Fantasia escrita por Suzana San


Capítulo 26
Capítulo 18 - Ser forte


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo! ;)

*Errata* - Gente, gostaria de publicar uma errata para o capítulo 16. Em um dado momento, próximo do fim do capítulo, escrevi "Keiko quase havia se esquecido do plano de fazer com que Akira se passasse por Kishimoto para enganar Kakashi." Na verdade, o correto é: "Keiko quase havia se esquecido do plano de fazer com que Akira se passasse pelo empresário de Kishimoto para enganar Kakashi." Vou corrigir a passagem no capítuloo, mas já deixo aqui registrada a alteração.

O capítulo 19 vai demorar umas 3 semanas para sair. Mas vou me esforçar para concluir antes do prazo.
Beijos e obrigada por todo o carinho! ♥



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Capítulo 18 – Ser forte

“Você nunca sabe a força que tem. Até que a sua única alternativa é ser forte.”

Johnny Depp

Quando Keiko chegou em casa, algumas horas mais tarde, não encontrou Kakashi em lugar algum. Depois de um breve momento de pânico, cogitou a hipótese de ele ainda estar na academia e foi direto pra lá.

O lugar não lhe era muito familiar. Só tinha estado ali duas ou três vezes - praticamente arrastada por Aki - então precisou parar um rapaz que passava para perguntar onde ficava a área de treinamento de Artes Marciais. Teve que subir dois lances de escadas até chegar ao andar correto. Abrindo lentamente a porta, sem querer chamar a atenção, vasculhou entre os alunos, buscando o familiar brilho prateado dos cabelos de Kakashi, mas não o viu. Franzindo as sobrancelhas e com o coração acelerado, varreu o lugar com os olhos novamente, dessa vez um pouco mais devagar, mas ainda assim, não o localizou. Milhares de perguntas começaram a se formar em sua cabeça e ela sentiu outra vez a sensação de pânico. Ficou olhando atordoada para as dezenas de homens e mulheres no tatame, sem saber o que fazer.

Foi quando os lutadores se dividiram em dois grandes grupos, se afastando de modo a deixar um grande corredor vazio entre eles, que ela o viu. Seu ninja mascarado. Não o encontrou entre os alunos porque ele estava na posição de mestre. Assim que os alunos saíram do seu campo de visão, ele percebeu a presença de Keiko e olhou em sua direção.

Notou, na expressão do rosto dela, que estava se perguntando o que ele fazia ali, dando aulas. Coçando os cabelos da nuca, sorriu um pouco sem graça. Virou-se, falou alguma coisa com um senhor mais velho que estava ao seu lado e caminhou em direção a Keiko.

— Sabia que você viria para treinar, mas não para treinar outras pessoas— ela ergueu uma sobrancelha e sorriu com o canto da boca.

— Não tive culpa. Me forçaram a ficar e mostrar alguns golpes de taijutsu que eles não conheciam – ele sorriu e pareceu um pouco tímido.

— Não sei por que estou surpresa com isso. E não sei por que você está tímido. Já devia ter se acostumado com a fama.

Kakashi riu.

— Acho que nesse caso não foi minha fama.

— É verdade. Então devia ter se acostumado com seu talento.

— Agora preciso concordar. – Ele sorriu. – Como foi sua visita ao Instituto?

 Ela sentiu um frio na barriga. Agora era o momento de começar a contar a história que havia combinado com Aki.

“Respire devagar. Mantenha a calma. Siga o plano.”— Pensou, antes de dizer:

— Aki tem alguns contatos que podem conseguir um encontro com o autor dos livros. – Ela havia ensaiado aquele discurso várias vezes antes de sair do laboratório e se sentiu satisfeita com a firmeza em sua voz. – Vai acontecer um baile no IPF daqui a alguns dias, e um convite pode ser enviado pra ele. Será um bom momento para que vocês se encontrem.

“E então Akira te leva para o templo e a Miko te transporta para Konoha...”— Pensou.

Keiko não conseguiu disfarçar a tristeza que o pensamento lhe causou, então fixou sua atenção em algum ponto no fundo da sala, onde os alunos ainda treinavam, mas Kakashi notou a mudança de humor e soube qual era o motivo no mesmo instante.

Falar com o autor dos livros não era garantia de descobrir como voltar para Konoha, mas era o passo seguinte em sua investigação e o sinal de que ele não tinha desistido de tentar.

— Você acha que ele pode me dar respostas?

— Eu... não sei...

Ele a observou por mais alguns segundos antes de dizer: - Isso não importa agora. De qualquer maneira, obrigado, Aka-chan. – Sinceridade estava estampada em seu olhar. – Se esse encontro puder me dar pistas sobre como voltar para Konoha, ficarei devendo o favor a você eternamente.

Keiko deu um sorriso forçado, que não chegou aos seus olhos.

— Há alguns dias você me ajudou em uma “missão” difícil, quando precisei entregar um relatório de última hora à Natsume, lembra? Naquele dia você disse que eu estava te devendo um favor. - Ele lembrava. Como podia esquecer? Ele havia lhe dito, com um tom provocativo, que cobraria o favor em outro momento, mas aquilo tinha sido só uma brincadeira para deixá-la corada. - Digamos que eu esteja retribuindo o favor.

— Não, Keiko. O que você está fazendo vai muito além. É a pura verdade quando digo que ficarei eternamente grato a você.

Eternamente. Não havia eternidade para eles. Não havia nem mesmo um futuro. Sua voz soou triste e contraditória quando disse:

— Vê-lo feliz me deixa feliz...

Kakashi não respondeu. Ficou apenas olhando pra ela, notando a tristeza em sua voz, e se perdeu em seus próprios pensamentos. Keiko ficou um pouco sem jeito, então olhou o relógio, buscando um assunto diferente para aquele diálogo. Já se aproximava da hora do almoço. Kakashi estivera treinando antes de ela acordar, e provavelmente não havia parado durante o tempo em que ficara no IPF.

— Você está treinando há horas. Não fica cansado, não, é?

Kakashi não queria mudar de assunto. Queria lhe dizer que voltar para Konoha já não era uma opção que o deixava feliz, era uma obrigação de shinobi. Ele havia dedicado sua vida à vila, tinha jurado defendê-la e sempre colocar suas missões acima de qualquer interesse pessoal. Mesmo que ele desejasse ficar, mesmo que sentisse que sua ligação com Keiko era forte, ele não podia. Sabia que quando retornasse, nunca mais se sentiria o mesmo sem a presença dela, mas ele não podia desertar de Konoha e abandonar o seu país. Ele era um ninja e precisava cumprir seu dever até o fim.

Mas Kakashi se manteve em silêncio, ocultando suas emoções por trás de uma expressão calma. Respeitou o momento dela, limitando-se a forçar um sorriso por debaixo da máscara e dar continuidade à mudança de assunto, dizendo:

— Eu não fico cansado tão facilmente.

— Bom... eu já deveria saber disso... – a voz dela estava baixa e levemente rouca, e Kakashi notou um brilho atrevido em seus olhos.

— O que você está querendo insinuar?

Keiko sentiu o já familiar rubor tingindo suas faces.

— Não é nada...

— E por que esse brilho malicioso no olhar?

O rubor em seu rosto aumentou e ela desviou os olhos para o lado.

— Foi só que... que eu lembrei de... certas coisas que você faz e... não parece ficar cansado depois...

— Agora fiquei curioso. Que coisas?

— Oh, por Kami Sama, não me peça pra dizer.

Kakashi sentiu sua boca se curvar num sorriso involuntário. Ele sabia do que ela estava falando. Garota esperta. Só mesmo um assunto desses pra melhorar seu humor.

— Ok. Quando chegarmos em casa, então... Mas quero ouvir detalhes.

— Você é um tarado. – Ela sibilou, mas não havia recriminação em sua voz, apenas divertimento.

— Você descobriu isso agora?

Ele mereceu o tapa no braço que ela lhe deu.

— Ai... Você é forte, Aka-chan. – Kakashi massageou o lugar onde ela havia golpeado e olhou de relance para o tatame, depois de volta para Keiko, com uma ideia se formando em sua mente. – Que tal aprimorar um pouquinho esses seus golpes?

Ele estava lhe convidando para treinar? Sério? Logo ela, a molenga da escola, que se escondia no laboratório para filar as aulas de educação física?

— Não acho que seja uma boa ideia. Não sou adepta a atividades físicas, você sabe...

— Hm. – Ele não parecia estar concordando. – Tudo depende de sua vontade.

Keiko considerou a possibilidade por um segundo. E por que não? Aquilo poderia ser uma boa oportunidade para se divertirem. Seria interessante ter Kakashi como seu treinador. Todos aqueles movimentos e contato corporal, tirando a intenção de machucar, poderiam se converter em uma dinâmica muito interessante...

Kakashi quase podia ouvir as engrenagens na cabeça dela se movendo.

— Eu topo... – ela disse, cautelosa, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, completou - mas tenho duas condições.

Um sorriso largo apareceu por debaixo da máscara.

— Qual é a primeira?

— Que seja em um lugar mais reservado. – Ela olhou torto para a sala cheia de alunos que realizavam movimentos elaborados e davam golpes complicados. – Vou ficar muito desconfortável na frente de todas essas pessoas.

— Podemos dar um jeito nisso. – Keiko podia sentir a empolgação camuflada no tom calmo dele. – E qual a segunda condição?

Primeiro ela olhou em seus olhos, depois desviou o olhar para suas próprias mãos.

— Que você seja meu sensei... – disse baixinho.

Em menos de um segundo o braço dele estava em sua cintura e o tecido da máscara roçava sua orelha. Sua voz foi pouco mais alta que um sussurro quando ele disse: - Ah, mas essa é a minha condição. Não vou deixar ninguém tomar o meu lugar.

—x-x-x-

Keiko estava suada, exausta e dolorida quando tombou no tatame, depois de bloquear um golpe mais forte que os outros. Kakashi se inclinou sobre ela e as pontas de seus cabelos grisalhos tocaram sua testa.

— Ainda não terminamos. – Ele tinha um olhar perverso estampado no rosto.

Ela gemeu. Respirou fundo, colocou as mãos sobre o peito dele e disse, com uma voz rouca – Por favor, Kakashi... – Então mordeu inocentemente os lábios, olhando-o nos olhos.

Sentiu o leve tremor que percorreu o corpo dele e segurou o riso vitorioso quando percebeu que ele baixou a guarda, sem resistir ao seu joguinho de sedução. Na fração de segundo em que ele ficou vulnerável, ela o empurrou com força para o lado, jogou seu corpo sobre o dele e prendeu seus braços acima da sua cabeça.

Keiko sabia que ele não estava lutando pra valer. Ele não devia estar usando nem cinco por cento de sua força, mas mesmo assim, sentiu-se orgulhosa por ter arrancado um olhar surpreso do ninja mascarado.

— Isso foi jogo sujo – ele protestou.

— Cada um usa as armas que tem. – Ela sorriu vitoriosa e, sem forças, deixou-se cair sobre ele. Sentiu seus braços envolverem-na, e fechou os olhos.

Uma semana havia se passado desde que ele lhe convidou para treinar. Conseguiram reservar a antiga sala de treinamento da academia, bem menor que a atual, e com isso tinham a privacidade que Keiko queria.

Kakashi era um professor e tanto. Sabia fazê-la se sentir segura, ao mesmo tempo em que a instigava a superar seus limites. Não era condescendente, mas também não era carrasco, e Keiko, que nunca se imaginou fazendo qualquer atividade física, se pegou gostando daquilo.

Em pouco tempo, ela aprendeu como usar todo o seu corpo para concentrar forças em um único lugar, e ficou surpresa com o resultado de sua potência. Aprendeu também que, em muitos casos, o jeito de dobrar as articulações do seu oponente fazia muito mais efeito do que força bruta. Ele lhe ensinou diversos movimentos de defesa pessoal, fazendo-a repeti-los várias e várias vezes até que se tornassem um reflexo.

— Isso é para que ninguém ouse tocar em você sem a sua permissão – ele havia lhe dito, com um olhar significativo.

Kakashi dizia coisas assim com frequência durante seus treinamentos. Ele estava sempre lhe lembrando que ela deveria ser forte e corajosa, e ela achava que ele estava se referindo a ser mais forte fisicamente e mais corajosa ao desferir os golpes, mas foi quando ele lhe disse que ele a estava treinando para que soubesse se defender sozinha, que Keiko percebeu que, na verdade, Kakashi estava preocupado com outra coisa. Ele pensava em como ela ficaria depois que ele se fosse, quando teria que seguir adiante sem sua companhia. Esse instinto protetor era tão típico dele.

Seu coração se encheu de ternura com a lembrança e Keiko deu um suspiro profundo. Os dias haviam passado depressa. Eles continuavam a  viver uma montanha russa de sentimentos, que se alternavam entre a alegria e a tristeza. Mas também haviam chegado a um nível de cumplicidade em que nada precisava ser dito para que soubessem no que estavam pensando. Bastava um olhar, um suspiro ou um toque e eles já compreendiam o que o outro estava sentindo.

O dia estava chegando ao fim e o sol já se despedia no horizonte. A pouca luz alaranjada que entrava pelas janelas da sala de treinamento já se dissipava. Deitada ali, no tatame, sobre o peito dele, ela sentiu que o clima de divertimento de alguns minutos antes também estava se dissipando. Era o momento descendente das emoções. Aquele que sempre insistia em acontecer quando ela e Kakashi ficavam em silêncio ou quando tocavam em qualquer assunto relacionado ao retorno dele para Konoha. Mas embora previsse que momentos como esse aconteceriam cada vez mais, à medida em que se aproximasse o dia da despedida, a verdade era que Keiko não queria mais se sentir assim. E ela não queria mais que ele se sentisse assim, mas a lembrança de que o tempo deles se esgotava a cada segundo era uma constante.

Kakashi levantou uma mão e acariciou seu rosto. Ele também sabia que haviam chegado no momento delicado da relação que mantinham, o momento quando era inevitável pensar na separação que, cedo ou tarde, acabaria acontecendo. O momento em que eles se lembravam da dor que os aguardava no futuro. Ele foi treinado para suportar o sofrimento e esquecer a dor. Mas a dor de perder alguém querido era impossível de esquecer e ele nunca conseguiria superá-la.

Keiko ergueu um pouco o tronco, projetando-se mais para cima e tocou a borda da máscara, deixando um dedo escorregar de mansinho por debaixo do tecido. Seus rostos estavam bem próximos agora e suas respirações se misturavam.

Ambos sabiam que beijos e carícias eram o bálsamo para momentos assim. Quando se entregavam um ao outro, o universo deixava de existir e, por algum tempo, eles não se preocupavam se estavam em Tóquio ou em Konoha. Quando faziam amor, o futuro não importava, só o presente.

As sobrancelhas prateadas de Kakashi estavam franzidas e seu olhar demonstrava sua angústia. Os olhos dele estavam fixos nos dela, enquanto Keiko brincava preguiçosamente com a borda da sua máscara. Vê-lo tão angustiado deixava-a aflita. A única coisa que ela sabia que tiraria o foco dele dos pensamentos que o atormentavam naquele momento era...

— Você confia em mim? – A voz dela era quase um sussurro.

— Confio. – Ele respondeu no mesmo tom.

Então ela fechou os olhos, deslizou a máscara para baixo e colou seus lábios no dele.

Kakashi se moveu de modo a ficar por cima dela e aprofundou o beijo. Um murmúrio rouco escapou de sua garganta quando as mãos delicadas de sua pequena ruiva passearam pelas suas costas, por baixo de sua camiseta. Fazendo uso de todo o autocontrole que possuía, Kakashi interrompeu o contato dos lábios e sussurrou:

— Quero você agora...

— A porta está destrancada...

Com uma agilidade e velocidade incríveis, ele ficou de pé, trancou a porta e se deitou sobre ela novamente, beijando-a enquanto desfazia o nó do kimono de treino que ela usava. Deslizou uma mão sobre a barriga dela, distribuindo beijos em seu pescoço, então seus dedos encontraram o elástico da calça. Quando ergueu o corpo para despi-la, Kakashi pareceu notar que estava deixando-a seminua sobre um tatame duro e desconfortável.

Deixou-se cair novamente, apoiando uma mão de cada lado dela, para que seu peso não a sufocasse, e afundou o rosto em seu pescoço. Keiko notou sua hesitação e tateou em busca do seu rosto, acariciando-o.

— Eu preciso muito de você, Keiko... – sussurrou em seu ouvido, como um pedido de desculpas. – Mas aqui...

— Shhh.... Eu sei... – ela disse baixinho, compreendendo o sentido das palavras não ditas. – Preciso muito de você também, Kakashi... O lugar não importa. Eu só quero ter você... – e puxou-o para um beijo apaixonado.

 O dia já mergulhava na escuridão da noite quando eles tentaram, mais uma vez, esquecer o futuro triste, buscando forças um nos braços do outro.

—x-x-x-

(Continua no próximo capítulo...)


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês em breve!



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