Sempre Com Você escrita por oinani
Naquele momento a única coisa que eu queria fazer era morrer. Não havia dor semelhante àquela de sentir a perda de alguém querido. Já a tinha experienciado com Caspian e agora poderia experiencia-la com Peter.
Levantei-me. Por um segundo, todo o meu corpo voltou a ceder e tive de me encostar à parede para evitar a minha queda. Voltei a tentar erguer-me completamente e com muita dificuldade dirigi-me à casa de banho. Tomei banho e comecei a reunir coragem para contar as novidades a Lucy e a Will. Subi as escadas lentamente e dirigi-me ao quarto de Lucy. Bati levemente à porta e logo a sua voz me disse para entrar.
-Lucy… Tens um momento? – ela parecia estar a estudar pois tinha os livros e cadernos da escola todos espalhados pela secretária.
-Sim. – sentei-me na sua cama e fiquei a olhar para ela. Lucy finalmente parou de escrever e focou a sua atenção em mim. – O que é que queria dizer-me?
-Bem…A mãe ligou-me. – nos olhos de Lucy apareceu um brilhozinho de esperança.
-A sério?! Como é que Peter está?
-Bem, ele… Ele…Ele pode perder a memória. – durante algum tempo Lucy não reagiu. Não falou. Ela estava a absorver o verdadeiro significado das palavras que eu lhe tinha dito. Lentamente, lágrimas começaram a escorrer-lhe dos olhos. Eu levantei-me e abracei-a. Nenhuma de nós disse nada durante algum tempo até que eu interrompi esse silêncio.
-Não te preocupes, vai ficar tudo bem. – eu não tinha a certeza se estava a consolar Lucy ou se estava a consolar-me a mim própria.
Quando saí do quarto de Lucy, a vontade de chorar era mais do que muita, mas eu tinha que ser forte. Eu sabia que se uma só lágrima voltasse a cair dos meus olhos naquele momento, nunca mais seria capaz de parar. Voltei a pegar no telefone e liguei para a casa de William. Uma voz calma falou do outro lado.
-Estou?
-William, sou eu, a Susan.
-Susan. Como é que estás? Já há novidades?
-Sim, já. A minha mãe ligou-me e fiquei a saber que o Peter pode ter repercussões severas.
-Que tipo de repercussões?
-Ele pode vir a sofrer de amnésia e pode perder a sua rapidez de raciocínio. – Durante algum tempo William não respondeu.
-Mas ele está bem, certo?
-Do ponto de vista físico acho que sim.
-E quando é que ele volta para casa? – Era uma boa pergunta. Eu tinha ficado tão ferida com as notícias sobre o estado de Peter que me esquecera completamente de perguntar a Len quando é que ele voltaria.
-Não sei Will. Esqueci-me completamente de perguntar a Len.
-Não faz mal Su. Como é que está Lucy?
-Mal, como deves calcular. O Peter e Lucy dão-se mesmo bem.
-E tu e o Peter também. Tu és muito importante para ele Susan.
Era importante para ele. Agora podia já não ser nada. Ele agora podia nem me reconhecer. Ia recomeçar a chorar se continuasse a pensar nisso.
-Se tiveres mais novidades liga-me por favor Su.
-Assim farei. Adeus.
Pousei o telefone no descanso e sentei-me num dos sofás que tínhamos na sala. A casa parecia muito mais triste com a ausência de Peter, Edmund e Len. Eu não sabia o que fazer. Sentia que isto tudo estava fora do meu controlo. Eu sabia que o meu mundo se encontrava a desabar e eu não fazia a mínima ideia o que mais poderia eu fazer para o impedir de cair.
Fui acordada pela entrada de alguém da casa. Levantei-me subitamente e corri para o hall. A minha mãe encontrava-se ali, com olheiras descomunais e um ar completamente fatigado.
-Mãe, eu ajudo-te. – disse eu agarrando na pesada mala dela e levando-a para o quarto de Len. Ela seguiu-me e pousou o resto das coisas no seu quarto.
-Quando é que ele volta? – questionei-a eu.
-Provavelmente segunda à tarde já deve estar aqui. Mas não há garantias disso.
-Ele já… Já mostrou ter amnésia? – engoli a dor que aquela pergunta me provocava.
-Não. Ele mal esteve acordado. Têm-lhe dado muitos sedativos.
-Porquê é que eles haveriam de fazer isso? – perguntei-lhe eu chocada.
-Quando se tratam de casos suicidas, os médicos e enfermeiros tomam certas precauções para que não os pacientes não o voltem a tentar fazer enquanto estão no hospital… Onde é que está a Lucy?
-Está no seu quarto. Ela está muito abalada, como deves imaginar.
-E tu querida? Como é que estás? – com toda a minha força de vontade consegui impedir as lágrimas me corressem pela cara.
-Sabes que é difícil… Não consigo lidar muito bem com esta situação.
-Não te preocupes, vai ficar tudo bem. – engraçado que ela utilizara exatamente as mesmas palavras que eu tinha usado para consolar Lucy. Len continuava a andar de um lado para o outro, desfazendo a sua mala. – Diz-me, alguém me ligou enquanto estive fora?
-Sim, o William ligou na noite em que Peter foi para o hospital.
-Oh o meu querido William, contaste-lhe o que se passou? – a minha mãe conhecia William desde criança.
-Sim, mãe.
-Fizeste bem. Afinal, ele é o amigo mais íntimo de Peter. Ele é das únicas pessoas fora da nossa família que merece saber o que aconteceu a Peter.
-Len, onde é que está Edmund?
-Ficou com Peter, claro.
-Como é que ele está?
-Ele não demonstra nada do que está a sentir, mas tenho a certeza absoluta que está abalado como nós. – concordava completamente com Len. Edmund estava tão preocupado com Peter como eu estava. Podia até estar mais.
A minha mãe abandonou-me e foi falar com Lucy. Decidi voltar para o meu quarto. Sentei-me no meu confortável cadeirão branco e fixei a parede. Peter era o meu irmão. Se ele não se lembrasse de mim é como se eu nunca tivesse existido para ele. Eu seria apenas uma desconhecida para ele. Todas as nossas aventuras, discussões… Já estava a chorar novamente… Nada disso alguma vez tivera acontecido para ele. Peter era das pessoas mais insuportáveis que eu alguma vez tinha conhecido na minha vida, no entanto eu não sabia o que fazer se eu o perdesse. Ele não ia conhecer a Susan Pevensie. Como é que eu conseguiria viver com isso?
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Olá a todos. Agradeceria imenso se dessem a vossa opinião :D