PAIGE PDV

            Tom chegou de viagem e notou que as minhas andanças pela casa estavam estranhas. Eu sabia que não podia contar para onde iria, mas seria muito mais complicado mentir para ele. Tom era muito esperto para se fazer de desentendido nisso tudo. Resolvi que pelo menos ele saberia que eu iria embora. Mas não contaria para onde. Levantei e fui tomar um banho.

            Quando sai do quarto, ele estava sentado tomando café. Contei para ele tudo o que tinha acontecido e da conversa com o Jake. Por mais que quisesse mostrar que estava ao lado do Jake, ele ficou na dele.

- Ele não quer conversar com você? – aquele olhar inquisidor me deixava nervosa.

- Acho que ele nunca mais vai falar comigo.

- Difícil... – ele respirou fundo – Sabe que eu não concordo com o que fez, mas pelo menos isso serviu para que ele crescesse um pouco.

- Eu não estou feliz com isso.

- Eu sei, mas acha que ele vai entender? Posso falar com ele...

- Não quero que fale com ele não. Ele está certo.

- Mas o que você vai fazer?

- Se ele não quer mais falar comigo, não vou ficar aqui me prendendo, vou me mudar. Não sei ainda para onde. – mentira!

- Ficou louca? Já não disse para mudar essa idéia?

- Fiquei louca sim, e vou fazer queira você ou não.

- Mas... – ele tentou retrucar e o travei – Vai para onde mesmo?

- Já disse que não sei, vou ver o que faço...

            Dois dias depois terminei de arrumar minhas coisas e decidi que iria embora definitivamente. Já era de madrugada e eu tinha que resolver logo como iria embora. Chamei um táxi e deixei algumas malas na portaria. Quando os meninos dormiram, um tempo depois, fui devagar para o quarto do Jake.

(Rascal Flatts – It’s not Just me)

            Ele já estava dormindo profundamente e estava lindo daquela maneira. Sentei na cama ao seu lado e senti seu perfume pela última vez. Ele virou de lado e ficou praticamente com o rosto de frente pra mim. Senti a tentação de beijá-lo pela última vez, mas me contive.

            Coloquei a carta que tinha escrito na cômoda e logo de manhã ele veria. O envelope na frente continha apenas o nome dele. Levantei bem devagar e fui andando para a porta. Lágrimas escorreram pelos meus olhos e olhei para trás pela última vez. Encostei minha cabeça na porta e pensei em como tudo poderia ter sido diferente.

            Fechei a porta cuidadosamente e me despedi de tudo. Coloquei um aviso embaixo da porta do Tom, dizendo que ligaria para ele depois para contar como estava.
            Saí do prédio e o taxi já estava com as coisas dentro do carro. Tomei fôlego, entrei e me despedi de vez em minha mente de tudo aquilo que vivi ali. Parti para uma nova vida, não iria atrapalhar mais ninguém...

JAKE PDV

            Levantei de manhã e senti um cheiro familiar no quarto. Olhei para os lados e tive a impressão de que Paige tinha estado ali, aquele perfume dela não me era estranho. Mas ela não estava. Olhei para o lado para ver as horas e tinha um envelope com o meu nome no meio. Estranhei e fui para o banheiro primeiro tomar um banho. Saí e peguei o envelope para ler. Era a letra dela...

'Não estou pedindo para que você leia, mas gostaria que o fizesse...'

Eu entendo tudo que te causei e sei que fiz mal. Não tem nenhuma desculpa plausível para tentar consertar as coisas. Só estou aqui para deixar claro que me arrependi por ter ferido seu coração. Não acreditei quando disse olhando nos meus olhos que não me amava. Acho que foi uma forma de tentar me magoar assim como eu fiz. O que me dói é te ver todos os dias e não ter a chance de te tocar, de te beijar e de ouvir que me perdoa.

Mas também não tenho direito de te pedir, e eu sei muito bem disso. E por te amar incondicionalmente é que estou acatando aquilo que me pediu. Estou tomando essa atitude tão drástica para não incomodar mais a sua vida. Vou realmente me mudar e você nunca mais vai ouvir falar de mim.

Só espero que daqui a alguns anos você me perdoe, pelo menos no seu coração. Seria ruim demais partir dessa vida sem saber que os erros que cometi não foram acertados.
E também espero que você seja muito feliz e que encontre a mulher que realmente te mereça. Eu sempre disse isso pra você e sempre acreditei nisso: Você sempre foi muito melhor que suas atitudes e no momento certo a mulher certa iria ver isso, assim como você e tudo seria diferente.

Não desista dos seus sonhos. E seja feliz!

                                                                                                                      Adeus... Paige.

            Não acreditava no que estava lendo.

- Jake, a Paige falou algo para v... – Tom apareceu no quarto meio assustado com um papel na mão – Aconteceu alguma coisa?

- Paige foi embora.

- Eu sei. – como assim ele sabe? – Ela me disse que iria embora, mas não pensei que seria tão bruscamente. Ou sem nem dizer adeus.

- Mas como assim ela foi embora? Ela ficou doida?

- Não foi você que pediu para que ela fosse? – Tom me olhou confuso – Pelo que eu entendi as coisas ficaram piores quando disse que queria que ela sumisse da sua vida.

- Mas não era... – bufei irritado – Sim, eu queria que ela sumisse, mas não a ponto de fazer isso. Parece que vai desaparecer definitivamente.

- Cara, ela disse aqui que vai me dar um recado para dizer que está bem.

- Ela não te deu nenhuma dica para onde iria?

- Nada, ela não quis me falar... Sinceramente, acho que nem ela sabe pra onde vai.

- Inferno.

            Estava me sentindo culpado por isso tudo. Não era bem isso que eu queria. Ou era mesmo? Sentei novamente e fiquei olhando para aquela carta. Nem sei quantas vezes eu reli aquilo...

*******

            Alguns dias se passaram e aquela historia não saía da minha cabeça. O que eu fiz para ela? Será que tudo era encenação para que eu corresse atrás? Eu sei que fui duro com ela e morarmos no mesmo apartamento não foi nada fácil. Ignorá-la, trazer outras mulheres para cá... E agora essa carta... O que eu faço?

(Keith Urban – Tonight I wanna Cry)

            Fui para o terraço do apartamento, peguei uma garrafa de vinho, pois estava um frio de morrer e fiquei apreciando a vista, mas não conseguia tirar a carta da minha mão e muito menos esquecê-la. Os pensamentos que vinham em minha mente, o seu rosto mais visível do que sempre, aqueles olhos sempre marcantes, os cabelos longos e cheirosos. O vento batia no meu rosto e parecia que podia sentir o cheiro do seu perfume.

            E novamente olhei para a carta... As frases mais sinceras eram as que pareciam mais embargadas, mais trêmulas, e parecia que tinha caído uma gota no meio da carta. Deveria ser uma lágrima.

            Lembrei-me do livro que ela amava, 'A marca de uma lágrima' e um trecho que ela sempre lembrava quando pensava em mim, dizia ela: 'Se esse amor me modifica, me transforma, me edifica, se ele afeta tanto assim a mim, também te transformará... A energia desse amor, afetou-nos para sempre e a matéria que hoje somos, outra matéria será...'

            Realmente esse sentimento me modificou...

- Não devia ficar olhando para a carta e sim correr atrás dela. – Tom apareceu e conseguu me deixar ainda mais confuso.

- Ela disse que não vai mais me procurar. Ela deixou bem claro... – falei cabisbaixo.
- Lógico, ela está cumprindo aquilo que você fez ela prometer...
- Sabe então pra onde ela foi?
- Não... Ela não quis me contar, e olha que eu tentei avidamente. Mas ela é muito cabeça-dura, assim como você... Ela contou para o pai, mas daquele ali é que não vou saber nada mesmo. – ele se serviu de um copo de vinho também e se sentou na outra poltrona.
- Eu acho que nunca mais vou vê-la... – disse após um longo momento de silêncio que se instaurou entre nós.
- Só depende de você... Ela te ama, e você a ama, mesmo com tudo o que aconteceu.

A carta que ela te mandou, mexeu e muito com sua cabeça e com seu coração meu rapaz... – ele agora ria de vitorioso - Eu sabia que uma hora você iria se arrepender.
- Mas não sei onde procurá-la...
- Pensa... Onde você acha que ela iria?

Pensei e pensei.... Fui a todos os lugares possíveis na cidade, mas sabia que ali ela não estaria... Os lugares foram ficando escassos, e minha esperança ia se esgotando aos poucos. Ela realmente fez de tudo para sumir da minha vida...

PAIGE PDV

            A Europa era realmente fascinante. Consegui uma casa de veraneio para passar um tempo em Londres, era bem pequena, mas tinha dois andares. Ficaria ali até achar um lugar para ficar. Ainda não tinha contado a novidade para o meu pai e eu sabia que uma hora meu tempo acabaria.

            Arranjei um emprego num hotel e ganhava o suficiente para me manter. Era noite e estava nevando. Estava olhando a vista e toda aquela neve. Era uma vista linda. Ultimamente as coisas estavam bem confusas na minha cabeça. Ainda não tinha desarrumado as malas, e fui procurar pelo sapatinho que tinha comprado. Olhei em tudo e não encontrei.

             Será que ele acharia o sapato? Quase enfartei quando descobri isso, e sai correndo para ligar para o Tom. Ele teria que saber infelizmente. Uma menina morava comigo, mas por pouco tempo. Era como eu, ficaria pouco tempo para arranjar um lugar para morar. Fui descer para ligar para ele, e o infeliz aconteceu... As coisas estavam espalhadas por tudo quanto era canto e acabei esbarrando em uma das minhas malas. Não pude evitar a queda e cai da escada... Não vi mais nada...

            Quatro dias depois acordei no hospital. Minha colega estava super preocupada e meus pais estavam lá. Eles descobriram sobre a gravidez e ficaram nervosos, e pra completar minha mãe ficou super sentimental.

            Infelizmente, devido a minha grande habilidade em ser desastrada perdi o bebe. Ainda tive problemas porque como não estava me alimentando bem, minha saúde estava fraca.

            Chorei durante dias e mais dias, e não queria saber de mais nada. A única coisa que eu tinha dele, eu também perdi. E por minha culpa. Minha mãe ficou comigo e acabei contando tudo para ela. Não poupei detalhes. Ela me deu um sermão enorme porque eu não tinha contado para o Jake da gravidez, mas depois entendeu que ele não ia nem me ouvir.

JACOB PDV

            Estava olhando as coisas no apartamento e fui mais uma vez ao quarto dela. Até então não tinha tido coragem para entrar, e apenas a empregada ia para limpar. Tom também tinha ficado um pouco chocado com isso tudo, o que o impediu de entrar também. Paige não dava noticias e eu não tinha a mínima idéia de como ela estava.

            Tentei procurar os pais dela, mas sempre estavam ocupados demais para me atender. De inicio, o pai dela me culpava pelo sumiço dela, mas um tempo depois e de tanta insistência minha em procurá-la, sentia pela sua voz ao telefone que algo tinha mudado. Mas eles não falavam nada. E isso me deixava ainda mais apavorado. A mãe dela principalmente, que sempre começava frases curtas e parava pela metade. Sabia que ela queria me contar algo, mas entalava no meio da situação.  

            A angustia era ainda maior. E eu sabia que sozinho eu nunca iria encontrá-la. Meu pai tentou me ajudar, mas reclamava que ela tinha se transformado em um fantasma.

            Tomei coragem e entrei. Olhei tudo em volta e tentei achar algo que pudesse me lembrar dela ou que me desse uma pista de seu paradeiro, mas ela era muito esperta e não ia deixar rastros assim tão fácil.  Só quando vi a luz refletindo em um objeto dentro do armário dela, que imaginei que teria sorte. Afastei os lençóis que ainda estavam ali, e assim que me deparei com uma caixinha pequena de vidro, com sapatinhos brancos de bebe dentro deles, me desesperei.

            NÃO, NÃO E NÃO!