Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 37
Capítulo 36




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Pisquei desorientada na escuridão. O céu ainda estava negro e Andrew se remexeu ao meu lado, enquanto meu celular vibrava em seu criado mudo. Tateei impaciente, resmungando, até encontrar o celular. O peguei e a luz forte ardeu meus olhos. Encarei o nome na tela, franzindo o cenho e atendi.

– Dave? – perguntei com a voz fraca.

– Lissa... – ele sussurrou. A voz tremula me fez sentar na cama e Andrew acomodou-se ao meu lado.

– São 2 horas da manhã, o que aconteceu?

– Lissa, não o escute! Não...

Palavras incompreensíveis balbuciaram ao fundo e em meio ao chiado, a voz se fez ouvir.

– Olá, Passarinho.

Tranquei a respiração, enquanto meu corpo se tornava uma pedra de gelo.

– Hunter. – murmurei.

Escutei uma risada leve soar pelo telefone.

– É um prazer falar com você novamente também, Lissa. Acho que temos alguns assuntos pendentes para resolver.

– Hunter, cadê o Dave? Onde vocês estão? Por favor, não faça nada com ele.

– Se acalme, Passarinho. Ele está são e salvo, mas isso só vai perdurar se você e, seu namoradinho, é claro, me obedecerem.

– Eu faço qualquer coisa, apenas não o machuque.

– Gosto assim, Passarinho. – eu quase podia ver seus lábios se repuxando em um sorriso. – Porém, antes de continuarmos, vou perguntar algo para Andrew. – ele fez uma breve pausa. – Você não está sentindo a falta de ninguém, Andrew? Talvez de Lincoln...

Com isso, Andrew pulou da cama e eu o segui. Seus passos apressados, que eu quase não conseguia acompanhar, desceram as escadas e seguiram até o final do corredor. Ele abriu a última porta e supus que aquele era o quarto de Lincoln. Não havia ninguém. Apenas objetos que deveriam estar na cômoda velha, jogados no chão, destroçados, e a janela escancarada com as cortinas voando por todos os lados.

– O que você fez com ele?! – Andrew gritou.

Meus dentes se trincaram ao ouvir sua voz ecoando pelo quarto. As mãos de Andrew se fecharam em punho como pedras duras e ele chutou o pequeno criado-mudo.

– Andrew. – sussurrei, correndo até ele. Minhas mãos repousaram em seu rosto. Os olhos pretos cobertos de raiva se apertaram em fendas. – Respire fundo.

Ele desabou na beirada da cama, enquanto a gargalhada de Hunter cortava pelo celular.

– Lincoln está se divertindo em um dos abatedouros entre St. Louis e Belleville. Tenho certeza que você irá ficar feliz em procurá-lo.

Andrew levantou da cama, andando de um lado para o outro entre o quarto, me deixando ainda mais nervosa.

– O que está acontecendo? – era Brooke, parada em frente à porta, usando apenas uma calcinha cor de rosa e uma regata cinza. – Alguém pode...

Andrew percebeu o problema mais rápido. Ele correu até ela, tapando sua boca com a mão. Atrás de Brooke, Andrew colou sua boca em seu ouvido, sussurrando algo que eu não conseguia ouvir.

Se não fosse o chiado frequente da ligação, eu pensaria que Hunter teria desligado.

– Eu preciso... Preciso saber onde Dave está. Me diga, eu farei qualquer coisa.

Ele pigarreou e demorou alguns segundos para responder.

– Estamos na escola. – sua voz soou normal pela primeira vez. Sem maldade ou ironia. Hunter claramente escutou a voz de Brooke e aquilo o desconcertou. – Eu a invadi.

– O que tenho que fazer?

– Eu quero brincar com você, Passarinho. – disse com a voz revigorada. – Se você não vier, digamos que nada terminará bem para Dave. O sangue que está saindo dele já está me instigando o suficiente. O que você acha?

Fiquei em silêncio, porém tinha certeza que Hunter conseguia escutar meu coração esmagando meu peito.

– Eu preciso de algo que você tem.

Engoli em seco.

– O que? – perguntei.

– A razão para tudo isso.

E a linha ficou muda.

Abaixei o celular e me virei para Andrew e Brooke lentamente. Os dois me fitaram, inquietos e as palavras de Brooke saíram em um sussurro muito baixo.

– Ele sabe que eu estou aqui. – disse.

Steven entrou pela porta minutos depois de Andrew telefonar. Ele atravessou a sala e se jogou no sofá, ao meu lado.

– Precisamos de um plano.

Andrew assentiu.

– Temos que ir atrás de Lincoln primeiro. Há dois abatedouros na divisa entre St. Loius e Belleville, chegamos lá em 15 minutos.

– Eu vou atrás de Dave. – murmurei.

– Você não vai a lugar nenhum. Não sozinha. – disse Andrew.

– Hunter está esperando por mim, não por você. – retruquei. – Quem sabe o que ele fará se eu não aparecer?

– Está bem, mas você precisa esperar por mim e Steven.

– 15 minutos só até chegar lá, Andrew. Até vocês acharem Lincoln... Eu não posso esperar.

– Eu vou falar com Hunter. – interrompeu Brooke.

Olhamos para ela, enquanto Brooke encarava suas mãos cruzadas, os dedos se remexendo, inquietos.

– Não. Não vai. – disse Andrew.

– Por que não?! – Brooke o fitou. - Você tem medo de me perder?

Ele hesitou.

– De novo? Sim. – respondeu, exasperado.

– Mas eu preciso fazer alguma coisa. Eu falo com Hunter, ele já sabe que estou viva, talvez desista de toda essa loucura.

Todos se entreolharam e depois de alguns minutos, Steven quebrou o silêncio.

– Odeio dizer isso, mas Brooke tem razão. - Brooke ergueu as sobrancelhas e Andrew bufou. – Pare de ser tão egoísta, Andrew. Eu e você vamos atrás de Lincoln, enquanto isso Brooke irá pra escola tentar convencer Hunter de algo.

– E eu? – perguntei.

– Você ficará em casa. Se Andrew não ligar pra você depois de 20 minutos que sairmos, aconteceu algo. E se Brooke não conseguir, ela ligará para nós e voltaremos para casa o mais rápido possível.

Balancei a cabeça.

– Há muito risco. – sussurrei.

– Nada é seguro, - murmurou Andrew. – vale a pena o risco.

Olhei para ele. Seus doces olhos verdes, sombreados pelas espessas sobrancelhas, me acalmaram. Um lado de seus lábios se ergueu, um gesto tão mínimo que apenas eu percebi.

– Andrew, posso falar com você? – perguntou Brooke, baixinho.

Andrew assentiu.

Eu e Steven saímos da sala. O céu ainda era um breu total e a neblina estava baixa e forte. Encolhi os braços com a pequena brisa que bagunçava meus cabelos já desordenados e sentei na pequena escada da varanda, contemplando a floresta, esperando, porém sem saber o que esperar. Algo pontudo cutucou meu ombro e olhei para cima, fitando Steve segurando um pedaço de madeira na mão.

– Isso por acaso é o que estou pensando? – perguntei.

– Se você está pensando em uma estaca, sim, acertou. – ele sorriu. – Vou ensinar você a usá-la.

– Steven, não temos tempo para isso.

– Eles estão lá dentro conversando, gaste seu tempo com algo útil. - revirei os olhos - Além disso, se você precisar sair dessa casa, não vou deixar você entrar em um lugar com um vampiro assassino perseguindo você, sem saber nem dar um soco. Vamos.

Steven pegou minha mão, me levantando. Paramos no meio do jardim, meus pés tocando a grama úmida. Ele me encarou com um sorriso formando em seus lábios e largou a estaca, a deixando cair no chão.

– Dê um soco em mim.

O encarei em dúvida, soltando uma leve risada.

– É sério. – disse.

Hesitei por alguns segundos. Fechei as mãos em punho e atingi o abdômen de Steve. Ele soltou uma risada, sem nem mesmo sentir minha mão.

– Você só pode estar brincando. - murmurou.

Continuei o encarando, séria e ele parou de rir.

– Está bem. Prenda seus dedos com mais firmeza. – ele cutucou minha perna direita com o pé. – Coloque sua perna de apoio para trás, mantendo o equilíbrio. Você é líder de torcida, tem força, só precisa achá-la. Além disso, você já deu um bom soco em Kate.

– Mas Kate não é um vampiro.

Seus olhos continuaram me fitando.

– De novo.

Posicionei meu braço um pouco para trás e soquei-o novamente. Dessa vez Steven não riu.

– Melhor. Talvez você precise apenas de um estímulo. – seus lábios se curvaram para cima. – Pense em Andrew e Brooke. Na cama. Agora.

A imagem invadiu minha mente sem que eu precisasse imaginá-la. Os dedos de Andrew a tocando do mesmo modo como me tocavam. Ela sussurrando seu nome, enquanto seus dedos se prendiam no cabelo loiro escuro. Parecia que eu havia levado um soco no estômago.

O sangue pulsou mais forte em minhas veias, junto com a raiva que tomava meu corpo e atingi Steve com toda minha força. O ar expeliu de sua boca e ele cambaleou levemente para trás, com um sorriso no rosto, é claro. Sacudi a mão com os nós dos dedos queimando.

– Vejo que o pensamento a pegou em cheio. – ele riu.

Suas mãos alcançaram a estaca no chão.

– Próxima etapa. – disse. – Talvez você não tenha força para matar um vampiro, mas se conseguir distrai-lo já será uma vantagem. Para conseguir cravar a estaca, precisará de um pouco mais de força do que em um soco e terá que ser mais ágil, de preferência.

Assenti e Steve colocou a estaca em minha mão com a ponta virada em sua direção. A segurei sentindo seu ligeiro peso. Não parecia ser algo feito para matar.

– Não vou fazer isso. – sussurrei.

– Eu me curo, lembra? - Steve posicionou a ponta da estaca em sua barriga. - Aqui.

Ele soltou a estaca e a distanciei um pouco de seu corpo. Trinquei os dentes e em apenas um movimento, empalei a ponta afiada em Steve. Um gemido baixo aranhou sua garganta e logo em seguida, a retirei. O sangue brotou em sua camiseta, manchando-a.

– Me desculpe. – murmurei, abrindo um pequeno sorriso.

– Bom. – ele disse. – Mas precisará empalar com mais força.

– Não vou fazer isso de novo.

– Está bem. Não é muito confortável para mim também. – ele sorriu.

– Como mato um vampiro? – perguntei.

– Atravessando a estaca em seu coração. Você precisará de muita força para conseguir chegar nele levando em conta que a pele de um vampiro é muito mais resistente do que a de um humano. É complicado, mas não impossível. Porém espero que você não precise fazer isso.

– Também espero. – sussurrei.

– Vamos entrar. – disse Steven.

Concordei e caminhei com ele de volta para dentro da casa. Na sala, Brooke segurava firmemente as mãos de Andrew, porém no momento em que eu e Steven atravessamos a porta, eles se afastaram quase automaticamente. Abaixei o rosto e segui em direção as escadas.

Joguei água em meu rosto e respirei fundo, expelindo o ar pela boca pesadamente, enquanto o medo congelava meus ossos. Coloquei uma calça jeans e o primeiro moletom cinza que vi em minha frente. Meu corpo topou com o de Andrew, assim que saí de seu quarto. Ele me observou, enquanto eu puxava a barra do moletom para baixo, tentando tornar aquilo a coisa mais interessante do mundo. Seus dedos seguraram meu queixo e Andrew levantou meu rosto em sua direção.

– Me espere lá embaixo. – sussurrou.

Assenti, fitando seus olhos verdes cautelosos. Eu estava apavorada.

– Não há para onde eu ir mesmo. – falei.

Ele sorriu. Seus lábios cheios repousaram no alto de minha testa e depois Andrew entrou em seu quarto, me deixando sozinha no corredor.

Voltei para o andar inferior e me reencostei na soleira da porta, observando Steve arrumar estacas, lanterna e outros tipos de armas que eu desconhecia em uma pequena mala preta. Ele a colocou no porta-malas do carro de Andrew, onde também pude avistar bolsas de sangue espalhadas.

Brooke passou por mim vestindo uma calça de couro e uma blusa justa, ambos pretas, andando apressadamente. Antes que se afastasse, segurei seu braço, fazendo-a parar em minha frente. Ela virou em minha direção, encarando-me.

– Preciso falar com você. – falei.

Brooke deu de ombros. Alguns fios soltos de seu rabo de cavalo caiam sobre seu rosto.

– Diga.

Hesitei por alguns segundos.

– Posso confiar em você? – perguntei.

A expressão em seu rosto se suavizou. Ela assentiu devagar.

– Acho que não importa o que você diga, Hunter não vai deixar Andrew em paz. – sussurrei.

– Eu irei fazer o que puder.

– Eu sei, mas... - mordi a parte interna de meu lábio inferior e olhei para Steve pelo canto do olho. Ele ainda arrumava algumas coisas. Continuei, com a voz ainda mais baixa. – se você não conseguir convencê-lo, não ligue para Andrew primeiro. Ligue para mim. No telefone, Hunter disse que queria que eu fosse à escola com você.

– Mas, Lissa...

– Por favor! – implorei.

Brooke não disse nada por alguns segundos, porém, por fim, concordou.

– Eu sei que sou apenas uma humana, mas não posso deixar Andrew apenas ir. – falei.

Ela abriu um pequeno sorriso.

– Eu sei como é amar Andrew, acredite, eu também o amo. – disse.

– Ele ainda gosta de você.

Brooke negou, seu rosto abaixado, observando o chão aos nossos pés.

– Andrew nunca vai me amar do jeito que ama você, Lissa.

Os olhos claros, idênticos aos meus, me fitaram uma última vez e ela partiu, seguindo em direção a sua moto. A observei colocar os braços pela jaqueta pesada de motoqueiro e colocar seu capacete.

Senti algo quente apertar minha mão esquerda e Andrew me puxou junto com ele para fora de casa. Andamos embaixo do céu ainda negro até Steven.

– Tudo pronto? – perguntou Andrew.

– Sim. – respondeu Steven, soltando um leve suspiro.

– Me desculpe Steve. Você nunca precisou estar envolvido nisso tudo.

– Nós estamos nessa juntos, está bem? - Steve puxou Andrew e o abraçou dando tapas barulhentos em suas costas lembrando-me de certa vez, em um beco, quando os vi fazendo isso da mesma forma, pela primeira vez. – Vamos matar alguns vampiros. – ele riu.

Andrew sorriu e abriu a porta do carro. Seu olhar seguiu em minha direção.

– Entre.

– Vou ir com vocês? – indaguei esperançosa como uma criança.

– Não. Porém preciso falar com você.

Meus ombros se encolheram e entrei no carro, contrariada, batendo a porta em seguida. Um silêncio conflituoso e agonizante me recebeu.

[ouçam: Come back when you can]

– Liss... - Andrew sussurrou, sua voz baixa soou rouca.

Olhei em sua direção, fitando seu rosto banhado pela lua que ainda estava a pino no céu, deixando seu cabelo ainda mais claro e as olheiras abaixo de seus olhos escuras, assim como seus olhos. Por um segundo, ele abaixou a cabeça e seu rosto foi tomado pelas sombras, então, lentamente, subiu o olhar até mim.

– Não quero que você fique brava comigo por causa de Brooke.

– Não estou brava.

– Mas preciso que entenda. – ele pigarreou. - Quando ela apareceu... Enquanto contava como tudo havia acontecido, eu não conseguia acreditar. Na verdade, eu ainda não me acostumei com a ideia. – Andrew riu. Ele abaixou o olhar, hesitante. – Eu amo Brooke. Porém não da mesma forma como antes. Ela mudou, e o garoto que era apaixonado por ela não existe mais. Apenas me sinto aliviado, como se toda a culpa de sua morte que carreguei por todos esses anos de repente não estivesse mais aqui.

Assenti, abrindo um pequeno sorriso.

– E não está. – falei.

Seus lábios se curvaram e um leve brilho tomou seus olhos.

Sem pensar, minhas pernas atravessaram a marcha do carro e curvei-me na direção de Andrew, sentando em seu colo, uma perna em cada lado de seu corpo. Minhas mãos repousaram em seu pescoço e senti as batidas de seu coração contra meus dedos. Encarei seus olhos por alguns segundos e depois fechei os meus.

– Andrew. – sussurrei.

– Qual o problema? – senti seus dedos acariciarem minha têmpora até a linha de meu maxilar.

– Eu estou com medo. – admiti.

– Você não precisa ter. Eu estou aqui. – disse.

Eu amava isso em Andrew; a forma como sua voz soava, a calma e a confiança que sempre irradiou.

– Eu te amo tanto. – murmurei, encostando minha testa a sua e respirei seu cheiro e calor.

– Não diga isso como se fosse uma despedida.

– Me prometa. – abri os olhos para fitar os seus, verdes e cálidos. – Me prometa que nada irá acontecer, que no final disso tudo ainda será você e eu, juntos. Volte para mim.

Andrew continuou em silêncio, apenas seus dedos se moviam.

– Me prometa. - sussurrei. – Por favor.

– Eu sabia, - ele murmurou. – desde a primeira vez que te vi naquele acidente que havia algo em você que seria minha salvação ou minha morte. Eu soube, desde a primeira vez que olhei em seus olhos, que tudo havia mudado. Eu nunca mais seria o mesmo. – seus lábios sorriram. – Não estamos tomando caminhos diferentes. Você é meu caminho. Você sempre foi o meu caminho, e sempre será. – ele beijou a fina lágrima que escorreu por meu rosto. - Eu voltarei pros seus braços. Eu prometo.

Os lábios de Andrew roçaram os meus e por um instante eu era apenas a garota indecisa e danificada sendo beijada na varanda da casa de tia Rose, sem nada a perder, porém com medo de perder tudo. O coração esmagando meu peito por debaixo da blusa e a mente girando mesmo com o mais simples toque. Bom, isso não havia mudado.

Sua boca se abriu levemente e eu o beijei. Minhas mãos vagaram por seu corpo, meus dedos viciados em sentir o calor de sua pele, até enlaçarem seu pescoço. Seus braços me apertavam forte contra seu peito. Eu poderia dizer que estávamos tão desesperados quanto nosso beijo, o gosto amargo da partida em ambos os lábios. Eu me afastei por um momento, apenas para fitar seus olhos manchados pelo verde líquido. Seu rosto estava tão diferente. De repente, eu não via mais o menino deslocado que havia me pedido para se sentar ao meu lado no intervalo. Sua essência era mesma, porém agora eu via um homem confiante de si, e eu o amava ainda mais.

Uma parte bem pequena de minha mente se perguntou: quando minhas pernas vacilarem e eu não conseguir deixá-lo nas nuvens, sua boca ainda se lembrará do gosto do meu amor? Quando minha memória falhar ele ainda me amará da mesma maneira?

– Eu te prometo. – Andrew sussurrou, e por um segundo pensei que pudesse ouvir meus pensamentos. – Eu amo você, não importa o que aconteça.

– Eu te amo.

Ele beijou meus lábios sorridentes e os dedos de Steven bateram na janela.

– Eu vou entrar nesse carro, espero que vocês não estejam transando aí dentro.

Soltei uma risada.

– Volte para casa e tranque tudo, está bem?

– Uhum. – concordei com o sorriso desmanchando de meu rosto.

– Vai dar tudo certo.

Procurei suas mãos no escuro e as apertei forte com as minhas. Seus lábios encontraram os meus uma última vez, porém mantive meu rosto perto do seu. Queria prolongar aquele momento, não queria ter que deixá-lo para depois seguirmos para uma batalha. Queria que aquilo durasse para sempre.

Sai do carro. Pela varanda, vi Brooke atravessar o portão com sua moto e logo depois, Andrew e Steve.

Entrei dentro de casa, tranquei cada porta e janela, e conferi duas vezes apenas para fazer o tempo passar mais rápido. O que parecia ridículo. O ponteiro pesava no relógio, enquanto eu arrumava o quarto de Lincoln. Cada segundo mais demorado que o outro, cada tic-tac soando como uma risada debochada na casa silenciosa.

Faltavam dez minutos para Andrew me ligar. Sentei no sofá da sala com o celular grudado ao meu lado. Meus pés estavam gelados mesmo dentro dos tênis e meus dedos, inquietos. Assustei-me com todos os estalos que a casa dava até perceber que ela fazia aquilo a cada dez segundos. Por fim, o barulho acabou me acalmando e meu coração se tornou mais estável. Trancei meu cabelo três vezes e quando terminei de amarrar a pequena ponta e deixar as mechas loiras enlaçadas caírem em meu ombro, meu celular vibrou. Não esperei nem dar o segundo toque e atendi.

– Andrew. – murmurei, aliviada. – Está tudo bem?

– Sim. Encontramos Lincoln. Ele está muito machucado e desacordado, porém vivo. Não há sinal de Hunter por aqui.

– Brooke ligou para você? – perguntei.

– Não, algo deve estar dando certo.

Assenti, mesmo que ele não pudesse ver.

Escutei estalos do outro lado da linha e Steven xingou alto. Um estrondo cortou o telefone.

– Andrew?

– Droga. – ele sussurrou. – Lissa, preciso desligar.

– O que está acon....

Ele desligou.

Expeli o ar dos pulmões e encarei o celular. Eu odiava ficar sentada, sem poder fazer qualquer coisa. Odiava ser uma humana inútil.

O telefone vibrou novamente.

– Andrew! – quase gritei.

– Sou eu. Brooke. – ela sussurrou.

– Aconteceu algo?

– Esse é o problema; não aconteceu nada. Hunter quer ir embora comigo, mas antes quer terminar o que começou aqui. Eu não o conheço mais, Lissa. – Brooke choramingou.

– Está bem. Me diga o que ele quer.

– Você. – um arrepio atravessou minha espinha. – Quer que você venha até aqui.

– Eu estou indo.

Desliguei e levantei do sofá num pulo. Peguei a estaca que Steven havia deixado para mim e a chave de meu carro. Bati a porta de casa e corri até ele. Torci para não encontrar Andrew e Steve no caminho, mas presumi que ainda estavam longe.

Dirigi pelas ruas silenciosas e abandonadas da cidade. Estacionei a alguns metros da escola. O terreno coberto de árvores era assustador, com galhos retorcidos sustentando somente a neblina. O prédio estava completamente escuro. Cinzento e ameaçador. Nenhuma cortina se movimentava.

Alguém morreria essa noite.

Com o coração na garganta, saltei do carro. Meus pés me guiaram pelo jardim de entrada até a porta principal, e toquei a maçaneta fria. Eu precisava ser corajosa. Tinha que ser. Não era somente minha vida que estava em risco, havia pessoas que eu amava também. Pessoas inocentes que não deveriam morrer por minha causa.

Eu não podia mais me dar ao luxo de esperar. Para alguns talvez haja um amanhã. Para outros haja mil amanhãs, ou três, ou dez. Tanto tempo que podem banhar-se nele, deixá-lo deslizar como areia por seus dedos. Tanto tempo que podem desperdiçá-lo.

Porém, para alguns, só há hoje.

E a verdade, é que você nunca sabe.


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Notas finais do capítulo

Sei que demorei um pouco (muito), mas está ai!
Muitas coisas acontecendo, um final meio doloroso e confesso que estou com medo do próximo capítulo hahaha Veremos o que vai acontecer ainda.
Espero que tenham gostado, comentem por favor ♥



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