- A energia nuclear é uma das fontes de energia que não afetam a camada de ozônio, mas é muito instável e prejudica a vida humana... –dizia minha professora de física enquanto eu desenhava em meu caderno. Estava impossível prestar atenção na aula, a professora só falava, falava, e falava... Isso é cansativo. E ainda por cima, Daniel estava sentado na minha frente, virado de lado e vez ou outra me observava e eu ODEIO ser observada, ainda mais por ele com aqueles olhos azuis. Hoje ele estava com uma cara cansada como se tivesse ficado a madrugada inteira jogando vídeo game (o que não duvido nada que tenha feito), e o cabelo preto estava totalmente bagunçado, mas isso deu um charme a ele, só o deixou mais bonito do que já é normalmente. Que coisa, meu pensamento já caiu nele de novo!

- Alguém saberia citar qual é a segunda fonte primária de energia no Brasil? –a professora perguntou. – Ninguém? Então vou escolher... Isabela, qual é a segunda fonte primária de energia no Brasil? –ela perguntou. Demorei um pouco para reparar que ela falava comigo, então fiquei meio abobalhada.

- Hum, a senhora poderia repetir a pergunta? –pedi com cara confusa. Algumas pessoas abafaram o riso. Ah, não tenho culpa se essa aula é extremamente entediante e eu não presto atenção! Ela ficou um pouco brava e veio à minha carteira. Chegando aqui olhou minha apostila e me lançou um olhar feio.

- Se parasse de desenhar saberia a resposta. –disse por fim voltando à frente da turma e continuou a aula. Nossa, todo esse vexame por causa de uns desenhos, que, aliás, nem eu sei o que significam, já que são formas abstratas que me vem a cabeça. Para o restante da aula eu fiquei olhando para o quadro, fingindo prestar atenção e toda vez que ela olhava para mim eu assentia do tipo: “Entendi perfeitamente bem”. Aliás, fiz isso nas outras aulas também, não estava com a mínima vontade de prestar atenção. Na hora do intervalo eu ainda não estava no meu normal.

- Isabela, porque você fica olhando para o “vácuo”, nenhum príncipe encantado vai brotar do nada... Até porque, já tem uns ali encostados na parede... –disse Bianca me trazendo de volta para a realidade. Discretamente olhei para o muro da escola e vi Otávio, Daniel e Fabiano encostados lá jogando conversa fora. O mais bonito entre eles era o Daniel, claro, mas o Otávio estava no pódio também, ele tinha um corpo atlético, cabelo castanho claro e olhos verdes. Já Fabiano não era lá essas coisas. Tinha uma cara quadrada, cabelo loiro e olhos pretos. Infelizmente, quando estávamos na oitava série foi com ele que perdi meu BV... Triste história. Talvez algum dia eu a compartilhe...

- E aí, já rolou algum beijo? –perguntei sacana para Bianca. Para fazer o trabalho do livro Bianca e Otávio se encontravam quase todo dia (o trabalho era desculpa). Bianca mostrou a língua para mim, mas respondeu sorrindo:

- Não, mas porque Olívia atrapalhou. –Olívia, se não me engano, é a irmã do Otávio.

- Ah... Que pena, sei que você ta doida pra esse beijo acontecer...–respondi zoando-a e ela deu um pequeno tapa no meu braço sorrindo.

Passamos mais alguns minutos conversando e comentei com ela do casamento da Beck, falei da aula de dança, e sobre o Carlos Eduardo mas deixei a conversa com o fantasminha de fora. Não sei onde eu estava com a cabeça pra pedir conselhos amorosos de um desconhecido...

Quando o sinal da penúltima aula bateu, Daniel se virou para trás e começou a falar:

- Olha, Isabela, desculpa, ta bom? Na hora eu falei sem pensar... –não consegui identificar sobre o que ele estava falando: ou era quando ele me beijou, ou de ontem na aula de dança. O fiquei encarando-o. Querer eu até queria desculpar, mas o orgulho estava lá, me impedindo. Ele estar tão perto também não estava ajudando muito, só de PENSAR nele minha pele já formigava, imagina com ele a centímetros de distância?

- Imagino que a Beck tenha mandado você falar isso... –soltei sem pensar.

- Não, eu só não aguento mais esse seu olhar de desprezo sobre mim... –ele disse e não entendi direito. Pelo que eu saiba não olhei com desprezo para ele, não hoje. – Você faz sem perceber... Sério, você pode estar toda feliz, rindo igual a uma pateta, mas daí muda seu olhar para mim e finge nojo. –ele disse. Não gostei nem um pouco dele ter me chamado de pateta enquanto rio, mas não comentei nada sobre isso.

- Me surpreende essa sua atitude, pelo que eu saiba, virou costume da minha parte olhar com desprezo para você, e só agora você se incomodou com isso... E devo dizer que se uma mulher precisa de manual de instruções, os homens precisam de uma Enciclopédia! –falei com rancor. Besteira minha, eu sei, porque eu quero ficar de bem com ele, mas não faço com que isso aconteça... Prazer, sou a Mister complicação 2, porque o 1 é o Daniel.

- Não precisa me entender... Só me desculpar ta de bom tamanho. –ele disse se virando para frente, não dando chances para ouvir minha resposta. Quando eu ia cutucá-lo para falar que ele estava desculpado, o professor de espanhol entrou na sala e eu quietei na cadeira. Nem preciso dizer que não consegui prestar atenção nessa aula também, não é? Quando o sinal bateu guardei meu material e me dirigi ao Daniel para conversar com ele, mas ele fingiu que não me viu e saiu às pressas da sala.

- Daniel! –chamei indo atrás dele, mas ele não ouviu. – Daniel! Espera... –eu disse andando mais depressa em meio às outras pessoas que saiam da escola. – Daniel! –chamei novamente e dessa vez ele olhou para trás, parou por dois segundos e depois continuou andando. – Você só pode estar de brincadeira comigo... –falei para mim mesma indignada. Dei uma corridinha e o alcancei.

- Daniel... –falei segurando seu braço e parando pra respirar um pouco.

- Viu como é legal? –ele perguntou carrancudo.

- Am? –perguntei não entendendo bulhufas.

- Correr atrás de alguém que não te dá bola, eu quis dizer. É horrível a sensação de que o outro não nos quer perto, não é? -ele disse e aquilo foi como um tapa na cara para mim. Isso que eu fazia com ele, à todo momento. O fazia correr atrás de mim... Era isso que ele queria dizer? Soltei seu braço, olhei em seus olhos e respondi:

- Se nos esforçarmos um pouco mais, vale à pena correr atrás de alguém que não te quer por perto, muitas vezes você alcança a pessoa. E tudo muda de figura. Mas às vezes, como agora, foi inútil vir atrás de você. Tchau. –disse saindo de perto dele, e indo para o estacionamento sem nem olhar para trás. Encontrei minha mãe e Bianca já dentro do carro junto com meu pai e Tomás, esperando no estacionamento.

- Onde você foi correndo daquele jeito? –Bianca perguntou.

- Fui... Falar com Daniel, sobre o trabalho. Mas ele tinha que ir embora e ficou para amanhã combinarmos direitinho. –menti, e ninguém me perguntou mais nada, só Bianca que ficou olhando para mim de um jeito estranho. Acho que ela percebeu que eu estava mentindo.

Depois de deixarmos Bianca na casa dela, fomos para a nossa almoçar. Depois do almoço fui para meu quarto e liguei meu notebook. Coloquei para tocar “Stupid Girls” da Pink e fui para o facebook. Lá havia um novo pedido de amizade e fiquei surpresa ao ver que era do Carlos Eduardo. Aceitei e fiquei dando uma olhada nas coisas que as pessoas postavam. Hoje estava duro prestar atenção até nisso, e o problema é que eu só não presto atenção porque fico pensando no Daniel. Ele agiu hoje como se eu o obrigasse a ficar no meu pé, como se ele se arrastasse atrás de mim... Só que ele não faz isso. Até porque se fizesse eu seria mais iludida por ele do que já sou. E o pior é que não consigo sentir raiva pelo o que ele falou... Sinto uma coisa pior, sinto amargura, dor. Não sei se posso confiar nele. Não sei se posso me entregar para ele. Não sei se quando ele está comigo está sendo ele mesmo, ou é só mais uma de suas máscaras. Droga! Não sei de nada! –quando percebi já havia lágrimas em meus olhos, mas as limpei rapidamente.

Enquanto ficava me lamentando, fui surpreendida com uma janelinha piscando no canto do computador. Era o Carlos Eduardo. Não entendo os homens, ele me odiava quando era criança, mas agora não parece odiar tanto. Resolvi que iria ser legal com ele, vai que ele vira um bom amigo?

Calos Eduardo Borges:

  Oi Isa!

Isabela Ferreira:

  Olá! Como vai?

Calos Eduardo Borges:

  Vou bem, e você?

Isabela Ferreira:

  Indo... E aí, já se acostumou com a cidade, de novo? 

Calos Eduardo Borges:

  Ah, não muito. Cresceu bastante! ha ha ha. (Sério?! –pensei)

Isabela Ferreira:

  Verdade... O que fez com quê voltasse?

Calos Eduardo Borges:

  Meus pais se separaram, e vim morar com minha mãe e a família dela...

Isabela Ferreira:

  Ah, sim... E você ta bem?

Calos Eduardo Borges:

  To sim. Eu já imaginava que iria acontecer isso à muito tempo... Mas obrigada :)

Isabela Ferreira:

  Não a de que :)

Calos Eduardo Borges:

Hey, você ainda estuda com as mesmas pessoas? Eu não pude entrar na São Vicente por conta de já ser setembro e tudo mais...

Isabela Ferreira:

Não com todo mundo, mas algumas pessoas sim... A Roberta, o Daniel, o Fabiano, a Bianca, o João e acho que só... Minha memória não muito boa... hahahaha

Calos Eduardo Borges:

Nossa, todo esse povo ainda? Hahahahaha. Vou procurá-los no face pra qualquer dia a gente se encontrar...

Isabela Ferreira:

  :)

Calos Eduardo Borges:

  E aí, tem namorado?

Isabela ferreira:

Hahahahahahaha, que piada... Não.

Calos Eduardo Borges:

  Mas tem candidatos, imagino...?

Isabela Ferreira:

  Hum... sei lá... E o senhor? (O quê se responde com uma pergunta dessas? Tem o Traste, mas... Bem, ele é o Mister Complicação e o Mister bobão...)

Calos Eduardo Borges:

Credo deixa o senhor pra lá, não sou tão velho assim! Hahahaha. Não, tive que deixar minha ex lá em São Paulo...

Isabela ferreira:

  Ah... (Eu e minha incrível capacidade de falar)

Calos Eduardo Borges:

  Ei, quer ir hoje no cinema? Lá no Catuaí?

Isabela Ferreira:

  Am... Vou ver se minha mãe deixa, espera aí...

Calos Eduardo Borges:

  Ok :)

Fui até a sala, para pedir, mas no meio do caminho parei. Sério que eu aceitei de boa, e na hora sair com ele? E outra, quem me garante que ele não é um psicopata? Há anos não o vejo, tirando ontem no clube.

- Mãe, posso ir no cinema hoje? –perguntei.

- Com quem? –ela perguntou sem nem tirar os olhos do livro de chamada da escola.

- Hum... Ainda ninguém, eu é que vou chamar o pessoal... No caso, o “pessoal” é a Bianca... –menti rindo no final.

- Tudo bem então... Só que as 22:00 aqui em casa, está bem?

- Ta, obrigada. –agradeci e voltei para meu quarto. Voltei rapidamente para o facebook e avisei que minha mãe só deixaria se Bianca fosse, e ele concordou e falou que ia tentar falar com o resto do pessoal pra ver se eles iriam querer ir. Logo depois me despedi e liguei para Bianca.

– Alô? –ela atendeu.

- Oi, é a Isa. Vamos no cinema hoje? –perguntei.

- Vixe, nem sei se vai dar, que horas? –ela perguntou.

- Ainda não está certinho, mas acho que as cinco... Lá no Catuaí... Vai, por favor?! –pedi.

- “Ainda não está certinho”...? Quem mais vai? –ela perguntou confusa.

- Am... Lembra que eu comentei que reencontrei o Cadu? Então, ele chamou. –falei.

- Hum... Ta, vou sim. Deixa que minha mãe leva a gente, o.k? Beijos. –ela disse e tenho certeza que estava com o maior sorriso malicioso na boca.

- Ok, beijos... –respondi e desliguei. Olhei no face e Carlos já tinha saído.

Desliguei o notebook e tomei uma ducha. Ainda eram 15:30h, mas como eu não tinha mais nada pra fazer já comecei a me arrumar. Quando terminei a ducha, coloquei uma calça jeans escura, uma regata vermelha soltinha, e meus all stars pretos de cano alto. No cabelo eu apenas fiz uma escova enquanto secava pra ver se parava quieto no lugar. Fiz uma maquiagem simples e pronto, já havia acabado. Fui à cozinha beber um copo de água, e vi no relógio que ainda eram 16:40 horas. Aproveitei pra arrumar as coisas de Mona e brincar um pouco com ela.

Quando já eram 17:05 Bianca chega e vamos para o Shopping Catuaí. Depois de uns dez minutos chegamos e já vamos direto para o cinema.

- Até que enfim! Pensei que não viria mais! –exclamou Cadu sorrindo quando chegamos- Eu só não à aprecei por mensagem porque ainda não tenho seu número... Eu ia até pedir pro Daniel, mas ele está... Meio ocupado. –disse soltando um risinho e apontando para o interior do cinema. Olhei na direção que ele apontava e por um instante meu coração parou. Daniel estava aos beijos com... Alguém, não dava pra ver. Esse garoto quer acabar comigo, não é? Realmente, ele é um Mister Bobão! E dos grandes!