Estava completamente desesperada, corria sem saber exatamente para onde ir, simplesmente deixava que seus pés fizessem o trabalho tortuoso de encontrar um caminho, enquanto sua mente se perdia naquela inquietante realidade. A fria realidade de que enquanto estivesse naquele corpo ninguém a reconheceria e nem lhe ajudaria de primeira, ela teria que conquistar a todos e buscar de alguma forma, estando dentro daquele corpo, ajudar a si mesma.

Quando deu por si estava de volta ao local do acidente. Não havia mais ali nenhum sinal de que horas antes sua vida foi marcada terrivelmente. Sendo então lançada a essa cruel brincadeira do destino. O tráfico estava normal, e todos alheios a ruiva entregue a sua tristeza descomunal.

Lucy colocou-se no meio fio, olhando os carros passando. Quem a visse ali pensaria que seus pensamentos fossem desesperados, e que estivesse ali para por um fim em sua vida; quando na verdade está em busca de encontrar uma saída para todo esse tormento.

Agachou-se e deixou com que as lágrimas continuassem a cair. Lembrava de seus pais desesperados no hospital, de Juvia e Gray de braços dados, de seu  amigo não lhe reconhecendo... Tudo se somando brutalmente em sua mente, demonstrando o quão cruel era aquela missão de coletar as lágrimas.

-Devo desistir?

Levantou-se olhou para o céu. A noite estava desprovida de estrelas e o vento agitava generosamente os cabelos ruivos de Erza. Tudo tão maravilhoso de se ver e sentir, entretanto não estando em seu corpo, tornava-se tão monótono.

Deu um passo a frente, involuntariamente.

-Não! – alguém gritou.

Toda a cena ocorreu rápido demais.

Quando Lucy voltou a abrir os olhos, quais fecharam devido ao impacto, lhe era visível o programador encostado em sua moto alguns passos de distancia de si, a olhando com preocupação. O mais confuso, porém, não foi isso, e sim o peso sobre si. Mexeu-se incomoda, o ser que estava sobre si levantou a cabeça. Era um homem, totalmente desconhecido.

-O que deu em você hoje? – a pergunta saiu brada dos lábios do homem.

-Hã? – indagou Lucy completamente confusa.

O homem, um ruivo de aparência atraente, levantou-se e ajudou Lucy a fazer o mesmo.

-Eu achei que você pararia com isso, depois de hoje!

Lucy franziu o cenho, enquanto massageava o braço esquerdo, uma vez que havia caído sobre esse.

-O que você quer dizer com isso?

-Está querendo fingir agora? Quer me dizer que não sabe do que estou falando?

Aquilo não ajudou em nada na confusão de Lucy, que procurou o programador, que mais uma vez diante de sua necessidade sumira. Ela então respirou fundo.

O que aquele homem queria dizer com tudo aquilo, afinal de contas? Ficou um longo tempo em silencio divagando consigo, olhando os carros e ignorando inconscientemente ao homem.

-Scarlet?

Ouvir ele lhe chamar daquela forma a despertou de seus devaneios e lhe vez enxergar a verdade. Ela havia esquecido por alguns segundos – sagrados segundos – que não era Lucy, e sim Erza Scarlet. E embora aquele homem conhecesse na verdade a ruiva, foi maravilhoso ter alguém que lhe conhecia e que parecia ter algum tipo de afinidade com a ruiva.

Algum namorado?

Lembrou-se da solitária mulher, entregue a depressão, alguém que não aparentava ter qualquer tipo de relacionamento, tampouco algum namorado.

-Sim. – a voz de Erza saiu baixa.

-Gostaria realmente que você voltasse a me ver. – disse ele sério.

Ele seria ex da Erza? – indagou Lucy em pensamento. Qual resposta ela lhe daria?

Vasculhou o chão com minúsculas pedrinhas, e buscou neste a resposta de sua pergunta e embora não encontrasse nada ali, continuou nessa tarefa por algum tempo, para só então voltar a encarar o homem, dando-lhe uma resposta, a única que achou cabível.

-Acho melhor conversar sobre isso outro dia, hoje não estou realmente bem. – explicou.

O homem acendiu.

-Respeito isso. – disse ele. – Mas gostaria de ao menos lhe acompanhar até sua casa.

Ela fez que sim rapidamente, aliviada. Ela antes de todo o tumulto que havia se tornado seu pensar, não se lembrava onde ficava a casa de Erza Scarlet, por isso era de grande ajuda a oferta daquele homem.

-Obrigado por aceitar. – disse sorridente.

Era realmente um ex, não era?

Cautelosamente Lucy o deixava lhe guiar, querendo não deixar transparecer que não sabia o caminho, o que seria estranho caso ele descobrisse.

Então por fim eles chegaram, a mulher o agradeceu e abriu a porta, antes de entrar, porém, ele lhe segurou.

-Pense no que lhe disse. Pois eu realmente gostaria de voltar a lhe ver.

Lucy vacilante, confusa com aquela abordagem de alguém que nem conhecia, fez que sim com a cabeça.

-Obrigado. – e então lhe soltou. – Tenha uma boa noite, e até mais. – e se retirou.

Lucy ficou um tempo o olhando se afastar, aquele homem era realmente atraente, tinha um charme encantador e caso fosse ex de Erza certamente o ruivo havia feito algo de horrível para que ela o deixasse. Ignorou a isso, ironicamente, com todo aquele situação inesperada a fez esquecer por completo o mal estar que sentia anteriormente. Entrou, olhou-se no espelho como fizera mais cedo, e o reflexo da ruiva do outro lado ainda lhe era incomodo... Mas vê-lo e sabendo o quão terrível era sentir aquela dor de não ser reconhecida, tal como foi maravilhoso ver alguém que conseguia lhe reconhecer; Lucy teve a certeza que não queria desistir, iria caminhar até o final, sorriu para si.

E então, em passos lentos seguiu para o fluton, deitando-se nesse e assim que fechou os olhos sua alma foi expulsa do corpo de Erza.

-Obrigada, Erza-chan.