Entre Deuses E Mortais escrita por Taisa Alcantara, Isabel Oliveira


Capítulo 6
Capítulo 6 – Não se deixe levar pelas aparências


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeeeey Semideuses *o*
Andei distante, né? Desculpinha. Final de ano, provas, festa de 15 anos... Ufa! Eu estava toda atrapalhada :s
Mas finalmente as férias chegaram e agora eu prometo que posto com mais frequência, viu? Beijos ;)
Quero lembrar que as imagens que vão para os personagens são uma ideia de como eles são. Okay? Okay.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/277025/chapter/6

Mamãe saiu do quarto e andou até a proa do iate. À nossa volta não havia nada além do mar e algumas ilhotas.

– O que você vai fazer?

Ela não respondeu. Deu um meio sorriso e tirou um objeto da sua bolsa. Parecia uma moeda, um pouco maior e mais grossa que o normal.

Mamãe se aproximou da beira do barco. A água salgada respingava contra a luz do sol, formando um delicado arco-íris. Ela pegou a moeda e a lançou sobre ele, enquanto murmurava “Oh Íris, Deusa do Arco-Íris, aceite a minha oferenda”.

A paisagem minha a frente tremulou.

– Mostre-me Quíron. Acampamento Meio-Sangue

Fiquei com cara de idiota enquanto o arco-íris se transformava em uma espécie de holograma. Era difícil de explicar o que estava vendo. Quando tudo realmente tomou forma eu levei um susto. Na minha frente havia um homem de meia idade, sentado numa cadeira de rodas e tomando Coca-Cola. Sua figura estava flutuando numa névoa, tão real que eu pensei que pudesse tocar. Quando ele nos viu abriu um grande sorriso.

– Anne! Quer prazer revê-la! Você está fantástica. – segundos depois ele me notou, e sua expressão murchou. – Melissa... Oh, então ela já sabe.

Mamãe assentiu.

– Eu já estou a mandando para o acampamento, mas acho que vou precisar da sua ajuda para chegarmos bem.

– Eu estou a sua disposição. Diga-me do que precisa.

Minha mãe contou a Quíron toda a história da Fred e do roubo do iate. Ele não a interrompeu em nenhum momento, e escutou tudo com muita atenção.

– Muito bem. Vou ver se consigo controlar a névoa para tentar despistar a polícia. Também vou tentar convencer alguns serem aquáticos para vocês chegarem mais rápido aqui.

– Muito obrigada Quíron. É bom saber que posso sempre contar com você.

– É um prazer te ajudar. – Quíron sorriu. Depois virou a sua atenção para mim. – Mal vejo a hora de vê-la Melissa. Tenho certeza que vamos ser grandes amigos. Até mais.

Quíron passou a mão pela névoa, que tremulou e desapareceu.

Mamãe se sentou num pufe, relaxada.

– Quem ele era? – perguntei

– Quíron é o Diretor de Atividades do Acampamento Meio-Sangue. É um grande amigo meu.

– Diretor de Atividades de um acampamento? Mas ele estava numa cadeira de rodas!

– Regra Número Um para semideuses: Nunca se deixe levar pelas aparências.

– Ok... Como vocês se tornaram amigo?

– Quando fiquei grávida de você, ele veio me visitar. Eu estava passando por uma gravidez de risco, e ele quem me deu forças. Me falou como seria ter uma filha semideusa. Me deu muitos conselhos e foi super atencioso. Quase como um segundo pai.

– Mas como ele sabia que você estava esperando uma semideusa?

– Eu não sei ao certo. Parece que ele recebeu uma mensagem do seu pai.

Bom, isso significa que meu pai não foi totalmente negligente. Ao menos se preocupou de avisar a alguém para ajudar minha mãe.

Conversamos mais um pouco sobre Quíron e o Acampamento Meio-Sangue. Concluí que aquele podia ser um bom lugar para se ficar, afinal. Por volta de meio-dia e meia, o nosso papo foi interrompido por um barulho grotesco vindo da minha barriga. Minha mãe arregalou os olhos.

– Isso é fome?

Dei um sorriso sem graça, concordando.

– A sua sorte é que eu roubei alguma coisa da geladeira dos seus avós antes de sair. – Mamãe disse, enquanto se encaminhava para a “mini cozinha” do iate. – Não é muita coisa, mas dá para sobreviver.

Ela fuçou sua bolsa e tirou umas pizzas congeladas e uma garrafa de refrigerante de lá. Me perguntei como ela conseguia guardar tanta coisa lá dentro.

– Comida congelada? – eu indaguei.

– É o melhor que se pode conseguir quando você está correndo risco de vida. – ela respondeu. – Como se você não gostasse de pizza, né?

Eu sorri.

– Tem de calabresa?

– Nah, é lógico!

Pegamos um dos pacotes e colocamos no microondas, seguindo as instruções da embalagem. Pouco tempo depois estávamos nós duas sentadas à mesa nos deliciando com gordura saturada.

– Mãe, me conta mais sobre deuses gregos?

– Claro! A mitologia é muito interessante, e é importante que você saiba.

Anne começou a contar diversas histórias sobre o surgimento dos Titãs, depois sobre os deuses e suas funções. Falou sobre monstros, guerras, semideuses importantes e vários outros detalhes. Pensar que tudo aquilo era real deixava as histórias muito mais impressionante, apesar de já tê-las ouvido antes.

O tempo foi passando sem eu me dar conta. Quando olhei pela janela, pude ver o sol se pondo por detrás das ilhotas que nos cercavam, dando ao mar um tom alaranjado. O nosso barco avançava a toda pela água. Pelo que parecia, Quíron conseguira a tal ajuda. Minha mãe havia dito que amanhã à tarde nós chegaríamos ao Acampamento. Eu estava realmente ansiosa.

Como já estava ficando escuro, nós voltamos para a cabine. Ficamos conversando na cama e acabamos adormecendo com o balanço do mar.

Acordei com a luz do sol nos meus olhos. Olhei para o relógio-despertador que estava sobre o criado mudo. Quando focalizei as horas, dei um pulo da cama.

– Como você me deixa dormir até meio-dia, mãe? – Eu disse, enquanto a procurava pelo compartimento.

– Calma senhorita! – ela respondeu, saindo da cozinha e segurando uma grande bandeja com pizza de ontem e refrigerante. – Você merecia um descanso, certo? Ontem foi um dia cheio. Agora tome, eu trouxe o seu “almoço saudável” na cama.

Agradeci. Mamãe estava certa, eu realmente estava precisando dormir. Aproveitei meu almoço o máximo que pude, por que não fazia ideia de quando esse cardápio delicioso iria se repetir.

O resto do dia passou tranquilamente. Estava dentro da cabine ouvindo um CD do Beatles que encontrei no meio das coisas do dono do iate quando a minha mãe chamou meu nome. Corri até a proa e a vi apontando para frente.

– Estreito de Long Island. Diga “olá” para sua nova casa.

* * *

Quando nós ancoramos já eram quase quatro horas. Andamos um bom caminho até chegar numa área deserta. Qualquer outra pessoa que passasse por lá ignoraria aquele lugar completamente. Mamãe parou ao pé de uma íngreme colina com um pinheiro no topo. Se espremesse bem os olhos conseguiria avistar alguma coisa viva e grande sob ele.

Olhei para a minha mãe, que ainda me encarava com um sorriso no rosto.

– E então? Cadê? – perguntei.

– É aqui, só subir a colina.

– Como assim? Nesse fim de mundo? Como pode ter um acampamento de treinamento de semideuses aqui?

Ela riu e pôs a mão no meu ombro.

– Já se esqueceu da Regra Número Um dos semideuses?

Nunca se deixe levar pelas aparências. Ok, ok. Já entendi. Mas o que é aquela coisa lá em cima? – eu perguntei, apontando para o topo da colina.

– Um pinheiro, ué.

– Não, embaixo dele.

– Ah, aquilo. É um dragão.

– O quê?! UM DRAGÃO?! Como assim um dragão, mãe?

– Calma filha! – mamãe fez sinal de rendição com os braços – Peleu é um bom dragão, não vai te fazer mal nenhum, ok?

– Ah! Claro. Primeiro deuses existem, e agora vou para um acampamento que tem um dragão de mascote. Muito legal.

– Meu bem, suas descobertas estão só começando. Esqueça-se de tudo que você acredita. Abra sua mente. O mundo é muito maior do que nós pensamos.

As palavras da minha mãe ficaram guardadas na minha mente. “Suas descobertas estão só começando”. Prometi para mim mesma que a partir de agora iria abrir minha mente para novas experiências. Deixar a Melissa tímida e ingênua aqui, no pé dessa colina. Daqui para frente seria uma nova eu.

– Preste atenção. – mamãe falou. – Quando você chegar vai avistar uma casa grande e azul. Vá até lá e procure por Quíron. Ele vai te explicar qualquer outra coisa que precise saber.

– Tá bom. Então, é só isso?

– É. Aqui que nos despedimos.

Ficamos um tempo em silêncio antes de eu dar um apertado abraço na minha mãe. Ela retribuiu com a mesma força.

– Se cuida, viu? Qualquer coisa é só me mandar uma Mensagem de Íris.

– Obrigada mãe. Por tudo. Eu amo você.

– Também te amo filha. Até mais.

Mamãe me deu um beijo no rosto, se despediu e foi embora. Comecei a subir em seguida. A colina era íngreme e a subida era difícil, e aquela mala pesada não ajudava. Quando atingi o topo minhas pernas estavam doendo como nunca. Me escorei em um toco de árvore para estabilizar a respiração.

Ao levantar os olhos para o vale a minha frente, um suspiro de espanto escapou da minha boca. Minha mãe tinha razão. Aquele monte escondia muito além do que eu podia imaginar.

A primeira coisa em que eu botei os olhos foi a tal casa azul. Tinha dois andares, uma varanda de madeira e era impressionantemente grande. Por detrás dela passava um riacho, que se abria num lago e depois voltava para o tamanho normal, desaguando, por fim, no mar. Perto da praia de Long Island havia também um gigantesco bosque, com altos pinheiros, e que eu achei meio sombrio. Vi também uma arena, uma formação de casinhas que presumi ser onde os campistas ficavam, um anfiteatro, uma parede de escalada maior que qualquer outra e uma quadra de vôlei. Olhei para o lado direito e notei uma plantação de alguma coisa vermelha, alguns cavalos circulando no que presumi ser um estábulo e por último, uma casinha da onde estavam saindo uma porção de campistas carregando armas antigas, escudos e até catapultas.

Aquilo tudo era muito estranho e maravilhoso. Uma ânsia cresceu no meu peito, uma vontade de pertencer aquilo. Quando consegui recuperar meu fôlego, eu desci a colina rapidamente.

Fui direto para a casa azul. Subi a escadinha que levava á varanda e bati na porta. Segundos depois o mesmo homem de meia-idade que conversou com a gente pela névoa estava abrindo a porta para me receber. Mas havia um detalhe: Da cintura para baixo ele era um cavalo. Eu perdi a fala e fiquei olhando para ele, muito mais alto que eu, com a boca escancarada. Ele avaliou-me e sorriu.

– Olá Melissa.

Demorei alguns instantes para conseguir formar uma palavra, que saiu num fio de voz.

– Oi.

– É um grande prazer vê-la. Eu sei que essa minha aparência é bem impressionante na primeira vez que você olha, mas fiquei tranquila. Em poucos dias você se acostuma.

Balancei a cabeça, ainda sem acreditar no que via.

– Você é um centauro.

– Sim, isso mesmo. Você quer entrar ou prefere ficar aí?

Quíron abriu passagem para eu passar. A casa era incrível por dentro. A sala era ampla, com uma lareira de mármore e alguns quadros com criaturas mitológicas, leopardos e videiras ilustradas. Sentei numa grande poltrona de camurça e coloquei a mala ao meu lado. Olhei para Quíron, pensando se ele podia sentar com aquelas quatro patas.

– Então Melissa? Como foi sua viagem? Sua mãe já lhe contou tudo?

– A viagem foi ótima. Obrigada pela ajuda. E sim, ela já me explicou tudo. Ou pelo menos boa parte.

– Eu imagino que ainda esteja meio confuso, mas você acaba se acostumando. Agora, se você me permite, queria te fazer uma pergunta. Eu assenti – Sua mãe me falou que você se defendeu do lestrigão com um escudo criado pelo colar. É verdade?

– Sim. Na praia, depois de ter ficar sem saída, eu esfreguei o colar. Eu não sei, foi como um instinto. Depois uma bola rosada ficou em torno de mim, e o lestrigão não conseguiu me machucar.

– Interessante. Foi o seu pai que te deu, certo?

– Foi o que minha mãe falou. Mas eu não faço ideia de quem ele seja.

– Certo. Bom, eu tenho a sensação de que será reclamada logo.

– Reclamada? Como assim? – pensei que a palavra tivesse algo a ver com reclamar, e eu não via como isso podia ser bom.

– Ah, reclamada é a palavra usada para dizer que você foi assumida como filha de um determinado deus. Quando isso acontece você é levada para o respectivo chalé do seu pai ou mãe olimpiano.

– Ah, entendi. E onde eu fico enquanto não sou “reclamada”? – perguntei, fazendo aspas com os dedos.

– No chalé de Hermes.

– Chalé de Hermes? Deus dos ladrões?

– E dos viajantes.

Estava meio confusa.

– Por que justamente esse?

Quíron mudou o peso de uma pata para a outra.

– Melissa, eu sei que você deve estar cheia de perguntas, e eu responderia todas de bom grado, mas agora eu estou meio atarefado. Vou pedir para um campista te guiar e ele vai responder todas as suas dúvidas, ok?

Antes que eu pudesse concordar, Quíron se virou e foi para a varanda. Eu o segui, olhando o acampamento numa perspectiva nova agora. Observei que a maior parte dos campistas era mais velha que eu – entre 15 e 18 anos – e todos carregavam armas. Quíron chamou o nome “Isabel” e uma menina loira que carregava um arco e uma aljava veio até nós. Ela era um pouco mais baixa que eu e um tanto cheinha (mas isso não vem ao caso).

– Você me chamou Quíron?

– Sim. Quero que mostre o nosso acampamento para Melissa. Ela é nova aqui. – ele fez um gesto com a mão em minha direção – Melissa, essa é Isabel, filha de Apolo.

Eu acenei com a cabeça e ela retribuiu com um simpático sorriso. Notei que ela tinha adoráveis covinhas. Seus olhos eram cor de mel, quase dourados.

– Ah, Melissa, se você não quiser levar sua mala para o chalé de Hermes, pode deixar aqui. Leve só o que for necessário e quando for reclamada pode levar tudo.

– Ótima ideia.

Voltei para dentro da casa e abri minha mala. Procurei minha bolsa grande para colocar algumas roupas e minha adaga. Enquanto estava fuxicando, um embrulho que eu não tinha notado antes surgiu. Achei dentro dele achei um bolo de dinheiro e algumas daquelas moedas grandes que minha mãe tinha usado. Desdobrei o bilhete que acompanhava o embrulho e achei a caligrafia da minha mãe.

Querida Melissa,

Bom, se você está lendo isso é por que já deve estar no acampamento. Espero que esteja segura. Nesse pacote eu deixei 500 dólares e alguns dracmas de ouro (as moedas grandes) para que você me mande mensagens de Íris sempre que precisar. Use-os com sabedoria. E não esqueça que eu te amo.

Beijos e abraços, mamãe.

Abri um sorriso e coloquei os dracmas e o dinheiro (minha mãe nunca tinha confiado tanta grana a mim) de volta no pacote. Enfiei-o num dos compartimentos da bolsa e separei as roupas e os sapatos que iria levar para o chalé. Por fim, guardei minha adaga, envolvida num pano para não furar nada. Coloquei a bolsa no ombro e fechei a mala com o cadeado, deixando encostada perto do sofá.

Quando voltei para a varanda, encontrei Quíron conversando baixinho com a filha de Apolo. Assim que eles me viram, pararam de falar.

– Deixei a mala num canto, Quíron. – falei – Depois você guarda?

– Claro. Vocês podem ir. Eu tenho muitas coisas para resolver aqui. Até mais Melissa, e bem vinda ao Acampamento Meio-Sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Chegamos *u*
Tô feliz :D
Agora as coisas só ficam melhores, hehe
Não esqueçam dos reviews, hein? Beijocas



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Deuses E Mortais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.