Aon escrita por Rodolfo Rodrigues


Capítulo 13
Capturados




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Os cascos ritmavam uma percussão acelerada na terra, os cavalos ofegavam, mas mantinham-se a toda força, a noite estava abafada e tenebrosa escondendo a lua atrás das nuvens que vez ou outra aparecia como uma espiã observando os cavaleiros na noite. Haourin e Guilherme avançavam sem descanso em direção a Tehamera a fim de encontrar os amigos que haviam desaparecido em uma batalha na estrada a caminho da vila.

Enquanto isso, no caminho pedregoso das montanhas ao norte, Glauber e Patrícia enfrentavam a besta que surgira no lago termal, uma criatura sombria de aparência peculiar. Sua estrutura esquelética e escamosa, dentes afiados, sem lábios com o nariz embutido no rosto, olhos fundos e negros espelhados, e pequenos chifres espalhados pela cabeça davam um ar tenebroso enquanto ela se equilibrava na própria cauda. Enquanto farejava em movimentos espasmos que logo cessavam, ela fazia um barulho como de um estralar de língua. Patrícia ficou encarando a criatura, estudando seus movimentos. A besta saiu da beira da fonte e rastejou usando as quatro patas no chão de forma bruta enquanto a cauda balançava sobre o chão lançando vários pedregulhos dentro da fonte. Se aproximou de Glauber e começou a farejá-lo, o garoto não percebia nada pois ainda estava sobre o efeito da fonte. A criatura se ergueu novamente na cauda e se aproximou de Glauber com uma das garras erguidas pronto para degolá-lo, mas, Patrícia transformou a fonte em uma lama pesada e pegajosa que agarrou os braços da criatura e a puxou para baixo, Glauber despertou instantaneamente e desesperado com a criatura se debatendo ao seu lado. Arrastou-se para fora da fonte onde estava Patrícia apenas coberta pela lama.

– Que merda é essa? - Perguntou Glauber ofegante.

– Não faço ideia. - Respondeu a Xamã.

– É uma Kristhyra. - Uma voz misteriosa surgiu das pedras.

– Revele-se. - Disse Glauber fazendo os olhos brilharem em tons azuis.

O olhar de Glauber poderia revelar a posição de um inimigo, mas não precisou procurar muito, uma vez que a pessoa se revelara entre algumas pedras um pouco mais ao alto.

– Quem é você? - Perguntou Patrícia segurando o cajado um pouco mais forte.

– Me diga você, vocês que estão em minha terra. - Respondeu a voz.

– Sou Glauber, um viajante do outro lado do mar e essa é Patrícia. - Respondeu o guardião.

– O que querem em minhas terras? - Perguntou novamente a pessoa ou ser, visto que trajava um capuz que lhe escondia a face.

– Você ainda não disse quem é você! - Retrucou Patrícia.

– Primeiro preciso saber se posso confiar em vocês, depois direi quem eu sou - Respondeu novamente a voz.

– Como vamos confiar em você, se você não nos diz o seu nome, já dissemos os nossos - Retrucou novamente Patrícia.

– Certo, vou levá-los como prisioneiros, quem sabe amarrados vocês conversem melhor. - Falou o encapuzado.

– Pode tentar, eu acabo com você sozinha - Disse Patrícia se preparando.

– Eu não me envolvo diretamente em lutas, eles sim - várias pessoas surgiram por entre as sobras, todas encapuzadas, com roupas de couro pesadas e com os rostos escondidos por mascaras, Patrícia e Glauber se prepararam para uma reação, mas suas visões ficaram turvas e pouco a pouco foram perdendo os sentidos, até não serem capazes de mais nada...

Haourin e Guilherme já estavam próximos ao local onde Sadi e os outros desapareceram, o jovem elfo desceu do cavalo e começou a procurar por pistas, mas não havia muito coisa pra se ver apenas várias marcas de passos, arrastões e o buraco no chão que a terra deixara registrado. Guilherme apenas observava o modo como seu amigo analisava o solo. Haourin caminhou mais um pouco girando no próprio eixo observando as pradarias com algumas poucas árvores. Aproximou de uma a direita da estrada, fez uma reverência e a tocou, ficou ali por um tempo encarando-a, enquanto continuava com a palma tocando seu tronco. Retirou três galhos da árvore e começou a riscar o chão formando um quadrado, colocou os galhos em cada ponta e a árvore ficou na última ponta que faltava, o elfo caminhou até o centro e ficou parado, Guilherme desceu do cavalo e tentou se aproximar, mas Haourin pediu para que ele ficasse onde estava e o jovem obedeceu.

Os riscos que formavam o quadrado começaram a brilhar e pessoas começaram a surgir, passando rapidamente pelo local, até que chegou a Sadi e os outros e a batalha começou a se desenrolar. O elfo pode rever toda a cena da luta que o dragão havia lhe mostrado, e agora conseguiu ver o que aconteceu após a explosão. Todos foram lançados para longe, a poeira se dissipou e três dos homens misteriosos cercaram Paloma, Victor e a bruxa e desapareceram, Sadi havia escapado quando voltou a estrada não suportou os ferimentos e desmaiou. Um grupo de carroceiros que por ali passava, ao ver o estado do rapaz pararam para lhe ajudar, cuidando de seus ferimentos, mas como este não acordava, decidiram levá-lo consigo até a próxima vila.

– E agora o que faremos? - Perguntou Guilherme.

– Seguiremos até a próxima vila, ver se encontramos Sadi e então iremos atrás dos outros. - Respondeu Haourin desfazendo a magia.

Ao acordarem, Patrícia e Glauber se viram presos em uma jaula num acampamento entre rochas. O local possuia uma iluminação lúgubre, que dificultava a visão. O máximo que conseguiam ver eram sombras se movimentando de um lado para o outro. A mulher misteriosa de antes foi até o local onde estavam presos levando comida e água para ambos.

– Então vão me dizer qual o propósito de vocês em minhas terras? - Disse a mulher enquanto observava-os.

Glauber expirou antes de falar – Estamos a procura de uma coisa, ou melhor, de um povo.

– Que seriam? - Perguntou a mulher cruzando os braços e o encarando firmemente.

– Dragões do mar! - Disse Patrícia antes de Glauber.

– Que interessante, por que querem achá-los?

– Quando irá dizer o seu nome? - indagou Glauber.

– Quando eu decidir que é o momento. Agora me digam, por que os procuram? - Disse a mulher misteriosa.

– Eles atacaram nossas terras, viemos descobrir quais são os próximos planos deles. - Respondeu Patrícia.

– Então, vocês são do povo de AON? - Perguntou a mulher.

– Exatamente, somos guerreiros em busca de respostas. Agora que sabe quem somos poderia nos soltar? - Disse Glauber.

A misteriosa mulher fizera menção de algo, mas um pombo passou entre as grades da gaiola e pousara sobre o ombro de Patícia. Em seu torso podia notar-se uma carta. A jovem leu o conteúdo e ficou espantada com o conteúdo desta.

– O que aconteceu? - Perguntara Glauber enquanto se aproximava.

– Sadi e os outros foram atacados, Haourin pediu para encontrá-los. - Disse Patrícia entregando o papel a Glauber e se voltando a garota encapuzada – Sei que você ainda tem mais perguntas e aparentemente você não está do lado dos Dragões do Mar, pela forma como vocês agem são um grupo rebelde contra os que reinam em suas terras. Peço humildemente que nos liberte, precisamos salvar nossos amigos.

– Como posso acreditar que vocês não são espiões do Reino? Por mim vão ficar ai até termos provas. Disse a mulher se afastando.

– Sinto muito por isso, não temos tempo.

– Sente muito? A mulher iria dizer mais alguma coisa, porém as grades da prisão explodiram e uma fumaça tomou conta do local, os homens se agitaram em busca dos fugitivos, mas eles já estavam longe.

Haourin e Guilherme já estavam se aproximando de um vilarejo antes de Tehamera, era possível ver a cidade do vilarejo, ela se mantinha mais alta do que a vila com grandes muros e torres desvanecidas por um azul devido à distância. A vila se chamava “Tusk” ou pelo menos era o que a placa em trapos aparentava estar escrita, se estendia por uma boa distância, mas grande parte era tomada por fazendas de gado e plantação. Sua terra escura não levantava tanta poeira ao caminhar, os dois desceram de suas montarias e a puxaram pelas rédeas até encontrarei um estábulo e pagarem pelos serviços de cuidados aos cavalos. Caminharam por algumas horas até encontrem um grupo de carroceiros comerciantes, conversaram com cada um dos homens em busca de informações sobre o elfo desaparecido, até descobrirem que ele havia sido levado a curandeira da vila. A mulher morava na floresta, próximo a um riacho onde se escondia do reino e seus impostos. Os jovens se deslocaram até o local, quanto mais distante ficavam do vilarejo e adentravam a floresta fechada, um rastro de destruição continuava a se estender levando até a cabana. A porta havia sido arrancada, as janelas estavam quebradas, uma fogueira ainda estava acesa do lado de fora. Guilherme levou uma pedrada na cabeça que não o feriu, mas o irritou. Olhou para o lado e encontrou uma criança com olhar enfurecido com mais algumas pedras em mão. Ele se aproximou do garoto com olhar irritado e o ergueu-o com apenas uma mão, poderia esmagá-lo se o pressionasse um pouco mais, porém Haourin fez com que largasse o garoto que tentou correr, mas fora impedido pelo elfo.

– Você mora aqui? - Perguntou o Elfo calmamente.

– Não é da sua conta, orelhudo. - Disse fazendo deboche com as mãos na altura das orelhas.

Haourin o acertou com um croque bem forte na cabeça fazendo o garoto cair de cara no chão, ficou de cócoras e o pegou pela nuca e começou a falar em um tom assassino.

– Olha aqui garoto, me de um bom motivo para não fazê-lo em pedaços nesse momento! Só quero saber o que aconteceu aqui, pois fui informado que um amigo meu foi trazido para cá e pelo jeito que isso aqui está ele pode estar passando por uma situação perigosa. - Disse voltando a sorrir.

– É isso mesmo, eles trouxeram um orelhudo - Haourin o lançou um olhar assassino – quer dizer um cara parecido com você, mas, de pele escura e minha mãe cuidou dele, porém homens do Reino vieram minha mãe tentou resistir e todos foram levados à torre do dragão. Disse o garoto por fim.

– Torre do dragão onde fica isso? - Perguntou Haourin.

– Em Tehamera, o local é impenetrável e somente pessoas que servem aos dragões do mar podem entrar. Aqueles malditos, um dia eu me vingarei por tudo o que fizeram com nossas terras. - Disse batendo com os punhos no chão.

– Tudo bem, já sabemos aonde ir Guilherme, o problema é que enviei uma carta a Glauber e Patrícia para que fossem em direção a Tehamera. Temos que chegar lá antes deles. - Disse o elfo se levantando para partir.

– Eu vou com vocês. - Disse o garoto já de pé e de punhos cerrados.

Guilherme o acertou um forte soco, o jogando para longe – não você fica aqui e arruma a casa para sua mãe. O Grandalhão iria dizer algo a mais, mas sentiu seu estômago roncar.

– Pelo menos comam alguma coisa, não quero que desmaiem antes de salvarem minha mãe.

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Glauber e Patrícia estavam em uma enrascada, corriam o mais rápido que podiam dos guerreiros encapuzados. A descida da montanha era irregular e qualquer deslize estariam perdidos em um precipício, de forma distante podiam ver uma enorme floresta, a xamã vendo que teriam problemas se continuassem correndo daquela forma decidiu invocar uma magia obscura.

– Glauber! - chamou a garota – irei lançar um feitiço, concentre-se em mim e não desvie do caminho. Disse fazendo o cajado surgir em sua mão.

– Nozorumãn[1]– O cajado brilhou intensamente e a terra se tornou escura, o céu ficou de um vermelho sangue como se corresse um rio sobre ele, havia apenas um caminho, uma trilha. Sombras passavam de um lado para o outro, havia barulho de correntes e o arrastar de corpos sobre a terra, algumas sombras chegavam a ser assustadoras e tudo isso impressionava Glauber, até que a garota o chamou a atenção para o caminho. – Lembre-se não se perca, não vou conseguir te salvar se você se perder, concentre seus olhos em mim e nada mais. Algumas horas se passaram até que eles conseguiram sair do caminho e Patrícia desfez om encantamento, já estavam muito distante da montanha, dias de caminhada era impossível alguém percorrer a distância que fizeram sem aquele poder, mas para a surpresa de Glauber e da Xamã eles ainda estavam cercados pelo grupo.

– Garota tola. Disse um dos homens encapuzados. – Nós também podemos percorrer o caminho dos mortos como você, mas nós conhecemos atalhos que você não gostaria de pegar, achou mesmo que iria escapar de nós? - O homem começou a se aproximar junto dos outros cercando os dois, sem local para escapar. Patrícia parecia realmente exausta, tinha uma expressão pesada em sua face. Vendo que não tinha mais o que fazer Glauber tomou a frente, sacou um pergaminho do meio de suas roupas e suas mãos começaram a brilhar. Varias correntes douradas saíram do chão e se prenderam nos homens e Glauber apenas se desculpou. Os homens caíram com as mãos na cabeça em meio a gritos e choros, porém um deles se manteve de pé. – o que é você? Um santo? Seus poderes sentimentais não vão funcionar contra mim. - O Homem tornou-se uma criatura em chamas e começou a atacar os dois destruindo tudo ao redor, os jovens corriam para se distanciarem da criatura, Glauber quase carregava Patrícia a puxando fortemente pelo braço. Correram até chegar a uma estrada e para surpresa estava repleta de guerreiros do reino, as explosões causadas pelo monstro chamou a atenção já que a estrada é altamente protegida por levar direto a Tehamera. Todos foram presos, até os que estavam caídos na floresta. Do lado oposto por entre as arvores, Guilherme e Haourin apenas observavam a movimentação, o gigante já queria se enfiar na batalha e destruir tudo, porém o elfo fez com que ele se contivesse. Um movimento diferente entre os galhos chamou a atenção de Haourin que atirou uma flecha rapidamente derrubando uma garota do grupo dos encapuzados no chão, o elfo rapidamente se lançou para cima dela imobilizando-a e pressionando a faca contra sua garganta.

– Quem é você? - Perguntou de forma ríspida o elfo.

– c-calma... eu.. eu sou Larissa, estou fugindo dos guerreiros do Reino, estava perseguindo aqueles dois estrangeiros que eles prenderam.

Haourin pressionou a garganta da mulher ainda mais. – Por que estava seguindo meus amigos? Me de um bom motivo para não mata-la aqui mesmo.

– Eu-eu... pensei que fossem espiões do Reino, eles estavam invadindo minhas terras.

– De onde você é? - Perguntou Haourin.

– Faço parte de um clã rebelde contra o Reino, próximo às terras de Háchura. - O jovem elfo a soltou e se afastou, ela foi tentar se levantar, porém Guiherme a lançou com grande força contra arvore e a amarrou. A noite caiu e ela acordou, os dois estavam se alimentando quando ela puxou conversa.

– Estão planejando salvá-los? É impossível! -Disse em meio a um riso.

– Nada é impossível para o povo de AON. Disse Guilherme secamente.

– O que vocês pensam que é só chegar e destruir tudo o que estiver pela frente? Perguntou ela espantada.

– É bem isso. Respondeu o grandalhão.

– O que são vocês? Animais irracionais? - Disse quase gritando a garota

– Não existe outra forma precisamos salvar nossos amigos. Disse o elfo.

– Na verdade existe e eu posso ajudar, amanhã haverá um enforcamento de dois estrangeiros e uma bruxa será queimada. Disse a mulher

– Enforcamento? Deve ser Paloma e Victor - disse Haourin pensativo.

– Não será possível salvá-los, estarão na praça, rodeados por soldados, o rei estará lá, mas os prisioneiros eu consigo salvar. Disse a mulher por fim.

– Então você salva os prisioneiros eu e Guilherme daremos um jeito de salvar os outros. Disse o elfo. – Eu já disse é impossível. Disse a mulher novamente.

– Eu já lhe disse que para nós, nada é impossível. Se nos trair eu te esquartejarei e espalharei seu corpo por cada parte desse reino, faça sua parte que faremos a nossa. - Disse Guilherme de forma calma.

– Vamos dormir, faremos isso ao amanhecer. Disse Haourin.

– Ei eu estou com fome, vocês não me deram nada pra comer, ei não finjam que estão dormindo, seus maldi... – uma faca lançada por Haourin cortou as cordas e garota por fim se viu livre...

[1] Caminho dos mortos.


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