- Não! - gritou Ciel, tirando a mão que estava em minha boca e dando um soco na mulher com ela. 

Naquele momento eu abri os olhos, o ceú já estava de um alaranjado vivo. Qualquer Nightwalkers fraquejaria com aquela pequena iluminação, mas isso não acontecia com aquela criatura, ela era diferente dos outros. 

Quando Ciel a atacou ela desviou sua atenção para ele por um instante, virando o rosto em sua direção mesmo que não pudesse vê-lo. A mulher soltou um grito de frustração e pulou sobre Ciel, este tentou se afastar de seu ataque, porém ele ainda não estava totalmente recuperado da fuga do Nightwalker anterior, e não conseguiria lutar contra uma criatura daquele tipo. 

A mulher prendeu o garoto ao chão, no canto em que estava, eu percebia que Ciel tentava se desvencilhar de seu aperto, porém não estava conseguindo.

O Nightwalker abriu a boca e aproximou os lábios negros para a garganta dele, pelo visto ela não se importava por ele ser um híbrido. 

Ciel morreria se eu ficasse ali parada, mas o que eu poderia fazer? Olhei ao redor, procurando alguma coisa que pudesse servir de arma. Encontrei uma pedra de tamanho razóavel caída perto de onde eu estava, sem hesitar, rastegei até conseguir pegá-la, e então joguei-a com a maior força que conseguia na direção do Nightwalker que agora não estava muito distante de mim. 

A pedra cinzenta bateu em cheio na cabeça da criatura, fazendo um rasgo perto de sua orelha que logo ficaria vermelho e se juntaria aos vários ferimentos presentes em seu corpo. A mulher parou no mesmo momento, incomodada pela interrupção de sua refeição, e virou-se para mim, sorrindo novamente de um modo mostruoso. 

Ela começou a rastejar para perto de mim, enquanto Ciel continuava caído na grama. Agora era meu fim, eu sabia disso. A Nightwalker estava a centímetros de mim, quando seus movimentos se estacaram repentinamente. O sorriso dela se desfez, e ela virou a cabeça para algo atrás de mim, além do muro que nos separava da rua. 

A criatura grunhiu e voltou seu rosto para mim, suas lágrimas escarlates se destacando cada vez mais na luz que crescia ao nosso redor.

Ela virou-se novamente para algo que havia observado do outro lado da cerca, parecia indecisa. Com um urro de frustração, a Nightwalker deu as costas para mim, começando a correr como um animal para além do jardim em que estávamos. Ela pulou o muro facilmente e desapareceu, deixando-me atordoada e com uma cara de idiota. 

Ciel grunhiu, se levantando com dificuldade enquanto estancava o sangue de uma ferida em seu braço com a mão. 

- Você ainda está viva? - ele disse, olhando para mim surpreso. Olhei para minhas roupas imundas e dei de ombros. 

- Ou isso ou você pode ver fantasmas - respondi, indo até ele - Você está bem? 

- Melhor impossível - ele disse, apontando para seu braço, uma ferida feia se instalara ali, causada pelo ataque da Nightwalker - O que aconteceu com ela? 

- Não sei, algo intimidou ela e a fez ir embora - respondi, rasgando um pedaço de sua camiseta. 

- Ei! - ele disse, quando peguei o pano e o amarrei em seu braço machucado. 

- Você acha que eu cortaria minha roupa já em farrapos para te socorrer? Por favor!

- Sua solidariedade me espanta - ele respondeu, levantando-se depois de terminado o curativo improvisado. 

- Continue reclamando que eu tiro esse pano de seu braço rapidinho - respondi, limpando minhas mãos enquanto me levantava também. 

Ciel pulou o muro, saindo do jardim abandonado. Repeti seu movimento, aceitando a bem vinda luz do sol que parecia ter demorado uma eternidade para chegar. 

- Então, o que a Nightwalker viu? - Ciel perguntou, observando as casas a nossa volta com seu olhar prateado. 

- Não sei, ela simplesmente virou-se para frente e... - dirigi meu olhar na direção que a Nightwalker havia observado - Ciel? 

- O quê? - ele disse, olhando para o mesmo local - Ah, fala sério. 

A silhueta de alguma criatura nos observava de uma das janelas quebradas da moradia, assim que percebeu que nós havíamos notado sua presença, o ser escondeu-se rapidamente dentro da casa.