Fabula Temporis escrita por Linnet Lestrange


Capítulo 8
Capítulo 8 - Aquele com a Conversa sobre Tom


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Bom, primeiro queria agradecer a todos que deixaram reviews, seus lindos!! E queria também observar que eu sei que o antepassado Malfoy do tempo de Riddle se chama Abraxas, mas este nome não tava rolando, então decidi apenas ignorar esse fato, hahaha. Espero que gostem do capítulo! Beijos



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Capítulo 8 – Um Santo Diabólico.

- BEAUXBATONS!

Devon entrava no Salão Principal parecendo um trovão enfurecido. Ele galopou até chegar onde eu estava sentada, parando em frente a Charlotte e eu. A gente estava tomando café da manhã na inocência, até ele aparecer todo maluco e enfurecido.

Quando ele parou, eu engoli em seco. Porque ele estava sem o casaco do uniforme esta manhã, estava apenas com a camisa, com as mangas dobradas até acima do cotovelo.

O que mostrava o quão grande era o braço dele. Ele podia me transformar em churrasquinho com aquilo numa rapidez incrível.

- Hmmmmm, bom dia – falei, de repente me sentindo muito intimidada por aquelas toras que estavam no lugar do braço dele.

- CADÊ. A MINHA. VARINHA? – ele indagou, pausadamente, praticamente cuspindo fogo.

Charlotte me olhava com curiosidade. Assim como todo o resto do salão.

- Não sei do que você está falando – respondi, pegando uma torrada para passar geléia. Eu precisava desviar meus olhos dos bíceps dele, de alguma forma.

Devon deu um urro de raiva e se apoiou na mesa, se aproximando de mim.

- Beauxbatons, eu não estou de brincadeira. Me devolva a varinha AGORA ou nós dois vamos ter uma conversinha mais séria.

- 'Ou nós dois vamos ter uma conversinha mais séria' – imitei, fazendo uma voz fina idiota.

Ok, vou te dizer que não me sinto nem à vontade de reproduzir a resposta de Devon aqui.

- Hmm, Kate, você não acha mais sensato devolver a varinha a... – começou Charlotte, visivelmente temendo pela minha vida. O que não digo que era um exagero dela.

- Não. Ele não a usa com sabedoria – foi a minha resposta, depois olhando para ele e dando um sorrisinho cínico.

Nossa. Devon estava tão explosivo de raiva que só faltava mesmo ele aumentar de tamanho e ficar verde. As pessoas do salão se concentravam em nossa conversa, provavelmente esperando pelo momento que ele me pegaria pelo pescoço e tacaria pela janela.

- VOCÊ NÃO TÁ ESCUTANDO, SUA FRANCESINHA DE MERDA, OU VOCÊ ME ENTREGA A... – ele urrava, sem controle nenhum sobre si mesmo. Eu estava com o olho arregalado, tentando me desvencilhar dos eventuais cuspes que saiam de tanto que ele tava gritando. Medonho. Sério.

- Devon... – começou Charlotte, talvez tentando tomar alguma atitude de proteção a meu favor. Devon ignorou e continuou berrando – Hmmmm, Devon!

- ... A PIOR DAS SUAS DORES E NÃO VAI PODER...

- Malfoy – ouvi uma voz calma dizer, surgindo de não sei onde. Olhei para o lado e vi Tom Riddle erguido ao lado de Devon, com o cenho franzido.

Quando olhei de volta para Devon, vi que ele estava completamente pálido, como se tivesse acabado de ver um fantasma dos feios. Então era isso que Charlotte estava tentando avisar! Ela deve ter visto Riddle entrando no salão.

Mas por que avisar com tanto nervosismo? Por que Devon parece apavorado com Riddle? E o que ele está fazendo aqui, decidiu finalmente se alimentar como uma pessoa normal? E Malfoy? Devon é um Malfoy?

- Riddle – engasgou Devon, tentando se recompor – Como va...

- Prof. Lestrade pediu que avisasse que o treino do time de Quadribol foi adiado para as quatro horas – interrompeu Riddle. Eu ainda olhava a cena abobalhada – Como capitão, você deve avisar o resto do time – Reparei os olhos azuis escuros de Riddle se desviarem levemente para a minha direção, mas voltando para Devon milésimos de segundo depois – E pare de gritar, as pessoas estão tentando tomar café-da-manhã.

E, com isso, ele se virou e saiu do salão, sem mais cerimônia.

Senti todos ao meu lado respirarem aliviados, como se tivessem prendido a respiração todo esse tempo. Hm.

Estranho.

- Eu tentei avisar! Você teve sorte do Santo não te impor uma detenção! – disse Charlotte para Devon, que continuava parado como uma estátua assustada.

Santo?

Não, não. Espera. Tom Riddle é o Santo?

HAHAHAHAHAHAHA.

Essa é boa.

Tinha que ser coisa da Charlotte. Que garota esquisita.

Devon xingou alguma coisa baixinho, e eu me levantei.

- AONDE... – começou ele, mas pareceu se lembrar da conversinha anterior - ... você pensa que vai? – terminou, agora num tom mais baixo.

- Ok, trés bien, o trato é esse: se você se comportar como um bom menino, te entrego a varinha depois do treino. Senão... ah, sei lá, senão eu penso em alguma outra coisa pra fazer com ela. Até mais!

E com isso, saí do salão, com Charlotte nos meus calcanhares.

De alguma forma que foge de minha compreensão, às quatro horas, depois que as aulas haviam acabado, eu me vi sentada na arquibancada de frente para o campo, com Charlotte do meu lado. Resolvi que ia entregar a varinha a Devon, porque não estava querendo muito acordar com o pé no lugar da cabeça, ou algo do tipo.

E agora eu seria obrigada a assistir um chato treino de Quadribol.

Espero pelo menos que o resto do time seja formado por garotos tão fisicamente desenvolvidos quanto o inferninho loiro ambulante. Aí pode até valer a pena.

- VAI, SONSERINA! VAI, SONSERINA! – Charlotte gritava ao meu lado, junto com algumas garotas que também assistiam ao treino.

Olhei para o campo e notei que os cobrinhas estavam entrando, com aquele uniforme verde brega de doer. Pude facilmente localizar Devon, que era certamente o mais alto de todos.

Hmmm. Quando aqueles braços não estavam ameaçando me transformar em palito de dente, até que eram bem legais de olhar.

- Charlie, menos. É só um treino – resmunguei, me irritando ao vê-la pular de um lado pro outro gritando "Vai, Sonserina!".

- Eles precisam de incentivo, K! Participe também! – exclamava a Charlie. Nossa. Ela estava mais do que nunca parecendo uma cheerleader loira e burra – VAI, SONSERINA! VAI, SONS...

- Charlotte! – grunhi, puxando a saia dela para baixo para que ela se sentasse e agisse como uma pessoa normal – Quero te perguntar uma coisa.

Os olhos castanhos dela brilharam. Ela adorava ser útil.

- Pode perguntar!

- Bem, hm... é só que... hã – eu tentava pensar em alguma forma de puxar aquele assunto de uma forma que não me comprometesse – Porque é que todo mundo ficou tão... você sabe, aterrorizado quando Riddle entrou no salão?

Charlotte fez uma cara de "ahhhh".

- O Santo? Ah, bem, é uma longa história...

- Aliás! "Santo"? Sério, "Santo"?

Charlotte riu.

- Ah, eu e algumas meninas que o chamamos assim! Porque ele está sempre na biblioteca, vigiando os corredores ou fazendo alguma tarefa extra... sem contar que nunca fica de namorico com ninguém! Acredite, algumas realmente tentaram, mas depois do quarto ano acho que todas desistiram, já que nunca se obtinha sucesso algum... – tagarelava ela.

Há. "Santo". Meu apelido então agora é Miss Simpatia.

- Mas por que todo o desespero quando ele deu as caras pelo salão? – perguntei, novamente.

Charlotte endireitou a postura, como quem se preparava para contar uma história importante – e longa, temi.

- Bem, na verdade, é meio curioso. É que no primeiro ano, alguns garotos... inclusive Devon!, caçoavam dele por ser... mestiço – começou Charlotte, sussurrando ao dizer 'mestiço', como se estivesse dizendo algo, sei lá, proibido – Dizendo que ele não podia ficar na Sonserina, que ele estava sujando o nome da casa, que não era digno... você sabe, é mesmo meio estranho ele ter entrado na Sonserina mesmo não sendo puro-sangue, característica marcante de nossa casa.

Ah, bem. Talvez o fato de que o sangue do próprio Salazar corre nas veias 'mestiças' dele explique muita coisa.

E o fato dele ser o demônio em pessoa, é claro.

- Aham... – fiz, para que ela continuasse.

- Enfim, um horror! Eu juro que sentia pena às vezes do pobre coitado... sempre tão quieto, solitário, e as pessoas implicando! Até que... – ela fez uma pausa dramática – Até que um dia ele se encheu, creio eu.

Charlotte olhou para os lados antes de prosseguir. Talvez pra verificar se ele não estava atrás dela ouvindo tudo, mas eu acho que era só pra dramatizar ainda mais.

- Um dia, ele estava num canto do Salão Comunal terminando uma redação que o prof. Lestrade havia pedido. Foi uma das tarefas mais difíceis, e valeria como crédito extra para os futuros NOM's. Era pra fazer uma dissertação de quinze páginas sobre... ah, bem, não lembro. Mas era grande. E difícil! Quase ninguém conseguiu fazer, ou sequer tentou. Então, ele estava lá finalizando a redação, depois de ter ficado o dia inteiro sentado ali escrevendo... quando Yosh e Keppard apareceram e lançaram um feitiço nos pergaminhos usados por Riddle que fez com que se desintegrassem por inteiro. Não sobrou nada, nem um pedacinho! Eu fiquei com o coração apertado, até! Riddle não fez nada na hora, ficou apenas sentado olhando para os dois, que riam de chorar. E foi aí que...

Ela foi interrompida por gritinhos histéricos femininos que vinham da torcida. Devon acabara de fazer um gol.

- Que...? – perguntei, curiosa.

- Que os dois caíram no chão, agonizando de dor – Charlotte se aproximou, baixando o tom de voz – Ele havia lançado uma Cruciatus neles. Através de feitiço não-verbal. No primeiro ano.

Não, não. Espera. Isso não tá certo.

Isso não pode estar certo.

Minha nossa senhora de bicicletinha. Como ALGUÉM espera que eu vença... isso?

- O QUÊ? – exclamei, com uma voz fina, em choque – Mas... mas como ele não foi expulso ou algo assim? Quero dizer, olá, ele usou uma maldição imperdoável!

- Na hora foi um choque total! O Salão Comunal estava lotado e ninguém sabia o que fazer, nem o que havia acontecido direito! O Monitor Chefe da época saiu correndo para avisar Slughorn, que levou os dois à enfermaria, e Riddle à sala do diretor. Não sei o que aconteceu por lá, só sei que Riddle voltou apenas com uma detenção. Acho não o puniram mais porque ele não devia saber o que estava fazendo... deve ter lido em algum lugar e... bem, não sei. Yosh e Keppard mal se lembram do que aconteceu. Mas depois disso, ninguém mais mexeu com ele. E aí depois ele virou o aluno exemplar e isso que você já conhece, o que dá mais medo ainda, porque ninguém sabe o que mais ele pode fazer hoje em dia, se com onze anos lançava Maldições Imperdoáveis por feitiços não-verbais! – Charlotte precisou inspirar fundo, para recuperar todo o ar que perdeu enquanto falava tudo aquilo.

A única coisa que tenho a dizer sobre tudo isso é:

Já era.

- Uau. Quero dizer... caraca. Eu sabia que ele era imbecil e estranho e tudo mais... mas essa é novidade.

- É! E você dividindo o quarto com ele... admiro sua coragem, K! Acho que eu não conseguiria.

Engoli em seco. Bem, qualquer fiapo de coragem que eu tinha até agora com certeza já tinha voado por aí. Quero dizer, alô!

Eu estou enfrentando o Lúcifer em pessoa. Depois dessa, ele faz a Samara de O Chamado parecer uma criancinha mimada que talvez precise pentear o cabelo com mais frequência.

Se ele descobrir, mesmo que remotamente, o meu plano...

Não gosto nem de pensar.

Certo, isso pelo menos serviu para alguma coisa. Serviu para:

a) Arrepiar até o último fio do meu cabelo

b) Me fazer perceber que preciso mudar de estratégia. Abordá-lo e atacá-lo certamente não vai funcionar.

c) Me fazer sentir que evolui pelo menos um pouquinho – puxa, eram novas informações, não eram?

d) Me fazer pensar em contratar um guarda-costas para vigiar meu quarto.

Acho que Charlotte percebeu meu estado de transe, pois perguntou:

- Kate? Você está bem?

- Hã? Ah, oui – respondi, tão atordoada que nem percebi a língua em que estava falando.

Novamente houve um urro de gritos femininos. O treino havia terminado e elas estavam aplaudindo a performance dos jogadores.

Eu não deixava de sentir uma pontada de inveja delas. Quero dizer, olhe só! Todas acéfalas e preocupadas apenas com qual será o jogador que dará um mole para elas darem uns amassos.

- Bem, acabou o treino. Vem, vou te levar ao vestiário para você devolver a varinha ao Dev! – falou Charlotte, me puxando pela mão, já que eu parecia incapaz de me levantar sozinha.

Devon. Uau. Por um momento havia esquecido que ele era um problema.

Segui a cabeleira loira escada abaixo, até atravessar o campo e chegar numa pequena instalação embaixo das arquibancadas, que deveria ser o vestiário.

- McNair, tá fazendo o quê aqui? – perguntou um dos jogadores, o que tava na porta, enquanto tirava a camisa.

- Olá Uriel, boa performance no treino!

Uriel ergueu as sobrancelhas, em uma expressão arrogante de "eu sei", e depois olhou pra mim.

- Olá gracinha, quer entrar no banho com a gente? – perguntou, depois dando uma risada exagerada.

Eca.

- Quem sabe depois – respondi, franzindo o cenho – Devon tá aí?

Ele revirou os olhos, como se fosse comum garotas irem ao vestiário procurando Devon, e depois berrou:

- DEV, TEM GENTE TE PROCURANDO – depois, voltou pra mim – Se quiser, o convite ainda tá de pé – e deu uma piscadela, depois dando a risada exagerada de novo.

- Não liga, é assim mesmo – disse Charlotte. Logo depois, Devon surgiu à porta, apenas com uma toalha enrolada na cintura.

Merlim. Quantos,quantos músculos! Ele estava parecendo o próprio Adonis ali, com o cabelo loiro desgrenhado, o rosto vermelho devido ao jogo, e com aquele abdômem sobrehumano exibido.

- Devolve! – rosnou ele, fazendo com que eu desviasse os olhos do corpo de Deus Grego dele.

Querendo não demorar muito, abri logo minha mochila e tirei a varinha, que ele imediatamente arrancou da minha mão.

- Que nunca mais se repita, me entendeu, Beauxbatons? Ou não vou perdoar tão rapida...

Mas antes dele terminar, já tinha me virado e saído andando.

Quero dizer, tenho mais com o quê me preocupar.

Como com certos psicopatas medonhos que, vejam só, divide um aposento comigo.

E com como impedir que ele se torne o pior bruxo que essa sociedade já conheceu.

Isso tentando não perder muitas partes do corpo.

Ou seja, nada muito fácil.

Ai, Merlim.


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