Amor À 19 Vista escrita por RoBerTA


Capítulo 10
Isso não foi um encontro, ok?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Hila e Savanna, pelas recomendações M A R A V I L H O S A S *-------------* Vocês são duas gatuxas fofonas. Aliás, eu amei todos o reviews do capítulo passado ^^. Boa leitura, lidjas!!



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Adivinhem?! Pois é, minha vó acreditou no papo da ilusão de ótica. Eu sou um gênio, eu sempre soube.

— Adivinha Adelina? — Hoje parece ser o dia das adivinhações. Aliás, porque meu nome tem que combinar de modo bizarro com “adivinha”?

— Sei lá, o Sedex tá lerdo e minha bolinha de cristal ainda não chegou.

— Bolinha de cristal? — Lembram de quando eu disse que precisava ensinar a ela a ironia? Pois é, ainda preciso. Mas sou uma pessoa muito ocupada e com uma agenda cheíssima, tanto que passei a manhã toda assistindo desenho animado. Já disse que o Scooby Doo é meu ídolo?

— Não é nada relevante. Qual é a novidade?

Nesse momento ela começa a bater palmas de uma forma suspeitosamente extasiada. Lá vem bomba.

— Eu falei hoje mais cedo com o Rafael, e pedi para ele te levar no cinema de tarde. Ele adorou a ideia.

Tenho certeza que ele adorou. Porque não adoraria? Perder uma chance de me atormentar não é nada ele.

— Mas eu vou estar com dor de cabeça!

— Como você sabe que vai ficar com dor de cabeça?

— Porque eu estou com fome, daí quando eu for na cozinha comer, vou me esquecer de que tem um armário em cima do balcão, e quando terminar de fazer o sanduíche erguerei a cabeça, e vou bater a testa bem no canto do armário, e vou ficar com uma dor ridiculamente horrível. — Termino sem fôlego.

— Mas não tem nenhum armário na cozinha.

Hã?

Olho por cima do ombro, em direção à cozinha, só pra ter certeza. Que legal, realmente não tem nada pontudo o suficiente para eu bater a cabeça e desmaiar. Acho que é na minha casa que tem armários.

— Acho que você tem razão. Mas de qualquer forma, eu não quero ir.

— Você me deve uma, depois daquele jantar.

Eu não acredito nisso, ela está jogando sujo!

— Ok.

Mas como eu sou uma menina bonita e bem obediente, hein. Está para nascer alguém igual.

Ela dá uma espiada em seu relógio de pulso, que sinceramente, acho horrível.

— Vá se arrumar, que daqui meia hora ele vem te buscar.

Bufo de raiva, e vou para meu quarto. Quando vou escolher uma roupa, faço questão de pôr um jeans, ao lembrar-me de sua moto. Coloco uma blusa do Frajola, e faço um rabo de cavalo. Não perco tempo me maquiando ou tentando ficar mais bonita, só pego minha bolsa com o essencial.

Antes de sair do quarto, ouço a campainha tocar. Visto minha melhor cara de ranzinza e emburrada, e vou em direção a minha pobre vitima.

Ele está lá, escorado na porta, conversando com minha vó de forma despreocupada. De repente tenho vontade de beliscá-lo, por ser tão lindo.

Ómeusdeuses. Eu não creio que acabei de ter esse pensamento alienígena e depravado. Ele, lindo? Jamais. Se bem que aqueles olhos... São horríveis! É, horríveis. Mas sua boca beijável até que...

Cala a boca Adelina! Eu te ordeno!

Ok, eu acabei de me mandar calar a boca no pensamento. Maravilha, estou ficando mais louca do que já sou.

Quando chego mais perto dos dois seres humanos, ele sorri ao me ver, mas logo substitui por uma expressão de chato mesmo, sabe aquelas pessoas que chupam um limão? Pois é. E adivinhem o que o cretino disse?

— Você está bem feinha hoje.

— Obrigada. Acontece que eu me vesti justamente para combinar contigo.

Ele ergue as sobrancelhas para mim.

— Porque deveria combinar? Isso não é um encontro.

O que aconteceria se eu enfiasse um lápis no pescoço do cretino?

— Querido, isso certamente não é um encontro. Você precisaria nascer umas dez vezes para que eu chegasse a pensar em pensar se sairia contigo.

— Engraçado, porque acho que você não tinha essa mesma opinião ontem , enquanto dançávamos.

Uau, isso foi golpe baixo.

— Deixe-me esclarecer uma coisa. Eu estava delirando, ok? Foi culpa das bactérias daquele copo duvidoso que eu bebi ontem.

— Duvido. Se eu fosse uma bactéria, iria me manter bem longe da tua boca, e ficaria no copo duvidoso mesmo.

Minha vez de rir.

— Sério? Porque eu estou achando que você não pensa sempre assim.

Ele estreita os olhos para mim. E só nesse momento me recordo de que minha vó ainda está lá, em pé, assistindo nosso debate altamente instrutivo. Ela não exibe expressão nenhuma, mas seus olhos brilham. Acho uma boa hora de ir assistir o tal filme.

Empurro Rafael pra fora da porta, diretamente no elevador. Ele me olha intrigado.

— Eu não quero que minha vó saiba que nos agarramos.

Ele finge ficar ofendido.

— Agarrar? Como você pode menosprezar nossos beijos, carregados de amor e arco-íris, com tamanha facilidade?

Dou um tapa na sua nuca.

— Cala a boca.

Ele começa a rir de mim.

— Sim, senhorita.

Passamos por André, que nem nos nota, e novamente sou obrigada a subir na sua garupa.

— Segura firme.

E é o que faço.

Enterro o rosto entre seu pescoço e cabelos macios. Quero dizer, ásperos e amarrotados.

O tempo todo fiquei sentindo seu perfume, que eu acabei comparando com o sol. Eu tenho quase certeza que se o sol tivesse cheiro, seria esse. E o verão também. E amarelo.

Que vontade de vomitar.

Quando ele para a moto, praticamente pulo dela, e vou em direção ao shopping.

— Espera!

Ele vem correndo, e logo está caminhando ao meu lado, atraindo vários olhares de piriguetes, digo, garotas sem cérebro.

— O cinema fica no segundo piso, vem.

Sou obrigada a segui-lo, já que não conheço esse shopping.

Quando paramos em frente à bilheteria, acho que é esse o nome, se não for, tanto faz, ele me pediu o que eu queria assistir.

Dou uma olhada nos filmes em cartaz, quase solto uma gargalhada maligna quando escolho.

— Eu quero assistir Amanhecer.

Ok, deixe-me esclarecer uma coisa. Não sou fã, mas também não odeio, sou completamente neutra, como água potável. Mas eu sei como os garotos amam Crepúsculo, e eu não podia perder a oportunidade de infernizar a vida dele, certo?

Ele sorri de modo forçado para mim, enquanto compra dois ingressos. Enquanto isso, vou comprar pipoca. Furo a fila de modo cruel, enquanto algumas pessoas indignadas me xingam, e eu as xingo de volta, ameaçando-as com voodo.

— Quero uma grandona, a maior, doce. E duas cocas. E rápido.

A mulher me olha irritada, e parece querer me xingar.

Pago tudo, e vou aonde Rafael está me esperando.

— Pega. — Jogo a coca pra ele, torcendo para que acertasse na cabeça, mas infelizmente o infeliz tem bons reflexos.

Naquele momento, uma garrota com óculos enormes, caderninho e caneta na mão, vem em nossa direção.

— Ei, vocês dois. Eu sou a Mary, e estou fazendo uma pesquisa para a escola. É sobre casais. Será que vocês poderiam me ajudar?

Já havia aberto a boca para dizer de todas as formas possíveis que absolutamente não éramos um casal, quando Rafael fala por mim.

— Claro.

Olho com raiva para ele, e tudo o que faz é sorrir para mim, me desafiando.

— Ok, primeira pergunta. Como vocês se conheceram?

— Eu vi a calcinha da Barbie dela, e como queria saber se o sutiã era da Polly, ou da Susi, ou quem sabe das Bratz, resolvi namorar ela.

Olho chocada para ele. A menina fica vermelha, salientando seu ruivo e camuflando suas sardas.

— Próxima pergunta?

V Bem, ér, hnm, é. O que mais atrai um no outro?

Dessa vez eu respondo.

— O fato de ele ter sido gay até me conhecer. Eu adoro quando seus ex me param na rua para agradecer por ter transformado o Rafinha em homem. Eles sempre dizem que ele era uma vergonha pros gays, e que nem pra isso prestava.

Rafael sorri de modo frio pra mim.

— E eu adoro esse lado barraqueiro da minha Adi. Ela pode parecer uma Barbie, e quando digo isso, não to só falando da aparência, mas falo também do seu intelectual, que é tão grande quanto o de uma ameba. Mas isso é legal, sabe, ter uma namorada cuja inteligência é adoravelmente singela. Essa garota brigando, meu Deus, às vezes eu fico pensando se ela não é hermafrodita.

— Próxima. Mando enquanto continuo fazendo contato visual com o Rafinha.

— Bom, quais são seus planos para o futuro?

— Eu e a Adi vamos nos casar em Las Vegas, por que lá é o lar da minha Barbie, depois vamos ter um punhado de filhos. Por que você sabe, essa garota é terrível. — Ele me olha com malícia, e tenho vontade de chutá-lo. — Mas eu provavelmente vou morrer antes, asfixiado por um travesseiro enquanto durmo de forma altamente suspeita, e a Adi vai voltar para a vida que tinha antes de me conhecer, com seu entusiasmo eufórico por esquinas, e depois vai se casar com um velho muito rico, que provavelmente vai morrer na lua de mel.

— Uau, adorei conhecer vocês dois, de verdade. Aliás, vocês são um casal lindo, que claramente se amam até a morte. Obrigada pela ajuda, mas eu preciso ir. Tchau.

E a garota sai quase correndo de lá.

— Que garota estranha.

— Nem me fala.

— Vamos, o filme já vai começar.

O puxo pela manga, e ele se obriga a me seguir.

Tropeço numa lixeira, mas Rafael me segura para não cair. Sentamos-nos num canto, bem no fundo. Quando o filme começa, um casal se senta na nossa frente.

E começam a se engolir. Oops, quero dizer, a se amar publicamente. Ah, que se dane, eles estavam se engolindo sim. Fazendo barulhos irritantes de sucção.

— Ô, vocês aí. Vão pra um motel. Seus sem vergonha!

Nesse momento, estou de pé, quase gritando. Ganho em troca vários olhares irritados e “cale a boca” de pessoas chatas. O casalzinho apaixonado me xinga, com palavrões terríveis. E que eu não vou repetir. Há.

Quando estou prestes a rebater, Rafael me puxa, e acabo caindo sentada em seu colo.

Quando é a ele que vou começar a xingar, ele me corta.

— Fica quietinha, senão vão mandar a gente sair daqui.

Viro-me um pouco, o suficiente para encará-lo. Seus olhos estão brilhando para mim, e de repente, sem minha própria permissão, eu me aproximo mais de seu rosto.

Agora é possível sentir sua respiração irregular contra meu rosto. Quando nossos lábios estão quase se encostando, algo acontece.

E que algo.

A cadeira se quebra, com nós dois em cima. Desabo completamente por cima dele, que xinga baixinho.

— Você está bem?

— Melhor do que você, com certeza.

Sinto vários pares de olhos em nós, que opto por ignorar.

Levanto com muita dificuldade, e depois o ajudo a se levantar.

Quando já estamos de pé, aquela mulher chata aponta para nós dois.

— Vocês, fora. E rápido.

Adivinhem!?

Fomos expulsos do cinema, mas pelo menos não precisamos pagar a cadeira.

— Isso é culpa sua. — Ele fala de repente, sentado no outro lado do banco.

— Minha, como assim?

— Se fosse mais magra, não teria quebrado.

O QUÊ!?

— Culpa minha?! Quem mandou você me puxar pro seu...

Minha voz morre naquele momento, quando vejo uma loja e minha alma gêmea em sua vitrine.

Saio correndo feito uma doida, e entro na loja. A atendente me olha como se eu fosse doida. Mas caramba, eu sou doida!

— Aquele vestido, — aponto — eu quero prová-lo.

Olho-me no espelho, e quase babo. Se eu fosse menino, eu me pegava! Que raios eletrizantes de pensamentos foram esses?!

Balanço a cabeça, enquanto olho mais uma vez.

É preto, tomara que caia, e talvez um pouco curto demais. E com certeza também marcava bastante. Mas o que eu realmente havia amado, era a renda que cobria todo o vestido. Também era negra, igual ao tecido por baixo. Os desenhos iam mudando do busto até o final do vestido. Flores, padrões trançados, desenhos que nem eu era capaz de compreender, e algumas outras formas estranhas, porém lindas.

Saio do provador, e vejo Rafael sentado numa cadeira, com o queixo apoiado nas mãos, e a expressão pensativa.

Quando me vê, sua boca simplesmente fica escancarada.

— Fecha a boca, antes que você se engasgue com os átomos de oxigênio.

Rapidamente ele fecha, e sua expressão fica neutra.

— Não ficou ruim.

— Obrigada, rei dos elogios mirabolantes. — Retruco, irônica.

Naquele momento, um bando de garotos bate na vitrine da loja, e começa a assobiar e dizer coisas incompreensíveis para mim.

Rafael parece extremamente irritado. Ele me puxa pelo braço, e quase me joga dentro do provador.

— Se troca, que a gente precisa ir.

Bufo e resmungo baixinho enquanto me troco.

Depois de vestida, vou até o caixa e pago o vestido. Pego a sacola e agradeço a moça, que parece ter encarnado a simpatia depois que paguei o vestido.

Tenho que acelerar o passo, para não ficar pra trás.

Rafael sobe de forma rápida na moto.

— Sobe.

Ele fala de um jeito estranho, com uma voz completamente estranha. Parece... Frustrado.

Subo na moto, e seguro bem minha sacola e minha bolsa. O aperto com o outro braço, enquanto ele parece estar tenso. Enterro novamente a cabeça em seu pescoço, e quando o faço, parte de sua tensão parece sumir.

Sem avisar, ele dá partida.

A volta é rápida, e quando ele para na frente do apartamento, espera eu descer. Quando já estou estabilizada, ele me encara, ainda em cima da moto.

— Diga para a sua vó que eu falo com ela amanhã. — Concordo.

Ele está prestes a dar partida de novo, quando encosto minha mão em seu pulso. Sua pele parece se arrepiar.

— E Rafa, isso não foi um encontro, ok?

Por um momento, a sombra de um sorriso atravessa seu rosto, mas logo depois ele fica sem expressão novamente.

— Claro que não. Afinal, falta isso para ser um encontro. — Ele me pega desprevenida, quando inclina o rosto em direção ao meu, e rouba um beijo rápido, apenas um roçar de lábios — Oops, acho que agora, é um encontro.

E assim ele vai embora, me deixando confusa com um vestido que me levou à falência, na mão.

Espera, eu acabei de ter um encontro com o Rafa?

Espera ao quadrado, desde quando eu o chamo de Rafa?


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