Jon: estou quase lá... – ele fala enquanto se estica pra pendurar a estrela dourada no topo da grande árvore de natal. – pronto, finalizada.

É inverno aqui na Irlanda e todos viemos comemorar o Natal na casa de meus pais juntamente com a pequena família de Jon.

Kimberly já está crescida. Mas quem olha pra ela não vê de imediato suas feições se assemelharem com a minha ou a de Jon. Porém ela tem seus cabelos encaracolados – assim como o pai –  cor de cobre, sua pele bronzeada e seus ávidos olhos castanhos claros. Muito diferente de Ayden que tem os meus olhos azuis, cabelos lisos e negros iguais aos meus e uma pele como se fosse neve.

Apesar de ambos terem apenas dois anos de idade já dá pra perceber que Ayden é imperativo e rebelde feito eu e a personalidade calma e passiva de Kimberly feito a de Jon.

Ambos ainda mamam e por isso eu sempre tenho que parar tudo o que estou fazendo e alimentá-los de três em três horas. Agora imaginem, eu virei uma vaca leiteira! Os meus seios atrofiados e muxoxos viraram grandes e volumosos como a de uma triz pornô. Estou amando isso. Sempre que passo e me vejo no espelho, faço questão de dar leves batidinhas pra saber se eles ainda estão ali.

Jon, graças aos deuses, não sofreu com a síndrome da Virgem Maria. Já que dizem que quando um homem vê suas esposas grávidas e tal ficam com medo de tocá-las e machuca-las.

Bem, ele me machuca.

Mas de outra forma. Se é que me entendem.

Megan: o jantar ainda não foi servido? – ela está grávida, juntamente com Kath que logo que terminou o seu namoro com Carlos descobriu que estava grávida dele e então eles voltaram. Ou seja, temos que ter muita comida essa noite.

Só que eu e Jon não nos importamos em comer bem, apenas em mostrar aos nossos filhos o pisca-pisca colorido do pinheiro enfeitado.

As pequenas e gorduchas mãozinhas de Ayden vão de encontro com as bolas de enfeite e voluntariamente eu pego uma delas e a ofereço pra que a sua brincadeira fique mais divertida em meu colo enquanto Kimberly se distrai brincando de Barbie com Jon sentados no sofá.

Eu sonhei com essa cena há tanto tempo.

Me pego admirando a brincadeira de princesa entre os dois e me dou conta que eu preciso registrar esse momento senão corro o risco de esquecê-lo.

Sophie: querido, que tal pegar a minha câmera lá no quarto? – falo enquanto me aproximo juntamente com Ayden em meus braços.

Jon: eu estou meio... ocupado agora. – Kimberly pega uma coroa de brinquedo que ganhou de Kath e insiste em colocar na cabeça de Jon.

Sophie: tá, eu vou. – digo revirando os olhos. Vou até o meu antigo quarto e um flashback me envolve.

E volto ao dia em que ele dormiu comigo aqui. Quando me carregou pra dentro de casa me protegendo da chuva.

Sorrio sem perceber com o pensamento de que nunca pensaria que a primeira vez que voltasse ao meu antigo quarto estaria com um filho dele.

Pego a câmera e logo em seguida desço as escadas pra ir ao encontro da minha família, que por sinal, quando se junta com a família de Jon bebem mais vinho do que o padre em 10829472842 Ações de Graças.

Entrego a câmera a Megan. Chamo Kimberly e Jon pra tirarem uma foto em frente a linda e saudosa árvore de natal enfeitada de bolas douradas e meias.

Megan: digam ‘X’.

Abrimos longos sorrisos assim que pronunciamos a letra.

E assim continuamos com toda a festa natalina por toda a noite acompanhados de barris de vinho, música, comida e festa.

***

Fomos dormir tarde naquela noite.

Coloquei as crianças juntas no único berço que fica no nosso quarto e me juntei á Jon na minha antiga cama.

Jon: cansada? – ele pergunta enquanto me aninho em seus braços.

Sophie: só um pouco. Não muito. – me cubro com a colcha.

Jon: não vai amamentar as crianças?

Sophie: eu acho que elas já comeram o suficiente. – dou uma risadinha.

Jon: hm.. – ele se enrosca no meu corpo, ficando por cima de mim impedindo qualquer movimento meu. – então a noite é nossa?

Sophie: sempre foi. – lhe dou um breve beijo – mas temos que ser discretos.

Assim que acabamos o ‘coito’, nos deitamos ofegantes olhando para o teto sem dizer uma palavra.

Talvez ele tenha dormido. Mas eu não.

Porque a felicidade momentânea, que chegou do nada junto com as minhas memórias não me deixa dormir.

Jon era alguém que eu costumava conhecer.

Um menininho com o qual eu brincava nua na cachoeira. Ele foi embora e quando voltou fez com que eu sentisse coisas que eu nunca sentir, com que eu perdesse um pouco do meu orgulho, me fez passar vergonha, me traiu, me admirou, me ensinou coisas que eu... Só poderia ter aprendido com a vida.

Mas ele me abriu os olhos e talvez por causa disso eu tenha me poupado de muitas coisas.

Muitas coisas.

Ele se separou de mim, voltou pra mim, sofreu por mim e agora está aqui por mim.

Por nós.

E por minha segunda vida que se divide em pessoas chamadas Kimberly e Ayden.

E quer saber? Eu esperei tanto, ansiei por algum prícnipe, que não percebi quando ele entrou na minha vida. Como Zezé diz: quando a sorte bate na nossa porta deixamos ela ir embora por estarmos ocupados procurando um trevo de quatro folhas.

E então eu me dei conta que temos que valorizar cada pequena e insignificante coisa até aquela mais especial já que não sabemos o quanto elas nos irão fazer falta se um dia a perdemos.

Valorize a sua família, seus verdadeiros amigos, seus filhos, a vida que Deus lhe dá todos os dias, seus estudos, seus defeitos, suas qualidades.

Dê valor a tudo que você tem. Tudo. Sem exceção.

Encare o fato de que quando a gente ama alguém, não tem esse negócio de orgulho. Nos humilhamos mesmo. Nos jogamos, mostramos que não dá pra viver sem e não estamos nem aí pro que o resto do mundo pensa.

Mude esses pequenos preceitos que garanto que sua vida será bem mais satisfatória. Faça enquanto der tempo de poder voltar atrás, porque pelo contrário do que muita gente pensa ás vezes é tarde demais pra voltar seja atrás de caminho, de ação, de pensamento.

Ou se não quiser fazer nada disso, apenas ame e case-se com alguém que você gosta de conversar... porque quando o tempo for seu inimigo e as linhas de expressão dominarem seu rosto no mesmo tempo em que sua vitalidade não for como você gostaria, tudo o que vai te restar será os bons momentos de conversa com alguém que você viveu muitas histórias, segurou suas mãos inúmeras vezes, lhe deu aquele abraço quando no fundo sabia que você precisava disso e sempre lhe falou as palavras certas no tempo certo. Vai se lembrar ao longo da vida de momentos felizes, engraçados, apaixonados e ainda irão rir juntos. Lembre-se de que a beleza passa, pois é fútil, não mostra caráter e é vã; mas o carinho, respeito, conhecimento e amor aumentam a cada dia. Só viva ao lado de quem você ama, porque ao longo dos anos isso faz toda a diferença.

Jon: eu amo você. – me pega de surpresa quando beija o topo da minha cabeça enquanto eu penso que ele estava dormindo. – pra sempre enquanto durar.

Sophie: sempre. – sussurro no escuro fechando meus olhos lentamente pra no outro dia partir junto de meu marido e meus filhos pra Ohio e continuar com a minha vida. O meu mundinho perfeito, minha bolha.

E quando eu acho que finalmente eu tenho meu ‘final feliz’, percebo que minha história só está no começo.