POV Sirius

-Vamos, cachorro! Jantar! – ouvi uma voz vinda de fora do
banheiro e saí do banho. Parecia outro depois de tomar um banho quente de vinte
minutos. Hoje havia sido o último treino de quadribol da semana, já que não
teria jogo no sábado ou domingo. E eu também passaria essa noite de sexta na
sala abandonada do 4º andar. Não sozinho, claro. Com uma linda lufana que
sentou comigo na aula de Transfiguração e eu ajudei.

Vesti minhas roupas e saí do dormitório. Descendo as escadas
eu vi que não só Prongs e Moony me esperavam. Wormtail já tinha ido para o
Salão, afinal estava sempre com fome, e deve estar devorando uma coxa de frango
agora mesmo. Alice e Frank também já deviam estar lá, eles estão grudados esses
dias, porque começaram o namoro faz um mês. Não sei como esse povo pode
inventar de namorar sério com 16 anos!

Mas as meninas estavam lá. Dorcas, com seus cabelos loiros e
encaracolados, sorrindo e parecendo uma boneca. Como sempre. Ela era uma das
poucas meninas desse castelo que eu nem tenho vontade de ficar. Isso porque ela
é realmente um anjo! É amiga de Prongs desde que se reconhecem como gente (ou
sei lá o que aquele veado é realmente), porque as famílias são amigas. Aliás,
são duas sãs poucas famílias de puro-sangue que prestam. Mais um motivo pra
minha mãe implicar com meus amigos. Enfim, ela estava lá e veio me abraçar ao
me ver.

-Que foi, Dorquinhas?

-Gosto do seu abraço.

Moony me deu um olhar de “tire proveito disso e eu te mato”.
Mas eles não estavam namorando. Na verdade, ele estava ficando com Emmeline
Vance, uma corvinal um ano mais nova. E Dorcas estava quase cedendo às
insistências do garoto que narrava os jogos de quadribol e que eu sempre
esqueço o nome. Mas ele gostava dela. E ela... Não sei.

-Oi, Sirius – Lilly disse, para dar um basta nas cantadas.

-Por que estás emburrada, donzela dos cabelos de fogo? – ela
fechou a cara pra mim

-Porque eu estaria longe do Potter se não fosse uma certa
amiga que insistiu em ficar – então, ela olhou pra Lene.

-Eu? Lílian, por favor! Admita que está sobre o efeito
Potter! – Lilly começou a ficar mais vermelha, mas eu não sabia se de raiva ou
vergonha.

Elas começaram a falar coisas e dizer outras com o olhar,
mas eu não me importei. Estava preso olhando a Marlene. Os cabelos pretos dela
caíam até o meio das costas, os olhos eram castanho-escuros e ela era
simplesmente linda. Perfeita. Metade dos moleques de Hogwarts quer ou tentaram
ficar com ela. Acontece que ela sabe disso. E, por isso, é bem seletiva. Mas
comigo é diferente. Ela joga comigo. E eu também.

-Chega, meninas – Dorcas falou e elas pararam. Ou estavam se
amando ou se matando!

-Então... Vamos?

-Vamos, Black. A propósito, oi. – ela disse, abrindo seu
sorriso sarcástico e levantando a sobrancelha.

Ela me deixa louco.

(...)

O Jantar estava ótimo, como sempre! O único defeito era que,
na disposição de mesas, ficamos ao lado dos sonserinos. Mas eu não me importo,
na verdade. Odeio a maior parte deles, é verdade. E nisso incluo meu irmão mais
novo, minhas primas loucas e seus amigos quase comensais. Mas eu estava me
divertindo. Com os amigos, sem ligar para eles.

Estava conversando com Prongs e o batedor do time de
quadribol quando Lilly me cutucou no ombro.

-Que foi, ruiva? Ou Evans, sei lá!

-Sirius, por que a Malfoy está te encarando?

Levei alguns instantes para entender aquela pergunta louca.
Aí ela fez um aceno com a cabeça para a mesa da Sonserina e, quando me virei,
encontrei dois olhos inexpressivos me olhando, com o nariz arrebitado tão alto
que podia ser minha prima Narcisa. Que, não por acaso, estava ao lado.

Foquei nela por completo, não só nos olhos. Loira, era
magra, mas tinha curvas consideráveis, pele clara, corrente prateada com o
pingente escondido dentro da camisa impecavelmente arrumada. Na verdade, eu a
conhecia. Muito superficialmente, mas sabia quem ela era. Minha família vivia
com os Malfoy e vice-versa. Mas entre mim e ela nunca passou de cumprimentos
forçados. Aliás, ela e a família iriam passar a noite de natal na minha casa,
porque os homens vão falar de negócios e as mulheres vão fingir que gostam dos
vestidos, sapatos e vidas uma da outra. Não suporto a falsidade... Todos
farinha do mesmo saco!

Eu já tinha brigado e metido um soco no Lucius Malfoy, primo
dessa nojentinha. Era um idiota. E olhava para as pernas da minha prima Narcisa
sempre que podia. Mas a última coisa que eu vou fazer é proteger a insuportável
que nem olha na minha cara e me chama de traidor de sangue! Ela e a Roxanne
Malfoy são partes do Tipo 1 de sonserinas...

Deixe-me explicar o método de identificação e classificação
das sonserinas por Sirius “Mais gostoso cara de todo o mundo bruxo” Black.

O Tipo 1 de sonserinas são as princesinhas. Cabelo longo e
liso, roupas perfeitamente alinhadas, passadas, arrumadas e que cubram tudo.
Andam sempre com uma amiga do lado e, às vezes, com mais de uma. Colocam os
livros na frente do peito. E, o mais importante, tem o nariz lá em cima. São
superiores a todos, conforme elas pensam. Não ficam com alguém que não seja seu
namorado. E você só leva uma depois do casamento, ou em casos raros, se
estiverem namorando há tempos já. Ou, claro, se você transformar ela em tipo 2.
Mas é quase impossível.

O Tipo 2 de sonserinas são as divertidas. As que jogam
quadribol, que andam com a roupa ou decotada ou desarrumada, que carregam os
livros ao lado do corpo porque não precisam cobrir nada, elas sabem se cuidar.
Elas podem beirar “vadia”, “menina moleque” ou estarem no meio. As melhores são
as que equilibram. Mas, dependendo da situação... Essas ficam com os garotos,
não tem frescuras e, quanto mais moleque ela for, mais amiga ela pode ser. E
elas são boas no quadribol. Tenho que ressaltar isso. Outra coisa que tenho que
ressaltar: elas me fazem pensar se todas as sonserinas são boas assim. Porque
eu, frequentemente, saio com o tipo 2. Vale a pena.

Conselho do mestre: Nem olhe na direção das princesinhas.

(...)

-Acho que vou voltar pro meu dormitório – ela falou.

-É, mon amour. Melhor mesmo. Ainda tenho que fazer algumas
coisas... – ela levantou a sobrancelha – Calma... Duas numa noite são muito até
pra mim – eu pisquei e ela sorriu – E você me cansou demais pra isso...

Ela gargalhou e eu sorri.

Charlotte era uma lufana linda. Tinha cabelos pretos e
curtos, os olhos também eram negros e isso fazia com que ela parecesse que
escondia tudo ali. Tinha um corpo bonito também e jogava quadribol no time da
casa dela. Jogava como batedora! Não é um posto muito feminino... Porque
precisa ter muita força e o físico certo. Além disso, ela não se dava bem com
as meninas frescurentas, por isso a maior parte do tempo estava no meio dos
moleques. E, ainda sim, era linda e enlouquecedora.

-Você é podre, Black! – ela disse enquanto colocava o jeans.

-Mas você não resistiu...

-Nem você a mim – ela mostrou a língua e vestiu a camisa
branca por cima da lingerie preta. Depois colocou a blusa de frio que tinha
vindo. Estávamos em meados de novembro, já estava quase nevando... – Boa noite.

Ela me deu um beijo e saiu pelos corredores a fora. Ainda
eram duas horas da manhã. E o castelo era bem convidativo à noite. Além dos
garotos do terceiro e quarto ano contrabandeando doces roubados do porão da
Dedosdemel e bombas de bosta, ainda tinham os casais descuidados e um jardim
inteiro em que um cachorro podia correr, deitar, fazer o que eu bem entendesse.
E eu odiava ficar preso no dormitório. Já basta ficar preso no meu quarto durante
o verão e o recesso.

Coloquei minha roupa e saí daquela sala, desfazendo a cama
que tinha conjurado e arrumando o que mais pudesse estar fora do lugar. O
corredor estava vazio, mas eu sabia que havia muitos lugares com muitas
pessoas.

Passei por alguns corredores, mas fui ao que o garoto das
bombas de bosta geralmente ficava. Eu queria pregar uma no Ranhoso segunda, na
aula de Poções, e como não queria dormir... Oportunidade perfeita. Era um
corredor perto das Masmorras, ou seja, perto da Sonserina, mas eu não tenho
medo.

Ele não estava lá. Ótimo! Agora vou ter que procurar esse
fedelho! Antes que eu pudesse continuar por outro corredor, porém, ouvi um
barulho de algo batendo na porta de uma das salas. Por dentro.

Fui pra trás de uma das armaduras e fiquei ali. Depois de
alguns minutos, a maçaneta rangeu. São descuidados mesmo esse dois... Maçaneta
rangendo e fazendo esse barulho todo? Saiu um garoto da Corvinal. Acho que eu o
conhecia, era do sétimo ano. Saiu com a camisa amarrotada, olhou para os dois lados
e caminhou no caminho pra sua Sala Comunal.

A garota saiu de costas para mim. Estava de calça jeans e
uma camisa no estilo da camisa do uniforme. A calça era justa, então estava nos
conformes. Aliás, ela tinha um corpo considerável... A camisa estava amassada,
mas não parecia tão ruim. Na verdade, eu percebi que ela estava abotoando os
últimos botões da camisa. De costas pra mim!

Os cabelos dela eram loiros e lisos. Se fosse uma sonserina,
seria tipo 1. Mas uma Tipo 1 não estaria se agarrando com um corvinal, um ano
mais velho, as quase três horas da manhã, numa sala com maçaneta que range.

Eu estava errado.

Ela se virou. E era Roxanne Malfoy. A mesma menina que eu
vou chantagear e vai me render boas risadas...

Malfoy, Malfoy... Você deveria ser mais cuidadosa, minha
princesinha.