Os Semideuses e a Árvore De Sangue escrita por DennysOMarshall, Robert Zhang, HenryDixon


Capítulo 6
PRÓPON




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Própon estava solitário aquela noite. Pensava em seu passado e em sua vida atual. Turbanus não lhe contaria histórias para dormir como antigamente, quando lhe fez papel de sátiro. Mas bem que uma história agora cairía bem. Histórias de antigos heróis gregos. "Um dia, meu pequeno amigo, você será como eles. E eu estarei ao seu lado no campo de batalha, e um dia, eu prometo, seremos levados ao Olimpo juntos. Se não ao Olimpo, ao menos ao Elísio." Própon foi ao banheiro. Retirou o terno e deixou cair no chão. O mesmo com a gravata. Abriu um pouco da camisa social. Estava calor na Casa Grande. Foi ao banheiro e lavou o seu rosto. Logo após isso, ficou encarando sua imagem no espelho.

Própon foi para a cama. Já eram cerca de uma da manhã quando ele foi embora do jantar. O Pavilhão do Refeitório não estava nem perto do que Própon considerava um lugar vazio. A maioria dos semideuses ainda estavam lá. Dairren Harmon, o sátiro, dançava com três semideusas do chalé de Afrodite. Dakota era o único do seu antigo grupo que estava lá. Oliver o acompanharia, se não estivesse com sono demais para ficar acordado ali. Alice D'Vince rabiscava desenhos num bloqueto de anotações. Adam Bunny havia reaparecido misteriosamente, e se sentava num banco de mármore branca e entrelaçava duas garotas do chalé de Atena com os braços enquanto tentava dividir olhares e sorrisos entre ambas. Própon e Turbanus estavam reclusos no trono jogando cartas. O típico costume de Turbanus de contar piadas enquanto jogava cartas nunca mudara.

Deitou-se na cama e fechou os olhos. Da Casa Grande, não se ouvia o barulho que os jovens estavam fazendo no refeitório, o que permitiria que Própon tivesse uma bela noite. Retirou seus óculos e os deixou sob a cabeceira. Turbanus havia ficado para tomar conta dos jovens. Se revirou um pouco na cama antes de dormir. O que menos esperava naquela noite era uma insônia. Própon adormeceu. E seu adormecer foi profundo e belo. Mas de repente, acordou. Acordou não por um barulho repentino como o entrar desajeitado de Turbanus e mais um vaso quebrado, mas sim por uma dor de cabeça forte.

Um pouco depois percebera que não tinha de fato acordado, pois se viu não na Casa Grande, mas num emaranhado de cores aleatórias num fundo azul escuro estrelado. Ao invés das roupas formais que costumava usar, um manto azul escuro, leve. Sentiu-se limpo.

— Própon Emerien — disse uma voz suave atrás de si — Bem vindo ao meu lar.

Olhou assustado para trás. Por um segundo, achou que houvesse sido raptado, mas reconheceu a figura. Os olhos calmos, como quem quisesse fazer dormir. Vestia a mesma manta que ele. O cabelo grisalho esvoaçava, embora não houvesse vento por ali. Própon já havia se encontrado com Morfeu, deus dos sonhos em uma de suas aventuras. Fora Morfeu que petrificara seu amigo Michael Bodgard.

— Morfeu — ele disse, franzindo o cenho — o que me traz a este lugar?

— O que lhe traz aqui, semideus — Morfeu mexeu na manta, queria demonstrar que a visita de Própon ali era incômoda para ambos — são ordens de meu pai, Hipnos.

A expressão nervosa de Própon transformou-se em curiosidade e hesitação. Não tinha contato com os deuses há uma quantidade considerável de tempo. O que poderia Hipnos, um deus tão inativo, desejar falar com ele? Tentou manter a calma e perguntou serenamente a Morfeu:

— E o que deseja seu pai? — cruzou os braços — Que assuntos tenho eu a tratar com o deus do sono?

A expressão de Morfeu reduziu-se a preocupação. O sorriso calmo em seu rosto desapareceu. Em geral, isso ajudava a manter a quem estava em seu sonho a não acordar, mas não pôde evitar.

— É sobre a Árvore de Sangue. — olhou para Própon.

Árvore de Sangue? O que é isso, que eu nem ao menos tenho conhecimento sobre?

Não se sinta disprivilegiado. Nenhum mortal deve saber da Árvore. Pelo menos foi o que determinou Zeus, ao saber de seu magnífico poder. A questão é que a Árvore, embora seja tratada como uma divindade, é um perigo. Um perigo para todos os deuses. — pigarreou — A Árvore de Sangue não fica no Mundo Inferior, na Terra ou em qualquer lugar perto do Empire State. Fica em outro plano. Um plano que só cabe a Jano achar. Foi Jano que descobriu que começou. Foi Jano que avisou ao meu pai, e meu pai que me mandou avisá-lo.

Avisar-me de quê, Morfeu? O que é que começou?

A ponta de um dos galhos da Árvore brilhou em vermelho. Se o seu poder é real, isto pode significar para os deuses e semideuses o começo do fim. Somente a Árvore pode acabar com o poder de um deus. Não! Não somente acabar com o seu poder, mas reduzí-lo a forma mortal. — Morfeu olhou Própon fixamente — Própon, você é o semideus mais velho que conheço. Imagine-se no meio de Nova York, sem nenhuma proteção além de seus conhecimentos com espadas. E imagine, se há dez minutos antes disso você fosse um deus olimpiano. Qual seria a sua chance de sobreviver a tal coisa?

Própon engoliu em seco.

Como uma Árvore poderia ter tal poder?

Um acidente, pelo o que sei — Morfeu suspirou — Talvez, eu acho, ela seja até uma deusa, e permaneça viva em forma floral. Como aquele pinheiro. — pigarreou novamente — Enfim. Zeus ainda não sabe. Na verdade, só eu, meu pai e Jano sabemos, e é isso que nos leva a você.

Própon o olhou desconfiado. Morfeu retribuiu com um olhar seco. Uma mesa branca se materializou frente aos dois. Própon sentou-se. Morfeu sentou-se logo em seguida também e o olhou fixamente.

Prossiga, Morfeu. — suas mãos cobertas por pêlos tremiam, aflitas.

O seu refúgio. — Morfeu posicionou dois dedos sobre a mesa branca — Os seus semideuses, Própon. Meu pai disse que a Árvore nunca sangraria por um motivo banal como uma data aleatória. Alguém causou isso. Ele não quis me revelar detalhes, mas o que me disse foi que suspeita de... — retirou a atenção dos olhos dos dois dedos que batiam constantemente sobre a mesa e olhou para Própon. Um sorriso abriu-se no canto da boca de Morfeu — um semideus.

O olhar de Própon ficou gélido e fixou-se nos olhos azuis de Morfeu. Suas mãos já não tremiam. Estava totalmente paralisado. Um soluço o fez voltar ao normal. Morfeu o olhava, estudando as suas feições.

É quem eu estou pensando...? — Própon olhou-o preocupado.

Se é a figura que lhe atormenta em sonho, não me cabe descobrir. Mas como este assunto é de importância pra mim, farei a minha parte em descobrir mais sobre ele. Mas agora está para amanhecer, e não posso lhe prender por muito tempo, meu caro semideus. Mas há uma mensagem que tenho de lhe entregar. Você deverá levar os seis semideuses a dois pontos. O que enfraquece e o que fortifica. Hipnos exige a participação de seu honorável filho, meu caro irmão, que deve crescer como semideus.

Própon o fitou incrédulo. — Não posso fazer isso com os jovens semideuses, você sabe perfeitamente, Morfeu. Deixe-me ir junto do centauro Turbanus. Já nos provamos capazes de realizar missões e profecias para todo o Olimpo e o Senhor do Mundo Inferior. Não acho que falharíamos.

Fora de cogitação — Morfeu respondeu secamente — você acha que ainda tem treze anos de idade como os seus aprendizes? Própon, você é um homem de idade avançada. A quantidade de monstros... Seriam invencíveis. Própon, nos encontramos no seu passado. Você tinha vinte e oito anos e estava fora dos limites de um refúgio de semideuses há três anos. Eu sei que você pode se virar, mas em consenso, nós, os organizadores deste seu séquito preferimos não correr risco algum.

Própon se sentiu como um boneco de exibição numa loja chinesa.

Agora você deve ir. O sol surge. Lembre-se de tudo que lhe disse aqui com muita atenção. Própon, você é somente uma das forças que estamos contatando. A magnitude de tal ocorrido é suprema. Os seus semideuses não podem falhar. Os seus semideuses não irão falhar, me entendeu?

Própon olhou o deus dos sonhos. Em um segundo, uma névoa passou por ele. Seu corpo começou a desaparecer como tinta jogada num rio puro azul-estrelado. Os olhos de Própon se fecharam contra a sua vontade. Sentiu-se sem ar por um segundo, e a voz doce de Morfeu demorou a sair de sua cabeça. A dor de cabeça novamente. Insuportável. Própon deu um grito de dor, e logo percebeu que estava na sua imensa cama na Casa Grande. Um bater de cascos se ouviu. O sol nascia na janela.

Própon? — Turbanus adentrou o quarto apressado — Você gritou?

Própon passou a mão nos cabelos e percebeu o quanto havia transpirado durante a noite. Suspirou levemente e fechou os olhos. Abriu-os e olhou apreensivo para Turbanus.

Chame a garota. — disse Própon, de modo hesitante.

Que garota, Própon?

Própon o olhou por um segundo e pensou em que perigos poderia acarretar para todos os seis semideuses que se envolveriam nisso. Mas ele não podia correr o risco. Sabia que sem a proteção dos deuses, ele era fraco. E ele não podia correr o risco de ser fraco, como sempre temeu. Decidiu-se. Agora o olhar nos olhos acinzentados de Turbanus indicavam firmeza.

Chame Katherine aqui. Agora.




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