Sacrifício escrita por tsubasataty


Capítulo 3
2.




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Ou aquele garoto que eu herdara o corpo era muito rico, ou ele havia roubado alguém. Somente uma dessas opções podia explicar as dezenas de notas escondidas dentro de sua mochila. Mas começando uma vida praticamente do zero, num lugar em que nem uma casa eu ainda tinha, não consegui ignorar aquele dinheiro.

Me informando de que dia e hora eram num relógio público - sábado, 8 horas infernais da manhã - me guiei através de ruas em que eu vira dezenas de vezes pela internet, e que finalmente eu caminhava sobre elas. Eu havia ido na velha cigana sexta-feira no fim da tarde... O tempo estava correndo estranhamente no sentido ideal mesmo.

O único problema é que segunda-feira, o dia que eu definitivamente pretendia encontrá-lo na escola, continuava longe demais.


–Mãe, o que esse menino tem? - o sussurro imperdoável do pequeno garoto chegou aos meus ouvidos depressa. Eles caminhavam próximos à esquina, alguns poucos metros de mim. Só me dei conta da minha aparência quando a verdade cruel foi jogada sobre mim - Ele parece um sem-teto.

Vi os olhos da mãe dele caírem sobre mim. Ela me analisou da cabeça aos pés, uma careta de desaprovação corroendo seu rosto.

Você não sabe o que é receber um olhar daquele até que ele caia sobre você.

Antes que meus joelhos cedessem sobre o chão, tive que desviar meu caminho daqueles dois.Numa rua deserta, encarei meu reflexo numa poça de água que se espalhava pelo chão. Ele jamais iria gostar de mim se me visse assim.

Notei mais vozes se aproximando, suas sombras crescendo cada vez mais sobre a calçada. E foi então que, com todas as forças que aqueles pés tinham, eu corri para longe daquele lugar. Não me importei de não saber para onde ia, já que o que eu queria era só sair dali.

Bufando, com o suor arruinando meu rosto, caí numa calçada aleatória de uma rua qualquer. Olhei em volta, com cuidado para meus olhos perdidos não se encontrassem com os de ninguém. Mas a preocupação fora à toa, a rua estava deserta.

Diante daquelas palavras do pequeno garoto, que ainda giravam num nó cego dentro de mim, eu sabia que não podia deixar as coisas assim. Me levantei da calçada, tirando o suor do rosto com a palma da mão. Naquela manhã, tentando acalmar o ronco do meu estômago, segui para uma pequena padaria e em seguida para o cabeleireiro cuja a gentil dona do estabalecimento me dissera o caminho.

Eu estava horrível, e tive a certeza disso quando encarei meu novo reflexo no espelho do lugar. Num misto de horror e admiração, aquela era a primeira vez que eu via meus novos olhos verdes, e meu distinto cabelo claro escondido atrás das manchas de sangue. Mesmo naquele estado, eu era lindo.

Por um instante, me peguei perguntando se somente aquela beleza seria o suficiente para que ele viesse a me amar.

Sorri, aceitando o desafio. Eu sabia que só isso jamais iria bastar.


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Notas finais do capítulo

E o que ele/ela ainda será capaz de fazer?!!



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