Concordo com a cabeça e vou para casa. Almoço sem falar com ninguém, tomo um longo banho e vou para o meu quarto. Ah como eu queria ajuda da Silvia agora, não tenho ideia de como me vestir, arrumar o cabelo etc. Vou até o quarto dela, ela está com alguns vestidos em cima de sua cama e está experimentando um rosa que deixaria qualquer garota do 1 pirada.

-- Me desculpa – sussurro.

-- Ah tudo bem maninha – ela fala sorrindo – vamos achar um vestido para você.

Ela me mostra alguns, laranjas, rosas claro, azuis, pretos, até que finalmente vejo um que gostei, ele é preto solto, com a parte de cima cor de vinho, e para combinar ela escolhe um sapato de salto alto preto, e arruma o meu cabelo:

-- Você está incrível Clo – ela fala quando termina.

Tenho que concordar, nunca estive assim antes, fico esperando ela terminar, Silvia experimenta cada um dos vestidos e acaba escolhendo um vestido azul marinho. Ela também fica deslumbrante, fico escrevendo no diário até Cato chegar. Ele está com um smoking preto, que fica muito bem nele. Quando ele chega, me despeço de Silvia que vai mais tarde, e vou atendê-lo. Abro a porta e falo:

-- Oi.

-- Wow, você está linda! – ele fala sorrindo.

-- Você também – falo, estou mais vermelha que um tomate.

Vamos caminhando até a festa, o salto machuca um pouco, a casa do amigo do Cato não é muito longe, pouco tempo depois de chegar descubro que ele é irmão da Emma, melhor amiga da Silvia. É recém 20h e meia e já está cheia de gente, alguns ficam me olhando, acho que nunca vesti algo deste comprimento antes, mas mais vermelha do que estou não posso ficar. Cato me leva para conhecer seus amigos, alguns são legais, outro um tanto patéticos, mas gostei mesmo de conversar com a Emma, Ela é bem divertida e me lembra muito minha irmã, agora sei porque são tão amigas, Emma é mais alta que eu e é loira de olhos cor de mel, adora a cor vermelho por sinal. Quando Silvia finalmente chega ficamos conversando um tempo até Cato me chamar para dançar, nossa, realmente não se fazer isso. Lá pela meia noite os garotos começam a tomar bebida alcoólica, acho totalmente errado, mas decido experimentar, fico meio zonza e ás horas começam a passar, e a tontura aumenta, e fico ainda mais zonza, quando olho o relógio são duas da manha, e continuamos lá, detesto admitir, mas apesar de eu ter tomado apenas uma dose, Silvia parece a mais sóbria. E então algo inexplicável acontece em um minuto estou sentada conversando com Cato, em outro, acordo em minha cama. Não lembro de nada. Estou tonta muito zonza e confusa, uma pergunta fica martelando em minha cabeça: “O que aconteceu?”. Vou até o quarto de Silvia, e a acordo:

-- Silvia, o que aconteceu? Não consigo lembrar de nada, quer dizer, lembro só até o momento que estava conversando com Cato, o que eu fiz depois? Como me trouxe para casa??

-- Nossa – ela boceja – quantas perguntas, hum, deixa eu me lembrar – ela fica em silêncio por um tempo – bem foi mais ou menos assim: depois que você deu uma de louca e bebeu você e o Cato dançaram e depois ficaram conversando por um tempo.

-- Só?? – pergunto com alivio.

-- Não – ela fala – ai vocês começaram a sussurrar coisas um para o outro, logo depois saíram da sala, não faço ideia para onde foram, eu fiquei esperando você voltar, eu já estava com sono, mas você deve ter demorado cerca de uma hora para voltar – ela fala pensativa – você estava meio dormindo depois, e o Cato teve que me ajudar a te trazer para casa.

-- Oh – eu falo – Preciso falar com o Cato.

-- Concordo – Silvia fala entre um bocejo – agora, maninha, quero dormir.

Olho-me no espelho, percebo que ainda estou com a maquiagem, meu cabelo está totalmente bagunçado, levo quase uma hora para conseguir ajeita-lo, então troco de roupa e vou andando até a casa de Cato. Mas tenho certeza que não deve ter acontecido nada de mais, se não eu lembraria. Quando chego bato na porta, a mãe de Cato atende e eu peço para falar com ele. Ele aparece com a roupa que usa no treino e o cabelo semelhantemente bagunçado ao meu quando acordei.

-- Oi Clovinha – ele fala – Já está com saudade?

-- Oi, e não – estou séria – Pode me falar o que aconteceu ontem? Eu acho que não deveria ter bebido porque não lembro de algumas coisas.

-- E as estrelas?– ele fala rindo.

-- Se eu lembrasse – começo – não estaria aqui agora – falo dando-lhe um soco. – Pode só me falar o que aconteceu?

-- Não – ele fala ainda rindo.

-- Ah não enche, só fala o que aconteceu senão... – eu falo.

-- Se não o que? – ele fala me encarando.

-- Eu vou embora. – digo.

-- Sei que se for vai voltar – ele fala.

-- Ok então – berro – se não vai falar, eu vou procurar alguém que fale, até mais idiota.

-- Até mais Clovinha – ele fala rindo.

Uma sensação de ódio me toma. Já sei, vou perguntar a Emma, afinal a casa é dela! Com certeza ela sabe. Vou andando furiosamente até a casa de Emma. Mas acabo caindo e bato a cabeça. Não sei ao certo como eu cai, mas acabo por lembrar de tudo. Quando saímos do meio da festa, fomos para o pátio e ficamos observando as estrelas, e ele falou que elas pareciam comigo, que eu brilhava como elas. E eu estraguei tudo. Quando recobro a consciência Emma está ao meu lado.

-- Ah, querida, se acalme – Emma tenta me segurar – vamos, eu te levo para casa, vamos conversar com Silvia e quando você esfriar a cabeça vai falar com o Cato.

-- Não – Suspiro – preciso falar com ele agora.

-- Ah Clove – ela começa – vamos para sua casa... Silvia vai saber o que fazer.

Levanto-me e começo a andar meio tonta. Emma vindo atrás de mim, ignoro, continuo andando até chegar a casa de Cato, bato na porta e dessa vez ele atende:

-- Não falei que você voltaria – ele fala rindo.

-- Eu bem, ah – Começo a falar.

-- Lembrou? – ele sussurra – você sempre será minha estrela.

Concordo com a cabeça, não sei bem como agir nesse momento, mas tudo estava bem, foi apenas um incidente que aconteceu. Vou me aproximando de uma árvore, algo nela me atraiu, mas acabo tropeçando em uma raiz e acho que torci o tornozelo, está doendo muito. Silvia vem correndo e me levanta do chão e berra:

-- O que está acontecendo aqui?

Consigo ouvir Emma explicar tudo a ela, estou novamente zonza, acho que isso é o único jeito que tenho estado esses últimos dias, de repente me sinto mal por isso, eu deveria ter mais consciência do que eu faço e parar de colocar a culpa em tudo e todos, menos em mim mesma. Então, sinto que fiz merda. Olho para o topo da árvore e tem uma colmeia repleta de abelhas. Começo gritar quando algumas se aproximam, me sinto estúpida mas não consigo me mover acho que uma morte por picadas de abelhas deve ser um tanto dolorosa. Eles demoram um pouco para prestar atenção em mim, até notarem eu já havia parado de gritar, e tinham algumas picadas pelo meu braço. Meus olhos estão se fechando quando tenho uma lembrança de minha mãe falando comigo quando eu era pequena: “Oh querida, mantenha-se longe das abelhas, não apenas pela dor, mas porque você é alérgica”. E então tudo fica escuro. Demoro um longo tempo para conseguir abrir os olhos novamente, mas não estou mais no chão, meu braço está empapado de pomada e Silvia e Emma estão me observando. Silvia começa:

-- Calma Clo – Ela estava passando a mão em meu cabelo – está tudo bem querida.

-- Ai Clove – Agora Emma falava comigo – sinto muito, queria poder ajudar, vai ficar tudo bem.

-- Me deixem sozinha – digo com a voz fraca.

-- Sozinha é o único jeito que você não pode ficar – Disse Silvia tirando os meus tênis.

Estou totalmente atormentada, preciso organizar meus pensamentos, parece que eu não estava pronta para brilhar de verdade, ou eu brilhei de mais e acabei explodindo. Não, eu nunca brilhei. Pelo menos não sozinha, talvez eu seja como a lua, não tenho luz própria, preciso de algo para me dar essa luz, e como a lua tem o sol, eu tenho o Cato.