Inimizade Amorosa escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 1
Descubro que vou viajar com meu pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Olá... Primeiro capítulo, espero que gostem... :)



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Acordei com mais sono que o normal. Também, quem consegue dormir com um filhote de cachorro latindo e chorando a noite inteira? Bem... Não posso nem reclamar, já que a ideia de ter Mona foi minha.

Moro em um apartamento no centro de Londrina, e aqui não é o lugar mais indicado para ter um cachorro. Minha mãe, Elisa, sempre foi contra, mas como meu irmãozinho, Tomás, amoleceu o coração dela, compramos Mona. Mona é a abreviação de Monalisa. O nome me veio à cabeça quando eu estava assistindo a um programa chato sobre os pintores e vi sobre o Leonardo da Vinci. Então resolvi por Mona. É, eu não sou lá muito criativa...

Levantei da cama e fui para a cozinha. Chegando lá, encontrei meu pai, Max, sentado, já lendo o jornal.

– Bom dia. Animada pro feriado? – meu pai perguntou.

Ah... O feriado. Santo dia em que as escolas ficam fechadas e ficamos em casa dormindo até tarde, comendo de tudo um pouco e ficando na internet o resto do dia... Como eu queria que fosse feriado todo dia. Enfim, esse feriado é o Sete de Setembro, dia da Independência do Brasil e caiu justamente numa quinta-feira, o que faz da sexta-feira um recesso.

– Bom dia. Vai ser maravilhoso ficar em casa quinta e sexta... – Disse meio dormindo ainda.

Peguei café, enchi uma xícara e virei goela abaixo. Meu pai falou mais alguma coisa, só que não dei muita atenção. Terminei meu café e fui me arrumar pra escola, infelizmente ainda é quarta-feira, e só amanhã começa o feriado. Quando já estava pronta, fui para a sala e todos já estávamos prontos para sair. Tomás estava com a cara toda vermelha e inchada, coitado, dá até dó ver meu irmãozinho já ter que ir pra escola de manhã. Ele ainda tem sete anos, mas na São Vicente, minha escola, a aula para os pequenos é de manhã junto com os outros.

– Chegamos. – disse meu pai parando na frente da escola. Minha mãe é a professora de literatura e a bibliotecária do colégio. Então ela também desceu do carro. Já meu pai é o subdiretor da sede da editora NPR aqui de Londrina.

A história deles é muito bonita: Dois jovens inteligentes e bonitos, que se conheceram em uma palestra sobre literatura nacional, que tinham os mesmos gostos e que no final se casaram. Posso dizer que a história deles é bem empolgante, mas ao pensar nela me desanimo...

O garoto por quem penso estar apaixonada é um completo idiota. Eu o conheço desde os meus cinco aninhos e nunca nos demos bem. Este ano, em especial, foi quando tivemos mais atritos porque ele quase começou a namorar minha antiga amiga, Roberta.

Acontece que a Roberta ficava sofrendo nas mãos dele, já que ele é muito “pegador” e gosta de ficar com todas que vê pela frente.

Roberta sempre dizia o quanto ele era lindo, educado e mais um monte de "blá, blá, blá", mas eu sempre discordava. Até que, em um belo dia, eu o peguei traindo Roberta. Claro que eu não fiquei parada, fui até o bonitinho e estraguei o momento romântico que ele estava tendo com alguma garota que nem lembro quem é. Falei pra ele que devia ter mais respeito e parar de destruir corações, pois, não era porque ele não tinha que os outros também não teriam.

Acontece que o barraco que fiz foi tão grande que chamou a atenção das pessoas que passavam na rua. Então, no outro dia, começaram os boatos sobre eu ter algo com ele. Quando isso chegou aos ouvidos da Roberta, ela nunca mais se dignou a falar comigo. Isso me machucou muito, já que eu considerava Roberta uma grande amiga, mas como ela acabou com a nossa amizade por conta de boatos, decidi que era melhor não ficar correndo atrás do que me fazia mal. Sempre atribui à culpa do término da nossa amizade ao Traste Infeliz, que se chama Daniel.

Logo depois que os boatos começaram é que eu fui começando a brigar diariamente com ele e, por assim dizer, me apaixonando mais e mais. Isso é uma completa droga, não gosto de gostar dele. Balancei a cabeça para afastar o pensamento, que agora pairava em seu sorriso, e entrei na escola.

– Isa! – gritou uma voz feminina e aguda, que se identifica como Bianca, minha melhor amiga.

– Oi – falei entrando na sala – O que houve que você está tão agitada? – perguntei.

– Mudaram o mapa de sala de novo! – ela exclamou irritada – E agora eu estou sentada na primeira carteira. Nem vai dar mais pra conversar... – balancei a cabeça rindo e fui ao edital ver onde ficaria meu novo lugar.

Fui procurando até que, na última fileira, na quarta carteira, era meu lugar. Olhei para o nome das pessoas que ficariam na minha frente e atrás, e quase morri do coração. Adivinhem quem iria sentar na minha frente? Se você chutou que era a Roberta, parabéns, você errou. Porque era o Daniel. Isso chega a ser tão bom quanto acordar de madrugada com um cachorro birrento.

– Bom dia classe. Vamos todos nos sentar. – falou a professora de Português entrando na sala.

Fui a passos lentos até a carteira. Não... Isso é injustiça... Não quero me sentar atrás do Traste Infeliz... Isso é tortura... As aulas foram passando e o Traste Infeliz nem se deu conta que eu sentava atrás dele. Bom, pelo menos isso.

Na hora em que o sinal do intervalo bateu, eu ainda estava copiando um dos exercícios de matemática que estavam no quadro e, infelizmente, ele olhou para trás. A cara que ele fez foi muito hilária, foi um misto de confusão, desgosto, raiva e acho que malícia. Quase ri na cara dele, mas me contive.

– Ora, ora, a Isa está sentada atrás de mim... – ele disse dando um sorriso estranho. – Como eu não percebi isso antes...? – se perguntou.

– É que o seu cérebro é tão lento que nem reparou... Espera, você tem cérebro, né? – questionei irritando-o.

Ele me olhou com cara feia e depois se virou e saiu da sala. Acho que não queria perder o horário do intervalo brigando comigo. Eu sei que fui criança, mas acontece que, quando estou perto dele, eu fico assim, mais indefesa e apelo pra infantilidade.

– Vocês se amam, né? – falou Bianca indo até minha carteira. Paralisei por um momento achando que minha amiga sabia da minha secreta paixão por Daniel, mas me toquei que ela só estava me zoando.

– Nossa, você devia virar comediante com esse seu senso de humor. – reclamei, e ela só riu.

Fomos para a cantina e comemos um dos cachorros quentes que estavam vendendo. Depois, voltamos para a sala e iniciamos uma “empolgante” aula de geografia. Logo após, foi a de espanhol e, por último, a de literatura, com a minha mãe como professora.

– Bom dia turma. Hoje resolvi que vou dar um trabalho em dupla para vocês... – ela falou e logo começou um grande tumulto na sala pra resolver quem iria com quem. – Ei gente, eu ainda não disse o melhor... Eu vou escolher as duplas! – comunicou sorrindo. Todo mundo ficou de cara emburrada e virou pra frente para ver com quem iria.

– É muito simples, vai intercalando as fileiras de dois em dois. – ela disse.

Não, não, na-na-ni-na-não! Se fosse fazer fileira de dois em dois, eu teria que ir com o Daniel.

– Mas Elisa, eu não posso fazer meu trabalho com o ser energúmeno que se senta na minha frente! – reclamei. Claro que não a chamaria de mãe na sala, mas acho que professora ficaria muito formal, sei lá. Só sei que soou como birra de criança o que falei.

– Isabela, todo mundo aceitou o seu par normalmente, por que só a senhorita tem que reclamar? – falou mamãe quase rindo. Ela estava fazendo aquilo de propósito. Ela sabe que eu não me dou bem com Daniel, e isso é muito malvado da parte dela.

– Você também quer trocar Daniel? – ela perguntou.

– Por mim tudo bem. Não ligo de ir com a Isa. – respondeu sorrindo cinicamente.

Ai que ódio! Os pais do Daniel são os melhores amigos dos meus, e minha mãe adora Daniel. É claro que vai fazer a vontade dele, não a minha. Que raiva.

– Muito bem, o trabalho será o seguinte: Vocês lerão um livro de autoria de um escritor brasileiro, e outro de um escritor internacional, que sejam do mesmo gênero. Depois, quero uma redação falando o que os livros têm em comum e as suas diferenças. Nesta aula, escolham os livros e me entreguem uma lista com eles para avaliar se poderão ser lidos. – disse minha mãe que, depois de dar o veredicto, foi se sentar na cadeira designada a ela.

A contragosto, juntei minha carteira com a de Daniel. Ele ainda sorria cinicamente para mim e isso só me deixou mais irritada do que já estava.

– Então, que livros vamos ler? – perguntei depois de estar estabilizada ao seu lado.

– Bom... Podemos ler os livros mais recentes, já que os mais antigos são sempre copiados e reeditados. – ele disse sério. Até estranhei o tom formal que ele disse, e o modo que falou “reeditado”, mas me lembrei que seu pai é o dono da NPR aqui de Londrina e ele provavelmente lê bastante...

De repente, me peguei pensando se nossos filhos seriam bons em leitura como nós... Ai meu Deus, apaga esse pensamento da minha mente, eu Te suplico.

– Está tudo bem? – ele perguntou. Foi aí que me toquei que eu estava paralisada com uma careta terrível tentando esquecer meus pensamentos... Ai mereço, tinha que passar vergonha na frente dele.

– Está, eu só estava pensando em algum livro... – falei a primeira desculpa que veio à minha cabeça.

– Hum... Que tal lermos aquele que saiu agora pouco lá na NPR, de uma tal de Faragonda Donovale? Ele é internacional... – Daniel disse ainda sério e formal... Ai por que ele não fica chato para ver se fica mais fácil de odiá-lo?

– Pode ser... Sobre o que fala o livro? – perguntei interessada.

– É um romance policial em que dois agentes, de diferentes empresas se apaixonam, mas não podem manter um relacionamento, então fogem do seu país, que no caso do livro é dos Estados Unidos e vêm morar em uma ilha aqui no Brasil. Chama-se “Ficar e morrer ou fugir e amar”. – ele disse.

– Bom... Deve ser legal, pelo menos o título é... Está bem, a gente faz com esse. – eu disse. Na verdade não gostei do contexto dessa história, de eu vou morrer por você, ou, eu vou fugir com você, isso só acontece nos livros e na imaginação das pessoas.

– E o nacional... Alguma sugestão? – ele me pergunta. Penso um pouco até que me lembro do livro que ganhei de aniversário.

– A gente pode fazer daquele livro que seu pai me deu de aniversário, semana passada... É de um escritor fantasma que se identifica como Príncipe Sonhador. O livro chama “O que sinto por você”. Eu ainda não li inteiro, mas parece ser bem legal... – eu disse. Na mesma hora, ele gelou e ficou pálido.

– Daniel? Você está bem? Está me ouvindo? – eu disse desesperada com medo de que ele tivesse um ataque de convulsão.

– Sim... Eu estou bem, a pressão baixou um pouco, foi só isso. – ele disse se recompondo – Não acredito que meu pai te deu esse livro de aniversário... – ele disse balançando a cabeça.

– Por quê? – perguntei sem entender. – Qual o problema com o livro? – perguntei novamente. Eu tinha ganhado o livro, quando fiz dezesseis anos.

– Ah... É que a história é um melodrama total, e você prefere livros de ação... Não é? – disse ele. É até verdade, prefiro livros de ação, mas também adoro livros de romance.

Pude perceber que ele estava escondendo algo, mas não questionei esse fato.

– Nem é tão melodramático, conta a história de um garoto que sempre foi apaixonado por sua melhor amiga... – Falei defendendo o livro. – Está decidido, vamos fazer com o “Ficar e morrer ou fugir e amar” e o “O que sinto por você”. – falei convicta, não dando chances para ele contestar.

– Tudo bem... Faz o que você quiser... – ele disse vendo que eu já estava escrevendo o nome dos livros e dos autores em um pedaço da folha do caderno para entregar para minha mãe.

Quando o sinal tocou, minha carteira já estava no seu devido lugar e meu material guardado.

– E então, Bianca, quem é seu par? – perguntei.

– É o Otávio, nunca tinha conversado com ele, mas ele é um amor de pessoa, fofo, gentil, educado...

– E você já está caidinha por ele... – a interrompi zombando. Ela fechou a cara e respondeu grosseiramente:

– Claro, o mesmo tanto que você está caidinha por Daniel... – disse ela zombando também.

Fechei a cara igual a ela. Bianca não sabe que eu gosto dele, mas sabe que eu já tive uma quedinha. O único problema é que a minha querida amiga falou isso alto demais e o Daniel ainda estava na sala, mais precisamente, na nossa frente.

– Nossa, então você quer ele a quilômetros e quilômetros de distância... – falei rindo, como se eu nem tivesse percebido que Daniel, por acaso, estava ouvindo.

– Não é pra tanto... – ela respondeu rindo também. Daniel arrumou suas coisas e saiu da sala um tanto... Bravo?

– Vamos meninas? – perguntou minha mãe após guardar suas coisas. Fomos até o estacionamento onde papai e Tomás já esperavam por nós dentro do carro. Depois deixamos Bianca em sua casa e fomos para a nossa almoçar.

Quando já estávamos terminando o almoço é que eu me toco que esqueci de perguntar o que Bianca vai fazer no feriado.

– Mãe, posso chamar Bianca pra ficar aqui em casa no feriado? – perguntei. Meu pai me olhou como se eu fosse louca.

– Isa, não está lembrada que vamos para a praia nesse feriado? Em Itapema... – perguntou meu pai.

– Não, ninguém me falou isso... – me defendi.

– Claro que eu falei! Hoje de manhã, logo depois que você veio tomar café. – disse meu pai.

Então lembrei vagamente que hoje de manhã não dei muita importância para o que ele tinha falado.

– Vamos sair hoje de madrugada junto com os Melo. – meu pai terminou de falar.

A única coisa que pude fazer foi engasgar com a comida. Como assim, os Melo vão viajar com a gente??

– Levanta os braços filha... – disse minha mãe tentando me ajudar a desengasgar – Respira fundo. – disse quando eu melhorei um pouco.

Os Melo são simplesmente, Daniel e seus pais... Não... Já não basta o trabalho que vou ter que fazer com ele... Agora viajar também? É o fim do mundo.

Levantei da mesa e fui para o meu quarto. Chegando lá, peguei meu diário e comecei a escrever nele. No ano em que fiz nove anos, Daniel me deu um diário de aniversário, então, desde aquela época, eu comecei a escrever em diários, acabou que virou um hábito.

Enquanto escrevia, memórias minhas, juntas com Daniel, iam e viam...: Quando nos conhecemos, com cinco anos, e eu derrubei um copo de suco em sua cabeça...; No meu aniversário de seis anos, quando minha mãe me obrigou a tirar uma foto enquanto ele beijava minha bochecha...; Com sete anos, quando estávamos em um parquinho perto de casa e eu cai do balanço machucando o braço e ele me ajudou a voltar para casa...; De quando tínhamos oito anos e ele me derrubou na aula de educação física fazendo com que eu torcesse meu tornozelo...; Com nove anos, quando fomos obrigados a dançar juntos na quadrilha, e nos ensaios ele ficava fazendo palhaçadas, até que no dia da dança ele errou todos os passos...

Sem perceber, comecei a sorrir. Droga! Como já disse, não gosto de gostar dele. Suspirei pesado e fechei o diário. É, dessa vez não tem escapatória, terei que ficar quinta, sexta, sábado e domingo com ele, meu pesadelo e meu sonho.




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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Ficou muito meloso? Muito chato? Muito criança?? ... ~le eu desesperada.. kkk~ Obrigada por ler até aqui!! :) Beijos! Ps: Não sei que você conhece o sistema de respostas dos meus reviews, mas eu procuro responder com os personagens, falando alguma baboseira engraçada.. kkkk E só tô avisando que aqui eu vou responder assim também... :) #Fui.AVISOS: Os livros citados não existem, nem a editora NPR, ok? Eu que inventei... kkk