Terminei de me arrumar e dei uma última olhada no espelho. Eu estava linda. Meus cabelos loiros caiam como cascata sobre meus ombros, perfeitamente ondulados. Meus olhos verdes se destacavam, delineados por um lápis preto. Usava um vestido floral girlie com uma jaqueta de couro marrom e uma sapatilha. Minha pele era levemente bronzeada devido ao clima de St Louis . Eu era magra e tinha belas e leves curvas, que consegui com meus dois anos de líder de torcida.

Escutei o som da buzina e desci as escadas. Deixei um breve bilhete em cima da mesa informando à tia Rose que horas eu voltava. Sai de casa e entrei no carro de Ashley.

– Oi gata. – Disse Ashley animada.

– Oi. – Respondi entusiasmada também.

– Prontas? Podemos ir?

– Sim. – Respondeu Sarah sorrindo.

O trajeto até o shopping foi tranquilo. Fomos conversando alegremente, lembrando de nossas façanhas e peripécias de antigamente e escutando música.

– Ei, Lissa? – Chamou Ashley

–Diga.

–Quem era aquele cara gato com quem você estava conversando no refeitório?

Fiquei surpresa com a pergunta e olhei para Ashley que mostrava um sorriso malicioso.

– Eu o conheci hoje, é o Andrew.

– Nunca o vi na escola. É novo?

– Sim. – Respondeu Sarah. – Chegou à cidade há uns dois meses atrás.

– Na época que eu estava em coma? – Perguntei intrigada.

– Acho que sim. Por quê? – Falou Sarah.

Refleti um pouco sobre aquela informação e respondi:

– Por nada.

– Está... Você está pensando em ter alguma coisa com ele? – Perguntou Ashley.

– Ashley eu acabei de conhecê-lo. Não aprece as coisas. – Falei rindo.

– Mas não minta, eu sei que pensou. – Disse Sarah rindo também.

Chegamos ao shopping e fomos direto às nossas lojas preferidas. As vitrines de primavera estavam tipicamente coloridas e bem arrumadas. Ashley e Sarah pareciam deliciar-se com as compras. Por um breve momento, estranhei-me. Percebi que nunca havia feito compras tão simples. Tão pacatas. Não estava mais esbanjando alegria quanto nas minhas tardes de compras anteriores – o que já fazia muito tempo.

A gostosa tarde com as meninas passou como um piscar de olhos. Cheguei em casa exausta. Deixei minhas compras no quarto e fui cumprimentar tia Rose. Entrei na cozinha e percebi que ela estava preparando o jantar.

– Olá querida, como foi sua ida ao shopping? – Perguntou animada.

–Ótimo, fizemos compras, conversamos...

–Fico feliz que tenha saído com suas amigas.

– Eu também. Foi divertido.

– E me conte da escola, como estão às coisas por lá?

– Continua a mesma coisa. – Falei sorrindo. - Eu estava morrendo de saudades de Ashley e Sarah, mas também tive uma pequena discussão com Matt.

– O que ele aprontou dessa vez?

– Nada de mais. – Falei tranquilizando-a. – E como está o trabalho?

– Tudo muito corrido, estou trabalhando como nunca. – Ela disse com um brilho no olhar.

–Que bom tia. – Falei abrindo um sorriso pra ela.

Tia Rose serviu o jantar, e comemos tranquilamente contando mais alguns detalhes sobre nosso dia. Lavamos a louça e mostrei minhas novas roupas a ela. Logo depois ela foi tomar um banho, e eu fiz o mesmo. Coloquei um pijama e deitei em minha cama. Escutei um barulho na porta e minha tia colocou a cabeça para dentro de meu quarto.

– Ei, quero avisar que amanhã vou ir mais cedo ao trabalho.

– Sem problemas. – Falei abrindo um sorriso.

– Boa noite querida.

– Boa noite tia.

Ela fechou a porta me deixando sozinha. Me aconcheguei na cama deixando meus pensamentos encherem minha mente. Logo me lembrei de Andrew. Eu queria vê-lo novamente e conhecê-lo melhor.

Suspirei percebendo que pela primeira vez, depois de muito tempo, eu estava me sentindo realmente bem.

Cheguei no colégio e fui direto para minha primeira aula. Inglês. Ela passou inesperadamente rápida, assim como a segunda e a terceira. Agora já estava me encaminhando para o refeitório. Peguei meu típico refrigerante e um iogurte e me sentei ao lado de Sarah e Ashley.

– Oi. – Cumprimentei abrindo um sorriso.

– Oi sumida. – Falou Ashley.

– Que droga. Pelo visto hoje não temos quase nenhum horário juntas. – Disse Sarah com um olhar triste.

– Vocês também não ficaram juntas nas primeiras aulas? – Perguntei.

– Não.

– Essas aulas estão um tédio sem vocês. – Falou Ashley.

Continuamos nossa conversa até eu sentir alguém bater de leve no meu ombro me chamando. Me virei e vi Matt. Seu olhar estava calmo, diferente do que eu havia visto na última vez em que nos falamos.

– Posso falar com você? – Perguntou ele tentando parecer doce.

– Fale. – Respondi séria.

– Em particular...

– Desde que você não faça nenhum de seus showzinhos...

– É sério!

– Ok.

Levantei-me e o segui até uma área mais isolada do refeitório. Ele se virou pra mim, me fazendo parar abruptamente.

– O que eu quero falar é breve. - Fiquei encarando-o, e percebendo que eu não tinha nada a dizer, ele prosseguiu. – Eu queria te pedir desculpas. Sei que o que falei foi estúpido e infantil. E que nunca deveria falar daquele jeito com você. Lissa, você é muito importante pra mim, e não quero que a nossa amizade, que é a única coisa que nos restou, também se perca.

Olhei para Matt sem saber o que dizer. Apesar de ter o odiado naquele dia, agora eu me sentia culpada por ter sido grossa com ele.

– Ah Matt é claro que te desculpo. – Eu falei e seu olhar se iluminou um pouco. – E você é meu amigo, eu sei que pode ser difícil para você. Nós mudamos e eu não quero me passar como vilã, mas Matt, você precisar entender.

– Lissa, eu sei. Você passou por muita coisa nesse último mês, e não quero te pressionar. Mas fique sabendo que sempre lutarei por você.

Fiz um sinal afirmativo com a cabeça e lancei um breve sorriso. Me virei e andei em direção à mesa de Sarah e Ashley.

– O que ele queria? – Perguntou Sarah.

– Pedir desculpas.

– Que cara de pau! Fala aquilo para você e ainda vem pedir desculpas?! – Ela parecia inconformada com a audácia de Matt.

– Eu gosto dele. É o maior gato. E você deveria voltar com ele. – Disse Ashley apontando para mim. Eu e Sarah a encaramos e ela falou. – A qual é Lissa! Vocês eram o casal momento daqui, todos gostavam de vocês. Eram os mais populares.

– Mas isso mudou. – Falei.

– Ele ainda continua sendo gato.

– Se gosta tanto dele então por que não vai consolá-lo? - Perguntou Sarah irritada.

Ashley apenas olhou-a incrédula e saiu da mesa. Nesse momento percebi que não havia quase ninguém no refeitório. As aulas já iriam recomeçar e eu precisava me apressar.

– Sarah, tenho que ir. Qual a sua próxima aula?

– Acho que História. – Disse ela também percebendo que estávamos atrasadas.

– Então nos falamos mais tarde. Beijos. – Acenei para ela e sai caminhando rapidamente pelos corredores.

Cheguei à porta do laboratório de biologia e a abri. Todos os olhares pairaram sobre mim.

– Srta. Hathaway! – Disse o Sr. Banner – Chegando atrasada?

– Desculpa Sr. Banner. – Olhei para ele com meu olhar mais angelical. – Aonde devo me sentar?

Ele me encarou e logo passou a observar a sala.

– Ao lado do Sr. Ashford, por favor.

Olhei para onde seu dedo apontava e vi Andrew. Agora eu havia entendido o verdadeiro significado do “Até mais tarde” de ontem. Mas como ele soube que teríamos aula juntos?

Ele me olhou e abriu um longo sorriso que fez meu corpo arrepiar. Andei até o fim da sala tentando parecer o mais despreocupada possível. Cheguei até ele e retribui com meu melhor sorriso.

– Oi. – Falei.

Ele me observou com um brilho nos olhos e fez um sinal afirmativo com a cabeça sem deixar seu sorriso se desfazer. Me sentei ao seu lado e peguei meus materiais.

– Você deveria saber que não se deve fazer isso com um professor.

– Do que você esta falando?

– O jeito que você olhou pra ele. Você deveria saber o domínio que esse olhar tem sobre as pessoas.

– Não acho que um olhar possa provocar muitos efeitos. Não com um professor. – Falei rindo.

Andrew soltou uma leve risada e levantou as sobrancelhas dizendo:

– Você que pensa.

Encarei-o rindo, como se ele tivesse contado uma piada sem graça.

Virei-me para frente tentando prestar atenção na aula. Mas confesso que não entendia uma sequer palavra que o Sr. Banner falava. Olhei para Andrew pelo canto do olho, sem mexer a cabeça. Começando a observar cada detalhe de seu rosto, parecia que eu já havia o visto em algum lugar, como se o tivesse conhecido em um momento breve de minha vida.

Ele estava olhando pra frente, distraído. Seu cabelo loiro estava propositalmente arrumado para parecer desalinhado, seus lábios eram cheios com um tom rosado e sua pele era levemente bronzeada como a minha. Por ultimo analisei seus olhos. Ah, os olhos. Eram de um verde intenso e profundo, como se a qualquer momento ele pudesse me olhar e ler minha alma.

Como se Andrew tivesse lido meus pensamentos, ele se virou percebendo meu olhar nele. Abaixei a cabeça envergonhada.

Querendo puxar assunto ele perguntou:

– Você está morando com sua tia?

– Sim.

–É engraçada a maneira de como nossas vidas são parecidas. Ambos perdemos os pais e moram com os tios.

– É, talvez. Mas e você... antes de vim pra cá, onde morava?

–Nenhum lugar permanente.

– O que você quer dizer com isso? – Perguntei intrigada

– Bom, garanto que minha vida não é tão interessante quanto a sua. – Disse abrindo um leve sorriso. Mas para mim ele estava querendo fugir do assunto.

– Você sabe tudo sobre minha vida.

– Mas não sei tudo sobre você.

Ele me observou atentamente e eu perguntei:

– Alguma vez... Nós já nos vimos?

– Srta. Hathaway, já que está tão atenta a aula, porque não responde a pergunta? – Ordenou Sr. Banner.

Me virei pra frente nervosa e perguntei:

– O senhor poderia repetir a pergunta?

Ele olhou irritado para mim e falou:

– Quais são as fases da mitose?

O professor já havia citado isso uma vez na aula, mas procurei por toda minha mente, e nada. Andrew respondeu:

– Prófase, metáfase, anáfase e telófase.

Olhei para ele surpresa sussurrando um “Obrigada”.

– A resposta está certa Sr. Ashford, mas acho que fiz a pergunta à Lissa.

– Desculpe Sr. Banner.

– Agora eu quero pedir uma simples tarefa extraclasse pra vocês todos. – Mesmo com a voz de desgosto da turma, o Sr. Banner continuou. – Com suas duplas, terão que fazer um relatório sobre as fases da mitose, explicando cada uma delas.

Ele terminou de explicar o trabalho e o sinal tocou. Arrumando minhas coisas ouvi Andrew afirmar:

– Vou estar na sua casa as 16:00 horas. Espero que abra a porta pra mim.

Olhei para ele, e sua boca se curvou em um sorriso torto. Ele saiu andando e atravessou a porta desaparecendo do meu campo de visão.