Halael desperta das lembranças repentinamente com o som de um trovão. Já não mais sentia a presença de Lilith, mas a de Aaron estava cada vez mais forte. Era como se ele estivesse se aproximando de Halael. Este não temeu. Achava-se preparado para qualquer ataque surpresa do duque infernal.

Halael imita Lilith e também pula do edifício, o que não era nenhum esforço. Segue na direção de Aaron. Em poucos minutos ambos estavam frente a frente. Entretanto entre eles havia uma movimentada avenida. Dava para notar que Aaron era quase dois palmos mais alto que Halael, e muito mais forte se considerado o tamanho dos músculos. Aaron retira o sobretudo e exibe o corpo musculoso e cheio de cicatrizes profundas. Vestia apenas uma calça jeans velha e suja.

“Não podemos sacrificar nosso anonimato em um duelo aqui” pensa Halael, enviando por telepatia o pensamento ao oponente. Em menos de um segundo recebe a resposta. “Dane-se”. E quando Halael percebe, Aaron está vindo em sua direção após um salto inesperado. Leva um soco no olho antes de poder revidar e cai na calçada.

Irritado, Halael se levanta e chuta o filho de Lúcifer com força e habilidade. Aaron cai, mas se ergue e revida com outro soco ainda mais forte, jogando o anjo renegado no para-brisa de um carro estacionado e estilhaçando o vidro. Aaron bufou e seu rosto assumiu uma expressão furiosa. Levantou Halael pelo paletó com a mão esquerda e socou-o diretamente no rosto diversas vezes com a mão direita. Aaron o soltou e Halael tombou imóvel.

Uma multidão cada vez maior se aglomerava em volta dos dois. Alguns mandavam Aaron acabar com a raça de Halael. Outros gritavam para Halael reagir, incentivando-o. E outros imploravam pelo fim da luta.

Halael se levanta com dificuldade. O nariz se transformara numa massa ensanguentada. Ele cospe uma bola de sangue e fechou as mãos com raiva. Aaron parte para o ataque, mas para seu espanto o adversário se esquiva dos dois socos que ele tentou aplicar. Um soco fulminante veio na direção do olho de Aaron, seguido por uma joelhada na altura do estomago. O duque da alguns passos para trás, tonto.

Cego de um olho, Aaron não pôde desviar de um chute em cheio no rosto e de uma cotovelada no peito, o que produz o som inconfundível de ossos quebrando. Aaron já estava morto, quando Halael se prepara para dar o ultimo golpe. O anjo caído ergue o braço, mas escuta um som oco e sente uma dor lancinante no cérebro. O corpo de Aaron desaba. Halael se vira de costas e vê, embora sua visão agora esteja turva, um policial com uma arma na mão.

A multidão se dissipara em um piscar de olhos...

Tudo estava muito confuso...

Halael é algemado e jogado no banco traseiro de uma viatura, que parte imediatamente. Três tiras estão com o caído no carro. De praxe, deviam ter lhe levado ao hospital, afinal Halael tinha uma bala na cabeça, mas eles não viram necessidade para isso. Halael poderia massacrá-los se quisesse. Seria muito fácil. E não queria ser preso.

Então Halael chuta o que está ao seu lado para fora do carro. Com os pés bate a cabeça do motorista contra a cabeça do outro policial. Com eles desacordados, a viatura segue por si só. Bate em um poste de iluminação pública. Halael, com habilidade ímpar, pega as chaves das algemas e se livra delas. Foge da viatura, mas ainda é fotografado por dezenas de curiosos que se amontoaram ao redor do acidente.

Halael só se lembra de ter fugido...

Quando acorda está em um beco sujo. Súbito, uma apavorante falta de ar. Só conseguia respirar pela boca. O sangue coagulado congestionara o que sobrara de seu nariz. A mente lutava para mantê-lo consciente, o que lhe dera uma dor de cabeça quase insuportável. Levanta-se com custo. As pernas trêmulas. As costas, cortadas pelo vidro do para-brisa, se recusando a se esticar.

Por milênios tentou passar pela raça humana despercebido. Mas em uma única noite arruinara esse anonimato. Alguns minutos após a luta com Aaron, vídeos seus estariam recebendo milhares de acessos no You Tube. Logo seria reconhecido nas ruas e depois perseguido por militares.