Acordei com uma baita dor de cabeça, e com um certo cachorro me lambendo... Levantei os olhos para a porta (da onde vinha uma luz forte de mais para as 6:30) e vi minha mãe rindo da minha cara.

– Bom dia! Achei que ficaria mais mansinha se Mona fosse te acordar... -Minha mãe diz sorrindo. Entendo o "mais mansinha" como "mais feliz". Sou uma pessoa horrível, além de nem ter reação após o beijo do meus sonhos (que isso fique escondido!), fiz o Traste Infeliz brigar comigo, me xingar e ainda sair batendo os pés, e agora deixo meus pais preocupados. Sou idiota, muito idiota.

– Anda, levanta pra tomar café senão você vai acabar se trasando pra escola... -disse minha mãe tirando o meu edredom de mim. Com frio e com dor de cabeça, me levanto e vou à cozinha. Tomo rapidamente o café, tentando evitar conversar sobre o que houve. Como disse, tentando.

– Filha, que cena foi aquela, ontem? -meu pai perguntou enquanto tomava seu café. Bebi um gole do meu, e tentei criar coragem pra contar algo. Mas o que eu falaria? "Ah pai, simplesmente beijei o Daniel e fiquei sem reação. Daí ele deu a louca e começamos a discutir. Depois dele ter me xingado de tudo quanto é nome, o que acabou comigo, saiu batendo o pé. Daí eu me tranquei do quarto e curti a noite inteira a minha dor idiota. Quer mais? Sou apaixonada pelo Daniel, mas ele não retribui, mas agora que "jogou" comigo, sabe com precisão dos meus sentimentos por ele, e isso é uma droga..." Mas apenas balancei a cabeça e murmurei algo parecido com "nada".

– Tem certeza? -voltou a perguntar.

– Absoluta.

– De verdade?

– É caramba! Não houve nada!

– Não minta para mim, e nem grite.

– Meu Deus! Já disse que não foi nada! -gritei saindo irritada da mesa, enquanto meu pai se preparava para dar uma bronca d´quelas, mas não dei ouvidos. Fui ao meu quarto, coloquei o primeiro uniforme que vi na frente, fiz a higiene matinal e fui para o carro determinada a não pensar em Daniel. Como eu havia me arrumado rapidamente por conta da irritação, acabei me adiantando, e fiquei alguns minutos sozinha no carro. Pra matar o tempo (e não pensar em Daniel) liguei meu celular e coloquei para tocar minha playlist favorita, a de rock nacional. Pra que que eu fiz isso... A primeira música que tocou foi "Na sua estante" da Pitty. Ao ouvir aquela voz que eu tanto aprecio, meu pensamento voa para ontem a tarde, no carro, quando Daniel colocou para eu ouvir "Me adora", e insinuou que eu gostava dele. Não vou chorar! Não vou chorar! Não vou cho... Já era.–pensei enquanto lágrimas desciam por meu rosto. Droga, porque Daniel tinha que ter brincado comigo desse jeito? Ele não podia agir como aqueles príncipes encantados (que por sinal, não existem, igual felizes para sempre) e me amar, em retribuição dos meus sentimentos...? Mas não, não... Ele tinha que desenterrar aquele Traste Infeliz que ele sempre foi... Droga! E porque eu tenho que chorar por ele?!?! Sou uma fracalhona! Arrgh!

– Isa, porque ta chorando? -me assustei ao ouvir Tomás se prenunciando ao meu lado no carro.

– Eu... Eu... -comecei a enrolar, e percebendo que eu não tinha desculpa nenhuma, Tomás tocou no meu ombro para me consolar.

– AI! -exclamei tirando a mãozinha dele- Meu ombro! Deslocou!! -dei a primeira desculpa que veio.

– Desculpa, desculpa... -Tomás disse meio rindo, meio segurando o riso. Logo depois meus pais também chegaram no carro e fomos para a escola.

Quando encontrei Bianca, ela toda sorridente veio até mim pedindo todos os detalhes da viagem. Certo, não a culpo por achar que foi uma maravilha (se bem que a viagem até foi, quem estragou foi o Traste infeliz com o charme dele), não havia contado a ela por mensagem que havia beijado Daniel. Não tive forças.

– Eu... Bianca... Posso contar depois? Não to muito bem... -falei enrolando.

– Ta, mas no intervalo você vai me contar T-U-D-O! -ela disse ainda feliz. Sorri forçada e sentei na minha carteira. Como o sinal ainda não tinha tocado, peguei "O que sinto por você" da bolsa e comecei a ler. Eu já tinha lido boa parte do livro antes de saber que faria o trabalho com ele, e sempre achei Frederico (O personagem que narra e principal) bem parecido comigo em alguns aspectos... Às vezes coisas que aconteciam com o Frederico e a Marcela (a amada de Frederico), já haviam acontecido comigo e com o Daniel, e isso me desconfortava um pouco... Eu e o Daniel somos tão... Clichês. 

" No meio da fala acabei me perdendo nos lindos olhos castanho escuro, e a fiquei observando. Marcela estranhou minha reação (até mais do que eu assustaria).

– Fred, você ta bem? -Marcela me perguntou (Fala sério, igual o que aconteceu comigo e com o Daniel!) Então, com coragem não sei de onde, fui avançando devagar. Para minha alegria, mesmo assustada, ela não recuou. À dias venho me perguntando o que aconteceria com a nossa amizade se nós   nos envolver além do permitido da zona da amizade. Claro, eu a respeitava, e muito, afinal eramos melhores amigos dês dos cinco aninhos. Mas e se o que sinto por ela não for reciproco? E se ela me odiar depois que fizer isto? E se ela nunca mais falar comigo...? Será que eu sobreviria sem ela? Não, impossível... Após três agonizantes segundos de indecisão, selei nossos lábios. Foi como se o mundo virasse de ponta cabeça e que nada mais existisse, apenas eu e ela, ali, sozinhos, e felizes...

– Filha, você sabe onde coloquei... -Dona Maria diz entrando na área e dando de cara com nós dois. – Ai Jesus! -exclama assustada.

– Mãe, não é nada do que você está pensando... -Marcela começou a falar, mas Dona Maria caiu na risada.

– Até que enfim! Achei que nunca iam começar a namorar! -disse toda sorridente. Olhei para Marcela esperando ela dar uma explicação falando que não tinha nada a ver, e que foi um acidente, mas ela sorriu para a mãe e disse:

–Também pensei que esse lerdo nunca fosse agir...

– Eu... Hum... -disse visivelmente envergonhado. - Só estava esperando o momento certo... -disse e mandei uma piscadela para Marcela, e esta me retribuiu com um selinho."

Hum. Ta, a reação da Marcela não foi igual a minha. E Daniel não estava nem ai pra saber se eu ia odiá-lo depois do beijo. Mas mesmo assim, me senti estranha lendo aquilo.

TRIIIIM

– Bom dia! -exclamou a professora de física entrando na sala. Olhei para o quadro, e reparei que a carteira da minha frente estava vazia. E continuou vazia na segunda aula e na terceira... Na hora do intervalo, contei tudo para a Bianca, e para minha surpresa não chorei.

– Aquele idiota! Como ele podê?! Ninguém é tão burro assim... Ou tosco desse modo... -ela começou a xingar Daniel, e continuou até o sinal bater novamente. Foi engraçado ouvi-la xinga-lo, mesmo que eu já tenha xingado ele de todos aqueles nomes que ela disse, foi bom saber que alguém compartilhava aquele sentimento de ódio por Daniel.

Acabou que Daniel não deu as caras na escola, e eu me senti até mais aliviada por não dar de cara com ele.

Já em casa, depois do almoço fui fazer carinho em Mona e sou surpreendida por minha mãe.

– Sei que você não vai me contar o que aconteceu, mas só quero te dizer que não precisa se sentir assim. Ninguém merece se quer uma lágrima que você derrame, e se alguém te fez mal, esse alguém é um idiota por perder a grande chance de ter uma pessoa tão especial quanto você ao lado dela... -ela disse, e eu não pude conter algumas lágrimas, só que foram lágrimas de gratidão. Abracei minha mãe, e tentei parar de chorar.

– Obrigada... -disse meio feliz, meio triste.

– Não há de quê, só disse a verdade. Enfim, vim avisar que o casamento da Beck e do João Paulo vai ser dia 17 de outubro, e que você vai ter que fazer algumas aulas de dança.

– Mas já? 17 de outubro é muito perto.. E aula de dança? Pra quê? -perguntei.

– Sim, sim. Dia 17 de outubro foi o dia em que eles se conheceram, e como a data está perto decidiram fazer nela mesmo... E a aula é pra dança de salão. Todos os padrinhos terão que dançar... -ela explicou.

– Ah... -respondi.

Depois subi ao meu quarto e tentei ler. Sem sucesso, minha mente insiste em vagar para Daniel. Tentei ver um vídeo de comédia no you tobe, mas eu chorei ao ver. Então uma ideia louca me surgiu. Se o Príncipe Sonhador colocou tudo aquelas coisas no livro, talvez ele já tenha vivido, e possa me ajudar... Mas como é que se encontra um autor anônimo na internet...? Oh ideia de jerico. Mas mesmo assim resolvi procurar... Twitter, nada. Ask, nada. Tumblr, nada (só de alguns fãs, mas não conta). Facebook... BINGO!! Nem acredito na sorte que tive... Publiquei assim no mural dele: Olá! Adoro seu livro, e me identifico muito com ele... Sei que parece estranho e idiota, mas estou precisando de algumas dicas suas... Será que você teria um tempinho...? Beijos, Isa.

Dei uma olhada na página, e várias pessoas haviam posto coisas muito semelhantes, algumas até publicaram qual era a dica amorosa que precisavam. Viu? Não sou a única louca do mundo...

Sai do Facebook desanimada, que chances eu teria dele me responder? Nenhuma! Vaguei pelo Tumblr por alguns minutos (ta bom, por algumas horas), e voltei para o facebook com a intuição de contar para Bianca o ato incrivelmente tonto que eu tinha feito, quando vi que tinha uma atualização. "Roberta Dedorian curtiu sua foto". Que decepção... Achei que era uma resposta do Príncipe Sonhador. Que nada, era a Roberta curtindo uma foto minha antiga em que eu e ela estávamos abraçadas e sorrindo. Senti falta daquele tempo. Era tão bom ser o Trio: eu, Bianca, e Roberta, as garotas mais sem noção da escola. E a culpa da nossa amizade ter acabado é de quem...? Do Traste Infeliz!

Enquanto xingava Daniel em pensamento, vejo mais uma atualização. E sim, esta é uma resposta do Príncipe Sonhador. Entro esperando algo do tipo: "Obrigada por vir aqui e tudo tal, mas estou ocupado, quando der te ajudo" Mas me surpreendo com o fato dele me adicionar como amiga dele, e iniciar uma conversa... E agora, eu conto tudo à ele, e peço conselho à um desconhecido? Ou simplesmente invento uma desculpa esfarrapara e caio fora...? Ai Jesus, me ajuda!!