Os Semideuses e a Árvore De Sangue escrita por DennysOMarshall, Robert Zhang, HenryDixon


Capítulo 8
OLIVER




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Oliver e qualquer um ali podiam perceber que o rosto de Katherine enrijeceu em raiva, mas ela relaxou a expressão no mesmo momento. Adam usava um terno beje, camisa social branca bem passada e uma gravata vermelha. Oliver não podia se julgar anormal por pensar quem diabos usava uma roupa daquela num acampamento onde Apolo não dava nenhuma folga? Própon se levantou, apertando a gravata. Oliver deu um passo para trás. Foi até eles e olhou Dakota e Xavier com um semblante meio preocupado.

— Katherine — disse Própon — traga-os para dentro. Arrume algo para beberem. Para todos nós bebermos, aliás.

Katherine assentiu e entrou na Casa Grande. Dakota, Oliver e Xavier entraram juntos. Própon bateu no ombro de Oliver e lhe lançou um olhar amigável, que soava mais como um olhar de quem tem muita pena. Adam relaxou-se e cruzou as pernas. Olhou para os semideuses que entravam com desdém. Katherine voltou com cinco latinhas de Coca-Cola. Oliver percebeu que ela mal conseguia ficar em postura correta. Em cada mão segurava duas latinhas, e a última apoiava no queixo. Levantou-se da cadeira e pegou a latinha que Katherine segurava com o queixo. Olhou-a com um sorriso desajeitado.

— Obrigada — disse ela — mas eu poderia ter feito isso sozinha.

Oliver assentiu envergonhado, sentindo que sua ajuda fora inútil. Viu o rosto da garota enrubescer antes de se sentarem em volta da mesa. Adam balançava as pernas continuamente. Dakota ficava esfregando as mãos sem parar, e Xavier ainda estava um tanto confuso sobre o que estava fazendo ali, entre semideuses que mal conhecia e o diretor do acampamento, que parecia menos carrancudo que o normal. Katherine desamarrou o casaco da cintura e voltou a usá-lo normalmente. Uma brisa gelada entrava pelas janelas da Casa Grande. Própon não parecia pronto para dar a notícia para todos. Oliver encarava a todos tentando decifrar suas reações.

— Heróis — Própon olhou para todos com um sorriso que parecia doer em sua consciência — vocês, semideuses, estão para se tornar heróis de verdade e orgulhar os seus pais. Não somente orgulhá-los, mas por mais estranho que isso possa parecer, salvar a vida deles. São em tempos difíceis que nascem as oportunidades e os verdadeiros heróis. Eu vejo potencial em todos vocês aqui para mudarem as coisas. O Olimpo corre perigo. Aqueles que chamam de pais correm riscos nesse momento. E vocês são aqueles que estão destinados a salvá-los. — conforme Própon discursava, os semideuses o fitavam com olhares esperançosos e confiantes. Olhares brilhantes. Oliver franzia a testa, emocionado. Katherine olhava para baixo, reflexiva — Partirão em breve para Salt Lake City, onde devem encontrar Jano, o deus das portas. Vocês irão até Chicago acompanhados das Caçadoras de Ártemis. Alguém já tem algum meio de transporte em mente?

— Creio que pégasos seriam de grande ajuda, diretor — Adam disse, com a voz mais doce que podia fazer.

— Na verdade — Katherine interferiu — Oliver sugeriu que usássemos o carro de Dakota Marshall. Um pégaso voando por aí... Na verdade, cinco... Isso seria certamente algo que atrairia monstros. E não acho que tenhamos tempo para nos preocupar com tal coisa.

— Não, de fato — Própon coçou os bigodes — Não é do feitio do diretor permitir que um menor de idade perambule por aí com um carro, mas, em tal situação acho que posso fazer vista grossa. Vou dividi-los em grupos de dois. Ellen Scaller, a tenente das Caçadoras disse que Ártemis lhe indicou uma forte ocorrência de poder em Nevada. A metade de vocês vão para lá.

— Eu me ofereço para ir com a tenente Ellen Scaller — Oliver sentiu-se corado após falar isto, todos sabiam que ele tinha uma queda, ou melhor, um tombo pela tenente da caçada. Ele olhou para a parede tentando disfarçar, mas depois de se lembrar do nome da garota o rosto dela veio a mente. Seu cabelo castanho claro caído ao ombro, a pele branca, sorriso perfeito...

Katherine o lançou um olhar seco. Era claro e todos sabiam que acompanhar as Caçadoras de Ártemis era uma hipótese mais que improvável. Elas trabalhavam sozinhas desde sempre. Aliás, estar ao lado de uma Caçadora de Ártemis sendo um homem já é algo perigoso de se fazer, mesmo não tendo a menor das piores intenções. Oliver, que já era apaixonado, então... Oliver corou e percebeu a bobagem que falara pelos olhares condenantes. Olhou ao redor e se lembrou que na madrugada, quando falara com Katherine e ele sobre o sonho, lhe informara que levariam seis semideuses, mas na sala, dos que se dispunham a partir com ele, só contavam-se cinco.

Própon — perguntou — não me disse que seis iriam na viagem até o lugar? Meio que só temos cinco até o momento, não é? Quer dizer, falta um.

Sim! — disse Própon, levando a mão a uma das latinhas que Katherine trouxe do frigobar, e continuou falando, acompanhado pelo entorpecente som de uma latinha de Coca-Cola sendo aberta — O último integrante desta missão não cabe a vocês escolher. A decisão cabe ao nosso amigo Raphael Chimicatti, e será um de seus semideuses em reabilitação. Uma, julgando que no momento ele só está treinando semideusas encrenqueiras.

Espere — disse Katherine, que havia furtivamente pêgo uma latinha também, e estava bebendo-a discretamente — se o Chimicatti é o treinador dessas semideusas, isso quer dizer que ele é dez vezes mais experiente, não é? Quero dizer, por que ele não vem conosco ao invés delas?

Porque, minha pequena ruiva objetora, com o perigo dos deuses, o mal que assola-se ao nosso redor poderá prever que nós somos a maior força deles em terra. Os monstros virão para cá em breve, assim que souberem o que está havendo, e provavelmente não demora muito. Por isso, semideuses mais velhos e com mais experiência como eu, Turbanus, alguns veteranos como o Raphael Chimicatti e outros, devemos ficar nas linhas de defesa do acampamento. Tempos difíceis estão para vir, e precisamos de protetores. Os sátiros estão trazendo mais e mais novatos. Eu acho que isso tudo é um erro, pessoalmente. Se os monstros quebrarem essas barreiras, esses calouros não saberiam como se defender. Por isso, Raphael deve ficar e batalhar conosco, e vocês devem partir.

Neste momento, a mão ossuda coberta pelos pêlos brancos girou a maçaneta. Era Turbanus. Abaixou-se para não bater a cabeça na testa e se posicionou ao lado de três semideuses que entravam: Raphael, Leah e Alice. Raphael, com a camisa do acampamento e sua velha bermuda marrom-escuro. Leah era parecida. Sua pele morena brilhava perante as luzes do local. Alice, sempre tímida, entrou desviando olhares. Raphael aproximou-se mais da mesa de Própon, que o olhou com satisfação.

Vim assim que Turbanus me chamou, senhor. Por um acaso minha presença foi requerida? É sobre... — disse Raphael.

Sim, é sobre a Árvore de Sangue. Eu te falei mais cedo sobre as suas treinadas. O seu processo com Leah já foi finalizado? Ela está pronta para partir, Raphael?

Na verdade, Própon — Raphael coçou o cabelo — eu prefiro que Leah fique. Em seu lugar, estarei enviando para ajudar aos semideuses escolhidos, Alice d'Vince, filha de Poseidon. Ainda há alguns pontos que eu gostaria de aprimorar em Leah. Alice pode ser mais útil pela sua filiação. Digo, ela teria controle sobre a água.

Oliver podia jurar que enquanto ouvia o descarado dar uma desculpa tão esfarrapada, viu uma piscadela entre ele e Leah.

Então que seja — Própon suspirou — você tem mesmo certeza, Raphael, que Alice deve partir com os semideuses então? — Raphael fez que sim — Ótimo! — virou-se para o grupo previamente seleto de cinco que distribuíam-se entre as cadeiras da Casa Grande — é uma pena, meus amigos! Mas é a responsabilidade de um herói! Não garanto a sobrevivência de vocês, mas torço, e apoio de longe. Vocês partirão amanhã, antes que o sol nasça. Por agora, estão liberados. O sol logo se põe, e vocês tem muito o que discutir. Estão liberados, com excessão do filho de Hipnos.

Oliver gelou. Própon não parecia muito alegre sobre levá-lo nesta missão. Imaginou que fosse ser repreendido, aconselhado duramente ou até mesmo ameaçado. Nunca conversou muito com Própon nesses anos, mas ele lhe parecia um sujeito ranzinza, embora eficaz. Seus pensamentos eram múltiplos, e não se sabia o que Própon estava para fazer, mas logo ouviu sua voz grave:

— Não se sabe — abaixou-se, pegando algo debaixo da mesa na qual sentava-se a frente — nem provavelmente virá a se saber lucidamente o que se passa na cabeça de um deus. Eu não diria de modo algum que viria a entender o que se passa, de modo ainda pior, na cabeça de Morfeu, seu irmão, deus do sonho. Já é difícil, pequeno Heinrich, imaginar o que se passa nessa sua cabeça tão sonhadora. Quando lhe comuniquei nesta madrugada, ao lado de Katherine, que havia sonhado com Morfeu, fui completamente sincero e falei tudo. Mas Turbanus me avisou — Própon levantou as mãos, revelando o conteúdo que jazia em baixo da mesa — que esse par de meias estava em baixo da minha cama, logo após o meu despertar. "Adiávrocho , adiklopés , aditrýpes", bordado em lã preta. Em grego "impermeável, infurável, inroubável". Pelo tamanho, não julgo que sejam para mim, muito menos para Turbanus. São suas. Mágicas, eu acho. Não seria do feitio de um deus te presentear com um par de meias comuns ao começo de uma guerra. riu, e foi acompanhado pela gargalhada de Oliver, que pegou as meias cuidadosamente. Própon em seguida o olhou com um sorriso. Colocou a mão em seu ombro — Você é importante, Oliver. Não me falhe. Você é uma das forças que está sendo mandada para lá na qual eu e os deuses mais depositamos esperanças. Eu estarei te observando.

— Você... consegue, tipo, ver as pessoas? Como numa bola de cristal? — Oliver o olhou atencioso.

— Não — Própon riu, retirando a mão do ombro dele — não exatamente, mas com o tempo você vai ganhando as suas habilidades, eu acho. Você descobre uma coisa ou outra. Mas agora você deve ir. Prepare suas malas, e vá com os deuses, filho de Hipnos. Minhas preces vão ter o seu nome também.

Oliver sorriu. Pegou suas meias que havia deixado num canto do sofá e se levantou, dando um sorriso a Própon. Acenou e saiu pela porta da Casa Grande. Passou pelo chalé de Hipnos e olhou para a sua porta. Ao entrar, percebeu que não havia mais ninguém lá. O chalé estava aconchegante. O fogo crepitava na lareira. Um galho de árvore acima da lareira, que pingava um líquido branco numa coleção de taças de estanho. Um cheiro de alvejante entrou pelo nariz de Oliver. Um cochilo depois da madrugada ocupada pela voz de Própon e Katherine em seus ouvidos seria bom, ótimo... Na verdade, ele mal conseguia se sustentar. Imaginou-se dormindo no seu chalé. Sim, seu chalé. Não haviam mais filhos de Hipnos por ali. Aquela era sua casa... Aconchegante... Macia... Abriu os olhos subitamente. O chalé quinze era conhecido por fazer exatamente isso, e ele não ia sofrer em sua própria armadilha. Embaixo de sua cama de colchão em nível perfeito, sua mala de couro empoeirada dormia. Um sorriso ao abrí-la e ao ver as fotos dele junto com a irmã o lembraram da vida antiga, da qual só sentia falta às vezes. Oliver suspirou e deu mais um sorriso.

Motivou-se e decidiu que ia até o chalé doze, encontrar Dakota. As vinhas do chalé estavam ficando mais amareladas e duras. Bateu na porta duas vezes, e Jopler, que chupava um pirulito esverdeado abriu a porta. Estava jogando um jogo, como sempre. Pergos estava tocando uma música alta no banheiro do chalé, já que Dakota lhe expulsara do quarto para arrumar as malas. Ao fundo, Oliver viu Dakota. Ele estava em pé, a frente de um criado-mudo, enchendo a sua mala de couro marrom-claro de roupas diversificadas. Ao lado dele, Katherine Darkholme sentava-se no beliche.

Oi! — disse Oliver, perguntando-se o que ela fazia ali.

Olá, Heinrich — Katherine o respondeu, colocando as mãos no colchão de Dakota — já arrumou suas coisas?

É, eu já tinha bastante roupa dentro da mala, e tal. Que eu trouxe pro acampamento e acabei não usando — explicava ele, gesticulando — e vocês, já terminaram?

Falta pouco — disse Dakota — mas, surpreendido por dar essa ideia primeiro que você, eu preciso dormir. O sol está se pondo agora, eu sei, mas eu não dormi a noite inteira. Pelo o que disseram, talvez não tenham dormido também. Acordemos cedo, sim? Nos encontraremos então com Própon e poderemos partir.

Katherine pareceu obedecer instantaneamente. A garota sentia um sono aniquilante. Não estava, como eles, sem dormir por só um dia. Três dias ela passou em claro, com suas preocupações particulares. Silenciosa, recostou-se na parte de Dakota do beliche. Oliver a olhou atentamente. Ela parecia não querer acordar, e Oliver realmente não queria tentar acordá-la.

— Vocês tem camas pra hóspedes no chalé quinze, não? — Dakota se recostou no criado mudo — ela deve dormir. E eu também. E dormir com ela seria meio...

Oliver sorriu. — Sim, estranho. Vamos pro quinze logo. Tem uma cama vaga do outro lado da lareira pra você.



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