Love Is Pain escrita por Nath_Coollike


Capítulo 3
New City, Old Habits


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou uma droga, mas ta aí se alguém quiser ler '-'



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Eu podia quase tocar o silêncio que pairava sobre a pequena mesa da cozinha.

Vovó fez macarronada para janta e, para cumprir o combinado, sentei na mesa para comer, junto com vovô.

Eu e vovô Jack passamos a tarde inteira juntos, assistindo televisão e jogando jogos de tabuleiro antigos. Eu acho que ele estava feliz por ter um pouco de companhia.

O único barulho na casa inteira era os talheres batendo nos pratos e aquilo era um pouco estranho pra mim. Jantar em família é um pouco estranho pra mim.

- Então como foi o dia de vocês? – Vovó perguntou.

- Foi bom. – Respondi.

- Você viu Jason? – Vovó perguntou e sorriu de canto.

- Jason? – Vovô perguntou. – O vizinho?

- É. – Vovó respondeu na minha frente. – Ele e Mel são amigos.

- Não somos amigos. – Falei em minha defesa. – Eu só troquei duas palavras com ele quando fui jogar o lixo. Só.

Como se mencioná-lo fosse algo do mal, a campainha tocou.

- Eu atendo. – Vovô falou e levantou da cadeira.

Deu tempo de eu tomar o último gole da minha limonada antes de vovô aparecer na cozinha de novo.

- É o Jason. – Vovô falou e olhou para mim. – Ele quer falar com você.

Limpei meus lábios no guardanapo e levantei da mesa. Parei de andar para porta quando minha avó tossiu forçadamente, me fazendo olhar para ela e perceber que não tinha colocado meu prato na pia.

Virei os olhos e coloquei meu prato na maldita pia, indo para a porta da frente que só estava encostada.

- O que você quer? – Perguntei no meu tom mais grosso para Jason, que usava a mesma roupa de hoje mais cedo só que com uma jaqueta por cima.

A temperatura em Hoonah tinha caído ao entardecer.

- Coloca uma blusa, nós vamos sair. – Jason falou e fez sinal com a cabeça para um carro com os mesmos adolescentes que vi no caminho para a loja de varas de pescar.

- Como é? – Perguntei meio ofendida. – Eu não vou sair com você.

- Com vocês. – Jason corrigiu. – Vai logo, para de ser mesquinha.

Encarei Jason com raiva durante alguns segundos. Fechei a porta e fui para o meu quarto correndo, pegando a primeira jaqueta que encontrei na mala. Era uma de couro que tinha ganhado de Lucas no meu aniversário.

- Vou sair. – Avisei meus avós.

- Com quem? – Vovó perguntou antes que eu pudesse sair definitivamente de casa.

- Jason. – Falei.

- Não volte tarde. – Vovó falou sorrindo.

Ela realmente acha Jason um bom garoto.

Não sei porque alguma coisa em mim queria ir. Acho que é algo que eu posso chamar de abstinência de álcool. E eu tenho certeza que vai ter álcool.

Abri a porta e Jason estava parado no mesmo lugar.

- Sabia que não ia resistir. – Jason falou.

- Não enche. – Falei e desci o pequeno degrau entre a casa e o gramado. Jason passou o braço por meus ombros. – Tenho até ás dez.

- Não prometo nada. – Jason falou e me guiou até perto do carro.

A ruiva continuava de shorts, apesar do frio.

- Pessoal essa é a Mel. – Jason falou quando estávamos a menos de um metro do carro. – A neta dos Campbell.

- Melanie. – Corrigi.

- Oi. – Responderam em uníssono sem interesse algum.

Jason fez uma rápida apresentação de cada um dos amigos dele antes de entrarmos no carro. Nicholas é o garoto loiro, Danka é a menina do cabelo rosa, Helena é a menina de pele escura, Leo é o garoto de pele escura e Annelise é a ruivinha.

Leo ia dirigir, Helena ia no banco do carona e todos os outros tinham que se espremer no banco de trás de um Ford Edge preto. Depois de dez minutos de estrada, o carro parou em uma clareira com um lago no centro.

Todos desceram do carro e eu acompanhei. Jason abriu o porta-malas e seu estoque de bebidas alcóolicas se revelou. Sorri ao imaginar o que Lucas diria se estivesse aqui. Provavelmente ia ser algo como “Não exagera, Melanie” antes de ele próprio começar a beber até cair.

- Fica á vontade, docinho. – Jason falou enquanto pegava uma cerveja do porta-malas e entregava pra mim.

- Se me chamar de docinho de novo, o próximo gosto que vai sentir vai ser o gosto do seu sangue. – Falei e peguei a cerveja.

Jason fez uma careta e levantou os braços como quem se rende.

Conversei bastante tempo com Helena. Ela é legal e concordou comigo quando confessei que achava que Jason tem potencial para psicopata. Depois de um tempo e alguns goles nas diversas bebidas que estavam a nosso dispor, Helena foi beijar Leo atrás de algumas moitas.

Depois disso fiquei conversando com Danka. Ela disse que ela é loira de nascença, mas que pintou o cabelo de rosa para desafiar a mãe. E depois ela me contou sobre como todos na cidade a achavam má influência por ter o cabelo colorido e começou a chorar.

Parei de conversar com ela porque ela começou a chorar de verdade e eu não sabia o que fazer.

Jason estava ocupado demais enfiando a língua na garganta da ruiva então eu fui conversar com Nicholas. Não que eu estivesse considerando conversar com Jason porque ele me irrita. Me irrita muito.

- Então... Nova na cidade, hun? – Nicholas falou enquanto entornava as últimas gotas de uma garrafa de vodca na boca.

- É. – Falei e tomei mais um gole da minha garrafa de tequila.

- E está gostando? – Nicholas perguntou e jogou a garrafa de vidro longe.

Nem preciso dizer que a garrafa quebrou.

- Só estou aqui desde ontem. – Falei e dei de ombros.

A verdade é que não, não estou gostando.

Nicholas sorriu e olhou para a grama, umedecendo os lábios.

- Por que está aqui? – Perguntou. – Digo, por que seus pais te mandaram pra cá?

- Bebi um pouco, os tiras me pegaram fazendo algumas coisas legalmente questionáveis e... É. – Falei. – Basicamente isso.

- Legalmente questionáveis? – Nicholas perguntou e olhou pra mim, arqueando uma sobrancelha. Ri pelo nariz.

- Pichei um ou dois muros, falsifiquei minha identidade, dirigi sem carteira... O normal. – Falei e Nicholas riu. – Isso é segredo, ok? Não quero que a cidade pense que vim pra cá para causar problemas.

Nicholas fingiu passar um zíper nos lábios.

- Eu sou um túmulo. – Nicholas falou e olhou para garrafa de tequila na minha mão. – Posso dar um gole?

Sorri e estendi a garrafa para ele.

Senti meu celular vibrar no bolso de trás da minha calça frações de segundos depois. O peguei e vi um número desconhecido piscar no visor. Atendi.

- Alô? – Falei.

- Melanie?! – Ouvi a voz de vovó. – Já são quase duas da manhã! Onde você está?!

Apenas desliguei o celular e o coloquei de volta no bolso.

- O que houve? – Nicholas me perguntou.

- Minha avó. – Falei. – Não se preocupe, eu me entendo com ela depois.

Nicholas sorriu e me devolveu minha garrafa de tequila quase vazia.

- Acho que vi uma garrafa de absinto no porta-malas. – Nicholas falou.

Sorrimos um para o outro.

(...)

Senti algo se mexer no meu cabelo e eu o empurrei para longe sem realmente abrir os olhos.

A coisa voltou a se mexer no meu cabelo segundos depois e eu abri os olhos, vendo que estava deitada em nada mais nada menos que grama.

Grama.

Sentei rapidamente enquanto olhava ao redor e via mais seis pessoas dormindo. Danka dormiu no banco de trás do carro com as portas abertas, Jason estava deitado em cima do carro, Helena e Leo estavam deitados embaixo de uma árvore, Nicholas estava deitado do meu lado na grama e Annelise estava deitada no banco do passageiro do carro.

Peguei meu celular, checando as horas. Dez horas.

Chacoalhei Nicholas algumas vezes antes de ele acordar completamente e, ao se dar conta de onde estávamos, Nicholas levantou correndo, acordando o restante do grupo.

Nos esprememos de volta no carro sem trocar muitas palavras. Jason estava dirigindo e eu acabei sentando no banco do passageiro já que Annelise queria conversar com Danka e Leo e Helena queriam se beijar.

Deixamos Nicholas na casa dele primeiro e depois Annelise. Helena, Danka e Leo na sequência. Então Jason começou a fazer o caminho da casa da minha avó e da casa dele.

- Vai se encrencar por dormir fora? – Jason perguntou enquanto abria as janelas do carro e acendia um cigarro.

- Muito, mas não finja que se importa. – Falei e Jason sorriu antes de jogar a fumaça para fora do carro. – Você vai morrer de câncer nos pulmões, sabia?

- Meu pai fumou a vida inteira e não morreu por causa disso. – Jason falou.

- Aposto que ele tem problemas respiratórios então. – Falei.

- Ele morreu, Melanie. – Jason falou e deu outra tragada no cigarro. – Acidente no trânsito.

Fiquei sem saber o que falar.

- Sinto muito. – Falei depois de alguns segundos de silêncio puro. – Eu não sabia, me desculpa.

- Que seja. – Jason falou e fez uma curva perigosa na rua que levava a casa da vovó.

Ficamos em silêncio depois disso. Jason parou na frente da garagem da casa dele e nós descemos do carro. Atravessei a rua e toquei a campainha.

- Se quiser sair de novo hoje, esteja aqui fora umas onze horas da noite. – Jason gritou do lado dele da rua.

Olhei para ele por dois segundos e assenti antes de voltar minha atenção para a porta que abriu.

Vovó me olhava brava, usando um vestido amarelo.

- Perdi a noção da hora. – Falei.

Vovó me deu passagem para entrar na casa.

- Vá tomar banho, você está fedendo a cigarro. – Vovó falou. – E depois vamos ter uma conversinha.

Assenti e fui até o banheiro, arrancando minha roupa e entrando debaixo da água fria que pareceu acalmar meus músculos. Depois de fazer tudo o que tinha que fazer, sai do chuveiro e me enrolei na minha toalha.

Abri a porta do banheiro e fui até meu quarto, tentando não prestar atenção na conversa dos meus avós na cozinha.

- Ela só estava se divertindo, Annie. – Vovô falava.

- Ela está fora dos limites, Jack. Por isso ela está aqui. – Vovó respondeu.

- Só não faça com ela o que fez com Andrea. – Vovô falou.

Não ouvi o resto porque entrei no meu quarto e fechei a porta.

Minha mãe, Andrea, foi criada praticamente trancada dentro dessa casa. Ela não saia e quase não tinha amigas. Por isso ela e meu pai meio que entraram em um acordo quando eu fiz quinze anos e comecei a ir para festas de verdade: Ela pode ir desde que não faça nada imoral/ilegal.

Imoral e ilegal são meus nomes do meio.

Coloquei uma roupa qualquer e fui para sala conversar com meus avós. Vovó me olhava com raiva ainda e vovô estava assistindo o noticiário da tarde.

- Pode falar. – Falei e sentei na poltrona da sala, pegando a almofada marrom no colo.

- Esse tipo de comportamento pode ser aceitável na casa dos seus pais ou até na sua cidade, mas aqui não. – Vovó falou. – Você vai pedir desculpas para a mãe de Jason e para os pais de qualquer outra pessoa que estava com vocês dois ontem a noite.

- Como? – Perguntei.

A velha acha mesmo que eu vou pedir desculpa se foram eles que me carregaram?

- Esse tipo de coisa não é bem vista na cidade e eu não ficar com nenhuma má-influência dentro da minha casa. – Vovó falou e cruzou os braços.

- Vou tomar banho. – Vovô falou enquanto saía as pressas da sala.

- Ótimo, fala para minha mãe vir me buscar então. – Falei e ri pelo nariz. – Vai ser muito bom ir embora dessa merda de cidade.

Vovó umedeceu os lábios e, pelo olhar dela, eu soube que ela tinha perdido a paciência comigo.

- Sabe para onde você vai se for embora daqui? – Vovó perguntou. – Acha que vai me enlouquecer e voltar para a Califórnia como se nada tivesse acontecido? Se você acha isso, precisa rever o que realmente está acontecendo. Seus pais não te mandaram para cá para passar o problema deles para mim, mas para te salvar. E se eu não der um jeito em você, então a reabilitação vai dar. Já era para você estar na reabilitação se eu não tivesse impedido. E é pra lá que você vai se for embora daqui.

Senti meu sangue parar de correr nas minhas veias e eu desejei que pudesse ser uma parada cardíaca, ai eu morreria e tudo ficaria bem. Eu acho.

- Eu não vou tolerar mais disso. – Vovó falou e desligou a televisão, saindo da sala.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo ficou uma droga, mas o próximo vai estar muito melhor. Prometo (:
Beijos :*
Mereço reviews? Eles me inspiram?