Forgetting. escrita por Zoë Nightshade


Capítulo 11
Capítulo 11.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo confuso, então desejo-lhes sorte para entender -q (dúvidas eu respondo nos reviews ;D)
Acho que uma boa música para este capítulo seria Nightingale (http://www.youtube.com/watch?v=fkKMG6ABBeY), da Demi Lovato. Maaas eu não li a letra, digo isso pelo ritmo -q

Boa leitura - enjoy!



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Conforme sinto o suor se formar sobre minha face e o calor desagradável se chocar contra a mesma, abro lentamente os olhos e levo um segundo para focalizar minha visão. Olho a minha volta, a luz do sol escaldante passando por uma fresta e ameaçando me cegar.

Estava em um lugar fechado, as paredes de madeira me cercando e a palha abaixo de minhas pernas pinicando. Levantei-me e puxei o cabelo para o ombro esquerdo a fim de evitar ainda mais calor. Em um julgamento precipitado, aquilo parecia um celeiro com pelo menos cinco cavalos em suas cercas. Havia palha e feno por todos os lados, e eu quase caí sobre eles algumas vezes.

Ouço a porta se abrir e eu não tenho a menor chance de me mover quando duas pessoas adentram o recinto discutindo calorosamente. Não parecem me notar, contudo. Tratava-se de um casal, o homem com a barba por fazer e cabelos escuros como nanquim, e a moça alta tinha fios de cabelo castanho escapando do chapéu de couro marrom-claro. Ela o fuzilava com o olhar e ele parecia estar prestes a retrucar algo quando virou o rosto em minha direção e seu olhar se fixou em mim. O da garota o acompanhou, e eu logo tive quatro olhos curiosos sobre mim – ou eu pelo menos pensava que eram.

A garota caminhou em minha direção, mas para a minha surpresa ela parou exatamente ao meu lado e olhou para algum ponto às minhas costas. O homem a seguiu e parou ao lado dela e, não mais me aguentando, decidi me virar também. No fundo do celeiro havia uma égua de porte mediano envolvendo um cavalinho que se encolhia em seu peito como um filhote de gato.

O homem andou até a cria e parou abruptamente quando a menina soltou um “Awwn” estrídulo. Sua expressão se alterara completamente, e o que um dia fora ódio pareceu se tornar afeto. Ela correu em sua direção e realizou algum processo demasiadamente acelerado para meus olhos acompanharem, mas logo o filhote estava coberto por feno ao lado da mãe.

– Kelsey – o homem chamou, e eu dei um pulo involuntário. Mas ele não olhava para mim -, vamos. Eles estão bem agora.

A garota ainda olhava para os animais quando disse, irritada:

– Cale a boca, Dhiren. Deixe-me tomar cuidado deles.

Minha respiração falhou e minha visão ficou turva. O quê?

O homem que coincidentemente se chamava Dhiren se abaixou ao lado da garota e a cena gradativamente desapareceu até se tornar apenas um borrão aos meus olhos.

Então minha visão tornou-se clara novamente, mas eu não estava mais no celeiro – e isso foi constatado à diferença do calor crucial para um frio escuro e sufocante. Tentei me mover, mas meus membros pareciam se mexer em câmera lenta sobre o chão irregular... e foi então que eu percebi estar embaixo d’água. Tentando recuperar alguma força, apoiei forçadamente meus pés no interior do provável lago e dei um impulso com meu corpo para cima, chegando à superfície ofegando. Saí do lago rapidamente e o sol logo se revelou, secando minhas roupas geladas quase que instantaneamente. Havia uma aglomeração há alguns metros dali, para onde eu caminhei e me pus entre algumas pessoas e parando ao lado de uma mulher chorosa. Mais uma vez ninguém parecia me ver, mas pareciam sentir-me: um homem esbarrou em mim e olhou para trás, franzindo a testa como se imaginasse se ali havia uma parede invisível.

A mulher não parava de chorar, mas se controlou ao levantar o olhar e soltou um soluço sufocado. Segui seus olhos e os meus se arregalaram: tratava-se de uma ara com uma trave de madeira grossa, e em sua superior estava uma corda. Arquejei. Oh, meu Deus.

Dois homens com máscaras de pano – carrascos, supus – surgiram do fundo do “palco”, trazendo consigo um homem, as mãos presas às costas. Era alto e musculoso, o cabelo na altura da nuca caindo sobre os olhos.

Observei agoniada enquanto amarravam a corda ao redor de seu pescoço, ainda ouvindo os soluços da moça ao lado – os que agora tinham um bom motivo. Não queria assistir àquilo, mas não fui capaz de desviar os olhos. Vi quando ele correu o olhar pelas pessoas ali presentes até parar ao meu lado, para onde o vi soltar um sorriso praticamente imperceptível como um pedido de desculpas. A moça soltou outro soluço sufocado, porém mais audível. Ela moveu os lábios sem emitir som: “eu te amo”. O homem soltou outro sorriso triste e a garota se virou, partindo dali – com certeza seria difícil presenciar aquela cena.

Senti vontade de chorar. A corda já estava muito bem presa em seu pescoço, e os carrascos observavam o chão e uma alavanca, como se ao observar imaginassem como o momento seria. Monstros. O homem sacudiu o cabelo do rosto e eu pela primeira vez pude ver seus olhos – e eu reconheceria aquele azul cobalto em qualquer momento, lugar ou hora.

Eu gritei, mas ninguém pareceu ouvir. O barulho da alavanca baixando o chão de madeira sob seus pés me fez descobrir que deste pesadelo eu podia acordar.

***

A dor em minha cabeça me fez despertar. Levei um momento para descobrir o motivo de me sentir tão mal, e quando o fiz me arrependi. Lágrimas se formaram em meus olhos tão rapidamente que eu não pude impedi-las.

– Não chore, minha filha – uma voz doce às minhas costar murmurou. – Você está tão perto de saber de tudo.

Descobrindo estar deitada em um chão liso e polido, me virei enquanto levantava e observava a imagem perfeita da deusa na qual tanto sonhara anteriormente. Durga estava divina como nunca: o longo cabelo castanho escuro caia em cascatas sobre suas costas e alguns fios escapavam para os ombros, a pele branca e corada fazendo contraste com seus olhos negros e brilhantes. Usava um sari violeta e dourado, caindo até a altura de seus pés descalços. Curvei-me à sua imagem, quase podendo ouvir seu sorriso sincero.

– Lamento ter que fazê-la passar por isso. É complicado.

– Percebi – retruquei, hesitando ao ver seu olhar cair sobre mim. – Desculpe.

Ela sacudiu a cabeça.

– Não tem que se desculpar. Na verdade, acho que eu preciso fazê-lo. Mas antes quero lhe explicar o motivo de tudo isso.

– Agradeço.

Ela sorriu, não notando minha ironia.

– Sente-se – pediu, apontando duas cadeiras que eu até então não havia notado. Obedeci. – Kelsey, o que você viu?

– Através do pingente? – ela assentiu e eu parei por um segundo para me lembrar. – Um casal em um celeiro e um homem sendo enforcado.

Durga engoliu em seco.

– A última que viu é a pior que há no medalhão, creio.

– O que são todas aquelas cenas? – indaguei, furiosa por ela não chegar logo ao ponto.

– Momentos de suas vidas.

– Minhas vidas?

– Suas. De você, Kelsey, e de Dhiren. Se você girar a chave novamente, retornará alguns momentos após os que presenciou ou verá os de outras vidas.

– Como assim?

A deusa suspirou como se escolhendo palavras para explicar.

– O tempo é algo muito confuso de se entender, Kelsey. Calendários e relógios são úteis para uma visão atual, mas apenas isso. Estamos, de certa forma, todos presos em um universo paralelo. Agora, nesse mesmo momento, podemos estar tanto em 1944 quanto em 2344. O holocausto pode estar acontecendo nesse exato momento. Hiroshima pode estar sendo bombardeada nesse instante. Um continente novo pode estar sendo nomeado agora. Você pode estar tanto com seus atuais 18 quanto pode ser uma recém-nascida ou uma idosa. Dhiren e você podem estar presos em um celeiro, mas eles e vocês jamais se encontrarão pela barreira que os separa.

– Que barreira?

– A do tempo, é claro. Por que acha que ninguém pôde vê-la ou até mesmo ouvi-la, como quando você gritou em sua última visão? – Durga parou por instante como se organizasse suas ideias. – Não sei se a expressão “vidas passadas” estaria correta neste caso. Muitas pessoas não acreditam nisso.

– Talvez dizer pessoas-separadas-pelo-tempo esteja mais correto – ironizei. Durga quase riu, mas logo sua expressão retomou a seriedade.

– Kelsey, preste atenção; não temos mais muito tempo. Esta talvez seja a última vez que conversemos realmente em minha forma divina – talvez ela estivesse mencionando Kali, mas não a interrompi -, então peço que escute cada palavra que eu disser.

Assenti. Eu o faria.

– Esta é, provavelmente, a última barreira. Talvez vocês não retornem à vida novamente quando partirem, seja a época que for. O que você viu no medalhão não é nem um décimo de todas as vidas que possuem... e em todas elas vocês estão destinados a ficar juntos.

– Mas a última visão...

– Como tenho certeza de que você não retornará a ela, direi o que acontece: você é morta no mesmo dia. Na realidade, deve estar acontecendo isso agora – ela gesticulou o “agora” para enfatizar.

A notícia chegou a mim como um soco, e fui incapaz de dizer qualquer coisa.

– Então – ela continuou -, como nas outras, sei que esta não será diferente. Kelsey. Não tente escapar de Dhiren como em seu sonho, minha filha; você não conseguirá. Se o destino os quer juntos, assim será. Talvez durante vosso sonho não tenha percebido isso, mas sei que seu cônjuge o fez.

– Cônjuge?

Durga sorriu e eu o retribuí. Ela levantou-se.

– Entendeu?

Assenti, novamente sem a capacidade de dizer algo quando duas coisas vieram à minha mente.

– Qual foi o propósito do sonho?

– Apresentá-los. Não o planejei, se assim pensa; como disse, quando o destino quer algo, ele consegue.

Quase chorei, mas não esqueci a outra coisa.

– Durga? – chamei-a, retornando a atenção da que se tornara distraída. – Por que sempre me chama de filha?

Seus traços se embaçaram por um momento e ela sorriu. Nosso tempo acabara, mas por um momento imaginei ter visto a expressão de minha mãe sorrindo ternamente para mim enquanto desaparecia lenta e gradativamente.


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Notas finais do capítulo

Ai, se eu dissesse que chorei escrevendo vocês acreditariam? Espero que sim, porque é verdade UASHAUSHUAS enfim, espero que tenham gostado. E, ah, eu tenho muito que agradecer por alguns leitores que não abandonaram a fic mesmo depois de eu ter entrado meio que em hiatus com ela. Obrigada ♥
Comentem *-*



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