Into Your Arms escrita por AnaSabel
Eram 23h30 quando atravessei o viaduto da interestadual 44 com o carro de Dave. Não liguei para Andrew e nem contei a ninguém onde estava indo. Eu estava inteiramente sozinha. As estradas estavam completamente vazias e escuras. Uma neblina baixa caía sobre o para brisas, que tornava o caminho difícil enxergar. Não havia nenhum sinal de vida, a não ser pelo enorme posto de conveniência. Havia apenas dois caminhões vazios estacionados na lateral do posto, e pela mancha de sangue no piso branco da entrada, pude perceber que era ali que Hunter queria me encontrar.
Entrei no posto. As luzes estavam apagadas e apenas algumas piscavam. Era maior do que pensei. Havia diversas gôndolas com alimentos e produtos, parecia mais um supermercado. Hunter sabia escolher seus cenários.
Peguei uma lanterna e uma faca das prateleiras. Um arrepio atravessou minha espinha até as pontas de meus dedos. Tentei ignorá-lo e segui. Sobre a mesa do caixa havia um homem. Estava com o uniforme de trabalho e a mordida no pescoço deixava escorrer sangue por toda a bancada. Afastei-me automaticamente e apertei a faca na mão direita até deixar os nós dos dedos brancos.
Andei por entre as prateleiras, sem encontrar nada, se é que havia algo para ser encontrado. O único barulho era os passos irritantes de minha sapatilha no chão. Até que o estralo de uma comida enlatada encheu meus ouvidos e caiu no chão com um estrondo. Segui o barulho que veio de minha esquerda.
– Kate... – sussurrei.
Ela estava sentada no piso ao redor de uma poça de sangue, as costas apoiadas na parede e a cabeça em uma prateleira ao seu lado. Corri até ela. Não apenas no pescoço, mas por todo o seu corpo havia marca de mordidas.
– Kate, o que você fez?
– Me desculpe, Lissa. – ela choramingou. – Ele me prometeu a eternidade e eu acreditei.
A risada de Hunter ecoou atrás de mim, e me virei, o encarando.
– O que você fez com ela? – gritei e me levantei, pegando apenas a faca.
– Kate foi uma tola em cair na minha mentira, você não acha?
– Você que é um idiota achando que isso irá ajudar você em alguma coisa.
– Me ajudou a trazer você aqui.
Hunter se aproximou de mim, estávamos a poucos centímetros de distância. Ele fitou a faca na minha mão, e abriu um sorriso arrogante.
– O que você pretende fazer com essa faca, Lissa?
Hesitei por alguns segundos, mas depois respondi com certeza.
– Isso.
Com toda a minha raiva e minha força, empalei a faca em seu peito. Hunter deu dois passos para trás e franziu a testa, encarando a faca. Ele colocou a mão sobre ela e a arrancou com um gemido. Seus olhos voltaram para mim, com um novo sorriso no rosto e fúria no olhar.
– Você não deveria ter feito isso.
– Por quê? Irá me matar? –falei com a voz ecoando pelo lugar silencioso. - Eu não tenho nada a perder, Hunter. Minha vida foi destruída, se você me matar, estará me fazendo um favor.
Ele deu duas passadas longas e agarrou meu cabelo. Gritei. Ele me jogou no chão e voei alguns metros para trás. Senti minha cabeça bater contra uma prateleira e alguns produtos caírem sobre mim. Fiquei atordoada demais para senti dor e levantei-me com as pernas fracas.
Não entendi o que estava acontecendo, mas através das náuseas e da minha visão turva, vi Andrew. Apoiei-me na parede enquanto ele vinha até mim. Seus olhos estavam negros. Não verdes escuros, mas negros, como breu.
– Lissa. – ele tirou as mechas de cabelo do meu rosto. – Você está bem?
Assenti com a cabeça, enquanto sentia minha respiração voltar ao normal. Ele estendeu os braços e por um momento achei que me abraçaria, mas apenas voltou-se para Hunter.
– O que você pensa que está fazendo? – Andrew rosnou para Hunter.
– Me desculpe, Andrew. Mas essa noite a batalha é apenas entre eu e Lissa.
Hunter foi rápido demais para Andrew conseguir se defender. Escutei o barulho de algo estralando e Andrew caiu aos meus pés. Meu coração parou por alguns instantes e meus joelhos caíram ao seu lado. Senti as lágrimas quentes escorrerem por minhas bochechas. Segurei seu rosto entre as mãos.
– Andrew? – sussurrei, porém ele continuou me fitando com os olhos vazios.
– Eu apenas quebrei o pescoço dele. – Hunter murmurou.
– Você o quê?
– Seu precioso Andrew não irá morrer, se é isso que quer saber. Não por enquanto.
Respirei aliviada. Porém não conseguia me convencer com a imagem dele ali, imóvel e frio.
Levantei-me e o movimento fez o mundo girar por alguns instantes. Hunter se aproximou de mim novamente. Seus olhos se estreitaram quando encontraram os meus, e eu estremeci. A batalha seria apenas entre mim e ele agora. Hunter ficou respirando por alguns segundos, me deixando agoniada.
– Eu não sabia que desejava tanto sua morte.
– A dor nos muda. – sussurrei.
Ele me encarou, percebendo como aquilo também deveria fazer sentido para ele.
– Mas a manterei viva esta noite.
Então soltou uma risada diabólica que fez meus braços se arrepiarem.
– Olhe só pra você, Lissa. Tenta erguer a cabeça e se mostrar corajosa, mas treme igual um passarinho numa gaiola.
Respirei fundo e tentei me mostrar mais destemida.
– Se estou tremendo é porque sinto nojo de você. Não tenho medo de você, porque sabe que se tocar em mim, Andrew acaba com você.
Ele deu mais uma risada horrível e minha pose de durona desabou.
– Ops. Acho que não essa noite.
Hunter observou Andrew por um breve momento e depois me encarou novamente.
–Você está muito confiante em seu Andrew, não é, passarinho?
Não respondi. Ele me estudou por um segundo, como se eu fosse uma gazela e ele, um leão faminto.
– Você já parou para pensar que, talvez, não seja eu o vilão da história?
Dei uma risada nervosa.
– E quem seria? Andrew?
Um brilho de satisfação cruzou seu olhar negro, e me arrepiei novamente.
– Talvez você ainda não saiba da história do passado do seu querido Andrew, mas...
–Eu sei. – o interrompi. – Prossiga.
Um sorriso torto e arrogante cruzou os lábios dele.
– Então, meu passarinho, e se Andrew não fosse o mocinho? Como você sabe, ele matou a garota que amava antes...
– Ele não quis isso! – gritei. Ouvir aquele monstro incriminar Andrew por algo que o assombrava contaminou meu corpo por uma raiva crescente. – Ele nunca quis machucá-la! Foi você! Você e seu egoísmo nojento que destruíram tudo. Tudo! – berrei.
Ele agarrou meu pescoço com uma mão e cortou meu ar. Arfei desesperada, agarrando sua mão.
– E Andrew contou a você como era a linda garota?
Sua mão afrouxou o suficiente para eu voltar a respirar, mas não saiu do meu pescoço. Fiquei em silêncio, fitando seus olhos com horror.
– Ela era linda... – disse ele, mas o modo como pronunciava me dava nojo. – Tinha cabelos tão macios quanto os seus, a não ser por serem mais escuros.
Ele segurou uma mecha do meu cabelo e enrolou-a no dedo. Arquejei, desesperada para fugir dali.
– Tinha olhos de esmeraldas e pele de marfim... Ah, ela era a imagem perfeita de um anjo. A voz era suave como uma brisa de verão e sempre era acompanhada de seus lábios cor-de-rosa.
Ele se inclinou para perto de mim, e senti seu hálito podre perto da minha boca. Tremi, rezando para que ele se afastasse.
– Ela era muito parecida com você...
Sacudi-me com força, mas ele apenas riu alto com uma amargura inconfundível.
– E nunca lhe passou pela cabeça, passarinho, que Andrew nunca quis nada além de suprir o vazio de sua amada?
Parei de me debater. Suas palavras me chamaram à atenção.
– O que você quer... - ele me interrompeu tapando minha boca com a mão.
– Shh, passarinho, shh. Deixei-me terminar. E se seu precioso Andrew não for tão bom e gentil quanto pensa? Há chances de ele ser egoísta. Traiçoeiro. Cruel. Ora, vamos, passarinho, você não é tola. Ele pode ser igual a mim.
Sacudi debilmente minha cabeça e cuspi.
– Nunca!
Sua mão voltou a tapar minha boca.
– É mesmo? E o que te faz pensar que Andrew já não a estudava? Observava você como uma onça observa à presa? E se só lhe faltasse o momento perfeito, e ele chegou?
– Você está insinuando o quê? – perguntei, minha voz saiu falhada.
– Um acidente tão terrível... – lamentou-se falsamente. – E só a linda garotinha sobreviveu. Quanta sorte, não acha?
Uma ideia terrível me passou pela cabeça. E se Andrew estivesse mentindo? E se ele fosse frio e calculista como o monstro a minha frente? E se tudo não passou de um plano cruel? E se? Duas palavras que, quando colocadas juntas, podem atormentar qualquer pessoa. Meu estômago embrulhou com a ideia. O acidente, meus pais mortos, eu fui a única salva, o homem no hospital, a aproximação de Andrew. De repente, as peças se encaixavam bem demais.
– Mas por que ele faria isso? – gemi. – Porque ele faria uma coisa dessas?
– Ora, não é simples, passarinho? Para poder ter algo a negociar. Para pedir uma recompensa pelo “bom feito”. – ele me olhou de cima a baixo. – E foi um rapaz esperto.
A sensação que tinha no meu estômago era sufocante. Achei que fosse vomitar. Olhei para o corpo de Andrew no chão imaginando se faria tudo isso, estragaria toda a minha vida... Apenas para seu bel-prazer? Armaria um plano tão cruel para poder ter uma substituta para seu amor perdido? E se isso for fato, será que ele nunca me amou? E será que ele amou? As possibilidades rodavam na minha cabeça e comecei a me sentir tonta. Lágrimas quentes se formaram nos meus olhos, mas não as deixei cair. Hunter colou a boca no meu ouvido e sussurrou.
– E agora, passarinho, quem é o menino mau?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Então o que acharam? Espero que tenham gostado hahah
O próximo capítulo será postado na sexta feira :)