-Jovem mestre?- Sebastian me chamou entrando na biblioteca.

-Ahn?-Qual será o motivo dele para me irritar agora?

-Senhorita Elizabeth, ela está vindo.- Como o esperado.

-Vá ajuda-la.

-Sim, meu lorde.

Por que? Por que ela não poderia ter simplesmente me esquecido? Tarde de mais... O tempo, tão longo, minutos de silêncio na escuridão sombria, esse silêncio não duraria muito tempo, ela não suporta silêncio, como se ela pudesse ser silênciosa... Nem a escuridão, coisas fofas não combinam com um cenario macabro, coisas fofas não se misturam com demonios, pelo menos, não deveriam. 

O que ela vê em mim? Me perguntei, nunca fui bom para ela, mentira, sim já fui, mas foi a um longo tempo, o que importa é que não sou mais e mesmo assim ela se fixou a mim. Ela é pura de mais, quase como se ela carregasse uma aura de luz em sua volta, a luz é oposta as trevas.

-Cieeeeeeeeeeeeel!!!!!- Sim, ela está aqui.... - Cieeel! O que você está na fazendo num lugar tão escuro e não fofo?- Lizzy, acompanhada por Sebastian, entrou correndo na biblioteca.

-Lizzy...- Sussurei, ela parou por um instante, sorriu e me deu um abraço.

-Brigada, brigada por estar aqui, eu to muito feliz.- Me suurpreendi com suas palavras, mesmo assim continuei inerte em seu abraço, ela me apertou um pouco e depois me soltou.- Então, em que quarto vou ficar?

-Eh?- Ela vai ficar? Sebastian riu de leve, maldito.

-Hum esse lugar ta bem acabado, mas vou dar um jeito nisso...- Ela começou a resmungar enquanto analizava minunciosamente o local.

Nesse momento eu percebi a presença me observando da porta, era ela, Hannah. Ela me deu um leve sorriso e saiu do comodo. Pedi para Sebastian preparar um quarto para Elizabeth, como o esperado em menos de 10 segundos ele já tinha terminado e voltou para guiar a Lizzy seus aposentos.

Estava indo subir as escadas para checar Lizzy quando percebi, olhando através de uma das janelas despedaçadas vi Hannah, ela estava do lado de fora olhando o por do Sol. Me virei e comecei a fazer o caminho inverso, descendo as escadas. Quase tropecei num tapete mal colocado no fim da escada, precisava mandar o Sebastian ajeitar isso, pensei. 

A porta rangeu ao ser aberta, lentamente comecei a me aproximar de Hannah, meus sapatos ficaram repletos de lama, ela começou a dar a volta na casa indo em direção ao lago como se tivesse fazendo de propósito. Eu a segui, ela parou em frente a um banco abandonado olhando para o lago que estava resplandecendo a luz cristalina da lua que parecia pairar sobre ele.

-A lua está linda hoje.- Ela disse sem olhar para mim, parei bem ao seu lado.

-O que está fazendo aqui?

-Esse é um tom de voz meio rude para quem te deu a imortalidade, não acha?- Ela sorriu.

-Achei que estivesse morta.

-Não estou.- Passei mais alguns momentos olhando o nada até que eu pudesse falar alguma coisa.

-Por que voltou?

-Eu vim alerta-lo.- Me surpreendi com a sua fala.

-De que?

-Uma revolução, uma guerra.

-De quem?

-Os demonios, ou melhor, o demonio dos demonios.

-O único líder que sigo é a rainha. 

-Sei disso.

-O que pretendem?

-O demonio dos demonios...

-Você quer dizer o diabo?- Eu a interrompi.

-Sim. Ele é incapaz de andar por esse mundo... E digamos que ele planeja aumentar o seu reinado.

-Dominando a Terra...

-Sim, ele planeja escravizar cada mísero ser humano desse planeta, e acabar com toda essa linda beleza que vemos.- Ela disse olhando para o lago. Lizzy, pensei imediatamente, ela não poderia ser escravizada... Ela não merece isso, que sua pureza seja destruída.- Ele criando um portal, esse é o porque de tantos terremotos ultimamente.

-Isso é tudo?

-Não. Eles está recrutando demonios... Você não precisa se preocupar com isso, ele não quer demonios fracos como você ou demonios medianos como eu, o problema é que eles quer demonios fortes como aquele que você chama de mordomo.

-Sebastian...Eu não deixarei participar disso!

-É isso que eu me preocupo. Eles vão usar todos os recursos deles para que você o deixe participar. Lembre-se disso.- Ela virou as costas e saiu andando.Não posso deixar isso acontecer, Sebastian não irá participar disso, nunca deixarei. 

Voltei pelo mesmo caminho que vim, limpei bem os sapatos enlameados no tapete em frente a casa, iria checar Lizzy. Eu bati três vezes na porta, não escutei nenhum retorno, então abri a porta, quando abri a primeira imagem que eu vi foi Lizzy em cima da cama, ela estava de joelhos e de camisola, ela também olhou para mim no mesmo instante.

-Desculpa.-Disse já fechando a porta, não queria invadir a privacidade dela.

-Não, espera! Entre.-Ela gritou. Eu a obedeci e abrir a porta lentamente.

-Se cubra!- Ela olhou para si mesma e fez um “ah” de entendimento e se cobriu, mesmo nós sendo noivos devíamos manter os bons modos. Olhei para ela de novo e ela já estava quase toda coberta, apenas um babado rosa da camisola estava a vista, relaxei.- Eu apenas vim ver se você se acomodou bem...

-To bem sim.- Ela disse de leve, me olhando com aqueles olhos inocentes.

-Então boa noite.

-Espera!- Ela disse segurando a ponta do meu sobretudo.

-O que?

-Vem aqui.- Ela continuou me puxando. Devia ter ido embora, mas mesmo assim me aproximei mais dela. Ela soltou as cobertas que caíram até a cintura e me deu um abraço, ela me apertou com muita força, me segurei em uma ponta da cama para não cair em cima dela. A respiração dela estava acelerada, ela estava... chorando.

-Lizzy?

-Por que?... Por que eu sinto que você vai desaparecer?... E me deixar... de novo!- Ela disse me apertando ainda mais.

-Lizzy.- Eu não sabia o que dizer...

-Você me odeia?!

-Nunca poderia te odiar!

-Então porque você me faz sofrer?- Ela disse entre lágrimas.

-Você não deveria ficar perto de mim...

-Impossível. - Ela sussurrou.- Eu sofro quando...quando você não está perto...- Ela foi diminuindo a voz em cada palavra mas seus braços continuavam firmes a minha volta. Lizzy... Eu não podia ficar perto dela, mas eu não podia deixar ela assim... chorando. Ela precisa de mim, ninguém precisa de mim. Eu sou importante para ela, eu não sou importante para ninguém.

 Minha conhecida luta interna, me consumindo. Não, não posso, posso, pensei. Com ela ainda me envolvendo, me apoiei e lentamente me deitei ao seu lado, a fazendo deitar também, sem precisar me apoiar, nem na cama e nem na minha mente, foi assim que eu fui capaz de abraçar verdadeiramente Lizzy pela primeira vez, e assim juntos, caímos lentamente no sono.