Yuki acordou com um pouco de dor de cabeça. Sentou-se na cama e olhou para Shuichi, que estava ao seu lado na cama, roçou a mão pelo cabelo dele por um momento e se levantou.

Foi primeiramente foi até o banheiro para lavar o rosto e as mãos. Tentou abrir a torneira. Mas estava difícil de abrir devido á uma grande resistência. Continuou tentando abrir, até que enfim, conseguiu.

Foi até a cozinha buscar duas xícaras de café, e as levou já cheias de café para a mesa. Voltou de novo à cozinha para pegar um prato e um pão. Quando chegou na sala, Shuichi estava entrando com as mãos atrás das costas.

– Bom dia, Yuki! – disse Shuichi, alegre como sempre.

– Bom dia. – disse Yuki, não tão animado quando Shuichi.

Pegou um pote de manteiga e um de açúcar na cozinha e voltou de novo pra sala de jantar. Colocou tudo na mesa e puxou a cadeira para se sentar.

– Shuichi, você sabe o que aconteceu com a...

Foi interrompido por um som alto de pum e teve a impressão de estar sentado em algo. Shuichi deu uma risada e Yuki olhou para baixo e viu uma pequena almofadinha de peido.

– Mas o que é isso ?!! – perguntou ele, tirando aquilo dali e jogando em um canto qualquer.

– É uma almofada com som de peido. – respondeu, dando uma risadinha.

– E posso saber o que ela estava fazendo na minha cadeira ?!

– Yuki, você sabe que dia é hoje ? – perguntou Shuichi, colocando açúcar no seu café.

– Hum... acho que é quarta-feira.

– Não Yuki! Hoje é 1º de Abril, dia da mentira!

– Foi por isso que você colocou aquilo na minha cadeira ?!

– Siiiiiiiiim ^^ !

– Idiota ¬¬ !

Passaram-se dois minutos sem que nenhum dos dois falasse nada. Cada um comendo o seu pão com manteiga e tomando o seu café. Shuichi quebrou o silêncio.

– Ah, o que você queria me perguntar mesmo ?

– Queria saber se você sabe o que aconteceu com a torneira, tive dificuldade de abrir ela hoje.

– Ah, é que ontem a noite eu puxei ela com toda a minha força pro lado contrário, pra ficar difícil de abrir.

– Por que você fez essa idiotice ?!

– Que dia é hoje mesmo ? – perguntou, em tom de ingenuidade.

– Primeiro de... seu idiota!!

– Ah, desculpa Yuki.

Yuki deu o maior gelo no Shuichi durante o resto do café da manhã. Em seguida, caminhou para o aposento da casa que usava para escrever. Deixando a porta aberta.

Depois de vários minutos, encontrou dificuldade para descrever uma conversa crucial na história do seu romance. Ouviu passos no corredor.

– Shuichi!!

– O que foi ? – perguntou ele, aparecendo na porta.

– Pode me trazer uma cerveja ? Isso me ajuda a raciocinar.

Shuichi foi e voltou um minuto depois, entregou a cerveja para Yuki.

– Aqui está.

– Obrigado.

Yuki levou a mão até o lacre, mas observou que Shuichi estava se esforçando para reprimir um riso. Estendeu a lata para ele.

– Quero que você abra para mim!

– O que ?! – perguntou Shuichi, espantado.

– Eu disse que quero que você abra para mim!

– Mas por que ?

– Se quiser continuar morando aqui, abra essa lata para mim!

Shuichi pegou a lata e a abriu, segurou por mais alguns segundos e a estendeu para Yuki.

– Pronto.

Yuki olhou o interior da lata e bebeu um longo gole, como se quisesse se certificar de que o gosto estava normal. Estava o mesmo de sempre.

– Yuki... por acaso você achou que eu ia fazer uma pegadinha de 1º de Abril com você ? Achou que eu tinha sacudido a lata para cair tudo na sua roupa ?!

– Sim, foi isso que eu pensei.

– Yuki, você não confia em mim ?!

– Nunca sei o que esperar de alguém como você! – disse, em tom ranzinza, voltando a se concentrar no lap top.

– Poxa... – disse Shuichi, em tom triste e fungando. – Meu doce Yuki não confia em mim! – saiu da sala, parecendo meio choroso.

Alguns segundos se passaram, até então, só se ouvia o som dos dedos de Yuki batendo nas teclas do lap top, mas começou a ouvir um som de choro, vindo provavelmente do quarto deles. Resolveu ignorar, continuou fazendo o possível para se concentrar. Continuava bebendo cerveja, mas com o choro que ouvia, não adiantava, pois a sua concentração era interrompida.

Sentindo-se meio zangado pelo choro irritante, e também meio culpado por ter provavelmente sido o responsável por ele, deu um suspiro mal humorado e foi até o quarto deles. Parecia ter um corpo debaixo do cobertor, e de lá dava pra ouvir o choro.

– Não acredito que está chorando por causa disso Shuichi! Levanta daí, anda!

Nenhuma reação. Não houve nenhum movimento na cama e continuava o barulho de choro. Yuki foi até a beira da cama e segurou o cobertor.

– Tá bom, Shuichi, desculpa! Agora sai daí! – puxou o cobertor com força.

Yuki arregalou os olhos. Por debaixo daquele cobertor não havia nenhum rapaz choroso. E sim alguns travesseiros que davam a impressão de ser um corpo, e uma bola de futsal que fazia parecer uma cabeça. Foi até o outro lado do quarto e viu que no chão ao lado da cama havia um toca-discos rodando, fazendo som de choro ao invés de música. Yuki ainda estava espantado quando ouviu uma risada vindo do corredor.

– Ah Yuki, eu sabia que você se preocupava comigo! – Shuichi piscou um olho. – 1º de Abril!

Yuki desligou o toca-discos e correu zangado até Shuichi, o prensando contra a parede e segurando sua camisa.

– Shuichi, você já tem 20 anos e é um adulto! Pare de fazer essas brincadeiras infantis!

Ouviu-se o som da campainha tocando.

– Opa, deve ser o Sakuma-san! Yuki, vai atender enquanto eu me arrumo. – disse Shuichi, correndo para trocar de roupa.

“Visitas... era só o que me faltava agora!” pensou Yuki.

Foi até a porta de casa e abriu para Ryuichi.

– Yukiiiii! Quanto tempo que eu não te vejo! – disse Ryuichi, com sua personalidade infantil.

– Afinal, o que você veio fazer aqui ?!

– Eu vim buscar o Shuichi. A Bad Luck e a Nittle Grasper vão tocar na mesma casa de shows.

– Ah, sim, ele me contou isso ontem. Mas minha dor de cabeça me fez esquecer. – passou a mão na própria testa.

– Já pregou alguma peça em alguém hoje ?

– Não! Eu acho 1º de Abril um dia como qualquer outro e detesto pegadinhas infantis!

– Ah Yuki... é tão bom ^^ !

Esperaram alguns segundos a mais e Shuichi chegou na sala com outra roupa, e trazendo um copo com alguma bebida dentro.

– Hey, Sakuma-san! Vamos tomar um drinque antes de... ops! – Shichi tropeçou no chão e sem querer virou o copo perto de Yuki.

Yuki rapidamente cobriu a cabeça com as mãos e fechou os olhos. Tremia esperando que ficasse molhado. Esperou um segundo, dois, três... e abriu os olhos ao ver que os dois riam.

– Haaaa, o velho truque da bebida paralisada! Você é muito profissional! Na no da!! – elogiou Ryuichi.

– Crianças retardadas!

– Tudo bem. Até mais Yuki-san! – disse Ryuichi, estendendo a mão para ele.

– Tanto faz! – respondeu Yuki, apertando a mão dele. – Aaaii!!! – gritou após sentir um choque na mão.

– Haaaaa! O velho truque do anel que dá choque! Na no da ^^

– Sakuma-san... você também ama pegadinhas de 1º de Abril ?!

– Eu adoro!

– Hunf! Idiotas... – disse Yuki, olhando mal-humorado para outro lado. – Vocês dois se merecem mesmo!

– Certo. Agora temos que ir, antes que a gente se atrase. Tchau Yuki!

Yuki, nem virou o rosto para Shuichi.

– Ah, qual é Yuki! Me dá tchau!

Yuki se virou e viu a mão estendida de Shuichi.

– Tá bom. Tchau.- apertou a mão dele, sentiu de novo o mesmo choque. – Aaii!!

– Haha. Valeu por me emprestar o anel de choque, Sakuma-san!

– Não há de quê. Shuichi ^^

– AH, AGORA VOCÊS VÃO VER!!! – gritou Yuki, zangado e erguendo o punho para tentar socá-los, mas eles fugiram rapidamente. Yuki bateu a porta com força e se sentou no sofá.

– Maldição, minha dor de cabeça piorou! – disse ele, passando a mão na testa.

A porta se abriu, Shuichi colocou apenas a cabeça para dentro da casa.

– Yuki... desculpa qualquer coisa tá ? – disse ele, com sinceras desculpas.

Yuki pegou uma almofada e a jogou com toda a força na direção da porta, querendo acertar a cabeça oca de Shuichi, mas ele fechou a porta antes disso.

– “Desculpa” é ?! Você vai ver só!

***

O pôr do sol já havia caído quando Shuichi finalmente voltou pra casa.

– Yukiiii, voltei!

Nenhuma resposta. A casa estava toda escura. Shuichi acendeu as luzes e procurou por ele, que não estava em lugar nenhum. Procurando pela cozinha, achou um bilhete na geladeira. Pegou e leu.

“ Shuichi, estou farto dessa sua infantilidade. O que eu quero pra mim é uma pessoa madura. Pra mim já chega! Vá ficar com aquele cantorzinho bipolar que tem mais haver com você. São duas crianças retardadas que se merecem! Vou mandar um caminhão para buscar minhas coisas em alguns dias. Adeus Shuichi. “

A primeira reação de Shuichi foi de espanto, caiu no chão achando que havia perdido Yuki mais uma vez, só que um pensamento veio à sua cabeça.

– Ah, o Yuki resolveu entrar na onda do 1º de Abril! Só ele mesmo pra fazer uma pegadinha sádica assim. Vamos lá Yuki! Saia de onde estiver!

Nenhuma resposta de novo. Shuichi resolveu assistir um pouco de TV, para esquecer isso. Assistiu á um filme romântico que tinha um final triste, Shuichi até chorou com o final. Resolveu jantar.

Shuichi comia, tentando não pensar em Yuki. Mas acabava olhando sempre para o lugar onde ele costumava se sentar. Não era a mesma coisa jantar sem ele. Será que Yuki o havia abandonado mesmo ? Ele já havia feito isso antes e nada o impediria de fazer de novo. Esses pensamentos unidos ao fato de o final do filme romântico ter sido triste, o fizeram crer que realmente havia exagerado com as brincadeiras e que Yuki provavelmente o largou mesmo.

Shuichi foi logo para a cama, mesmo sendo cedo. Sentiu-se novamente abandonado por ele. Deixou duas lágrimas escorrerem pro seu rosto.

“ Por que isso sempre acontece ?! Eu nunca faço a coisa certa e sempre dou motivos para o Yuki me abandonar! Eu não tenho jeito mesmo. Mas poxa, tudo que eu queria era me divertir um pouco com ele. Acho que Yuki está certo, eu sou infantil demais. Mas eu não vou desistir! Vou procurá-lo nem que tenha que percorrer o mundo para isso!”

Também considerou a possibilidade de o Yuki estar brincando, apesar de ser bem menor. E com mais algumas lágrimas derramadas, finalmente pegou no sono, quando já era de madrugada.

***

Shuichi viu-se numa dimensão escura. Havia um único foco de luz, que era onde estava Yuki. Shuichi correu até ele.

– Yukiii! Yukii!!

Shuichi tentava alcançá-lo, corria com toda a velocidade, e quando estava quase encostando nele, tropeçou. Tentou reprimir lágrimas.

– Levanta daí e para de choramingar, você não é mais criança! – disse Yuki, olhando-o.

Shuichi levantou e o abraçou.

– Yuki, não me abandone, você me ama, não ama ? – Yuki o afastou com as mãos.

– Shuichi, amando você ou não, não vai mais dar pra ficarmos juntos se você não parar de brincar pelo menos enquanto eu estiver com dor de cabeça. Entendeu ?!

– Sim, SIM! Eu prometo. Brincadeiras nunca mais! Mas volte para mim!

– Vou pensar no seu caso. – se virou e andou um passo, mas olhou para Shuichi de novo. – Só mais uma coisa...

– O que, Yuki ? – perguntou Shuichi, curioso.

– Olha a água!

***

Shuichi acordou do sonho num sobressalto. Sentiu uma boa quantidade de água ser jogada contra ele. A cama ficou ensopada. Shuichi tremia e tentava limpar seu rosto para poder abrir os olhos. Conseguiu recuperar o fôlego e deixar os olhos entreabertos. Viu que ao seu lado havia um rapaz loiro, largando um balde de água.

– O-o-o que significa isso, Y-y-u-ki ?! – perguntou, amedrontado e tremendo de frio.

Yuki segurou seu queixo e beijou seus lábios. Se afastou.

– É 1º de Abril, Shindou-kun...- respondeu, com um sorriso triunfante e olhar psicótico. – É 1º de Abril!