As semanas passaram rapidamente. Meus dias se resumiam em faculdade, almoçar com Mark, treinar durante a tarde com Tasha e Dimitri e suportar o clima de lua de mel de Lissa e Christian.

Nós estávamos na última aula do dia em plena sexta feira, eu encarava minha prova sem ter ideia do que estava falando. ‘Você tem que estudar’ A lembrança da voz estridente de Lissa veio em minha mente, e ela tinha um pouco de razão. Aproveitei para dar uma checada nela, sua cabeça agora estava uma confusão, informações e aulas passavam rapidamente enquanto ela ia respondendo sua prova e eu aproveitava para copiar.

O laço tinha suas vantagens afinal.

Mas também sentia sua angustia, sua preocupação sendo intensificada pela falta dos antidepressivos que ela tomava em St. Vladimir para manter o espírito ‘dormente’. Fui mais fundo, desejando que ela ficasse melhor, e senti seu humor melhorando aos poucos.

O pigarro do professor me trouxe de volta, fazendo com que eu tivesse vontade de bater nele, bater de verdade. Uma raiva incomum tomou conta de mim. Respirei fundo algumas vezes e foquei em terminar a prova, já que Lissa já tinha respondido quase tudo.

Quando o sinal finalmente tocou, Lissa suspirou aliviada por ter terminado e eu por ser hora do almoço. Deveria ser proibido fazer provas de barriga vazia.

– Olá Rose. – Cam apareceu do nada, andando lado a lado comigo. Seus olhos claros me analisavam detalhadamente.

– Oi Cam. – Cumprimentei com um pequeno sorriso. – Cadê suas leais seguidoras? – Perguntei estranhando a falta das garotas que sempre estavam ao seu redor.

– Só tem uma que eu quero. – Ele respondeu usando todo seu chame com um sorriso torto.

– Essa semana. – Liam interrompeu com o tom jocoso.

Balancei a cabeça rindo e puxei Lissa para irmos mais rápido para o refeitório. Encontramos Mark e Christian sentados juntos e conversando animadamente. O que me surpreendeu, já que Christian estava sempre de cara fechada quando estava longe de Lissa.

– Hey gata, como foi a prova? – Mark perguntou assim que nos aproximamos.

– Bem. Se Lissa acertou tudo, então estou bem. – Respondi tocando minha cabeça e piscando para ele.

– Rose! – Lissa exclamou. Ela levou uma mão a cintura e me olhava de maneira repreensiva.

– Se você quer que eu passe tem que dar uma forçinha né.

– Você irá estudar comigo para as próximas provas!

– Aham, e vampiros brilham no sol. – Christian disse rindo, e todos nós acompanhamos.

Peguei meu almoço e sentei ao lado do Mark, com Cam a minha frente que fingia prestar atenção em algo que Liam contava.

– Sai comigo amanhã? – Perguntou de repente. – Só nós dois. – Acrescentou quando percebeu que Liam já ia falar alguma coisa.

– Seria legal, mas eu prefiro não sair sem eles. – Apontei para Lissa e Christian.

– Ótimo. Encontro de casais. – Um sorriso maroto brotou em seus lábios.

– Não sei se isso é uma boa ideia. – Mark disse sério, sua voz e expressão neutra, e por isso eu sabia que ele tentava esconder algo.

– Não sei se isso lhe diz respeito. – Cam respondeu desafiador antes que eu pudesse dizer algo.

– Deixe de ser ciumento Karev, você teve sua chance e não pegou a Rose, agora é a vez do Cam. – Liam disse tentando descontrair o ambiente, mas a única coisa que ganhou foi um olhar ameaçador de Mark.

Eu tinha que concordar. Tudo bem que desde que Mark nos ajudou na pequena mudança não ficamos mais sozinhos, mas eu estava sempre flertando com ele, que respondia mas nunca tomava nenhuma iniciativa, ao contrario de Cam que estava sempre me comendo com os olhos e me cantando.

– Eu topo. – Respondi dando meu sorriso comedor de homens.

Liam arfou ao meu lado, enquanto Cam me olhava encantado. Mas os olhos azuis escuros de Mark me fuzilavam enquanto ele fazia o possível para esconder suas emoções.

X

Sai do banho me sentindo disposta. Coloquei uma calça de ginástica preta, um top e uma regata larga verde. Prendi meu cabelo em um alto rabo de cavalo e sai depois de ver Lissa e Christian se agarrando na cozinha.

Toquei a campainha do apartamento 43 e segundos depois a porta foi aberta por Dimitri que usava uma regata branca e calça de moletom preta, seus cabelos presos no habitual rabo baixo.

– Hey, achei que estaria dormindo. – Ele disse dando espaço para eu entrar e colocando alguns fios soltos para trás da orelha em um gesto automático, mas que fazia meu coração bater mais rápido.

– Por quê? Não vamos para a academia?

– Christian não te avisou? – Perguntou erguendo uma sobrancelha. – Tasha teve que resolver uns problemas e não dará aula hoje.

– Se ele conseguisse manter sua boca longe da de Lissa por um momento talvez pudesse ter avisado. – Bufei.

Dimitri deu uma leve gargalhada enquanto balançava a cabeça exasperado. Revirei os olhos para ele, mas por dentro me sentia dançando, era tão bom vê-lo tão descontraído. Era assim desde que ele veio para cá.

– Mas porque você não foi com Tasha? – Perguntei me dando conta de que ele deveria estar com ela, e não aqui rindo de mim.

– Preferi ficar para manter um olho em vocês. – Ele respondeu recuperando sua seriedade, mas seu olhar ainda tinha um toque divertido.

– Como se fossemos crianças indefesas. – Disse me jogando no sofá.

– Não são, mas da última vez que os deixei sozinhos se mudaram, vai saber o que farão depois.

Reverei os olhos mais uma vez, cruzando os braços contra o peito.

– Mas já que você está pronta, porque não treinamos juntos? – Ele propôs.

– Onde? – Perguntei me sentando ereta, me sentindo mais empolgada.

– Aqui mesmo. – Ele respondeu e se aproximou de mim.

Colocou as mãos no braço do sofá e o empurrou comigo em cima até ficar encostado a parede. Ele arrastou a mesinha e as poltronas, deixando um grande espaço livre no centro da sala.

– Como não temos nada que amorteça quedas, vamos treinar só golpes. – Avisou.

Eu concordei com a cabeça e me posicionei a sua frente. Dimitri começou me dando um soco, mas consegui desviar por pouco me abaixando, mas como era algo que ele já esperava, conseguiu acertar um no meu baço antes que eu me recuperasse.

– Sempre em alerta Rose.

Ele colocou as mãos para cima, uma a cada lado do corpo, e eu ia socando com precisão. Algumas vezes ele bloqueava meu golpe, outras devolvia e acertava belos socos pelo meu corpo.

– Vocês vão casar mesmo? – Perguntei entre uma respirada e outra. O exercício parecia simples, mas depois de tentar bloquear Dimitri por muito tempo ficava cansativo.

Eu já não conseguia segurar a curiosidade que me corroia desde que soube da proposta de Tasha.

– Eu já disse que sou apenas o guardião dela. – Ele respondeu com firmeza, tentando não me dar espaço para continuar o assunto, mas se ele achava que eu aceitaria essa resposta então não me conhecia.

– Mas eu sei que ela fez a proposta para que vocês tivessem uma família.

– Sim, ela fez. – Ele respondeu depois de um suspiro cansado.

– E você também deseja uma família. Você aceitou. – Conclui.

Dimitri apenas bloqueou o soco que eu tentava dar em seu rosto, sem dizer uma palavra. Não negando, nem confirmando.

– Você disse que me amava. Eu realmente acreditei que você me amasse. – Sussurrei, sem conseguir guardar as palavras para mim.

– Eu te amo Roza. E por te amar tanto que eu aceitei. – Sua voz saiu tão baixa quanto a minha, ele segurou meus pulsos de maneira desesperada, tanto para evitar novos socos, como se precisasse estar seguro.

– Não sei como se casar com ela prova que você me ama. – Disse ríspida.

Dimitri me soltou e começou a andar pela sala, passou a mão na cabeça, colocando os fios novamente para trás.

– Eu não vou me casar com ela Roza. Eu não aceitei essa proposta. Eu aceitei ser o guardião dela para poder ficar, ficar perto de você. Para poder te proteger, você e a Lissa. – Sua voz agora beirava o desespero.

– Eu... Não entendo. Ela age como se vocês estivessem juntos. – Respondi balançando a cabeça para fugir da profundidade que os olhos castanhos de Dimitri me levavam.

– Ela ainda tem esperanças que eu mude de ideia, que convivendo com ela eu acabe me apaixonando e aceitando o casamento, mas isso não vai acontecer, não enquanto eu amar você dessa maneira.

Ele me encarava quase implorando para que eu acreditasse nele, para que eu me sentisse como ele se sentia. E não era necessário pedir, porque cada célula do meu corpo gritava por ele.

Eu me aproximei aos poucos, fiquei na ponta dos pés até que ele se abaixou o suficiente para que eu pudesse pegar seu rosto em minhas mãos. Coloquei uma mecha do seu cabelo para trás da orelha, seus olhos negros queimando nos meus.

– Eu te amo Dimitri. – Sussurrei e ele fechou os olhos esperando pelos meus lábios.