Somente aquilo que a morte não pode levar embora é real. Tudo o mais é irreal; é feito da mesma substância de que são feitos os sonhos.

Osho

E se de inicio eu não entendi porque Kakashi me pediu para fechar os olhos agora eu começava a perceber. Como? Eu não sei. Mas de alguma forma mágica, o que deveria ser negro e escuro. Afinal eu estava de olhos fechados num quarto nem um pouco iluminado, se tornou nítido. Eu estava vendo.

Vendo-me a mim mesmo mais mulher e mais vivida, ao meu lado estava. Estava um homem grisalho, poderia dizer que parecia um homem normal, se não fosse pelos olhos mortos e sorriso indecifrável. Seria...

Seria Kakashi?

Eu estaria ficando louca? Sim essa era a resposta mais plausível, quer dizer... Eu estava-me vendo a mim mesma. E o homem grisalho ao meu lado, por algum motivo apenas conseguia pensar que era Kakashi... O meu Kakashi! Alias até poderia dizer que estava sonhando, apenas tinha certeza que não estava por sentir os lábios quentes de Kakashi sobre os meus!

Queria abrir os olhos e questionar o que tinha visto, queria fazer perguntas, mas estava com medo. Medo que ao abrir os olhos tudo o que vivi até agora se fosse, assim como as pétalas de rosa se vão com o vento! Medo que a minha razão de existir não estivesse mais ali!

- Jun... – A voz de Kakashi se fez ouvir num mínimo murmúrio após ele soltar os meus lábios, a sensação de não mais o sentir era como... Como se me estivesse afogando. – Abra os olhos! – Pediu ainda num suave murmúrio. Por algum motivo aquele pedido era doloroso. Eu queria respostas, queria fazer perguntas, mas estava gostando daquela miragem, da miragem onde Kakashi estava ao meu lado, ou pelo menos eu queria pensar que aquele homem era ele!

Suspirei profundamente, uma, duas vezes e na terceira vez por fim abri os olhos, o medo palpitando por todo o meu corpo.

- Estou aqui Jun... – Kakashi sussurrou, era como se ele soubesse o que eu estava pensando, como se ele soubesse do meu medo. E estava agradecida por isso, porque ouvir a voz dele mais uma vez fez-me ficar tranquila. Ele ainda estava ali, e isso chegava para eu continuar Felix e realizada. Poderia passar o resto da vida sem o ver como já estava habituada, mas apenas por saber que não estava sozinha, tudo fazia sentido.

Apenas com ele tudo fazia sentido! Apesar de nada nunca ter tido sentido!

- Kakashi o que eu vi... – Tentei dizer, tentei questionar, mas senti o dedo de Kakashi pousar sobre os meus lábios me silenciando!

- Você acabou de ver o que nos poderíamos ser um dia! – Kakashi mais uma vez sussurrou, desta vez a brisa tão característica dele embateu contra o meu rosto. E teria sido uma sensação agradável se as palavras dele não tivessem mexido comigo.

Como assim o que poderíamos ser um dia?

Suspirei longamente por alguns segundos. Novamente o medo desconhecido me perturbando.

- Como assim? – Insisti e desta vez Kakashi me permitiu falar. Se a intenção dele era me deixar mais confusa do que a existência dele já me deixava, ele tinha conseguido então!

Mas apenas obtive o silencio como resposta. Silencio realmente eu não gostava de silencio. O silencio fazia- me sentir sozinha no meio daquele quarto escuro.

Por fim o silencio foi quebrado por uma pequena gargalhada, Kakashi achava piada? O que tinha piada?

- Jun você realmente faz muitas perguntas. – E novamente uma gargalhada.

Sim eu fazia muitas perguntas e ele dava muitas poucas respostas. Na realidade nenhumas respostas!

- Não tem piada alguma. – Resmunguei ficando realmente irritada com aquilo. Eu estava preocupada, e ele ainda achava graça a tudo isso. Talvez ele apenas estivesse rindo por saber as respostas que eu começava a achar jamais saber.

- Vamos não fique brava. – Ele pediu e senti a respiração morna dele embater contra os meus lábios. Ele estava perto, tão perto que apenas poucos milímetros separavam nossos lábios. Queria-o sentir novamente, queria voltar a fechar os olhos e ver novamente aquela miragem, ou fosse o que fosse.

- Jun eu... – Kakashi murmurou e voltou a quebrar a distancia que nos separava e mais uma vez nossos lábios se uniram. Um beijo calmo e ternurento. Um beijo repleto de... Amor. – Jun eu... – Kakashi murmurou após soltar minimamente os meus lábios uma das mãos dele acariciava os meus cabelos. O meu coração palpitava por ouvir o que ele iria dizer. – Te amo.

Jun eu te amo

Jun eu te amo

Jun eu te amo

Aquelas palavras fizeram eco dentro da minha cabeça. Tudo ao meu redor se iluminou e Kakashi não mais estava ali. Lagrimas se formaram, certezas se tornaram incertezas, e as incertezas se tornaram em certezas.

Pisquei os olhos incrédulos. O lugar onde eu estava agora não era mais o lugar onde eu estava a um segundo atrás, este lugar quadrado e demasiado iluminado por uma luz branca não era o meu quarto. E Kakashi também não estava mais aqui. Voltei a piscar os olhos, e um clique se fez na minha confusa cabeça... Novamente aquele sonho tão real. Novamente o sonho com aquele homem.

Tudo era um sonho, e eu definitivamente era uma louca. Uma louca apaixonada por alguém irreal.

Mas se apenas nos meus sonhos Kakashi é real, então eu irei voltar a dormir. E todas as vezes que ele voltar a dizer que me ama, e eu despertar, voltarei novamente a dormir.

Porque afinal, eu sempre estive esperando o momento em que tudo iria acabar para poder voltar novamente ao meu mundo imaginário, onde o irreal se torna real!

O meu mundo, onde Kakashi e eu podemos estar juntos!

Suspirei e soltei um pequeno sorriso, este quarto demasiado iluminado e este corpo demasiado maduro não era o que eu pretendia. Voltei a fechar os olhos e mais uma vez voltei ao meu sonho. Sempre o mesmo sonho. Onde retorno a ser uma criança amedrontada até ele voltar a surgir.

O meu sonho pessoal, o mundo onde ele se torna real.

Não preciso do mundo real para ser feliz,

toda a minha felicidade está no irreal!

Por isso quero viver nesse sonho de cristal

Enquanto "ele"  existir!

Samurai_Girl

FIM