Pov Kazuko Hazuromi:

Eu terminei de pentear o meu cabelo loiro ondulado, que caía até a minha cintura, colocando uma presilha nele e me olhando no espelho. Certo, meus olhos azuis esverdeados estavam apresentáveis e o meu cabelo estava bem arrumado... Olhei para a minha saia, que fazia parte do uniforme escolar com cara feia. Nunca fui fã de saias e ainda por cima era uma saia curta. Apesar de eu estar vestindo uma bota e uma meia longa ainda assim era constrangedor.

_ Ah, essa é uma visão difícil de se ter. - ouvi a voz do meu irmão, Satoru Hazuromi, com aquele tom de quem está aprontando.

Olhei para a porta do banheiro e vi ele sentado no chão olhando por baixo da minha saia. Eu sorri, vendo o salto pequeno, mas extremamente fino da minha bota e enfiando ele no meio da cara do meu irmão, passando.

_ Com licença. - resmunguei, indo até o quarto.

Eu peguei a minha mochila, que trazia vários apetrechos, vendo meu irmão já de pé, com um sorriso travesso.

_ O café está na mesa! - ouvi a voz da minha mãe e corri para a mesa, sendo seguido do imbecil que ficara para trás, fingindo observar a minha saia voando.

Deixe-me explicar: O meu irmão é um pervertido e adora ficar observando a bunda das garotas. Além disso, ele gosta de me constranger, então fica olhando para a minha saia, o que me constrange e ele sabe disso. Dá vontade de dar um murro nele, para ele não acordar depois. Mas isso não é coisa que garotas fazem. Não é?

Tomei o meu café da manhã já meio irritado, sentando o mais longe possível do meu irmão, que ria da minha cara. Meu pai ria do meu irmão e minha mãe brigava com os dois por estarem me constrangendo.

Outra explicação rápida: Eu sou um garoto que tem que fingir ser uma garota, isso desde que me entendo por gente. Laços e presilhas fazem parte do meu dia-a-dia, se é que me entendem. Ah, e o meu irmão é gêmeo meu, só para avisar. Só físicamente, acho que perceberam, não é?

Meu irmão pegou a sua mochila negra, que estava jogada em algum canto e saiu correndo pela porta. Eu quase xinguei ele, provavelmente teria que ir sozinho para a escola. Que inferno.

Andei calmamente, naquela manhã fria e com uma mochila enorme nas costas, até chegar no colégio. Entrei na sala de aula, me sentando educadamente em uma carteira, vendo o meu irmão se jogar de qualquer jeito e começar a conversar com os garotos.

Deu para perceber que eu tenho inveja dele? Não? Então deixe que eu seja bem claro: Eu estava encarando o meu irmão, com aquela cara de... Como dizem? Ah, com uma cara de "cachorro abandonado".

Logo Satoru veio até a minha mesa, como ele não é bobo e não perde nenhuma chance de me ridicularizar... Ele se sentou na mesa do meu lado, sorrindo. Eu já estava até imaginando. Eu me ajeitei na cadeira e ele simplesmente empurrou ela para trás, fazendo com que eu caísse junto com a cadeira, de costas no chão, vendo a minha saia subir até a minha cara. Todos nos encararam.

_ Oh, me desculpe! - exclamou meu irmão, com o seu tom irônico de sempre.

Eu me levantei num pulo, encarando ele com raiva e saindo da sala. Logo depois ouvi os garotos começarem a comentar e a rir, não só de mim, mas do meu irmão também.

Vi o professor chegar, encostado na porta da sala, sem querer entrar novamente. Ele se chamava Seiji Tatsumo e ensinava para essa escola desde que eu entrara.

_ Bom dia, Kazuko! - disse Seiji, com um grande sorriso no rosto. - Por que está para fora da sala?

_ Meu irmão fez uma brincadeira de mal gosto outra vez. - resmunguei.

_ Oras, o Satoru é mesmo um garoto difícil, mas não se deixe levar pelas influências dele, ok? Você é uma ótima aluna, continuando assim, você vai até conseguir se casar com um bom homem ou viver sozinha, o que escolher. - o professor dizia tudo sorrindo, mas eu fiz uma careta quando ouvi a palavra "casar".

_ Acho que ainda não estou pronta para isso. - falei, com um sorriso falso.

_ Certo, mas um dia estará. Vamos entrar logo antes que o sinal da próxima aula bata. - disse Seiji, entrando.

Assim que eu apareci na porta logo após o professor, um garoto de cabelos negros, um pouco melhor do que a maior parte dos alunos veio até mim e deu um tapa com tudo na minha bunda.

_ Você é gostosinha, hein? - disse o garoto, me lançando uma piscadela.

E eu já ia saindo de novo, me direcionando para o banheiro, quando eu ouço um barulho e um silêncio mortal se faz.

Obviamente, eu olhei para dentro da sala e vi o garoto no chão, com a mão no rosto. Seguindo o olhar de medo dele encontrei meu irmão, que estava com um olhar de ódio e com os punhos fechados.

_ Ela é a minha irmã, está entendendo? Eu não admito que você fale assim dela e nem que pegue nas minhas coisas sem permissão, entendeu? Estou sendo claro? Só eu posso ridicularizar ela. - meu irmão falou friamente.

Nem o professor conseguia se mecher, tamanho foi o choque, todos encaravam o meu irmão como se ele fosse um alienígena vindo do espaço.

_ Sa... Satoru? - murmurei, surpreso.

Logo meu irmão pareceu entender o que tinha acabado de fazer e se afastou, meio sem graça, pedindo desculpas ao garoto e ao professor.

Depois disso eu entrei na sala e comecei a rir muito da cara do Satoru, que não parecia achar a mínima graça.

E as aulas se passaram normalmente, meu irmão voltou a conversar com os mesmos amigos de sempre, eu falei com as mesmas pessoas de sempre, tudo tranquilo.

No final da aula, quando todos já tinham saído, incluindo o meu irmão, eu estava lá, arrumando o cabelo e olhando em um espelho. Algumas garotas também faziam isso.

Eu saí da sala meio cabisbaixo, resolvendo ir almoçar em um restaurante e ligando para meus pais, que deixaram. Meu irmão já estava em casa, então eu fui sozinho para o restaurante.

Cheguando lá dentro, eu me sentei na primeira mesa que vi e comecei a olhar o cardápio. Nada parecia muito bom para comer. Decidi ficar olhando o cardápio ali, esperando o garçom me sugerir algo.