Os alunos tinha sido avisados do acontecido com Mocotó e não estranharam, ele não levava mesmo o jeito pra ser professor, era de se desconfiar. Lia sentiu o celular vibrar e antes que o professor que agora explicava a matéria pudesse notar ela pegou o aparelho notando o aviso de que havia chegado uma nova mensagem.

"O que a Ju queria com você? Te vejo hoje à noite, pode ser? - Dinho"

Ela pensou e repensou, mas achou perigoso vê-lo hoje que ela tinha feito as pazes com a amiga, Lia olhou para o garoto que estava fitando-a e sem pronunciar ou sinalizar nada voltou a atenção ao quadro deixando Dinho totalmente confuso. Todas as aulas passaram demoradas pra Dinho, ele queria logo saber o que tinha acontecido, e finalmente o sinal bateu. O garoto saiu praticamente correndo atrás da roqueira que estava indo em direção ao banheiro.

— Hey! - Ele chamou sem se importar com quem estava olhando.

— Dinho, não posso falar com você... agora. - Ela comentou tentando não chamar atenção.

— O quê?

— A Ju, ela voltou a ser minha amiga, ela pediu desculpas, mas deixou escapar que ainda ama você... vai ficar complicado, tenta entender. - Explicou Lia de má vontade, suplicando mentalmente para sair daquele lugar.

— Quer terminar o que a gente mal começou? - Dinho olhou chocado e triste, ele não podia acreditar na má sorte que ele tinha.

— A gente sabia que não ia dar certo, desde o começo. - Afirmou cabisbaixa.

— Podia não ter tudo pra dar certo, mas a vontade que desse era maior e você sabia. Você tá desistindo de mim, de você, de nós, mas é uma decisão sua, que fique claro, eu não desisti de você. - Dinho disse, e antes de se virar para ir embora ele sussurou um "Eu te amo" baixinho, que mal pode ser ouvido por Lia que estava lutando contra as lágrimas. 

— Hey, amiga! Uau, isso é tão estranho sabe.. te chamar de amiga de novo! - Ju se aproximou animada, assim que percebeu a aparência de Lia ela se preocupou. - Ô, Lia.. tá tudo bem?

— Tá! Tá sim, Ju! - Lia sorriu escondendo toda dor por trás do sorriso. As duas seguiram caminhando até o edifício delas.

— Er, eu queria muito poder ir lá conversar com você hoje, mas eu já tinha combinado com o Bruno de ajudá-lo com algumas coisas do C.R.A.U! - Ju disse meio triste, Lia por mais estranho que fosse agradeceu mentalmente.

— Tudo bem! Qualquer coisa me procura, ou até aparece lá em casa pro jantar. - Ela sorriu e abraçou a amiga, as duas se despediram e seguiram cada uma pra sua casa.

No misturama Gil estava sentado sozinho quando Morgana chegou e sentou ao seu lado.

— Oi? - Ela disse, tentando acordar de seus devaneios.

— Oi, Morgana! - Gil disse meio envergonhado, ela riu.

— Tá viajando é?

— Um pouco.. Sinto falta de grafitar e agora minha mãe tá em cima, não posso nem tentar sair pra fazer isso. - Ele desabafou, Morgana suspirou, ela não sabia exatamente o que dizer naquele momento.

— Seus grafites eram lindos. - Elogiou.

— Hum.. Obrigada! - Ele sorriu sem jeito, ela sorriu de volta. Os dois ficaram conversando por um tempo até que Marcela entrou no local e foi logo pro balcão pedir um suco.

— Tá mais estressada que o normal, Barbie falsificada? - Nando provocou, Marcela tentou ignorar mas foi praticamente impossível.

— Tá mais chato que o normal, imitação do Shrek? - Respondeu a altura. Tizinha logo chegou abafando as provocações e trazendo o suco da loira.

— Vocês dois só sabem se provocar.. Hum, todo mundo sabe.. Toda provocação envolve sentimento. - Tizinha cantarolou, arrumando alguns copos no balcão.

— Claro que tem sentimento, tem ódio! - Marcela riu irônica.

(...)

Lia estava tocando guitarra com algumas notas que ao menos existem quando alguém adentrou seu quarto e ficou admirando-a jogar a raiva sobre o instrumento. Assim que ela percebeu Dinho a olhando.

— Dinho? O que você tá fazendo aqui? - Ela levantou limpando algumas lágrimas do seu rosto.

— Ué, eu pensei que tivesse deixado claro que não desistiria de você. - Ele sorriu, ela balançou a cabeça e suspirou. - Sei que você tá confusa, mas nem por isso tem que tomar decisões que vão te deixar mal. E eu não quero ver sua guitarra sendo destruída aos poucos, você fica linda tocando. - Ele disse divertido, Lia riu.

— Sempre coloquei amizade em primeiro lugar, não vou mudar por você. 

— Uau, magoei! - Dinho brincou e a puxou para perto de si, os dois estavam prestes a se beijar quando ouviram a voz de Ju. - O que ela tá fazendo aqui? - O menino perguntou nervoso.

— Como eu vou saber? Ela disse que tinha que ajudar o Bruno.. e, droga! ela não pode te ver aqui.

— Eu não vou me jogar da janela.

 — Guarda-roupa! - Lia empurrou o menino pro guarda-roupa, e fechou a porta mas Dinho abriu.

— Só fico aqui se ganhar um beijo. - Ele fez bico, Lia revirou os olhos e deu um selinho demorado nele logo fechando a porta, Ju entrou alguns segundos depois.

— Oi! - Ela disse animada. - O Bruno me dispensou, ele acha que você é mais importante que os trabalhos da faculdade.

— Ahh, é legal mesmo!

— O que é legal? - Ju arqueeou a sobrancelha.

— O que? - Lia começou a prestar atenção nas palavras da amiga, mas não conseguia esconder o nervosismo. Tatá adentrou o quarto animada com uma bandeja na mão, ela carregava com cuidado.

— Ué, cadê o... - Lia cortou antes que a irmã pudesse falar algo que não devia.

— Ahhhh, Tatá! - A roqueira falou entre dentes. Tatá desconfiou.

— Tinha alguém aqui? - Juliana perguntou confusa.

— Não! Claro que não! Como ia ter alguém aqui? - Lia riu nervosa, Tatá soltou a bandeja em cima da cômoda e se abaixou pra olhar embaixo da cama.

— O que foi Tatá? Perdeu alguma coisa? - Ju perguntou, sorrindo.

— Na verdade não é uma coisa.. É uma p...

— Pirralha, vai logo pra sala! - Lia ordenou, brava e com medo de que a irmã pudesse contar algo que não devia. Ju olhava tudo muito confusa.

— Acho que você não tá em condições de ficar me mandando! - Desafiou Tatá.

— Acho que se você não sair da minha frente em 5 segundos eu conto pra vovó que foi você que quebrou o conjunto de louça da França dela. - Lia colocou as mãos na cintura, Tatá bufou e teve que sair do quarto. Ju riu da cena e Dinho ouvia tudo de dentro do armário e também acharia engraçado se não fosse tão... tenso.

— Você tá de tpm, Lia? - Ju perguntou, sentando na cama da amiga.

— Eu acho.. Pois é.. - Lia disse, ainda se recuperando do susto que a irmã lhe deu.

— Quer ir no misturama comigo? O Rafa me convidou, e o Gil tá lá.. Hum, você sabe, ele tá afim de você! - Ju falou sorrindo, Lia riu sem graça. - Ah qual é, me conta.. Você também tá afim dele, né?

— Do Gil? Ahn? Não, claro que não. - Respondeu de imediato, Dinho estava ficando irritado com as palavras que escutava.

— Uhm, sei. Mas e aí, vamos lá comigo?

 — É.. Aham! - A roqueira disse, era o único jeito de deixar Dinho sair dali.

— Eu escolho sua roupa hoje! - Juliana levantou e quando ia para o armário Lia pulou na frente do mesmo.

— Não, Juuuu! Você sabe que eu odeio quando você escolhe minhas roupas, deixa tudo muito... Patricinha. 

— Mas você vai encontrar o Gil e... Tem que ficar mais linda que o normal. - A garota sorriu, Lia suspirou.

— Para com isso, eu não tô afim do Gil. - Lia riu.

— Ok. Que tal você ir se arrumar lá em casa?! Pega sua roupa e se maquia lá, meu quarto sente falta da sua presença. - Ju disse rindo.

— Ótima idéia! Enquanto eu escolho a roupa leva essa bandeja que a Tatá trouxe? - Lia apontou para a bandeja com a cabeça, Ju assentiu sem se importar. Assim que ela saiu do quarto, a garota tratou de abrir a porta do armário.

— Uau, já tava sem ar. - Dinho disse.

— Se você quiser jogar a Tatá pela janela faça isso por mim. - Lia sorriu e suspirou.

— Que história é essa de você e o Gil, hein? 

— Ela tá viajando. - Lia revirou os olhos.

— Acho bom. - Ele provocou.

— HA-HA-HA! Acha que eu sou propriedade sua?

— Tenho certeza. - Ele provocou novamente.

— Idiota.

— Linda! - Ele sorriu, ela sorriu também. - Vai com uma roupa bem coberta. - Dinho disse sério, Lia não conteu o riso.

— Até parece. - E antes que ele pudesse pronunciar qualquer coisa ela fechou a porta.