Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 22
Capítulo 21




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Eram 23h30 quando atravessei o viaduto da interestadual 44 com o carro de Dave. Não liguei para Andrew e nem contei a ninguém onde estava indo. Eu estava inteiramente sozinha. As estradas estavam completamente vazias e escuras. Uma neblina baixa caía sobre o para brisas, que tornava o caminho difícil enxergar. Não havia nenhum sinal de vida, a não ser pelo enorme posto de conveniência. Havia apenas dois caminhões vazios estacionados na lateral do posto, e pela mancha de sangue no piso branco da entrada, pude perceber que era ali que Hunter queria me encontrar.

Entrei no posto. As luzes estavam apagadas e apenas algumas piscavam. Era maior do que pensei. Havia diversas gôndolas com alimentos e produtos, parecia mais um supermercado. Hunter sabia escolher seus cenários.

Peguei uma lanterna e uma faca das prateleiras. Um arrepio atravessou minha espinha até as pontas de meus dedos. Tentei ignorá-lo e segui. Sobre a mesa do caixa havia um homem. Estava com o uniforme de trabalho e a mordida no pescoço deixava escorrer sangue por toda a bancada. Afastei-me automaticamente e apertei a faca na mão direita até deixar os nós dos dedos brancos.

Andei por entre as prateleiras, sem encontrar nada, se é que havia algo para ser encontrado. O único barulho era os passos irritantes de minha sapatilha no chão. Até que o estralo de uma comida enlatada encheu meus ouvidos e caiu no chão com um estrondo. Segui o barulho que veio de minha esquerda.

– Kate... – sussurrei.

Ela estava sentada no piso ao redor de uma poça de sangue, as costas apoiadas na parede e a cabeça em uma prateleira ao seu lado. Corri até ela. Não apenas no pescoço, mas por todo o seu corpo havia marca de mordidas.

– Kate, o que você fez?

– Me desculpe, Lissa. – ela choramingou. – Ele me prometeu a eternidade e eu acreditei.

A risada de Hunter ecoou atrás de mim, e me virei, o encarando.

– O que você fez com ela? – gritei e me levantei, pegando apenas a faca.

– Kate foi uma tola em cair na minha mentira, você não acha?

– Você que é um idiota achando que isso irá ajudar você em alguma coisa.

– Me ajudou a trazer você aqui.

Hunter se aproximou de mim, estávamos a poucos centímetros de distância. Ele fitou a faca na minha mão, e abriu um sorriso arrogante.

– O que você pretende fazer com essa faca, Lissa?

Hesitei por alguns segundos, mas depois respondi com certeza.

– Isso.

Com toda a minha raiva e minha força, empalei a faca em seu peito. Hunter deu dois passos para trás e franziu a testa, encarando a faca. Ele colocou a mão sobre ela e a arrancou com um gemido. Seus olhos voltaram para mim, com um novo sorriso no rosto e fúria no olhar.

– Você não deveria ter feito isso.

– Por quê? Irá me matar? –falei com a voz ecoando pelo lugar silencioso. - Eu não tenho nada a perder, Hunter. Minha vida foi destruída, se você me matar, estará me fazendo um favor.

Ele deu duas passadas longas e agarrou meu cabelo. Gritei. Ele me jogou no chão e voei alguns metros para trás. Senti minha cabeça bater contra uma prateleira e alguns produtos caírem sobre mim. Fiquei atordoada demais para senti dor e levantei-me com as pernas fracas.

Não entendi o que estava acontecendo, mas através das náuseas e da minha visão turva, vi Andrew. Apoiei-me na parede enquanto ele vinha até mim. Seus olhos estavam negros. Não verdes escuros, mas negros, como breu.

– Lissa. – ele tirou as mechas de cabelo do meu rosto. – Você está bem?

Assenti com a cabeça, enquanto sentia minha respiração voltar ao normal. Ele estendeu os braços e por um momento achei que me abraçaria, mas apenas voltou-se para Hunter.

– O que você pensa que está fazendo? – Andrew rosnou para Hunter.

– Me desculpe, Andrew. Mas essa noite a batalha é apenas entre eu e Lissa.

Hunter foi rápido demais para Andrew conseguir se defender. Escutei o barulho de algo estralando e Andrew caiu aos meus pés. Meu coração parou por alguns instantes e meus joelhos caíram ao seu lado. Senti as lágrimas quentes escorrerem por minhas bochechas. Segurei seu rosto entre as mãos.

– Andrew? – sussurrei, porém ele continuou me fitando com os olhos vazios.

– Eu apenas quebrei o pescoço dele. – Hunter murmurou.

– Você o quê?

– Seu precioso Andrew não irá morrer, se é isso que quer saber. Não por enquanto.

Respirei aliviada. Porém não conseguia me convencer com a imagem dele ali, imóvel e frio.

Levantei-me e o movimento fez o mundo girar por alguns instantes. Hunter se aproximou de mim novamente. Seus olhos se estreitaram quando encontraram os meus, e eu estremeci. A batalha seria apenas entre mim e ele agora. Hunter ficou respirando por alguns segundos, me deixando agoniada.

– Eu não sabia que desejava tanto sua morte.

– A dor nos muda. – sussurrei.

Ele me encarou, percebendo como aquilo também deveria fazer sentido para ele.

– Mas a manterei viva esta noite.

Então soltou uma risada diabólica que fez meus braços se arrepiarem.

– Olhe só pra você, Lissa. Tenta erguer a cabeça e se mostrar corajosa, mas treme igual um passarinho numa gaiola.

Respirei fundo e tentei me mostrar mais destemida.

– Se estou tremendo é porque sinto nojo de você. Não tenho medo de você, porque sabe que se tocar em mim, Andrew acaba com você.

Ele deu mais uma risada horrível e minha pose de durona desabou.

– Ops. Acho que não essa noite.

Hunter observou Andrew por um breve momento e depois me encarou novamente.

–Você está muito confiante em seu Andrew, não é, passarinho?

Não respondi. Ele me estudou por um segundo, como se eu fosse uma gazela e ele, um leão faminto.

– Você já parou para pensar que, talvez, não seja eu o vilão da história?

Dei uma risada nervosa.

– E quem seria? Andrew?

Um brilho de satisfação cruzou seu olhar negro, e me arrepiei novamente.

– Talvez você ainda não saiba da história do passado do seu querido Andrew, mas...

–Eu sei. – o interrompi. – Prossiga.

Um sorriso torto e arrogante cruzou os lábios dele.

– Então, meu passarinho, e se Andrew não fosse o mocinho? Como você sabe, ele matou a garota que amava antes...

– Ele não quis isso! – gritei. Ouvir aquele monstro incriminar Andrew por algo que o assombrava contaminou meu corpo por uma raiva crescente. – Ele nunca quis machucá-la! Foi você! Você e seu egoísmo nojento que destruíram tudo. Tudo! – berrei.

Ele agarrou meu pescoço com uma mão e cortou meu ar. Arfei desesperada, agarrando sua mão.

– E Andrew contou a você como era a linda garota?

Sua mão afrouxou o suficiente para eu voltar a respirar, mas não saiu do meu pescoço. Fiquei em silêncio, fitando seus olhos com horror.

– Ela era linda... – disse ele, mas o modo como pronunciava me dava nojo. – Tinha cabelos tão macios quanto os seus, a não ser por serem mais escuros.

Ele segurou uma mecha do meu cabelo e enrolou-a no dedo. Arquejei, desesperada para fugir dali.

– Tinha olhos de esmeraldas e pele de marfim... Ah, ela era a imagem perfeita de um anjo. A voz era suave como uma brisa de verão e sempre era acompanhada de seus lábios cor-de-rosa.

Ele se inclinou para perto de mim, e senti seu hálito podre perto da minha boca. Tremi, rezando para que ele se afastasse.

– Ela era muito parecida com você...

Sacudi-me com força, mas ele apenas riu alto com uma amargura inconfundível.

– E nunca lhe passou pela cabeça, passarinho, que Andrew nunca quis nada além de suprir o vazio de sua amada?

Parei de me debater. Suas palavras me chamaram à atenção.

– O que você quer... - ele me interrompeu tapando minha boca com a mão.

– Shh, passarinho, shh. Deixei-me terminar. E se seu precioso Andrew não for tão bom e gentil quanto pensa? Há chances de ele ser egoísta. Traiçoeiro. Cruel. Ora, vamos, passarinho, você não é tola. Ele pode ser igual a mim.

Sacudi debilmente minha cabeça e cuspi.

– Nunca!

Sua mão voltou a tapar minha boca.

– É mesmo? E o que te faz pensar que Andrew já não a estudava? Observava você como uma onça observa à presa? E se só lhe faltasse o momento perfeito, e ele chegou?

– Você está insinuando o quê? – perguntei, minha voz saiu falhada.

– Um acidente tão terrível... – lamentou-se falsamente. – E só a linda garotinha sobreviveu. Quanta sorte, não acha?

Uma ideia terrível me passou pela cabeça. E se Andrew estivesse mentindo? E se ele fosse frio e calculista como o monstro a minha frente? E se tudo não passou de um plano cruel? E se? Duas palavras que, quando colocadas juntas, podem atormentar qualquer pessoa. Meu estômago embrulhou com a ideia. O acidente, meus pais mortos, eu fui a única salva, o homem no hospital, a aproximação de Andrew. De repente, as peças se encaixavam bem demais.

– Mas por que ele faria isso? – gemi. – Porque ele faria uma coisa dessas?

– Ora, não é simples, passarinho? Para poder ter algo a negociar. Para pedir uma recompensa pelo “bom feito”. – ele me olhou de cima a baixo. – E foi um rapaz esperto.

A sensação que tinha no meu estômago era sufocante. Achei que fosse vomitar. Olhei para o corpo de Andrew no chão imaginando se faria tudo isso, estragaria toda a minha vida... Apenas para seu bel-prazer? Armaria um plano tão cruel para poder ter uma substituta para seu amor perdido? E se isso for fato, será que ele nunca me amou? E será que ele amou? As possibilidades rodavam na minha cabeça e comecei a me sentir tonta. Lágrimas quentes se formaram nos meus olhos, mas não as deixei cair. Hunter colou a boca no meu ouvido e sussurrou.

– E agora, passarinho, quem é o menino mau?


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Espero que tenham gostado hahah
O próximo capítulo será postado na sexta feira :)



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