Saint Seiya Seitoushi escrita por Wyvern


Capítulo 8
Capítulo 8




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                Só depois de devorar até o último pedaço de churrasco (o que levou quase duas horas) foi que os cavaleiros de reuniram nas escadarias da Casa de Touro para discutir o que fazer. Já era tarde, e o sol não era tão forte a essa hora, além de ter a sombra da fachada da casa para ajudar. De qualquer forma, estavam dispostos em volta de Swedenborg e Daisuke, que ainda tentava achar algo nas anotações de Saye, embora nada que fosse útil para suas dúvidas. No fim, o ruivo largou os papéis e ajeitou os óculos.

                - Não tem mais nada aqui. – ele suspirou.

                - Já tentou na biblioteca? – perguntou Katsuo atirado ao chão, olhando para cima. – Você vive lá.

                 - Se tivesse alguma referência em algum livro, eu saberia. Não tem.

                - Então, o que aconteceu ficou só entre os dourados. – concluiu Kouta que ainda trocava olhares ameaçadores com Siegfried, sentados dois degraus de diferença por precaução.

                - Uai, então vamos perguntar pra eles. – Jhoakin parecia não entender porque ficavam dando voltas pelo assunto, se tinham chegado àquela conclusão antes.

                - Esse é o problema. – Yusuke interferiu, apoiando a face na mão, esticado entre três degraus. – Dos antigos sobraram...­­­­­­­­­ Áries, Capricórnio, Câncer e Sagitário, pelo menos até o pai do Daisuke sumir.

                - O que aconteceu com os outros? – Daisuke parecia surpreso ao saber que um só restava um terço dos cavaleiros da antiga geração.

                - Bem... Escorpião sumiu, Virgem não sabemos aonde foi, Touro se aposentou... – o geminiano foi enumerando. – Leão morreu, Aquário morreu, Peixes morreu, meu mestre de Gêmeos ficou louco... Libra se perdeu numa floresta...

                - E o Grande Mestre? Ele não era o antigo de Gêmeos? – Tiago perguntou erguendo a face para quem falava, estando alguns degraus abaixo.

                - Não, ele é o irmão gêmeo do meu mestre, era um Cavaleiro de Prata na época, então não fez parte disso.

                Daisuke lembrou-se do homem curvado diante do Grande Mestre que nada falava, exatamente igual ao irmão tirando os cabelos claros. Ele não parecia louco, se bem que ninguém ali parecia um grande exemplo de sanidade. O fato de que mais Cavaleiros de Ouro tinham sumido como seu pai não era nada animador, e se perguntou se devia mesmo fazer parte daquilo. Tinha considerado ir embora quando os santos concluíram que precisavam ir atrás de seus mestres, mas algo lhe ordenava que ficasse ali, e sentia que ainda tinha muito a fazer antes da paz que tanto queria. Era a sensação de quem tinha que fazer um dever de casa difícil e muito importante antes de aproveitar o dia de folga.

                - Então, ir atrás dos antigos... Ao menos vocês sabem onde eles estão? – perguntou, apoiando a face na mão.

                - O meu mestre está em Jamiel, ensinando a restauração de armaduras a aprendizes. – Aika respondeu virando a face para ele. Apesar da máscara esconder sua expressão, ela parecia ter um toque de admiração ao falar aquilo.

                - Ah, mestre Arthuro é fácil de achar. – Siegfried dobrou os braços atrás da nuca, apoiando numa das pilastras.

                O silêncio que se seguiu foi longo porque nenhuma resposta vinha, até que Maya se virou para Drakon, que não parecia nada feliz com o rumo da conversa. – Você sabe onde o seu mestre está?

                - É claro que eu sei. Eu só não quero ir. – ele retrucou. Estava com uma daquelas “bolhas de almas” nas mãos, puxando-a e esticando como se fosse um elástico. A criatura emitia sons horríveis, mas estava gostando.

                - E por que não? – Katsuo perguntou ainda deitado preguiçosamente no degrau acima dele.

                - Porque ele faz aquilo ali – e apontou para Kimberly, que estava com os braços em torno de Sellon, um pouco mais afastados. – parecer normal.

                - Não acho que isso seja possível... – suspirou Sellon deixando os ombros caírem, mas ninguém pareceu ouvi-lo.

                - O fato é – Swedenborg tentou retomar o foco da discussão. – Temos que ir atrás deles, mas quem vai?

                - Posso sair a procura do meu mestre. Ele vai adorar saber do meu progresso. – Kim sorriu daquela maneira assustadora ao falar aquilo, e Daisuke desconfiou do motivo pelo qual o Cavaleiro de Virgem tinha fugido. – Você vai adorar meu mestre, Sellon... – disse apertando o corpo do garoto nos braços.

                - Como é? – o pisciano parecia confuso.

                - É claro que você vai comigo! – Peixes olhou para os demais como se buscasse ajuda, mas ninguém quis dizer nada, desafiar Kim parecia mais assustador do que qualquer coisa.

                Passou-se alguns minutos sem que ninguém se pronunciasse, até que Maya se erguesse, numa mistura de determinação e raiva. – Eu vou atrás do antigo Escorpião. – ela não explicou o motivo, mas pelo visto, não queria ceder.

                - Eu vou com você, ele era meu mestre e posso acha-lo. – Kouta se ofereceu.

                - Vai ir sozinha com esse bicho que se defende com o rabo? – Siegfried se irritou, quase avançando no moreno de novo.

                - Pelo menos eu não estou bêbado o tempo todo. – a unha vermelha no indicador de Escorpião já estava reluzindo para ser usada.

                Antes que eles avançassem um no outro de novo, Yusuke suspirou e interferiu. – Eu vou com vocês, então. Satisfeitos?

                - Que seja. – a amazona concordou, sentando-se no degrau de novo. Nem Kouta sem Siegfried pareciam satisfeitos, mas pelo menos a discussão tinha parado. Maya, então, levou os olhos azuis ao alemão. – Além disso, você tem que ir atrás do seu mestre, lembra? – Ele respondeu algo em alemão, que poderia ser um impropério.

                - Meu mestre tá no Brasil, vou atrás dele. – Jhoakin se apressou em dizer, animado com a ideia de ir à América.

                - Bem... Eu e o meu treinamos na Floresta Amazônica, se ele fosse se isolar em algum lugar, acho que seria este. – Tiago pensou em voz alta, mas foi interrompido por Swedenborg, que parecia animado.

                - Ei, posso ir também? Sempre quis conhecer a América, os escritores brasileiros descrevem cenários tão envolventes e a história é tão... – parou ao perceber que estava traindo atenção, voltando à postura séria de sempre.

                - Eu nunca vi você com tamanha manifestação de sentimento desde... que eu te conheço. – Yusuke piscou, surpreso com o modo como o aquariano agira. Este, por sua vez, cruzou os braços, irritado.

                - Eu vou para Jamiel atrás do meu mestre. – Aika declarou com um tom de desafio, esperando alguma resposta. Bufou quando ninguém disse nada, virando-se para seu irmão. – E você? Vai fazer o que?

                - Pra ser sincero to a fim de ver o cara de Câncer, ver se ele é tudo isso. – o leonino se sentou de deu de ombros, parecia mais divertido procurar o mais perigoso.

                - Eu também vou, aposto que é história pra nos assustar. – Daisuke disse sem pensar. Drakon os olhou confuso.

                - Mas hein? Não chamei ninguém pra vir comigo. – ele disse aquilo puxando a bolha de almas com tanta força que a partiu em duas. Para horror de Pégasus, cada pedaço virou uma bolha de “vida” própria, grunhindo uma para a outra.

                - Mas nós vamos, se vira com isso. – Katsuo determinou, e em resposta o ruivo se concentrou em impedir que as bolhas brigassem, o que era difícil.

                - Peraí, vai sair todo mundo? – Jhoakin se lembrou, olhando para todos. – Ninguém vai ficar pra cuidar de tudo?

                - Ah, o Santuário é bem guardado, nem vão precisar dos dourados. – Daisuke estava convencido disso, após ver quantos cavaleiros e amazonas haviam ali.

                Na hora, ninguém achou que fosse algo para se preocupar, então o rumo virou outro. – O Grande Mestre não vai deixar todo mundo sair assim. – Yusuke lembrou, conhecendo bem demais o referido.

                A solução mais óbvia foi saírem em grupos em horários diferentes, e um bom resto da tarde foi tirada para organizar e debater esse sistema.

Xxx

                - Mas a senhorita não pode ir! – disse a menina de olhos azul e vermelho enquanto tentava segurar Aika, que colocava sua armadura dentro da urna, com o tecido negro sendo puxado para cobrir o metal de que era feita. Só então se virou para a menina, colocando as mãos em seus ombros.

                - Cuide da minha casa, Aya. – ela disse, e a expressão era impossível de ver pela máscara. – Não deve demorar minha visita a Jamiel, não se preocupe.

                E com isso, se virou e fitou o Santuário diante de si. A noite já tinha caído, mas fazia pouco tempo. Estava esperando chegar a hora em que sairia dali, precisava sair para usar o teletransporte.

Xxx

                Quando terminou de fechar a urna de ouro e cobri-la, Jhoakin se ergueu e esticou-se, estralando os ossos. Fechou então os punhos e treinou alguns golpes, tentando controlar a ansiedade. Mas, quando o toque de recolher fez as pessoas entrarem nos alojamentos, se preparou, esperando pela hora certa em que poderia sair e encontrar os outros dois.

                - Uai, porque eu to com esse pressentimento ruim...? – se perguntou, negando com a cabeça em seguida. – Deve ser só impressão minha mesmo.

Xxx

                Diante do círculo de estátuas dos antigos Cavaleiros de Gêmeos, Yusuke estava sentado com as pernas cruzadas, a armadura dentro da urna colocada diante de si. Percorria cada face, vendo que eram iguais, sempre iguais. Olhando aquilo, sentiu-se excluído, avulso. Mas afastou o pensamento, indo até a urna e pegando-a. Já devia estar quase na hora de deixar o Santuário e não deveria se atrasar nem um segundo.

Xxx

                - Vamos, vocês sabem fazer isso. – Drakon disse para aquele mar de bolhas de almas, que estavam agitadas, quase tristes, sentindo que seu dono iria embora. No fim, elas se acalmaram o bastante e se juntaram para formar uma silhueta disforme, mas humana. Satisfeito, o garoto foi até a urna de ouro coberta de tecido preto e colocou no ombro. Então colocou a mão no bolso e tirou um relógio antigo de bolso, com a imagem em relevo de um dragão sem asas, parecido com uma cobra. Um Drakon, o dragão-serpente. Abriu-o, e viu que horas eram. O momento estava chegando.

Xxx

                Katsuo não tinha noção de quanto tempo perdera, pois tinha saído da Casa de Leão ao pôr-do-sol. Estava no cemitério atrás do templo de Athena, onde pequenas lápides tinham o nome e constelação dos cavaleiros mortos. Estava diante de uma em específico, com as palavras Kendo – Leão – Ouro, uma abaixo da outra. Se abaixou, tocando as boras desgastadas da pedra e respirou fundo, sentindo o cosmo queimando, rugindo como um leão, em seu interior.

                - Eu juro para o senhor que vou vinga-lo, pai. – disse baixinho e se ergueu, com a urna nas costas. – Juro.

Xxx

                A vontade de torturar de Kim só aumentava conforme o tempo passava, sem poder fazer nada. Não sabia para onde Sellon tinha ido, mas não duvidava que ele fosse recuar. Olhou para os instrumentos pendurados na parede e pensou no prazer que eles lhe davam, embora o prazer maior fosse que Peixes sempre voltasse para si. Acabou então por sentar-se no colchão, cruzando as pernas em posição de lótus. Era melhor meditar e se concentrar no que faria quando revesse seu mestre.

Xxx

                - Vai ser bom voltar... – Tiago pensou em voz alta enquanto tocava as plantas que cobriam o centro de sua casa, e sentindo seu cosmo, alguns galhos tocaram sua mão, como dedos gentis. Pensou nos anos que tinha passado rodeado de um cenário parecido, porém mais perigoso. Seria ótimo voltar para lá, para a calmaria da vida selvagem, longe da sociedade, das guerras. E deixou-se levar pela calma daquelas lembranças enquanto esperava o momento de fugir, de encontro a algo diferente daquela paz que almejava.

Xxx

                Kouta não tinha aguentado ficar nem dez minutos em sua casa, esperando pela hora de deixar o Santuário. Por isso, estava vagando por entre os alojamentos, bibliotecas e afins, sumindo entre as sombras com sua velocidade. Ninguém estava por perto, e isso fazia com que se sentisse bem, resolvendo parar na entrada do Santuário. Sentou-se, pegando uma maçã e mordendo enquanto olhava o terreno desolado diante de si. Os outros eram tão demorados...

Xxx

                De costas para aquele balcão de bebidas, Siegfried estava sentado no chão com a urna de ouro do lado, uma garrafa aberta e cheia de bebida. Não sentia vontade de se embebedar desta vez. Em vez disso, olhou para o braço, que parecia tão comum, mas era a mais afiada das espadas, a que Athena dera ao primeiro Cavaleiro de Capricórnio. Na verdade seu corpo todo era uma arma, se soubesse como usar a Excalibur se forma certa. Deu um gole na garrafa, lembrando de como fora difícil conseguir aquele feito.

                É, rever seu mestre seria bem complicado.

Xxx

                - Desculpe, mas prometo que trarei de volta... – disse Swedenborg em voz baixa e respeitosa para a estátua de gelo diante de si, que fizera para seu antigo mestre. Esticou o corpo e pegou dos braços de gelo aquele violino e o arco, com grande cuidado, colocando numa caixa preta, que colocaria na urna de ouro com sua armadura. Aquele era o legado de Wilhelm e sentia que deveria levar consigo, mas parou antes de guardar o instrumento, abrindo a caixa e tirando-o de novo.

                Então foi até uma das janelas em arco e sentou-se no peitoril, erguendo a face para o céu estrela acima. Encostou o violino no ombro e encaixou os dedos nas cordas, passando a vara nelas, dando início a uma música que envolveu a noite silenciosa.

Xxx

                Sellon estava diante do jardim de rosas colocado no meio de sua casa, passando por entre as flores venenosas sem incomodar-se, pois era como elas. Chegou no meio daqueles metros de rosas, onde um baixo muro de pedras demarcava um círculo. Na metade da frente tinha concreto, e no meio a estátua dos peixes com as rosas. Mas foi para trás, onde havia terra escura e uma pequena pedra lisa, com um nome escrito. Se abaixou e tocou uma única rosa que nascia naquele espaço de terra, uma rosa vermelha e sem espinhos. Tocou-a de leve, antes de puxar como se não tivesse raízes.

                Colocou a flor entre os cabelos azuis e foi até sua urna de armadura, pronto para deixar o Santuário.


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