Amor À 19 Vista escrita por RoBerTA


Capítulo 12
Apartamento interditado, e o resto alagado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura pipoquinhas :3



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— Eu não quero saber, eu vou processar o antílope que causou isso!!!

Acho que dá para ter uma ideia de que algo não está nos conformes. Pois é, acontece que o apartamento está sendo interditado. O motivo? Muito bobo.

Vovó tinha saído para fazer compras, e eu fiquei encarregada de lavar a louça. O interfone começou a me encher o saco, então fui ver o que ele queria. Era André, dizendo que havia uma encomenda no nome da Tereza. Precisei pegar o elevador, e ir até lá embaixo, para pegar a maldita da bendita encomenda. Adivinha o que era? Tops coloridos. Pois é, acho que vou cometer suicídio, pulando do telhado da casa do chihuahua da Lana.

Então eu voltei para o elevador do mal, e o poodle metido-rosa-pink me atacou. Ele se pendurou na minha perna e começou a fazer aquela coisa que os cachorros isolados da sociedade fazem. Foi uma cena lamentável, de fato. Ao invés de me ajudar, o dono da bolinha rosa, começou a rir da minha cara! Eu quase pirei e joguei a caixa na cabeça dele. Quase. E então, com pinta de herói, chegou o Rafael, entrando pelas portas duplas do prédio. Eu quase rolei os olhos quando uma brisa fez o cabelo dele balançar. Isso é tão... Coisa de sessão da tarde. Caramba, minha vida está virando uma sessão da tarde! Matem-me, por favor.

Daí o metido a herói me viu, e assumiu uma expressão cômica, enquanto se esforçava para não rir da minha desgraça. Quando lancei um olhar ameaçador, ele se apressou a vir em meu encontro. Tudo que ele disse foi, “solta”. Sério mesmo, porque eu não pensei nisso antes?

E depois, provavelmente para me irritar, ele me ajudou a carregar a caixa de volta para o apartamento.

E foi aí que as coisas complicaram.

Lembra que eu estava lavando a louça? Pois é, eu esqueci de fechar a torneira. E digamos que eu fiquei um tempinho lá embaixo. Resultado? É melhor eu nem comentar.

E agora aqui estou, forçando uma expressão de cachorro-que-caiu-da-caixa-de-mudanças para minha vó, metralhando Rafael que me olhava de forma severa, e fuzilando o carinha que queria interditar o apartamento.

— É só secar! Nem molhou tanto assim! — Mentira, a cozinha estava toda e completamente alagada, e a água já começava a invadir a sala também.

O velho nem olhou pra mim quando falou.

— Não queremos arriscar. Precisamos ter certeza de que esse local é seguro antes de qualquer coisa.

Bufei.

O principal motivo de eu não querer que interditassem o apartamento, seria que eu não poderia dormir aqui. Ou seja, teria que dormir em outro lugar. Avá.

Mas nem é essa a questão. A questão é onde. Joseph havia aparecido literalmente do nada, bem quando o velho careca de cabelos crespos dizia para minha vó que precisávamos ficar alguns dias fora. E o tio do loirinho ofereceu de forma generosa o apartamento deles para nós ficarmos até que tudo se resolvesse.

Minha reação? De pânico, é claro.

— Mas carinha!

Finalmente ele olhou para mim.

— Você ouviu alguma coisa do que eu disse?

Olhei irritada para ele e simplesmente mostrei a língua. Alguns presentes ofegaram chocados, e antes que aquilo se transformasse em uma guerra, Rafael me puxou pelo braço.

— Vou com ela pegar suas roupas.

E me arrastou para meu quarto.

— Garota, qual o teu problema? — Quem estava irritado agora era ele.

— O meu problema? — Ergui os braços de forma dramática. — O meu problema é você.

— Então é melhor você começar a se acostumar com esse problema em questão.

Ponho as mãos na cintura.

— E se eu não quiser me acostumar?

— Então o problema é teu.

— Mas querido, o problema é você. Como o problema pode ser meu?

— Sei lá, usa aquilo que você chama de cérebro. Agora se mexe, e comece a arrumar o que você vai precisar.

— E se eu não quiser? — Sento na cama de forma desafiadora.

Ele estreita seus olhos azuis, e cruza os braços, enquanto se escora na parede.

— Ótimo.

— Ótimo. — Respondo.

E assim ficamos, nos encarando de braços cruzados e expressões assassinas, até que alguém bate na porta. É minha avó.

— Depressa, nós já vamos ir. E Adelina, eu não estou braba contigo. Mas vou ficar se você demorar mais um pouco.

Saio da cama batendo o pé.

— Ô infeliz, você mesmo, que está escorado na parede, vem aqui me ajudar.

— Está me achando com cara de empregado?

— Não, não. De criado mesmo. Agora vem aqui.

— Chata.

— Eu ouvi isso.

— E quem disse que não era para ouvir?

— Está tentando me irritar? — Pergunto tentando parecer sinistra e perigosa. Em vão.

— Acho que não é preciso muito esforço para te irritar.

Mostro o dedo do meio para ele, e então abro o guarda-roupa. Pego algumas roupas.

— Coiso, pega aquela bolsa vermelha ali no lado pra mim?

Ele pegou e trouxe até mim.

— Valeu.

Enfio tudo dentro dela, que é grandinha.

— Adelina?

— Hnm?

— Só não te esquece da Barbie, tá?

Acerto um tapa em sua nuca, e ele começa a rir de mim.

— Seu demente. Pode continuar rindo feito o australopiteco que é. Humph!

Saio do quarto e atravesso o apartamento com passos largos, e logo estou em frente à toca do inimigo. Respiro fundo e abro a porta. Vovó já está lá, conversando com Joseph.

Logo sinto a presença de Rafael atrás de mim.

— Que bom que vocês estão aqui. Como só temos dois quartos, Tereza vai ficar com o meu, e eu vou dormir no sofá. O que significa que você e Rafael precisarão dividir o mesmo quarto. Rafa, ajude ela a levar suas coisas até lá.

— Pode deixar, tio.

Ele toma a bolsa de minhas mãos, enquanto continuo petrificada no lugar. Isso não pode ser real. Eu e Rafael? No mesmo quarto? E agora meu Deus, o que eu faço?

— Adelina?

Ele balança a mão na frente do meu rosto, me despertando de meu torpor.

— Hnm?

— Vamos?

— Uhum.

Caminho feito uma múmia, ainda aturdida. Paramos em frente a uma porta com alguns adesivos colados nela, que nem me dou o trabalho de tentar decifrar. Continuo avoada quando ele a abre, e revela um quarto claramente masculino. Mas não é bagunçado como a maioria dos quartos de meninos deve ser. Caramba, é mais organizado do que o meu quarto! Entro com passos de tartaruga.

Ele deposita a bolsa em cima de uma cadeira e então se vira para mim.

— Você pode ficar com a cama, e eu vou dormir em um colchão no chão. O banheiro fica no final do corredor. Alguma pergunta?

— Nós vamos dormir no mesmo quarto?

— Você realmente perguntou isso?

— Hnm... Sim?

— É óbvio que vamos dormir no mesmo quarto.

— E como eu saberei que você não vai tentar nada contra a minha pessoa?

Ele estreitou os olhos para mim.

— O que você está querendo dizer?

— Ah, sei lá... — Comecei a mexer de forma inquieta no meu anel da sorte, que aparentemente só me trazia azar. — Você pode tentar fazer alguma brincadeira de mau gosto comigo. Ou então... — engoli seco — ...tentar me beijar. De novo.

Quando ele falou, seus olhos brilharam.

— Minha querida, eu te garanto que não farei nada que você não queira.

Muito tranquilizador, porque ultimamente não era boa ideia confiar em mim mesma.

— Ok. O que eu faço agora?

— Me ajuda a arrumar a minha cama.

— Pode ser.

Ele catou o colchão, e o espichou o mais longe o possível da cama. Ajudei ele a arrumar a cama provisória de forma bastante desajeitada, pelo fato de eu não ser boa nisso, e por estar nervosa com a situação.

— Venham tomar café!

Ouço Joseph gritar da cozinha para nós.

Permaneço em silêncio enquanto nos dirigimos para a sala de jantar, que expele um delicioso cheiro de café. Continuo em silêncio enquanto sento e me sirvo. Recebo um olhar confuso de Rafael.

— Vó?

Ela me olha.

— Me desculpe, tá? Não foi de propósito. Eu simplesmente me esqueci de desligar a torneira.

Ela me oferece um sorriso amoroso, enquanto cobre minha mão com a sua, que não deixo de comparar com a textura de um pergaminho.

— Eu sei, minha querida. Você jamais faria uma coisa dessas de propósito. Além do mais — sua voz adquiri um tom de humor — poderia ter sido pior, não é mesmo? Lembra daquela vez em que você pôs fogo na lixeira da cozinha? A casa podia ter pegado fogo junto.

E então começamos a partilhar lembranças de desastres. Quase morri asfixiada com um biscoito quando Rafael contou a vez em que a mãe o esqueceu em uma loja, e ele correu atrás dela, e quando passou em uma esquina, uma mulher com uns duzentos quilos começou a tentar seduzi-lo.

Depois que terminamos, eu e o Rafa nos voluntariamos para limpar a mesa. Vovó e Joseph foram para a sala assistir televisão.

Inicialmente ninguém falou nada, mas então eu resolvi abrir minha bocona grande.

— Onde estão teus pais?

— Mortos.

Sério, porque eu simplesmente não fico quieta de vez em quando?

— Eu sinto muito, eu não queria...

— Não se preocupe, eu não fiquei brabo. Já faz dez anos. Eu tinha sete na época. — Ele encosta as mãos na mesa, e seu olhar parecia perdido. Estávamos indo para a praia, e então aconteceu um acidente horrível. Meus pais e minha irmã mais velha morreram. Só eu sobrevivi. E desde então Joseph é como um pai para mim.

Seu olhar está carregado de tristeza, e sinto uma vontade esmagadora de consolar esse garoto. Minha mão repousa em seu ombro, e então ele ergue a cabeça em minha direção, e nossos olhares se cruzam. Algo surreal acontece. Como um entendimento mútuo. Uma força invisível parece ganhar forma, e me empurrar em sua direção. O mesmo parece acontecer com ele, enquanto dá um passo para mim.

— Vocês já terminaram?

Joseph grita da sala. Dou um pulo assustado para trás, enquanto Rafael apenas suspira.

— Quase. — Ele responde sem ânimo.

Terminamos sem demais acontecimentos do gênero.

Ficamos um pouco na sala, assistindo TV. Mas não presto atenção no programa que está passando. Fico hipnotizada pelo som da chuva, e imaginando as estrelas naquele momento. Solto um bocejo de sono, que não passa despercebido.

— Adelina, você quer ir se deitar? — Joseph pergunta de forma amistosa.

Afirmo com um aceno.

— Rafael...

— Pode deixar.

Ele me acompanha até o quarto.

— Acho que também vou dormir agora. Essa chuva me deu sono.

Concordo enquanto cato um pijama na bolsa.

— Vou no banheiro, e já volto.

— Ok.

Escovo os dentes e troco de roupa. Quando volto para o quarto, Rafael já está vestido para dormir. Devo acrescentar que é um pijama incompleto. A não ser que ele realmente quisesse ficar só de calça de flanela. Ele olha para meu pijama, constituído de uma regata com uma panda feliz, e um mini short preto.

— Já volto.

Subo na cama, e fico em uma posição fetal. Me amaldiçoo internamente por gostar do perfume que o travesseiro possui.

— Adelina? Posso desligar a luz?

Dou um ‘sim’ sonolento para ele, que desliga a luz. O quarto fica completamente escuro, enquanto ouço seus passos e logo após o barulho de seu corpo contra o colchão.

— Boa noite chata.

— Boa noite idiota.

Fecho os olhos e me permito afundar na escuridão.

Parece que o tempo mal passou quando meus olhos se abrem repentinamente, e meu coração parece estar tendo convulsões.

Trovoadas parecem fazer o chão tremer. Mas isso provavelmente é só eu, com medo de trovões. Aliás, a palavra correta é terror.

Sim, a destemida Adelina tem medo de trovões, e daí.

Só existia uma coisa que fazia esse medo sucumbir. Outra pessoa.

Travei uma guerra interna, e quando finalmente me dei por vencida, saí da cama com as pontas dos pés. Fui tateando no escuro, até encontrar o colchão no chão.

Dei uns tapinhas nele.

— Rafael, vai pra lá.

— O quê?

Sua voz parece feita de sonhos, enquanto ele parece semiconsciente.

— Eu tenho medo de trovões. Agora vai pra lá que eu não quero dormir sozinha.

Pois é, a situação estava realmente crítica.

Ele deu espaço para eu deitar, e quando o fiz, o pânico sumiu consideravelmente.

— Obrigada. — Murmuro para ele.

— Não tem de que.

Sinto um de seus braços passar por cima de mim e em puxar mais perto dele. Não faço nada, apenas me deixo obedecer. Sua respiração se mistura a minha, e quando menos percebo, minhas pálpebras parecem pesar toneladas. Elas vão se fechando lentamente, enquanto me sinto abraçá-lo de volta.

Caio em um sono sem sonhos.


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