Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 19
Capítulo 18




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Eu corria. Havia névoa por toda a parte e apenas feixes de claridade me guiavam pelo vazio da minha mente. Os passos atrás de mim se tornaram mais altos e também aumentei a velocidade. Eu sentia meus pés descalços gelados pelo frio e os vidros no chão me cortando e cravando na pele, mas eu não sentia a dor. Eu tinha medo, mas não sabia do que. Fugia, mas não sabia de quem.

Até que Andrew apareceu. Mas eu caí.

Esse sonho me fez acordar agitada e suada, como se eu tivesse corrido quilômetros – e na verdade, acho que corri. Ele não tinha nenhum significado real para mim, porém me causava um arrepio na espinha. Balancei a cabeça tentando afastar os pensamentos. Não queria lembrar isso enquanto estava a caminho de Soulard Neighborhood, já que o dia estava nublado e cinzento. Eu vestia uma calça jeans azul escura e um casaco pesado. Minhas mãos estavam enfiadas nos bolsos, mas ainda pareciam frias demais.

O bairro era tranquilo e hospitaleiro. Pequeno, mas possuía sua própria grandeza. Era diferente dos outros lugares de St. Loius e não entendia porque o visitava tão poucas vezes. As ruas eram largas e a cada dois metros havia uma árvore na calçada. Na primavera as flores cairiam e fechariam as estradas com seus tons vibrantes de amarelo. As casas eram amplas, construídas por tijolos à vista, bordos. Seus jardins eram simples com plantas de vegetação rasteiras, porém muito verdes. Por um momento desejei morar em uma delas. Eram repletas de janelas e seus telhados escuros adquiriam formas únicas. Pude observar alguns traços franceses em suas construções, assim como suas fachadas austeras. Tudo soava como uma obra de arte.

Porém havia um problema. Eu nunca saberia qual era a casa de Andrew. Caminhei mais alguns metros e parei uma senhora baixa que usava um vestido florido até os pés, horrendo e segurava duas sacolas de supermercado.

– A senhora saberia me dizer onde os Ashford moram?

Ela me fitou repentinamente, com um sorriso amarelo. Depois sua cabeça girou pelos dois lados da rua.

– Eu os vi poucas vezes, são muito reservados, mas se não me engano, você segue reto até a o fim da rua principal e entre a esquerda, a ultima casa. A rua é escondida por causa das árvores, mas você irá encontrá-la.

– Muito obrigada. – falei sorrindo.

E foi o que eu fiz. Ao fim da estrada uma rua solitária, com muitas árvores e poucas casas se encontrava. Na verdade, duas casas. Uma no começo da rua, e a outra no final, a uns 500 metros. A primeira casa era branca com janelas e portas azuis, um jardim com peônias brancas e cerca baixa de madeira crua. Era pequena e bem cuidada, com sinos e uma solitária cadeira de balanço na varanda. Parecia amigável. Diferente da outra casa. Caminhei até o final da rua rapidamente, sem me dar o luxo de pensar duas vezes. A casa era grande, quase uma mansão, com uma péssima cor cinzenta nas paredes. As vigas de sustentação eram cor de gelo, e o telhado era escuro. Trepadeiras subiam pela armação de ferro na lateral da casa, dando um ar sombrio a construção. O jardim era constituído por alguns zimbros ao redor da casa e uma planta rasteira escura, que crescia no chão e ao redor dos folhosos cedros. O portão de ferro escuro era pesado, e precisei de muita força e paciência para empurra-lo sem que fizesse barulho. Andei por um caminho de pedras cobertas de liquens até a porta. A maçaneta era dourada e envelhecida, e recuei instintivamente. Não podia simplesmente entrar pela porta da frente. Dei a volta da casa, surpreendida pelo tamanho. Os dois andares eram cheios de janelas altas e largas, com vidros quadriculados e cortinas pesadas. A cor cinzenta era vibrante, e pude perceber, enquanto tomava cuidado para não esmagar os arbustos ou deixar marcas na vegetação, que todo o ambiente era envolvido por uma fina névoa. Talvez por causa da quantidade de árvores que avistei atrás da casa. Andei com cuidado até lá. O quintal não era muito diferente do jardim, com a diferença que uma floresta densa se estendia a alguns metros da casa. Uma varanda semelhante a da primeira casa jazia ali, um pouco envelhecida, mas com um longo sofá com armação de madeira escura e almofadas de veludo marrom, com uma pilha abandonada de livros de capa de couro.

Observei as laterais da casa procurando pela entrada mais fácil. A janela era baixa, pequena e eu teria que me espremer para passar por ela, mas era a minha única chance. Com a mão esquerda, segurei a direita que estava em punho e com toda a minha força usei o cotovelo para quebrar a janela. Ela nem se mexeu. Tentei outra vez e mais outra, até o vidro se estilhaçar. Passei o braço com cuidado pelo buraco que eu havia feito na janela e a abri por dentro. Passei primeiro as pernas e depois impulsionei meu corpo para baixo. Era mais alto que pensei. Cai no chão quebrando alguns objetos e tapei a boca assustada, esperando que ninguém tivesse ouvido. Fitei minhas pernas e percebi um corte perto do joelho esquerdo. Estava sangrando, porém não me importei. E até aquele momento, estava me perguntando o que eu exatamente queria fazer.

Pela primeira vez, avaliei o lugar. A única luz era o feixe de claridade que vinha por baixo de uma porta fechada no alto de uma escada, onde provavelmente daria para os outros cômodos. As paredes eram de tijolos cinza, dando a impressão de serem pedras. Havia muitas caixas, livros velhos e empoeirados, um baú que parecia muito antigo. Andei entre as caixas empilhadas e ao final do porão comprido havia um refrigerador branco, do tipo que meu pai guardava carnes enquanto ainda era vivo. Percebi que estava ligado e me aproximei. Nas suas extremidades havia pequenas manchas vermelhas e por curiosidade levantei a tampa devagar.

Primeiro a luz branca cegou meus olhos, porém depois que consegui focalizar o que havia no interior do refrigerador, minhas pernas bambearam e meu coração acelerou no peito. Cada nervo de meu corpo se comprimiu e tranquei a respiração.

– Lissa?

A voz de Andrew me tirou do torpor e deixei a porta do refrigerador fechar em um baque. O encarei assustada, sem saber o que dizer ou até mesmo o que pensar.

– Lissa. – ele sussurrou e deu um passo a frente ao mesmo tempo em que recuei um para trás.

– Você é como ele. – sussurrei.

– Você não entende. Não é o que está pensando.

– Se não é o que estou pensando, então o que bolsas de sangue fazem no seu porão? Foi você que as roubou do hospital não é?

Ele se aproximou dando passadas longas e me afastei novamente, batendo com as costas na parede. O encarei e não dissemos nada por alguns minutos, ambos tentando controlar a respiração. Os dentes de Andrew estavam cerrados e seu olhar era duro e cansado.

– O que você é? - minha voz falhou. Andrew nem sequer piscou.

Suspirei e arrumei os ombros.

– O. Que. Você. É? – perguntei pausadamente, lançando cada palavra.

– Eu não sou um vampiro.

Soltei uma risada nervosa, mesmo não encontrando graça em suas palavras.

– Vou embora daqui. – falei.

Primeiro encarei a janela e depois corri para as escadas. Antes de eu alcançar os primeiros degraus, Andrew segurou meu braço e me trouxe em sua direção.

– Você precisa me escutar.

– Me largue, Andrew! Não preciso ouvir suas palavras. Tudo está bem claro agora.

Arranquei meu braço das mãos fortes de Andrew e corri pela casa. Não notei os móveis ou se havia alguém presente, fui direto para a porta de madeira maior e principal. Disparei pelo jardim com a respiração pesada e ardente devido ao frio. Cheguei ao portão pesado arquejando, e o puxei com força. Uma mão surgiu por cima de meu ombro e o fechou com brutalidade. Senti a respiração de Andrew quente, balançando os fios de meu cabelo.

– Me deixe ir. – minha voz saiu fraca.

– Eu nunca machucaria você. – Andrew murmurou em meu ouvido.

Apertei os olhos, repreendendo as lágrimas e virei meu corpo devagar.

– Você precisa confiar em mim. Sou um... – ele hesitou. – Eu sou um híbrido. Tenho mais características humanas do que você imagina. Não sou como Hunter.

– Só me deixe ir.

– Liss... – ele segurou minhas mãos frias. – Me dê essa noite e contarei tudo o que você precisa saber.


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Notas finais do capítulo

A descoberta, finalmente! Comentem o que acharam, obrigada :))



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