- Mããe! MÃÃÃÃEEE! – Gritei da escada – Vamos logo, estamos atrasadas!

- Esta bem, ohr! Lembre-se de não me deixar dormir tarde mais. – Ela disse descendo as escadas apressadamente.

- Eu tenho que te lembrar? Eu que sou a filha aqui. – Já falava impaciente.

- Okay senhorita apressadinha, estou pronta.

- Amén! – Revirei os olhos.

Pegamos o carro e fomos para a lanchonete onde costumamos tomar café, almoçar e a jantar quase sempre. O dia em Stars Villas estava bem agradável, e apesar do frio, fazia Sol.

- Então, o que vão querer? – Scott se aproximou com seu bloquinho de notas.

- Café! – Respondeu prontamente minha mãe.

- Tsc, novidade. O que mais?

- Ham... Mais um café. – Ela tornou a responder.

- Mas você já... – Minha mãe o interrompeu como de costume.

- Praaa... Viagem! – Dando aquele sorriso cínico.

- Quantas xícaras você já tomou hoje?

- Duas! – Ele ainda continuava olhando pra ela. – Ta bem, cinco! Mas... – Scott a interrompeu.

- Você tem problemas.

- É que o seu café é melhor.

- Ok, é só isso?

- Hun, não! Ham... Eu vou querer uns donuts.

- Quantos?

- Uns donuts.

- Especifique.

- Ok, uns dois. – Ela revirou os olhos.

Scott é o cético dono do estabelecimento que costumamos ir. Ele tem um humor bastante distinto, sempre sério e levemente irônico. Ele e minha mãe têm um relacionamento bem intrigante. Ela adora deixá-lo irritado, e ele parece que sempre cede as pirraças dela. O estilo do Scott também é inconfundível, pois sempre com um boné virado pra trás, camisa flanelada e uma calça jeans escura.

- Certo, e você Alex?

- Oh, o mesmo.

- Ok, 4 donuts, 2 cafés e mais 1 pra viagem.

- Hey Scott, por que eu tenho a impressão de que a lanchonete hoje esta mais cheia? – Perguntou minha mãe.

- Turistas.

- Oh, sério? Aonde?!

- Na mesa de trás. – Scott falava ainda anotando em seu bloquinho.

- Ham... De onde vieram?

- Mãe, não sei se você notou, mas já são 7:30.

- Esta bem reloginho. Scott, pode trazer nosso café.

- Respondendo sua pergunta: não sei. – Ele falou saindo.

Minha mãe virou para trás novamente, sem ter semancol se aquilo iria incomodá-los.

- Eles parecem desconfiados.

- Claro né, - Voltei a olhar pro cardápio - com metade de Stars Villas olhando pra eles quando passam pela lanchonete, meio difícil não ficarem... – Quando eu levantei a cabeça, ela ainda estava olhando. - Mãe! Pára de olhar, o que você esta fazendo? Ahr...

- Tá bem querida. – Sabia que ela não iria ceder tão facilmente. - Então você que esta virada pra eles, me responde uma coisa?

- Não. – Falei rapidamente.

- Alex, eu tenho uma colher, uma mesa...

- E?

- Hoje eu acordei com vontade de batucar em algo. – Ela falou mexendo no cabelo.

- Isso é chantagem, sabia?

Sim, ela é uma campeã em fazer chantagens. Passar por uma vergonha daquelas, eu não estava afim, e logo cedo de manhã.

- Vai fala, o que?

- Aquela pessoa toda maquiada, é uma menina ou um menino?

- O que?!

- Só olhe!

- Ham... – Olhei, e realmente era difícil de saber. – Não sei, é...

- A-há, viu! – Ela tinha dado aquele sorriso, toda convencida.

- Ai, sei lá! Acho que um menino. Pelo menos não aparenta ter seios.

Nós duas riamos daquilo, realmente todos eles eram meio estranhos e tinham um sotaque bem incomum, principalmente um que tinha rastas e o maquiado. Ambos pareciam ter uma pequena semelhança, mas não procurei reparar por muito tempo.

- Certo, já vou!

- Ei, ei, ei! Você nem terminou de comer o outro donuts, Alex.

- Não tem problema, como no caminho.

Enquanto estava pegando minha mochila, vi o Scott na mesa deles anotando impacientemente o pedido.

- Vocês estão aqui há 10 minutos, e ainda não se decidiram?!

- Eu vou querer apenas um waffle. – O garoto andrógeno respondeu, meio que enfadonho.

- Não temos waffle, será que você olhou o cardápio? – Scott lhe respondeu cruzando os braços.

- Então batata frita e uma coca-cola. – Retornou-o, sendo indiferente a grosseria do Scott.

- Pode trazer pra mim apenas 5 donuts. – Pediu um menino de boné e óculos.

- Eu não sei o que é um MegHamburger, aqui não tem foto. – Disse o de rastas.

- Você sabe ler, não é? Logo embaixo tem dizendo o conteúdo.

- Hey cara, o que é um “Cheddar Queen? – Pronunciou um outro garoto de cabelo loiro liso.

- O que? – Scott perguntou com um olhar que parecia querer matá-lo.

Neste momento, eu pude notar a expressão do Scott mudar, e mesmo minha mãe só podendo ouvir o dialogo, sabia que logo viria uma resposta nada agradável.

- Hey! Por que vocês não pedem um “Jingle Stars”? – Me intrometi, antes que aquilo gerasse em algo pior.

- O que seria um Jingle Stars? – Perguntou o de rastas.

- Ham, tem no cardápio o que vem, mas garanto a vocês que é uma delicia!

- Certo, então traga dois desse negocio aí. – O de cabelo liso respondeu fechando o cardápio.

- É, ok, ham... Tchau mãe.

Saí de lá e fui direto para o ponto de ônibus. Quando eu estava me sentando no banco, a Keiko chegou correndo.

- Alex, Alex, Alex! Ahr, que bom que encontrei você a tempo!

- Se calma, o que houve?

- Não posso, tenho que falar rápido antes que o relógio apite!

A Keiko era a minha melhor amiga, fora a minha mãe. Ela era viciada em música, descendente de coreanos e sua mãe... talvez tenha regido um exercito na outra vida. Sim, bastante rigorosa. A Sra. Agena é fanática pela bíblia e não aceita que sua filha saia com homens que não sejam coreanos e não tenham medicina em mente. Apesar de todos estes atributos para a Keiko ser uma menina recatada, ela é a pessoa mais otimista e legal que conheço.

- Está preparada?

- Fala logo, poxa!

- Uma banda famosa da Europa alugou uma casa em Wimpenshare para passar as férias! – Ela parou e ficou me olhando entusiasmada.

- Ta bom, e? Qual o nome? – Meio que não entendi o significado daquilo.

- E? Como assim “e”?

- Deveria saber?

- Alex, acorda! Connecticut está evoluindo!

- Acho difícil isso...

- Por quê? – Ela ainda continuava entusiasmada mesmo com a minha reação.

- Pára pra pensar... Se eles estão vindo pra cá, é porque certamente ninguém deve ter ouvido falar deles. Logo, eles devem pensar que nossa cidade é tão atrasada que até se o Tom Cruise passasse na nossa frente, não reconheceríamos.

- Oh caramba, é verdade! – Foi ruim vê-la ficando frustrada.

- Ei, de onde vem essa banda? E qual o nome?

- Algo chamado ‘Tokio Motel”, estão vindo da Alemanha.

- Como...?

- Internet. – Ela deu um sorriso amarelo.

- Alemanha?! Nossa, que... engraçado. - Infelizmente o relógio dela havia apitado naquele momento.

- Ok, tchau! – Ela saiu correndo para casa.

Queria perguntar mais, mas a vida da Keiko é bastante regrada. Contando ninguém acredita, mas tudo bem. Nós sempre arranjamos um jeito para sair de visão da Sra. Agena.

Concordo que aquela noticia me deixou um tanto intrigada, até porque onde eu estudo, é em Wimpenshare.