Quando a boca não consegue dizer o que o coração sente o melhor é deixar a boca sentir o que o coração diz.

William Shakespeare

– E não puder te fazer minha. Minha frustração é por eu não lhe poder ter como sempre desejei.

As palavras de Kakashi penetraram fundo na minha mente. E milhões de perguntas se formavam, mas a única coisa que realmente me atordoou, foi o fenômeno de Kakashi dizer que me queria. Pela primeira desde que ele entrou na minha vida, senti que talvez ele não fosse meu amigo.

Pelo contrário senti que no fundo não era amizade o que tanto me fazia querer viver eternamente no meu quarto. Era outro tipo de sentimento muito mais completo e intenso.

Era amor.

As palavras de Kakashi estavam fazendo eco dentro da minha cabeça, o meu coração batia descompassado. Kakashi me queria? Sim eu não tinha entendido errado. No fundo as palavras dele estavam tendo mais impacto pelo fato de tanto terem mexido comigo. Eu... eu também o queria. Eu o amava. Era esse sentimento que me fazia querer viver eternamente dentro das paredes do quarto. Esse era o sentimento que me fazia sonhar e viver apenas para estar com ele.

Era... O amor.

– Kakashi... – Murmurei o nome dele em vão, não consegui continuar. Talvez fosse por senti-lo ali ao meu lado. Queria dizer mais alguma coisa alem do nome dele, mas a voz não saia.

Isto não era suposto acontecer. Amor nunca fez parte dos planos.

Senti-o mexer-se e logo o corpo dele saiu de perto do meu. Aquele espaço vazio ao meu lado era frio e doloroso, tal como o meu coração quando longe do quarto... Longe dele.

– Eu falei de mais... – Ouvi a voz de ele murmurar. Arrependimento e sofrimento misturado nas palavras. Era a primeira vez que o ouvia daquela forma. – Me desculpe. – Voltou a murmurar, desta vez tão baixo que o podia confundir com o zumbido de um mosquito.

Apenas não estava percebendo porque ele se desculpou.

Respirei calma e profundamente, levantei da cama e automaticamente minhas pernas me guiaram para onde Kakashi estava eu não o via isso era certo, mas a respiração acelerada dele denunciava sua posição.

– Kakashi. – Novamente murmurei o nome dele. Só que agora tinha algo mais a dizer. – Pode me explicar porque se desculpou? – Questionei esticando o braço medindo a distancia entre nossos corpos. Constatei que nem meio braço de distancia me separava dele.

Voltei a suspirar e Kakashi fez o mesmo. Provavelmente não iria responder minha questão. Bufei e dei apenas um passo vencendo a distancia que nos separava e deixei os meus braços envolverem a cintura dele. Fui retribuída gentilmente. Aquele abraço aquecia o meu coração. Poderia mesmo ser possível eu estar apaixonada por alguém que nunca vi?

A resposta não demorou a chegar.

– Eu me desculpei por ter-lhe dado falsas esperanças, você entendeu tudo errado. – Aquelas palavras de Kakashi eram a resposta para a minha pergunta. Poderia eu amar alguém que nunca vi? Sim, a resposta era sim. Apenas para quem ama aquelas palavras poderiam ser dolorosas. Para mim? Eram muito mais do que dolorosas.

Falsas esperanças

Aquela frase flutuou na minha mente. Eu não tinha entendido errado. Quando ele disse que me desejava pude sentir a intensidade das palavras. Aquilo era mentira, e queria saber o motivo dele fazer isso comigo.

Inspirei o ar com força e apertei os braços em torno de Kakashi deixando a minha cabeça apoiada contra o peito dele. Era nesses momentos que eu desejava que se tudo fosse um sonho, não acordar nunca.

– Eu não entendi nada errado, Kakashi! – Disse calmamente. Senti o coração dele disparar ao ouvir minhas palavras. Sim, eu não tinha entendido nada errado. E ia provar isso.

Retirei a cabeça do peito de Kakashi, podia jurar que o tinha ouvido suspirar. Sorri minimamente e levei uma das minhas mãos até ao rosto morno dele. Senti-o fechar os olhos. Novamente um pequeno sorriso brotou nos meu rosto. Dedilhei lentamente aquela zona apenas parando com um dedo sobre os lábios quentes dele. Respirei fundo e voltei a abraçar Kakashi, só que desta vez o meu rosto seguiu para onde o meu dedo se encontrava. Precisava de pelo menos uma vez saber como era beijar um homem. Beijar o homem que se ama.

– Jun... – Kakashi chamou meu nome num suplico. Como se pedisse para eu não fazer aquilo. – Por favor, Jun... – Novamente uma nova suplica. As palavras dele embatiam contra a minha face tão próxima. Sentia a respiração fria dele, assim como ele deveria sentir o quanto eu realmente estava nervosa.

Sentia que se Kakashi me mandasse parar eu iria mesmo parar e sumir dali, rejeição não era o meu forte, e muito menos quando de alguém que se acaba de descobrir amar. Ele não podia me rejeitar.

Decidia a não fraquejar e não perder mais tempo inclinei-me alguns poucos sentimentos para frente e deixe os meus lábios pousarem sobre os de Kakashi. Foi algo... Incrível. Milhares de pequenos choques percorreram o meu corpo, talvez de felicidade ou medo.

– Feche os olhos Jun. – Kakashi pediu calmamente movendo seus lábios contra os meus. Fiz o que ele me pediu e fechei os olhos, e logo em seguida seus lábios quentes se moveram gentilmente contra os meus. O nosso primeiro beijo. Estava feliz, feliz por Kakashi ter entrado na minha vida. Feliz por ele ter permanecido comigo. E acima de tudo, feliz por ele não me rejeitar.

E se de inicio eu não entendi porque Kakashi me pediu para fechar os olhos agora eu começava a perceber. Como? Eu não sei. Mas de alguma forma mágica, o que deveria ser negro e escuro. Afinal eu estava de olhos fechados num quarto nem um pouco iluminado, se tornou nítido. Eu estava vendo.

Vendo-me a mim mesmo mais mulher e mais vivida, ao meu lado estava. Estava um homem grisalho, poderia dizer que parecia um homem normal, se não fosse pelos olhos mortos e sorriso indecifrável. Seria...

Seria Kakashi?

Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado:
nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade.

Charles Chaplin