Into Your Arms escrita por AnaSabel


Capítulo 13
Capítulo 12




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Era difícil lembrar a época em que minha vida fora normal, perfeita.

Eu não queria mais viver com medo, fugindo de tudo que me assombrava. Não queria me sucumbir a tudo que me intimidava. Tudo que estava acontecendo poderia estar apenas começando, mas eu simplesmente estava cansada de ficar pensando em tudo a toda hora. Eu queria, por pelo menos um momento, parar de sentir. Me desligar de tudo e todos. Eu poderia ver a felicidade escapando entre meus dedos, me levando sempre a um lugar obscuro. Queria ser alguém sem um passado, sem dor. Mas as coisas ruins continuam com você. Ela nos segue. Não há como fugir, por mais que queira. A vida é incontornável. Ter e perder. Como uma batalha, onde o objetivo principal é vencer.

E foi assim que passei o resto da semana. Permitindo-me aceitar os fatos como eram. Não iria me contentar com meias verdades e falsas promessas. Tentei deixar para trás aquilo que me assombrava e não levar a vida em rédeas curtas. E funcionou. Mais ou menos.



– Acho que deveríamos trocar o papel de parede da cozinha.

– Mas aquele ainda está novo!

Coloquei o fone de ouvidos novamente não querendo escutar a discussão de meus pais por causa de um simples papel de parede. O sol batia no meu rosto enquanto o vento bagunçava meu cabelo. Estávamos voltando para casa. Eu não percebia a estrada a minha frente, apenas o lago na decida do desfiladeiro, tão cristalino e silencioso.

E como se tudo tivesse acontecido de novo, estávamos submersos no lago.

Minha mãe estava desmaiada e meu pai dava socos na janela do carro tentando abri-la. Eu estava parada, apenas aceitando o fato de que daqui alguns minutos meu olhos se fechariam para uma escuridão absoluta.

Naquele momento tudo era mais claro do que verdadeiramente foi. Naquele momento eu pude entender como a morte era simples e fácil, sem controvérsias. Apenas algo natural da vida e que não importasse o momento, ela iria acontecer.

Mas algo simultaneamente mudou. Toda aquela certeza se dissipou quando o vi. O homem que eu tanto temia se aproximou da minha porta e seus olhos pretos me fitaram de uma maneira curiosa e ao mesmo tempo predadora. Diferente da primeira vez, agora eu conseguia vê-lo claramente. O ar que ainda restava em meus pulmões se perdeu e meu coração deu uma guinchada no peito. Eu tentei me afastar dele, mas sua mão arrancou a porta e agarrou meu braço. Eu me debati enquanto ele me levava mais para a luz da superfície. Olhei para o carro, pensando que aquela seria a última vez que veria meus pais.



Abri meus olhos, dando um pulo na cama. O movimento repentino fez minha cabeça girar e meus olhos arderam com a luz que adentrava a janela. Minha testa estava molhada de suor e minha respiração era irregular. As imagens do sonho se misturaram na minha cabeça e parei por um segundo, percebendo como pareciam reais. Um arrepio percorreu minha espinha e respirei fundo algumas vezes. Por mais que eu odiasse aquilo e por mais que tivesse prometido a mim – e a Andrew – que daria um tempo em tudo, era difícil não desconfiar de algo que estava na sua frente.

Olhei no relógio que marcava 5h00. Joguei-me na cama de novo e escondi o rosto no travesseiro, sabendo que não iria conseguir voltar a dormir. Segui para o banheiro, entrei no chuveiro e me concentrei em tentar deixar o dia o mais normal possível.


– Ei, Lissa. – chamou Dave no corredor, a caminho do refeitório.

– Oi Dave!

– Você vai ao jogo de hoje?

O fitei desconfiada e perdida.

– Que jogo? – perguntei.

– Você esqueceu, não é? - um sorriso cruzou seus lábios e ele riu.

Dei uma risada nervosa e desviei de seu olhar, tentando lembrar do que Dave estava falando.

– Ah meu Deus, Dave, me desculpe.

Hoje a noite começaria o campeonato de futebol americano. Dave iria jogar, tinha me convidado há alguns dias atrás e minhas amigas haviam falado sobre isso a semana inteira. Como poderia esquecer?

– Tudo bem, Lissa. Você vai certo?

– Sim, mas... – olhei para ele como se tentasse me desculpar. – Você sabe que Andrew também vai não é?

Ele suspirou e revirou os olhos, enquanto passávamos pela porta do refeitório.

– Sei.

– Vocês deveriam parar com isso. Na verdade eu nem sei o que está acontecendo.

E não sabia mesmo. Os dois agiam de forma estranha perto do outro e Andrew parecia sempre... Me proteger. O que era ridículo. O ciúme dele era ridículo. Dave sempre estava na defensiva e pareciam a ponto de começarem uma briga no meio de todos.

– Eu não gosto dele.

– Eu sei disso, mas por quê?

– Sei lá, Lissa. E não me olhe com essa cara. – ele falou se referindo a minha careta de desaprovação.

– Isso é ridículo.

– É, eu sei. E falando em Andrew, ele é estranhamente forte.

– O que você quer dizer com isso?

– Um dia desses, ele foi nos devolver a bola de futebol e meio que jogou forte demais.

O fitei, tentando encontrar o problema naquilo.

– Não forte normal, mas forte, forte. – ele riu. – Foi desumano.

– Acho que você está ficando louco.

– Imaginei que você estaria pensando nisso, mas agora vamos pra fila antes que fiquemos sem comida.

Dave colocou a mão em meu ombro me guiando até a fila. Eu peguei em sua mão e tirei de meu ombro.

– Qual o problema? Andrew vai ficar bravo? – Dave disse me provocando e devolveu a mão para onde estava antes.

– Nós já brigamos por causa disso. – o adverti.

Ele levantou as mãos na defensiva, mostrando que não tinha culpa de nada.

Depois que pegamos nosso almoço, seguimos até a mesa dos nossos amigos. Coloquei a bandeja na mesa e sentei-me ao lado de Sarah e Ashley.

– Oi! – as duas disseram.

– Ei, você vai ao jogo hoje? – perguntou Ashley.

– Claro, preciso ver minhas amigas arrasarem como líderes de torcida.

– Estou tão ansiosa! – disse Sarah.

Abri um sorriso animado para elas.

– Nos estávamos pensando em ir ao...

– Seja lá o que estiveram programando, não vou poder ir. – interrompi Ashley.

– Por quê?

– Preciso estudar para as provas.

– Ah Lissa, por favor, você não precisa disso. – reclamou.

– Vou outro dia, está bem? Me desculpe, Ash.

– Vocês viram Andrew? – tentei desviar o assunto.

– Serve aquele? – olhei para onde Sarah indicava e vi Andrew caminhando em direção a nossa mesa. Mas antes que ele pudesse chegar até nós, alguém o deteve.

– Droga. – sussurrei.

Levantei-me rapidamente dando uma guinchada na cadeira que fez um barulho estrondoso pelo refeitório. Fui até Andrew com um sorriso no rosto. Antes que Kate pudesse dar um passo a frente e falar com ele, eu agarrei seu pescoço e o beijei, não me importando com o que iriam pensar sobre minha atitude.

Andrew ficou sem reação no inicio, mas logo sua mão repousou em minha cintura. Eu me afastei um pouco e ele abriu o tipo de sorriso torto que faria qualquer uma cair aos seus pés.

– Bom dia. – ele sussurrou.

Eu peguei em sua mão e me virei para Kate, que me encarava boquiaberta, assim como o resto do refeitório.

– Oi Kate. Nem tinha visto você, tudo bem?

Ela ficou quieta e eu apenas escutei a gargalhada de Ashley soar do outro lado do refeitório.

Andrew e eu saímos, sentando em uma das mesas do jardim. O sol ainda não estava a pino no céu e assim algumas árvores projetavam uma sombra sobre nós, deixando um ar gelado nos cercar. Apesar de o dia estar primoroso, o lugar estava completamente vazio.

– Acho que vou falar com Kate para vir falar mais comigo. – disse abrindo um sorriso malicioso.

– Não ouse! – o alertei contendo um sorriso.

– Porque não? Aquilo foi tão... Atrevido.

– Atrevido?

– Para não dizer feroz. – complementou.

Olhei para ele e soltei uma pequena gargalhada. Senti um rubor vermelho subir por minhas bochechas.

– Você é um idiota.

– Não fiquei nem um pouco ofendido. – Andrew se aproximou e seu hálito soprou em meu rosto.

– Você é muito idiota.

– Não sou idiota, sou apenas apaixonado por você.

Um suspiro pesado sai pelo meu nariz e eu desviei o olhar, incrédula, tentando imaginar como alguém poderia ser tão... Tão... Eu não tinha palavras para descrevê-lo.

Seus lábios tocaram minimamente os meus em provocação.

– Acho que ninguém precisa de mais um show.

– O que você quer dizer com isso? – diminui a distância entre nós, quase não conseguindo me conter.

– Que a escola acabaria nos expulsando se nos beijássemos de novo. Você conhece as regras.

– Não é bem assim... – suspirei pensativa. - mas afinal, quem liga para as regras?

Mordi o lábio inferior, mas uma voz dura nos interrompeu a ponto que nossos lábios se tocassem de verdade.

– Eu ligo.

Afastei-me de Andrew abruptamente, dando um pulo do pequeno banco de madeira e encarei Dave com uma pontada de raiva. Ele estava encostado na parede, despreocupado. Não nos encarava realmente, mas seu olhar se dizia desaprovador. “O que diabos ele estava fazendo?” - pensei.

– Ninguém pediu sua opinião O’Connor. – grunhiu Andrew, antes que eu percebesse o que estava acontecendo realmente.

– Dave... – sussurrei. Caminhei até ele o observando desgrudar da parede.

– Qual o problema, Lissa? Vai pedir pra eu sair e vocês poderem se agarrar no meio do colégio?

Andrew parecia repreendido, seus pulsos já estavam cerrados e antes que ele pudesse protestar, eu o adverti.

– Ninguém estava fazendo nada disso, Dave. Apenas vá.

– Não se preocupe Lissa, não vou brigar com seu precioso Andrew.

Dave o encarou por mais um segundo e saiu batendo pé pela calçada. Suspirei sem saber exatamente o que dizer a Andrew, mas na verdade, ele me devia uma satisfação. Me virei, o fitando autoritária.

– Pode começar a explicar.

– O que? – ele fingiu desentendimento.

– Você sabe muito bem do que estou falando.

Andrew ficou em silêncio e eu voltei a sentar ao seu lado, apoiando as mãos em cada lado da perna.

– Não parece obvio? – ele indagou.

Agora quem não estava entendendo era eu.

– Lissa, ele está apaixonado... Por você.

– Isso não parece tão grave.

– Quer dizer que Kate não pode chegar perto de mim, mas Dave pode estar louco por você?

– Você está com ciúmes?

– Eu não confio nele.

– Você já me disse isso.

– Não é o suficiente?

– Pra se sincera, não. Para mim, ele é apenas um amigo.

O sol refletiu nos cabelos claros de Andrew formando pequenas mechas douradas, que antes não existiam. As linhas verdes de seus olhos mostrava um olhar evasivo, enquanto eu observava seu rosto incomodado. Pela linha de sua mandíbula eu podia notar seus dentes trincados. Apesar da frustração, os músculos eram relaxados sobre a pele olivácea.

– No que está pensando?

Como se minha voz o tivesse despertado, ele me encarou e sua expressão se suavizou um pouco. Seus lábios formaram uma linha fina. Um sorriso tímido, sem mostrar os dentes.

– Em nada. – mentiu.

O sinal ensurdecedor da escola tocou e tive que me despedir de Andrew.

– Eu tenho que ir.

– Nos falamos mais tarde está bem? – disse pegando meu rosto entre as mãos.

– Aham. E não fique pensando em Dave.

– Vou pensar em outra pessoa.

Andrew se aproximou e beijou meus lábios.

– Boa aula. – Sussurrou.

– Você vai lá em casa hoje.

– Vou?

– Me ajudar a estudar.

Ele sorriu e assentiu brevemente com a cabeça.

As últimas aulas passaram rápido demais, exceto pela explicação fatídica na aula de Cálculo. Fitei Ashley contemplando seu tédio. Seu rosto estava impassível, os lábios formavam uma linha reta, os olhos eram desfocados encarando o nada. Sobrancelhas formando uma curva sobre os olhos, nem arqueadas ou franzidas. Ela bocejou, apertando as pálpebras, e vi que foi difícil para ela abri-las novamente.

Quando finalmente a última aula acabou, fazendo todos jogarem seus materiais na mochila rapidamente e saírem pelo corredor a todo vigor, fui até o meu armário. Procurei pelos cadernos que precisaria e Sarah se aproximou vagarosamente de mim. Suas sobrancelhas estavam curvadas em uma expressão desconfiada. Ela apoio suas costas no armário ao lado do meu e me fitou até eu terminar de arrumar minha bolsa.

– Você está bem? – perguntei.

– Onde Andrew estava?

– Na aula?

– Não. Meu último horário é com ele, mas não apareceu. – seu semblante ainda era intrigado, enquanto avaliava meus movimentos.

– Hm, não sei. Deve ter acontecido algo, mas por que você está assim?

– Estou com um mau pressentimento.

– Sobre Andrew?

Ela respondeu apenas com um aceno de cabeça.

– Eu preciso ir. – murmurei.

– Não vai mesmo sair com nós?

– Não posso. Andrew vai me ajudar.

– Pergunte pra ele por onde ele andou.

– Está bem.

Despedi-me dela e sai pelo corredor. Sem medir meus passos, acabei esbarrando em uma menina que nunca havia visto pelo colégio. Ela tropeçou para frente e seus cabelos voaram em seu rosto, parecendo labaredas de fogo. Eles me impressionaram. Eram de um tom ruivo que nunca havia visto. Lembravam-me ferrugem. Havia algumas sardas sobre a pele clara, que contribuíam para o cabelo se sobressaltar tanto. Suas pernas eram longas e devia ser cinco centímetros mais alta que eu.

– Me desculpe. – falei sorrindo para ela.

– Não foi nada. Eu que estava distraída. – ela sorriu timidamente, escondendo ainda mais o rosto entre os longos cabelos.

Segui a caminho para casa. Contemplei o azul intenso do céu sem nuvens. O sol batia no meu jeans, fazendo a pele abaixo dele, queimar. Seria um desperdício perder os últimos dias de sol, estudando. Era quase injusto, mas também inevitável. Pensar que as jorradas de ventos eram consequência do inverno que estava por vir, fazia meus braços expostos pela camiseta se arrepiarem. Eu amava o frio, assim como a chuva, porém os poucos meses que tínhamos de inverno em St. Louis, eram doloridos o bastante para eu preferir o verão.

Joguei minha bolsa na cama assim que passei pela porta do meu quarto. Eu precisaria apenas esperar Andrew chegar para começar a estudar. Enquanto isso tomei um banho, troquei minha calça e coloquei um moletom grande demais, que fazia minhas mãos sumirem sobre a manga comprida. Aquilo era confortador.

Assim que acabei de comer meu cereal, a campainha tocou. Apressei-me para ir atendê-la. Olhos cautelosos e um sorriso torto me receberam na porta. Desviei o olhar sabendo o que aconteceria se os fitasse por apenas mais um segundo. O tempo não me fez imune à sua beleza.

Puxei Andrew para dentro de casa e seus lábios tocaram os meus suavemente.

– Eu preciso estudar. – lembrei-o.

– Eu sei. – mas ele me beijou novamente quase me fazendo esquecer o propósito dele estar ali. Quase.

O empurrei e dei uma risada.

– Estou falando sério.

– Eu também. – disse com um sorriso inocente.

Andrew se aproximou novamente, mas eu o repreendi repousando a mão em seu peito, contendo um sorriso. Subi com ele até meu quarto e coloquei meus materiais em cima da cama.

– Vamos estudar aqui? – ele perguntou.

– Acho que sim, algum problema?

– Nenhum. No que você precisa de ajuda?

– Em física, principalmente. – falei timidamente.

- Mas o conteúdo é tão fácil.

– Pra você, certo?

Ele soltou uma leve risada grave.

– Então vamos começar.

Andrew começou explicando toda a matéria com grande eficiência. Ele era um ótimo professor. Provavelmente melhor do que muitos que haviam por aí. Foi paciente e esclareceu cada dúvida minha melhor do que qualquer gênio da física teria feito.

Na maior parte do tempo eu me perdia. Não na matéria, mas sim nele. Observava o movimento de seus braços enquanto ele escrevia algo em meu caderno, os lábios se movendo de forma clara e suave, o modo como o cabelo bagunçava quando o vento entrava pela janela, como a camada grossa e comprida de seus cílios se moviam quando suas pálpebras fechavam e abriam e por último os olhos. Eu sempre haveria de deixa-los por último. Intensos, sempre avaliando cada movimento meu e atentos esperando por minha resposta.

– Lissa? Você entendeu?

Pisquei algumas vezes tentando situar-me.

– C-claro. – gaguejei indecisa.

Ele ergueu as sobrancelhas e riu.

– Então acho que acabamos.

– Ainda não. Vou fazer mais alguns exercícios.

– Você já estudou o suficiente.

– Só mais alguns exercícios, está bem?

Andrew revirou os olhos e esticou as pernas ao meu lado na cama, ficando atrás de mim e apoiando o queixo em meu ombro. Peguei meu caderno colocando-o sobre a perna cruzada em cima da cama e comecei a refazer os exercícios da apostila.

Porém meu tempo de concentração acabou rápido. Andrew se aproximou e depositou um beijo leve e provocador em meu braço.

– Eu iria dizer que você é um bom professor, mas professores não podem desconcentrar suas alunas.

Outro beijo em meu ombro.

– O que eu estou fazendo de errado?

Encarei seu olhar modesto, enquanto ele beijava novamente meu ombro. Voltei minha atenção para o caderno, ciente da boca de Andrew cada vez mais próxima de meu pescoço.

– Nós estamos estudando a tarde toda. – disse.

Fingi não escutar seu protesto e seus lábios quentes subiram até meu pescoço, divertido e atrevido.

– Você está arrepiada. – sussurrou com a voz rouca em meu ouvido, enquanto seus dedos roçavam meu braço.

Respirei fundo algumas vezes, buscando por autocontrole, mas foi em vão. Sua mão segurou meu queixo, fazendo encara-lo, mesmo contrariada. Meus pensamentos desligaram por alguns segundo, mas foi o suficiente. Não pensar e agir. O que era frequente quando eu estava com Andrew. Bastava ceder ao autocontrole que ele me dominava.

Com um baque, meus materiais voaram de meu colo para o chão. Minha boca agarrou-se com a de Andrew com força. Uma perna em cada lado de seu corpo, enquanto eu o afastei e o empurrei. Andrew caiu sobre meu travesseiro e me puxou para ele.

– Acho que isso é melhor que estudar física, não é?

– Shh. – o repreendi, colocando um dedo sobre seus lábios que se curvaram em um sorriso bobo.

O beijei, querendo sufoca-lo. Não sabia se sentia mais raiva ou desejo.

Suas mãos seguraram a lateral de minhas coxas e a minha deslizou por seu peito e se entrelaçou em seus cabelos. Outra jorrada de vento entrou em meu quarto, fazendo um arrepio percorrer por minha espinha. Andrew me apertou mais ao seu corpo e seus lábios seguiram para meu pescoço enquanto eu arquejava.

Fomos interrompidos por um estrondo no andar inferior que me fez desgrudar de Andrew. Sentei em sua barriga me concentrando em identificar o barulho.

– Lissa? – tia Rose gritou.

– Droga. –insultei baixo. – Arrume meus materiais e a cama.

Sai da cama em um pulo e Andrew fez o mesmo. Destranquei a porta e gritei pelo corredor.

– Estou aqui tia!

Pelo meu quarto consegui vê-la colocar a chave sobre a bancada do hall de entrada e deixar o casaco no sofá. Ela começou a subir os degraus da escada e olhei para trás.

– Você termi... – parei no meio da frase, observando o quarto perfeitamente organizado.

– Oi Lissa. – ela olhou entre a porta. – Andrew?

– Oi Srta. Hathaway.

– Por que estavam com a porta trancada?

– Estávamos estudando. – indiquei para os materiais espalhados sobre a cama.

– Você parece que andou correndo. – suas sobrancelhas estavam juntas, enquanto ela me avaliava desconfiada.

Respirei fundo algumas vezes, tentando controlar minha respiração.

– Não. – disse desentendida.

– Bom, vocês querem comer alguma coisa?

– Você quer Andrew? – perguntei a ele.

– Por mim, tudo bem. – ele abriu um sorriso angelical para minha tia.

Ela começou a sair de meu quarto, mas parou abruptamente ao pé da escada.

– Ah Andrew, tem um pouco de brilho labial aqui. – disse gesticulando com o dedo o canto de sua boca e desceu a escada dando uma risada baixa.

Me virei para ele e encontrei sua expressão de desentendimento. Tentando conter o riso, caminhei até ele.

– E ela tem razão.

Fiquei na ponta dos pés e dei um beijo no canto de sua boca.

– Você sabe que isto está apenas piorando, não é? – disse se referindo ao beijo.

– Aham. – Sussurrei e toquei seus lábios novamente. – só foi uma desculpa pra poder beijá-lo.

– Você não precisa de desculpas para isso.

Os olhos de Andrew cintilaram quando sua boca moveu em minha direção. Desviei antes de nossos lábios encostarem, fazendo-o beijar apenas minha bochecha. Ele se demorou um pouco e prendi seu pescoço com os braços, o abraçando. Ele enterrou a cabeça entre meus cabelos, enquanto eu respirava seu perfume inebriante.

Parecia tortura ter que deixá-lo naquele momento. Cada vez que ele partia, eu tinha medo dele desaparecer. Como se ele simplesmente fosse me abandonar, deixando apenas a dor que eu já estava tão acostumada.

Apertei-me mais a ele, sem nunca mais querer largá-lo. Deixei seus braços e o calor de sua pele me aninharem. Andrew depositou um beijo no alto de minha testa e nos afastamos.

Depois de comermos a comida preparada por minha tia, Andrew foi embora. Nos encontraríamos no jogo da escola daqui uma hora, o que me daria tempo de me arrumar e tia Rose me levar. Troquei o moletom e a calça jeans, ambos já velhos e surrados, por outra calça e uma blusa que havia comprado recentemente com um casaco.

Estava mais frio do que eu pensara. Quando cheguei ao colégio, logo Ashley e Sarah se juntaram a mim. As duas com os braços e pernas expostos pelo minúsculo uniforme e encolhidas pela friagem.

– Ah meu Deus, vocês devem estar congelando.

– Imagina! – disse Sarah de modo sarcástico.

– Mas já vamos fazer o aquecimento e esperamos nos esquentar um pouco. – Ashley pensou positivo. – Nos vemos mais tarde?

– Sim. Estarei na arquibancada.

– Está bem. E arrasem. – abri um sorriso encorajador para elas.

O colégio estava decorado por bandeiras de nosso time, enquanto um enorme espantalho estava em chamas com a camiseta do time adversário. Todos estavam ansiosos, almejando conseguir a vitória da terceira rodada do campeonato regional. Adolescentes passavam por mim com copos carregados de bebidas, sem notar minha presença. Eu apenas seguia a multidão olhando para o chão úmido e manchado de cacos de vidros. Avistei as líderes de torcidas ao lado do time de futebol, levando seus pompons vermelhos ao alto. “Encorajar e animar” – esse sempre fora o lema delas, desde quando eu sonhava em fazer parte daquilo.

Assim que todos os estudantes se aquietaram, o treinador pegou o microfone, ditando as palavras que haviam sido decoradas:

– Nos anos anteriores, deixamos outros times entrar em nossa escola e nos massacrarem. Mas isto está preste a mudar. Vocês estão preparados para o jogo de hoje? – todos gritaram um “sim” em aprovação. - E para vocês que esperam um troféu na prateleira, devo dizer: Os Rams estão famintos!

Seguiu-se uma salva de palmas e assovios animados e eu acompanhei batendo palmas também. Pelo que percebi o time havia conseguido novos jogadores e no meio deles se encontrava Dave. Antes que entrassem em campo, ele se aproximou de mim e me agarrou em um abraço apertado. Surpresa e sem reação, apenas descansei minhas mãos em suas costas, torcendo para que Andrew não visse aquilo. Depois de alguns segundos, Dave se afastou e em seus olhos azuis havia estampado um brilho bobo.

“Aquilo era por minha causa?” me perguntei.

– Vejo você depois do jogo. – Dave disse já correndo em direção ao campo.

– Boa sorte!

Sentei nas arquibancas abarrotadas de pessoas, assistindo as líderes de torcida, incluindo Sarah, Ash e claro, Kate.

– Você sente falta daquilo?

Andrew sentou-se ao meu lado e me deu um beijo. Eu sorri para ele e desviei o olhar, refletindo sobre o que havia perguntado.

– Acho que sim.

Ser líder de torcida tinha marcado uma época feliz na minha vida. E assistir aquilo de novo, era nostálgico.

– Seus olhos estão brilhando quase como os de Dave quando abraçou você.

Cocei o lado da cabeça, o fitando, envergonhada.

– Você viu aquilo? – perguntei já sabendo a resposta. Minha voz saiu quase em um sussurro.

– Vou fingir que não.

Eu não entendia muito bem de jogos, mas pelo que pude assimilar nosso time estava indo bem. Dave tomava a posição de lançador e definitivamente era um dos jogadores mais eficiente do time. Brian trabalhava em conjunto com Dave, e Matt – pelo que me lembrava – exercia a posição mais importante do jogo, algo como tackles left. Outros que eu reconhecia vagamente por algumas aulas, se chocavam com os jogadores do time competidor. Estávamos na metade do jogo quando o placar marcou mais um ponto para nosso time, fazendo toda a arquibancada clamar de alegria. Já haviamos feito três touchdowns, ganhando 18 pontos, enquanto o time adversário tinha apenas 10. Ter estado com Matt e ser líder de torcida, tinham me presenteado de alguma forma. Eu sabia mais de futebol americano do que imaginara.

A cabeça de Andrew girou na direção contraria do campo um segundo antes de um grito calar toda a multidão. Todos ficaram em silencio, em tensão. O mesmo grito soou pela segunda vez atrás das arquibancadas. Antes que o tumulto começasse, Andrew ficou de pé e desceu da arquibanca. Segui-o, enquanto outros adolescentes faziam o mesmo.

– O que está acontecendo? – perguntei a Andrew quando o vi agachado ao lado de um corpo.

– Fiquem ai. – a voz de Andrew era autoritária e apenas alguns professores se aproximaram.

– Liguem para a ambulância. – ordenou o treinador.

Por entre as pernas de Andrew pude ver uma mancha vermelha no chão. Andei lentamente até ele, identificando o corpo de uma garota. Suas pernas eram longas, os cabelos cor de ferrugem me impressionaram novamente. Engoli em seco e meu peito se encheu de angústia quando observei a mesma garota que havia encontrado na escola hoje mais cedo, deitada imóvel na terra úmida. Algo como uma mordida manchava seu pescoço claro e perfeito. O sangue gotejava descontroladamente pela ferida aberta sujando sua blusa. Meu estomago se embrulhou.

– Ela está... Morta? – sussurrei.

– Lissa, eu falei pra você não vir aqui. – contrariou Andrew.

Me ajoelhei ao lado dele, segurando uma mecha do cabelo da garota na mão. Senti meus olhos formigarem e as lágrimas se acumularem neles, mas funguei para espantá-las.

– Está? – perguntei exigindo uma resposta.

– Acho que sim. Ela perdeu muito sangue.

Um gemido agoniado escapou por meus lábios.

– Quem poderia ter feito isso? – murmurei.

– Lissa, por favor, não fique aqui.

– Eu a levo daqui. – Dave disse atrás de nós.

Avaliei a expressão de Andrew, mas ele apenas acenou com a cabeça.

– Te encontro nas arquibancadas. – ele disse.



– Estão dizendo que foi um vampiro. – afirmou Sarah.

– Isso é ridículo. – sussurrei.

Eu estava nas arquibancadas com Sarah, Ashley, Matt e Dave. O que eu mais queria era ir pra casa. A imagem da ambulância chegando e os pais da garota chorando ao lado do corpo não saiam de minha cabeça, apenas fazia um nó crescer em minha garganta.

– Estou falando sério.

Revirei os olhos em desdém.

– É sério Lissa. Pelo menos é o que estão dizendo sobre todos os suposto ataques de animais.

– E você acredita em tudo o que ouve?

– Da onde sairiam animais selvagens de St. Louis? – perguntou Ashley.

– E mais... – completou Sarah. – Corpos com o sangue drenado. Mordidas no pescoço ou pulso, ou seja, onde é mais fácil alcançar a veia. Nada de pegadas de animais. – ela subia um dedo a cada argumento. – Não é a primeira vez que isso acontece. De tempos em tempos ocorrem esses ataques.

– Uau, isso é sinistro. – disse Matt.

– Não é sinistro. Uma garota acabou de morrer por causa disso. – vociferei para ele.

– Eu sei, eu estava falando dos vampiros. – Matt levantou a guarda.

Andrew apareceu ao pé da arquibanca, as mãos no bolso da frente de seus jeans, a expressão cautelosa.

– Tiveram alguma informação sobre a garota? – perguntou Dave.

– Ela está viva, mas ainda desacordada.

Soltei um suspiro de alívio e desci os degraus da arquibancada.

– Você me leva pra casa? – perguntei.

– Acho que não. – Andrew me fitou sério e um sorriso sarcástico desenhou seu rosto.

– Então, eu vou indo. – falei para meus amigos. – Nos vemos segunda.

– Tchau Lissa. – se despediram.



– Você conhecia aquela garota? – Andrew perguntou, enquanto caminhávamos até seu carro.

– Eu esbarrei nela hoje na aula. E você?

– Não.

– Estão dizendo que tudo isto que está acontecendo, os ataques, são de... – mordi o lábio. - Vampiros.

– E você acredita nisso?

– Não sei. Os argumentos de Sarah foram convincentes.

Andrew ficou em silencio por alguns minutos e antes de entrar no carro levantei os olhos, observando o local. Um nevoeiro caia sobre nós, o que dificultava identificar algo entre a escuridão. A polícia havia vasculhado por toda a floresta e por cada mínimo lugar daquele colégio, mas foram embora sem encontrar nada.

Tranquei minha respiração ao notar o corpo de um homem apoiado a cinco carros do de Andrew. O capuz do casaco preto projetava uma sombra, cobrindo grande parte de seu rosto, mas não escondia o sorriso maligno. Pelo casaco com o fecho aberto, pude perceber em sua camiseta uma mancha vermelha e úmida. Sangue.

– Andrew... – sussurrei.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, espero que tenham gostado!
Demorei a postar, porque tive que pensar muito no futuro da história antes de fazer os acontecimentos e em compensação fiz o capítulo um pouquinho maior.
Comentem por favor :)



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