando para o céu e dando um muxoxo.

Mas... Você tem certeza da que está bem? -Perguntou Ken, chegando mais perto e colocando a mão na testa da garota.

Você está variando? Já não disse que estou legal?

É quê...

Quê?

Eu fiquei com medo de te perder. -Ele confessou, abraçando-a.

Sinceramente, achei que quase ninguém fosse sentir a minha falta. Ela disse, sem soltá-lo.

Quando é que deu pra ter esses pensamentos idiotas? -Ele riu, tentando fugir do assunto.

Se isso te consolar, quando eu morrer de vez, eu volto para buscar você.

Promete? Eu não sei se posso viver sem você.

Claro. -Respondeu Alyson, pensando ao mesmo tempo: Duvido muito que Dona Morte ia me oferecer uma honra dessas.

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Alguns minutos depois, os dois estavam sentados na confortável sala da casa de Alyson, com Cloe e Sacha, para tentar achar uma explicação.

Alyson estava deitada no sofá com uma roupa limpa e com uma compressa de gelo na cabeça. Ken estava na poltrona, limpando um ferimento superficial que uma das flechas de Driguem tinha feito no seu ombro. Cloe observava o medalhão da Morte atentamente, sentada no outro sofá. Sacha acabava de chegar da cozinha, com uma xícara cheia de líquido verde na mão.

Prontinho! -disse ao entrar, dando a xícara para Alyson e sentando junto com Cloe.

Você tem certeza que isso aqui é pra dor de cabeça, Sacha? -Perguntou ela, fazendo uma careta e cheirando o chá.

Quer discutir comigo? Se tiver uma coisa que eu sei fazer bem, essa coisa é cozinhar.

E de que é o chá? Tem cheiro de mato.

Porque é mato! -Alegou Cloe, afirmando, categoricamente: -Eu disse que era a erva da direita, mas ela cismou que não era.

Eu... Vou ficar com o bom e velho gelo mesmo. -Desistiu Alyson, colocando a xícara cheia numa mesinha ao lado do sofá.

Afinal, de onde saiu essa sua dor de cabeça? -Perguntou Cloe, voltando a sua atenção para a amiga: -Você levou uma flechada no coração, não foi?

Foi. Mas desde a hora que eu voltei essa dor de cabeça está me matando. -Respondeu, amuada. -Falando nisso, você descobriu alguma coisa sobre esse medalhão?

Nada. Parece até que veio de outro mundo. Não tem nada sobre ele escrito em lugar algum. Geralmente quando se tem um artefato que supostamente tem poderes, ele fica em um museu, ou escondido.

Mas deve ser de outro mundo mesmo, foi a Morte quem deu. -Alegou Sacha, completando: -Ou você acha, como eu, que Alyson está com um parafuso solto?

O que eu acho é que vou te fazer em pedaços se repetir isso de novo. -Ameaçou a jovem, vermelha de raiva.

Não, eu não acho que nossa amiga pirou. -Continuou Cloe. -Além do mais, não há nenhuma explicação plausível para o fato dela ter levado uma flechada em pleno coração e ter sobrevivido.

Concordo com ela. -Disse Ken, entrando na conversa.

E eu acredito em poderes ocultos e em magia, apesar de, na maioria das vezes, tentar achar uma solução cientifica para uma grande parte de fatos estranhos.

Nisso você puxou o seu pai. -Comentou Alyson. -Enfim, pode continuar.

De acordo com os meus cálculos, a sua transformação deve ter algo a ver com o episódio do gato. Quer dizer, quais são as possibilidades de um lobo, um gato e um pássaro atacarem a gente no mesmo dia? Alegou Cloe, concluindo: -Isso me faz imaginar que, se você transformou-se em meio-gata, é provável que nós vamos nos transformar também.

Uma grande probabilidade, na minha opinião. Disse Ken. Seu olhar pareceu vago. Foi mal... Isso é tudo culpa minha.

Como é? Questionou Alyson, o fitando.

Por isso que o assassino o conhece. Contestou Cloe. Vai contar o que você sabe para nós, Ken?

Já devia ter aberto o jogo há muito tempo. Sabia que havia algo errado, mas não me esforcei para descobrir o que era. Vou contar tudo para vocês.

Tudo o quê?

A minha história... É melhor começar do início...

De preferência. Resmungou Alyson, cruzando as pernas.

Deixe-o falar, amiga. Pediu Cloe.

Desculpe, não estou com muita paciência para isso hoje.

Claro, estamos todos muito calmos com relação a tudo isso. Não é? Ironizou Cloe. Continue, Kem, por favor.

Quando eu tinha doze anos, meus pais foram assassinados.

Seus pais foram assassinados? Questionou Sacha. Alguém não devia gostar nada deles.

Kensuke olhou-a pensando seriamente que aquela ali não tem mais jeito, e já ia respondendo quando Cloe o interrompeu. Ignore seus argumentos idiotas como eu. Assim você poupa saliva.

E tempo precioso. Completou Alyson.

Sem lugar para onde ir, e querendo vingança, me refugiei junto a um antigo mestre de artes marciais. Chamavam-lhe de Viajante de Mundos, e, sinceramente, eu nem imaginava o porquê. Enquanto eu treinava com ele (que também era um ótimo espadachim), descobri quem tinha assassinado meus pais... Driguem.

Espera aí... -A jovem interrompeu de novo. Quantos anos ele tinha nessa época?

A minha idade. Doze anos.

Ele já era um assassino com doze anos? Alyson continuou, chocada. Que horror.

Chocante, não é? Ele fazia parte de um grupo de exilados da sociedade espadachim, por serem desonestos e formarem assassinos muito jovens. O grande problema foi que Driguem jurou cumprir todas as suas missões completamente.

O que isso quer dizer? Perguntou Sacha.

Ou seja, não deixar ninguém vivo. Traduziu Cloe.

Exato. Ele foi atrás de mim.

E imagino que você foi lá mexer com quem não devia. Disse Alyson.

Pensei. Apenas pensei. Meu mestre me disse que, se eu me vingasse, seria igual a ele. E que se eu fosse matá-lo, que fosse por um bom motivo, que não fosse vingança. Para não fazer nenhuma besteira da qual eu poderia me arrepender depois, resolvi vir para Petrópolis. Mas antes de partir meu mestre me explicou o motivo do apelido: ele nascera em outro mundo, paralelo ao nosso, chamado de Reino Diamante. Há outro ainda, o Mundo da Imaginação, onde todas as histórias feitas no nosso mundo criam vida. O Viajante de Mundos me advertiu que Driguem mais cedo ou mais tarde se uniria a uma assassina de Diamante, que quer dominar todos os mundos, para destruir a única pessoa que pode detê-la. E, finalmente, me explicou que veio a este mundo com uma missão...

Achar um rapaz, para que pudesse contar sobre seu mundo e para que este fiel aprendiz encontrasse a salvadora de Diamante. E levasse-a para lá. Adivinhou Cloe.

Então foi tudo planejado? Questionou Alyson, rouca.

Quase tudo. A Morte estava encarregada de te entregar o medalhão, mas não era para você ter morrido... E eu nem imaginava que fosse você. Eu precisava ter pensado nisso, com todos os seus devaneios... Você não devia ter morrido. Eu tinha que proteger você. Desculpe-me.

Tinha que ter algum erro de cálculo, né? Disse Sacha. Ele não podia saber de tudo.

Foi tudo planejado nos mínimos detalhes. Isso quer dizer que as coisas não estão mesmo boas lá em Diamante. -Argumentou Cloe. -Devem estar precisando mesmo de ajuda.

E vão ter. -Alyson levantou-se do sofá bruscamente. -Eles pediram ajuda, de certo modo, e eu não vou cruzar os braços e fingir que não é comigo.

Então concordamos, vamos partir.

Para onde?

Para um dos cinco portais que ligam esse mundo à Diamante. O portal de Stonehenge.

Eu sabia! -Exclamou Cloe.

Posso perguntar: sabia o quê? -Replicou Alyson.

Que havia algo místico em Stonehenge. Sempre achei que algo lá era de outro mundo, sobrenatural. É um lugar muito magnético, sabe?

Você não é a única que acha esse lugar místico, lembra-se? A quantidade de gente que sente isso é bastante grande.

É, verdade. Mas uma vez que você visita o Stonehenge, jamais esquece. Da próxima vez que eu me mudar, vou ver se arranjo uma casa perto de Wiltshire.

Não nessa vida, querida. Passamos muito tempo sem se falar, e você quer ir embora de novo? -Disse Sacha.

Por que nunca me disse que visitou o Stonehenge? -Cortou Alyson.

Eu esqueci... E, aliás, sendo filha de quem eu sou, isso não deveria ser uma surpresa.

Tem alguma idéia de quanto tempo vamos levar para chegar lá? -Questionou Ken.

De avião, mais ou menos uns dois dias. Mas eu não sei ao certo, pode demorar três.

Vamos precisar de um avião. -Comentou Alyson, olhando para cima.

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Horas depois...

Esse é o avião mais rápido que eu consegui. -Disse Cloe, na Bahia de Guanabara, Rio de Janeiro, apontando para o hidroavião complexo e grande que o pai tinha lhe dado, anos antes. O piloto saiu do veículo e lhe entregou as chaves. Era um rapaz atraente, de cabelos castanhos claros e olhos azuis. Teria uns vinte e seis anos, no máximo.

Obrigado Elliot. Vou ficar te devendo essa.

Sem problemas. Eu ia ter que vir de um jeito ou de outro. O que quer que eu diga para seu pai quando ele chegar?

Diga que eu... Volto daqui a quatro dias. Eu espero que não fique entediado, aqui sozinho.

Não, já estou acostumado. Boa viagem, e vê se vocês criam juízo, em?

Pode deixar. -Respondeu Cloe. -Vai de moto, é mais rápido.

Não, tudo bem, o James têm um carro estacionado em algum lugar por aqui...

Papai já está aqui?

Em uma visita, acho... É melhor eu ir.

Então tá. Tchau.

Elliot deu um beijo na testa da garota e pegou as chaves que ela lhe estendia. Pode levar ela para casa? Não posso sumir por três ou quatro dias e deixar minha moto estacionada em qualquer lugar.

Ele sorriu e acenou com a cabeça, afastando-se, minutos depois desaparecendo numa curva da estrada. É preciso explicar que Cloe foi de moto na frente, para preparar os procedimentos para a viagem, e os outros foram de ônibus (o que causou muitos protestos por parte de Sacha).

Quem é? -Perguntou Alyson.

Não acha ele velho demais para você, Cloe? -Alegou Sacha.

Pára de falar besteira, Sacha, é obvio que ele não é namorado da Cloe. -Retrucou, virando-se para Cloe depois. -Mas sério, quem é ele?

É o meu meio-irmão mais velho, o Elli, se lembra? Aquele que estudava na Inglaterra.

Aquele é o Elliot? Da última vez que o vi, era um adolescente marrento e metido. -Comentou Alyson, surpresa, tentando relembrar a ultima vez que o tinha visto, dez anos antes. -É, as pessoas mudam.

Incrível né?

Espera aí... Ele não chama o pai de vocês de pai.

Pois é, Elliot está numa fase difícil, para falar a verdade só chama o nosso pai desse jeito quando está de muito bom humor ou em situações especiais... Quando visitamos nossa avó, principalmente.

Ela tem paranóia com essa história de filho pródigo ainda?

Sabe como são os mais velhos. Ela disse, fazendo uma careta de indiferença. -Agora, quem vai pilotar o hidroavião?

Você não sabe pilotar?

Sei. Mas eu preciso tirar um cochilo. Eu madruguei, para chegar aqui cedo. Mas se quiserem que eu pilote...

Pode deixar, Cloe, você já fez o bastante conseguindo o hidroavião e as coordenadas de vôo. -Decidiu Ken.

Você sabe pilotar? -Questionou Alyson.

Sei e tenho permissão.

É, gatinha, você é a única aqui que não dirige nem pilota coisa alguma.

Isso é porque eu tenho bom senso, ao contrário de você, Sacha.

Enfim, vamos logo. Entrem no hidroavião, por favor. -Pediu Ken evitando uma discussão.

Trancou a casa, Ly?

Alyson detestava ser chamada assim

Claro, lhe pareço irresponsável? Agora se eu fosse você, Sacha, parava de gracinhas. -Respondeu a jovem, entrando no hidroavião.

Está bem, já parei.

O hidroavião finalmente alçou vôo. Começava, neste instante, um novo capítulo da vida desses quatro jovens. O que eles encontrariam pela frente? O que a ardilosa deusa do destino terá traçado em seu caminho? Muitas vidas dependeriam deles, e Alyson e os outros tirariam coragem de nem se sabe onde para enfrentar tudo o que lhe foi reservado. Mas estou muito à frente, e não quero revelar nada antes da hora. É melhor continuar de onde parei.

A viagem começou bem. Depois de algumas horas, pousaram numa clareira. As árvores em volta formavam sombras medonhas no chão, e a lua cheia aparecia no céu estrelado com uma aura vermelha ao seu redor. Os viajantes estavam sentados em volta de uma fogueira, assando marchmallows, depois de um jantar mais ou menos nutritivo.

Isso me lembra um acampamento de verão. -Comentou Alyson, espetando um marchmallow em seu graveto.

Cloe a fitou por uns instantes e jogou um pedaço do seu doce para um esquilo que ousava chegar mais perto. -Lembra mesmo.

Nunca gostei muito deles. -Confessou a garota, dando um suspiro. -Cercada de imbecis, no meio de uma floresta, sem nada de muito interessante para fazer. Um tédio total e perpétuo.

Alyson Valoem entediada? Achei que não viveria para ver isso. Para falar a verdade, nem imaginava que um dia você foi para um acampamento. Não é muito a sua cara. -Comentou Ken.

Acredite, não é mesmo.

O esquilo que há poucos minutos estava devorando um pedaço de marchmallow, largou o doce e fugiu.

O que será que deu nele? -Perguntou Sacha, sem o mínimo interesse.

Sei lá. Estava quieto ainda há pouco. -Foi a resposta de Cloe, mas dirigida a ela mesma do que à Sacha.

Creio que não se deve esperar muito de animais selvagens. Quando a natureza os chama, eles vão. -Kem explicou, antes de morder um marchmallow.

Alyson, que não estava prestando nenhuma atenção na conversa sobre os animais selvagens, se sobressaltou com um som de galhos quebrando atrás de si.

Ken notou o movimento e perguntou: -O que foi?

Escutou algo?

Não. Só o vento batendo nas árvores.

E o crepitar da fogueira. -Completou Sacha.

Cloe despertou do seu devaneio e virou-se para a amiga. -Ouvi. Alguma coisa está se aproximando. Parece...

Alguém caminhando dentro da floresta. -Completou a outra, levantando-se.

Vocês têm certeza? -Ken parecia estar bem preocupado.

Absoluta. Não conseguem ouvir?

Está se aproximando. Devagar, mas está. -Prosseguiu Cloe.

Em todo caso, não é melhor nós entrarmos no hidroavião? -Sacha perguntou, se escondendo atrás de Cloe. Parecia ter saído de dentro de um túmulo, de tão pálida.

Até que enfim você tem uma boa idéia. -Implicou Alyson, apagando a fogueira e entrando junto com os outros no hidroavião.

Estão cientes que isso é um exagero, não estão? -Retrucou Ken, sentando na cadeira do piloto e cruzando os braços.

Melhor prevenir do que remediar. -Alyson explicou.

Sabe também que, seja o que for, podemos muito bem enfrentá-lo.

Podemos resolver isso com a luz do sol. Não vamos abusar da sorte, é preferível ficar uma noite de vigia do que se arriscar a se meter em uma enrascada.

Ok, eu desisto. Mas se algo resolver nos atacar, vou pessoalmente ter uma conversinha com ele.

Esfria a cabeça, Ken, pode ser só um animal. E vamos ficar de vigia. -Tranquilizou a garota. -Quem de nós vai ficar com o primeiro turno?

Eu fico. Vou te acordar daqui a três horas. -Disse Cloe.

Ótimo, boa noite. -A garota cobriu-se com uma capa, sentou-se em seu banco e jogou o capuz sobre a cabeça. Kensuke se aconchegou no banco do piloto e logo caiu em um sono conturbado. Sacha se espreguiçou, reclamando algo sobre aqueles bancos serem impróprios para se dormir, mas acabou por adormecer. Cloe tamborilou os dedos no braço de seu banco, nervosamente, e se preparou para vigiar.

A noite passou sem mais preocupações. A não ser o som que Cloe, e três horas depois Alyson, voltaram a escutar, tudo ao redor parecia estar dormindo, e a manhã começou com uma estranha calma no ar.

Então, nada? -Questionou Alyson de manhã, colocando a mão nos ombros de Ken.

Absolutamente nada. -Respondeu ele, de mau humor.

Vai ficar emburrado por causa disso o dia inteiro?

Não é alguém andando no meio da mata que está me incomodando.

Ou um animal... Não sei dizer ao certo. Mas afinal de contas por que você está assim?

Ele deu de ombros e abaixou a cabeça, deixando a franja loira cobrir momentaneamente os seus olhos: -Estou com um mau pressentimento. E quando estou assim acontecem coisas ruins.

O garoto mal terminou de falar e um grande tremor de terra abalou o local, fazendo voar areia e folhas mortas para todo lugar. Quando a matéria morta se assentou, os dois puderam ver uma pessoa encapuzada e de capa negra, parada a alguns centímetros do hidroavião.

É... Isso não parece bom. -Comentou a jovem, fitando o desconhecido e olhando em seguida para Ken.

Não parece mesmo. Acho que encontramos a pessoa que estava andando na floresta ontem. Ele comentou, sem se abalar.

O que você sugere?

Vamos ver o que ele quer. Mas é bom ficarmos em alerta.

Não tem nada melhor em mente?

Sinceramente... Não.

Ela olhou para cima aflita, mas acabou seguindo o rapaz para fora do hidroavião. Em instantes eles e o desconhecido estavam frente a frente, encarando-se. Os dois estavam prontos para atacar se o visitante desse um passo em falso. Não podiam ver seu rosto, encoberto pela sombra do capuz, mas seus olhos emanavam uma luz amarela forte, tendo a retina riscada, como um gato. A jovem não pensou duas vezes e logo se concentrou para se transformar em meio-gata. Ken puxou a espada que estava atada em suas costas e entrou numa posição de defesa. O estranho nem se mexeu. Seus olhos amarelos vivos encontraram-se com os olhos esverdeados e atentos de uma Alyson transformada e logo se apagaram.

Quem é você? -Perguntou Ken calmamente.

Alguém que está aqui para ajudar.

Isso não diz muito. -Comentou Alyson. -O que quer?

Eu já disse. -Respondeu a voz masculina, tranquilamente.

Creio que sabe que não vamos nos conformar com essas meias explicações, o que significa que se você não abrir a boca para dizer algo que faça sentido as conseqüências podem ser desastrosas. -Retrucou Ken.

O desconhecido ficou silencioso por alguns momentos e, finalmente, perguntou: -E como exatamente vocês vão me forçar a falar?

Já que o diálogo nem sempre funciona... -Ia dizendo Ken a garota, antes de pular e atacar o desconhecido com um golpe certeiro... Que, por incrível que pareça, não atingiu nada além do chão de terra fofa. Ele olhou para trás bem a tempo de desviar de um chute do rival. O estranho usou sua rapidez estupenda para desarmar o rapaz, acertando o pulso de Ken com um chute sem, porém, machucá-lo seriamente. Ouviu-se o barulho de ferro batendo no chão e Ken percebeu, com desgosto, que sua espada tinha voado longe, e estava fora de alcance naquelas condições.

Eu adoraria travar um duelo mais demorado com você, jovem espadachim, mas o tempo urge. E já disse que não quero o seu mau.

Antes que o rapaz pudesse revidar, seus pés e pulsos se juntaram, como se estivessem sendo amarrados por grossas cordas. Passado o momento de surpresa, Ken tentou se soltar. Novamente em vão. Até parecia que seus pulsos e suas pernas não o obedeciam.

Foi a vez de Alyson entrar em ação. Ela saltou bem atrás do rival, deu um rodopio com a mão no chão e acertou um chute bem na boca do estômago do estranho. Pego de surpresa, este cambaleou. Ela aproveitou a sua vertigem e se aproximou para dar um golpe. Não teve tanta sorte dessa vez. Ele se recuperou rápido, e impediu o gancho de direita com uma das mãos. A garota fez uma cara de frustrada quando o golpe falhou. Tinha sido lerda demais, dizia a si mesma. Tão lerda que ainda deu tempo do inimigo segurar seu punho com a mão direita. Ele levantou-a facilmente, apenas pela mão, a alguns poucos centímetros do solo.

Alyson tentou mais uma vez. O máximo que conseguiu foi ter a sua outra mão presa pelo homem. Ele soltou uma gostosa gargalhada e disse, aparentemente de bom humor: -Vejo que é perseverante, tampinha. É você mesma que eu vim ver. Agora se pararem de tentar me matar eu ficaria muito grato mesmo. Não vim de Diamante para ser desfiado pelas pessoas que tenho de zelar, e, se ainda ignoram, feiticeiros também se cansam.

Feiticeiro??? -Disseram Ken e Alyson, em uníssono.

É, acho que foi o que eu disse sim. Querem que eu desenhe?

Os outros dois olharam-se perplexos. -Não.

Que bom. É, eu sou um feiticeiro. Meu nome é Crós. Crós Salem Shadownhite. É um prazer conhecê-los. -Apresentou-se ele, fazendo um leve movimento com a cabeça sem, contudo, tirar a capa ou mostrar o rosto.

Os pulsos de Kensuke se soltaram imediatamente. Crós também soltou as mãos de Alyson que se estatelou de bunda no chão. Ela olhou constrangida para o aliado que, sem saber, tinha tentado destroçar.

O que você veio fazer aqui afinal Crós? -Perguntou Ken, pegando sua espada e fitando o feiticeiro.

A principio apenas acompanhá-los. A não ser, é claro, que acabem se metendo em confusão. Nesse caso teria um enorme prazer em lutar ao vosso lado.

Quem lhe garante que eu vou me meter em confusão? -Rebateu a jovem, franzindo as sobrancelhas.

Ken e Crós, num momento de cumplicidade, coçaram as cabeças. Nem é preciso dizer que Alyson ficou vermelha como um tomate (sem saber ao certo se de vergonha ou de raiva).

A porta do hidroavião se escancarou e Cloe surgiu, arrumando os cabelos. Olhou para os dois amigos e exclamou: -Há-há, vocês estão aí. Não é melhor irmos logo, vamos acabar chegando tarde... -Ela viu Crós e parou:- Quem é você?

Ele é o Crós... A gente explica depois. Declarou Ken.

Alyson o fitou, aparentemente chocada.

O que foi?

Nada, só a sua facilidade de concordar com as coisas de vez em quando me deixa abismada. Ela exclamou.

Se ele quisesse nos matar já teria feito isso. Agora, podemos ir?

Ok, ok. Vamos.

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A jovem passou as mãos pelos cabelos castanhos. Ela tinha a pele morena, e olhos castanhos avermelhados. Suspirou. Estava preocupada. O bip-bip insistente do comunicador a despertou da sua abstração. Pensou em tacar aquela coisa, que parecia mais uma caixinha de pó-de-arroz, preta com um dragão vermelho decalcado na parte de cima, longe... Mas resolveu atender. Abriu o comunicador e avistou a figura já conhecida na pequena tela. Iris falando.

Oi, Iris. A garota já chegou?

Iris suspirou e fitou a tela aturdida: -Sinto dizer, senhor... Mas não, ainda não.

Sabe que não precisa me chamar de senhor o tempo todo, não é?

Silêncio.

Tá, se tiver notícias da garota entre em contato.

Sim senhor. Ela respondeu, e fechou o comunicador, encerrando a conversa. Deixou-se afundar na poltrona macia, e seu rosto se nublou. A verdade é que sentia muita saudade dele. Não admitia, mas no fundo sabia que aquela distância estava matando-a, aos poucos. Mal podia imaginar que se separariam mais ainda.

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A noite desceu, e encontrou o hidroavião ainda no céu. Ken já estava morrendo de sono, e não havia nenhum lago, baía ou qualquer lugar em que pudesse pousar. Foi com extrema cautela que Crós chegou perto e perguntou, solícito: -Quer que eu pilote?

Em outras circunstâncias Ken diria não. Ele tinha deixado Crós vir com eles, mais não queria dizer que confiasse plenamente nele. Porém os seus olhos estavam pesados, ele estava muito cansado, e é preciso estar bem acordado para pilotar um veiculo aéreo. 1º porque caso tenha uma montanha no caminho, precisa-se de muita concentração para não bater nela. E 2º, caso ele bata na montanha, além da possibilidade de acabar morto, ele teria que explicar muita coisa para a polícia, o exército, a aeronáutica...

Fique à vontade. O rapaz alegou, deixando Crós sentar em seu lugar e se afastando.

Alyson ouviu seus passos pesados e arrastados de exaustão se aproximarem, e ele desabar no banco ao lado dela. Cansado?

Desesperadamente.

Posso fazer uma pergunta, antes de você apagar?

Diga.

Por que não me contou?

O quê?

Sobre Diamante... Sobre mim

Não sabia que era você.

Só por isso? Podia ter me contado... Mesmo que não fosse eu, poderia ajudar você.

Eu duvido muito.

Acha que não posso cuidar disso?

Você não consegue nem cuidar de si mesma. Retrucou Ken, de cara feia.

Mas é claro que sim. Ela alegou.

Então me explica por que você morreu.

Ela engoliu em seco: -Não confia em mim?

E, você, confia em mim?

Alyson não sabia o que responder. Viu-se, de repente, sem palavras. Você... Não respondeu a minha pergunta.

Sinceramente? Ele não soube o que lhe deu naquela hora, para que respondesse, indiferente: -Não, eu não confio.

Foi como se ela tivesse levado um soco no meio da cara. Uma fúria repentina se apoderou do seu corpo. A garota chegou perto do ouvido de Ken e sussurrou, com raiva: -Faz o seguinte: me esquece, finge que nunca me conheceu, que nunca sequer olhou para mim...Porque é isso que vou fazer com você daqui para frente... E saiu, deixando o rapaz pasmo e se culpando por ter dito o que não devia. Foi para frente, onde estavam os outros, conversando animadamente, enquanto enxugava uma lágrima que teimou em escorrer pela sua face. Sacha notou o movimento e se preparou para ir consolá-la: -O que houve?

Nada. É só um cisco que caiu no meu olho.

Sacha podia ser muito desligada para acreditar nisso, mas Cloe não era. Ela olhou discretamente para Ken, balançando tristemente a cabeça. Mas ele não retribuiu o olhar. Estava ocupado demais pensando na besteira que tinha acabado de fazer. Seu celular tocou. Sem prestar muita atenção, atendeu: -Alô?

Oi, sou eu. Onde você está?

Vou para a Inglaterra.

Fazer o quê???

Você está cansada de saber o que é que eu vou fazer lá, Ki. Ele retrucou.

Vou com você!

Não acho que seja...

Por favor, estou bem grandinha para me cuidar sozinha, pare de ficar bancando o protetor. Vai me esperar?

Ele coçou a cabeça: -Tá, tá. Encontro você em Wiltshire.

Está bem. Tchau, paixão. Adoro você.

Também te adoro.

O rapaz desligou, e respirou fundo. O hidroavião continuou seu curso, rumo ao desconhecido, e levando de bagagem tristezas, arrependimentos, mentiras, medos e corações partidos.

   

Ela desligou o celular.

Era loira, de olhos verdes e tez clara. Os cabelos estavam presos num rabo de cavalo alto. Vestia uma camiseta preta simples, uma calça jeans rasgada e um sobretudo preto, cumprido até um pouco acima dos joelhos. Uma sandália gladiador, também preta, ornamentava seus pés delicados. Tinha acabado de chegar no apartamento em que morava sozinha, num hotel grande que ficava bem no centro de Tóquio. Carros passavam lá embaixo, fazendo barulho.

A moça, de 20 anos, pegou uma agenda de telefone e folheou, parando num número de uma pequena agência de viagens da cidade. Pegou novamente o celular e discou o número. Não demorou muito para uma mulher atender: -Boa noite. Em que posso ajudar?

Boa noite. Gostaria de saber se tem algum avião, partindo ainda hoje, com destino a Inglaterra. Ela pediu, educadamente, enquanto puxava duas malas de viajem debaixo da cama. Foi tirando roupas do armário, andando por todo o apartamento, separando isso ou aquilo.

Um momento, por favor.

Ela esperou pacientemente a mulher responder, enquanto enfiava as roupas dentro de uma das malas. Fechou as janelas, guardou o pote de biscoitos que estava beliscando antes de ligar para Kem e arrumou a cama. A mulher tinha retornado ao telefone, e informou, prontamente: -Há um vôo para a Inglaterra, que sai as 23:00h.

A moça olhou para o relógio. Eram 20:30h: -Ainda tem lugares nesse vôo?

Sim. De quantos precisa?

Só um, por favor.

Seu nome, senhora?

Senhorita.

Perdão. Senhorita, pode informar seu nome?

Ela abriu um largo sorriso e respondeu: -Kira. Kira Himura.

   

Nem vem.

Por que não? -Perguntou Hiei, de braços cruzados, fitando o amigo de longa Mitaray.

Por todos os Deuses! Eu não vou arriscar a minha vida para entrar na Equipe Black. Para eles estarem aceitando novos integrantes deve ter uma boa razão, eu sei disso, porém...

Lá vem você com seus poréns. Mitaray, temos uma chance única na vida. A Sede Black é o maior centro avançado de treinamentos de Diamante inteira. E, se eles estão recrutando aliados, como você mesmo disse, deve ser porque precisam de ajuda. Sabe bem o que Mestre Aragorn diria...

Eu diria que se alguém precisa de ajuda, devemos ajudar, certo? -Alegou Aragorn, o mestre deles, entrando na sala.

Eu disse que ele ia concordar. -Comentou Hiei, escondendo um risinho de deboche. Mitaray, entretanto, não se deixou abalar. Era um rapaz calmo, de 22 anos, cabelos cinza meio espetados, olhos também cinzas e pele clara. Seu jeito educado e tranqüilizador o tornara um galã de primeira sem querer, mas não tinha namorada. Nunca se apaixonara por ninguém, e, por incrível que pareça, não era nem um pouco galinha. Era também muito inteligente, dono de uma beleza invejável e raramente perdia o controle.

Eu só queria dizer que essa história está muito estranha. Conhecemos bem a Iris e, venhamos e convenhamos, ela não é do tipo que pede ajuda a qualquer um, ainda mais quando se trata de impedir o avanço de Haradja. -Comentou Mitaray.

Por isso mesmo que ela vai fazer uma prova. E não esperem que seja moleza se bem conhecemos aquela fada. Particularmente, eu sugiro que vocês dois se inscrevam. Nossa amiga deve precisar de ajuda, e não é educado negarmos nosso serviço. Além do mais, eu ensinei muita coisa a vocês. Com certeza vão se dar bem.

Sim senhor! -Os dois obedeceriam, como de praxe.

Partam amanhã cedo. Não vão querer se atrasar, tenho certeza. Aposto como Farem deve estar um caos. Há mais uma coisa. Se conseguirem ingressar na Equipe Black, voltem daqui a quatro semanas. Vou ensinar um último truque, muito útil. -Pediu Aragorn, se retirando da sala para ir se deitar e completando. -Boa noite. E se eu não vê-los amanhã, boa viagem e boa sorte.

Boa noite, Mestre. -Desejaram os dois juntos.

Viu, eu tinha razão. -Troçou Hiei, com cara de vencedor. Ele contrastava bastante com o amigo. Tinha a mesma idade, mas era levemente moreno, tinha cabelos curtos e castanho avermelhados, olhos castanho claros e um espírito brincalhão. Adorava implicar com o amigo (apesar deste não dar a mínima confiança). Era carismático, fiel e também muito bonito.

Sério? -Ignorou Mitaray, bocejando.

É, sério. É tão bom estar certo...

Uma vez na vida, para variar.

Que quer dizer com isso?

Nada, Hiei, nada. Agora é melhor irmos dormir, temos que levantar cedo amanhã. -Alegou Mitaray, levantando do sofá e se dirigindo ao seu quarto, deixando Hiei na sala, resmungando baixinho e se perguntando se algum dia poderia tirá-lo do sério.


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