Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 6
Deixando para trás




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LIA

O tiro deve ter errado o alvo por centímetros, pois não ouvi barulho da bala; e o alvo, eu descobri um pouquinho tarde demais, não era eu. Olhei a tempo de ver um garoto correndo em minha direção, parando para dar outro tiro no alvo atrás da árvore.

— Você tá bem, moça? – ele perguntou, ajoelhando-se do meu lado. Outras pessoas chegavam à minha frente.

— Que isso? Quem é você? Por que diabos você tem uma arma? – perguntei.

— Calma moça. Meu nome é Matt, essa arma é do meu pai, e eu só to usando ela pra derrubar os zumbis.

— Como assim, zumbis? – falei, um tanto desesperada. As pessoas paravam na minha frente, atrás do menino.

— Aí gente, ela não sabe o que aconteceu – um menino riu. Tentei ver que eram as pessoas, mas não as conhecia. Além de Matt, havia mais um menino e duas meninas. Uma delas sentou-se do meu lado e começou a falar.

— Não tem como a gente te falar muita coisa. Droga, a gente nem mesmo sabe muita coisa. O que eu sei é que os mortos começaram a voltar. Aquela coisa dos filmes, sabe?

— Eu não entendi... Isso é algum tipo de brincadeira? Eu não acredito nisso! – disse, com a voz fraca.

— Nunca assistiu aqueles filmes de zumbis? É mais ou menos aquilo que está acontecendo, aqui e agora. – O garoto, Matt, disse.

— É serio isso? Essa coisa toda de mortos, e, e... – minha voz falhou.

— É, é verdade. O primeiro ataque foi há poucas horas, mas alguns zumbis já chegaram aqui. Aquele – ele apontou para o homem em que ele havia atirado – era um. Mas, estranho, ele estava com esse machado... Zumbis normalmente não conseguem segurar coisas, eu acho...

Eu me levantei, limpando a calça e a blusa. Me senti um pouco atordoada, muito menos do que esperava estar. Dei alguns passos em direção ao corpo no chão e vi seu rosto. Estava coberto de sangue, e havia um furo na testa, onde a bala entrara.

— Você precisava ter atirado na cabeça? - perguntei, com descaso - Você poderia ter ao menos preservado a alma desse coitado.

— Ele não possuía uma – disse Matt, chegando mais perto – Se não for na cabeça, eles não morrem... de novo. Não há nenhuma alma para se preocupar.

— Como assim?

— A alma deles vai-se embora no momento que eles morrem. Essas coisas que andam por aí não são mais humanas. E, eu não sei como funciona, mas sei que se você atirar na barriga, na perna, ou até mesmo no coração, ele não vai parar de andar. Se for na cabeça, aí sim.

Olhei para cima tentando ver se mais algum zumbi vinha, e depois olhei pra trás. Havia três deles andando em nossa direção lentamente.

— Olha, ali, tem mais deles – apontei na direção em que eles vinham. A menina que segurava as notícias guardou-as e pegou uma arma.

— Não atire – Matt disse – Não desperdice balas quando podemos derrubá-los de perto.

Ele se aproximou dos zumbis e acertou-os na cabeça com um pedaço de madeira. Depois se voltou para mim.

— Nós temos que sair daqui. Você vem junto? – ele perguntou. Eu pensei em Martin por um segundo, mas assenti.

— Não quero ficar aqui sozinha, obrigada – eu disse. Depois disso, nem mesmo me lembrei de que eu era casada e tinha uma filha.

Nós andamos por um longo tempo floresta à dentro.

— Onde estamos indo? – perguntei. Já havia feito a mesma pergunta antes, mas acho que ninguém tinha ouvido.

— Sabe onde essa floresta vai dar? – perguntou Matt, ficando um pouco para trás para que eu pudesse ouvi-lo.

— Acho que sim – lembrei-me de Martin falando alguma coisa sobre ir andando reto pela floresta, e depois de muito tempo chegaríamos à cidade – Acho que leva pra cidade.

— Exatamente – disse uma menina, se aproximando – Ah me desculpe, meu nome é Carly – ela esticou a mão. Eu a apertei – Estamos “acampados” em uma casa, não muito longe do centro. Ela é grande e temos certeza que é bem segura.

— Segura uma ova – disse outro menino, mais a frente.

— E esse é Peter, e pode ter certeza que ele é o mais otimista de todos nós – disse Carly, com um sorriso fino no rosto.

— Otimista, aham, claro – Peter disse. A outra menina que restava chegou mais perto e se apresentou.

— Oi, meu nome é Lettie – tentei pronunciar o nome, mas não consegui. Ela riu, e depois repetiu – É francês, é comum as pessoas não saberem pronunciar.

— Tudo bem, Let... Lê... ah, um dia eu aprendo – disse, forçando uma risada – Então, essa casa... é de vocês?

— Não – Carly disse – nós a encontramos vazia. A cidade foi evacuada mais cedo, você não ficou sabendo?

— Não, eu tinha me mudada pra cá antes disso... E quando eu saí de lá, tudo estava normal.

— Sorte a sua – foi a vez de Peter falar – Se você ficasse, provavelmente estaria morta.

— Isso, assusta nossa hóspede – Matt disse.

Todos riram menos eu e Peter. Acho que ela era mesmo tão sério quanto aparentava. Comecei a gostar dele, era o menos escandaloso do grupo. Comecei a reparar neles, coisa que, normalmente, eu faço antes mesmo de conhecer as pessoas.

Carly era loira. Bem, mais ou menos. Os cabelos longos meio encaracolados caiam soltos sobre sua blusa azul escuro perfeitamente, e um cinto bizarro, meio que grande demais, pendia na cintura dela. Ela segurava uma arma em uma das mãos e as notícias na outra. De acordo com Matt, ela foi a descuidada que fez a grande mancha de café na notícia maior.

Lettie tinha os cabelos escuros, e longas mechas nas pontas, azuis e roxas. Era baixa e andava de um jeito engraçado. Peter, que ia à frente, carregava um pequeno mapa de bolso; seu cabelo era curto, meio que loiro também, e usava óculos. Tinha um pequeno corte na manga esquerda da camisa, pelo qual sangrava. Não quis saber o que tinha acontecido.

Matt era alto, moreno. Tinha a cara meio fechada, mas era o mais extrovertido de todos. Ele carregava o pedaço de madeira que usara pra abater os zumbis perto da minha casa, e rodava-o nas mãos. Usava jeans e uma camiseta listrada em branco e vermelho.

— Chegamos à estrada – gritou Peter, na frente. Carly soltou uns gritos de felicidade, que logo se tornaram gritos de horror. Ouvi muitos passos, e antes mesmo de conseguir falar qualquer coisa, vários zumbis nos atacaram.


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