Sophie abriu os olhos lentamente, o ar voltando gradativamente aos seus pulmões. Mais uma vez, o mundo à sua volta parecia cinzento e nebuloso, fazendo-a acreditar que seu plano havia, de alguma forma, dado certo.

Colocou-se de pé sem dificuldades, surpresa ao notar que a dor lancinante que dominava seu peito poucos instantes antes havia desaparecido. Instintivamente, levou a mão à altura de seu coração. A blusa estava úmida e pegajosa, comprovando que Mikael a havia mesmo empalado.

— Estou mesmo morta - murmura para si mesma. - Isso é muito louco….

— Sim, você morreu... Mas algo me diz que essa condição não é assim tão permanente - uma voz familiar soa às suas costas, fazendo a garota se virar rapidamente.

— Sam!!! - exclama, lançando-se nos braços dele. - Não acredito que é mesmo você, senti tanto a sua falta - completa, os olhos marejando.

— Também senti a sua - o garoto responde, com a voz embargada. - Aliás, estava só esperando por você.

— Me esperando? O que quer dizer?

— Sua amiga Sofia me pediu para te agradecer por tudo que fez - Sam responde, olhando a garota com carinho. - Soube que virou uma heroína!

— Na verdade, virei um alvo - a loira comenta com um meio sorriso, apontando para a mancha vermelha na roupa. - Mas onde está a Sofia?

— Ela finalmente está livre! Com a morte de Esther a ligação entre as duas se rompeu, permitindo que sua ancestral pudesse enfim descansar - ele explica, tomando as mãos da amiga nas suas. - Talvez goste de saber que Alfredo partiu com ela. A irmã pôde perdoá-lo, assim ele mesmo conseguiu se perdoar.

— E, bem... Sobre o Finn? Soube de alguma coisa? - Sophie indaga, sentindo-se um tanto culpada por perguntar justo a Sam sobre aquele que mudara radicalmente sua vida.

— Ainda está por aqui - diz ele, com um suspiro. - Parece que ainda tem muito pelo que pagar e perdoar.

— Mas…. E você?

— Já disse: estava te esperando! Preciso me despedir da minha melhor amiga pra poder seguir em frente, sabia?

— Oh Sam! - a loira murmura, puxando-o para um abraço apertado, que pareceu durar menos do que deveria.

— Nossa hora chegou. Adeus Soph! - Sam murmura em resposta, desaparecendo em uma névoa branca.

**********

Stefan andava de um lado para outro no quarto, os braços cruzados junto ao peito. Damon, por sua vez, mantinha-se sentando na poltrona próxima da cama, as mãos indo dos braços do móvel para os cabelos escuros e vice-versa. Já Elijah estava sentando na cama, com a expressão cansada e os olhos vermelhos, as mãos envolvendo uma das mãos gélidas de Sophie, que jazia sobre a cama em seu quarto na mansão dos Salvatore.

No instante que se seguiu à última batida do coração do Sophie, Elijah sentiu o mundo ruir ao seu redor mais uma vez. Ali estava a mulher que amava, coberta de seu próprio sangue e arcando com as contas de sua família problemática. Ela havia partido, do jeito que ele sempre temera desde que se deixara aproximar daquela menina.

Ou assim ele pensou por alguns minutos, antes de Kol aparecer ao seu lado. O irmão pareceu em choque por breves instantes, mas logo recuperou o foco e contou o que Sophie havia lhe pedido. O mais novo dos Mikaelson dera seu sangue à garota, e ela o havia bebido pouco antes de entrar no prédio da escola. A prima de Stefan havia descoberto que apenas sua morte livraria a todos de Mikael; que a permanência dele em posse do corpo de Alaric dependia diretamente da vida dela. Havia sido por isso que ela se deixara capturar tão facilmente por Mikael, e graças ao sacrifício dela a alma cruel do patriarca dos Mikaelson havia sido destruída definitivamente.

Saber disso não diminuíra em nada a dor do mais nobre dos Originais. Desde o momento da morte da garota até aquele instante, ele não saíra do lado dela. Em parte, por culpar-se por tudo aquilo. Mas, maior do que a culpa, seu coração ansiava desesperadamente pelo momento em que mergulharia outra vez no verde dos olhos de Sophie, onde sabia que encontraria tudo aquilo de que precisava.

— Ela já deveria ter despertado, não acham? - diz Stefan, passando as mãos pelos cabelos, um misto de ansiedade e sentimento de impotência transbordando de seu peito.

— A pirralha nunca foi uma fiel cumpridora de regras, irmão - Damon responde, com um sorriso triste. - Ela vai continuar enrolando só pra me aborrecer, pode apostar!

Mais uma vez, os olhos de Sophie se abriram, o ar voltando com a força de uma onda furiosa aos seus pulmões, o mundo agora vivo e brilhante ao seu redor.

— Sophie! - Elijah murmura, ajudando-a a se sentar e puxando-a para seus braços em seguida. - Achei que tinha perdido você pra sempre - continua, beijando-a delicadamente na testa. - Imaginei diversas maneiras de acabar com a minha própria vida só pra ter a chance de segui-la. Nunca mais me deixe desse jeito, está bem? Eu preciso de você ao meu lado amor, pra sempre!

— Sempre e para sempre - ela responde, unindo seus lábios aos dele suavemente enquanto o abraçava ainda mais apertado.

— Como está se sentindo, baixinha? - Damon indaga, agora de pé ao lado da cama.

— Como se tivesse acabado de voltar dos mortos - a loira responde, desvencilhando-se do abraço do noivo e puxando o vampiro de olhos azuis para se sentar ao seu lado. - Minha cabeça dói, a claridade está me incomodando, meus dentes parecem querer fugir das minhas gengivas e meu estômago está se auto-digerindo... E mesmo assim não poderia estar melhor. É bom ver você, é bom ver vocês dois - diz ela sorrindo, estendendo a mão na direção de Stefan para que ele sentasse do outro lado junto dela.

— É bom ver você também, irmãzinha - o mais novo dos Salvatore responde, deixando uma lágrima escapar e escorrer pelo rosto. - Não sei se conseguiria cuidar do Damon sozinho outra vez - completa com um sorriso, puxando os outros dois para um abraço apertado.

— Esse momento fraternal é emocionante, mas preciso interromper - a voz de Kol os surpreende. - Ciao principessa!— continua, tomando o lugar de Damon ao lado da garota e abraçando-a apertado. - Você conseguiu, Soph.

— Nós conseguimos! Não teria feito muita coisa sem a sua ajuda - ela murmura, sem se desvencilhar do abraço. - Obrigada.

— Não me agradeça... Te dei um presente de grego, que costuma vir com mais contras do que prós - o mais novo dos Originais responde com um sorriso enigmático, colocando-se de pé em seguida. - Em todo caso... Se precisar de alguma ajuda com os "contras", estou à sua inteira disposição - continua, com uma piscadela. - Agora... Acho que vocês têm algumas coisas pra conversar, e há uma vampira loira surtada lá embaixo esperando por notícias suas! Vou deixá-los a sós - completa, seguindo Damon e Stefan para fora do quarto e deixando-a sozinha com Elijah.

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Assim que a porta do quarto se fechou atrás de Kol, Elijah sentou-se onde poucos instantes antes Stefan estivera, puxando Sophie para perto de si. A loira se aconchegou em seu colo, o rosto junto do peito do moreno, levemente embriagada por seu perfume inconfundível.

O Original, por sua vez, já se sentia mais calmo. A dor e a culpa que o atormentavam pouco tempo antes acabaram vencidas pela felicidade e pelo alívio de ter aquela garota junto de si mais uma vez.

— Como você está? - o moreno indaga, tocando gentilmente o queixo dela para que olhasse em seus olhos.

— Ficarei bem - ela responde, depositando um selinho nos lábios do noivo em seguida. - Elijah, eu…. Eu gostaria de poder me desculpar por ter ido de encontro ao Mikael sem seu conhecimento, mas não posso. Eu precisava enfrentá-lo sozinha e deixá-lo pensar que sairia vitorioso dessa vez, mas você teria se lançado na minha frente ao menor sinal de perigo - Sophie prossegue, séria. - Eu precisava salvar você, sabe? Só pra variar um pouquinho!

— Você já me salvou há muito tempo, amor. Não sei se é correto afirmar, mas por mais fúnebre que possa parecer, acho que me salvou na manhã em que a vi naquele cemitério em Torino. Naquele momento, no qual julguei finalmente ter perdido o juízo, o universo me presenteou com você - diz ele, acariciando o rosto da garota e unindo seus lábios aos dela em seguida, num beijo profundo. - Obrigado - completa com um sorriso, afastando o rosto apenas o necessário para que pudesse se perder no mar verde daquele olhar.

— Disponha - a garota responde com os olhos marejados, abraçando-o apertado e deixando-se ficar ali em silêncio, sentindo-se embalar pela respiração cadenciada de Elijah.

O casal permaneceu assim por um longo tempo, imersos em um universo particular, seguros nos braços um do outro. Quando se sentiu mais relaxada, a loira pediu licença e se dirigiu ao banheiro, onde livrou-se da camisa ensanguentada e deixou parte do cansaço e da dor escorrer pelo corpo junto com a água quente do banho.

Quando voltou ao quarto, já vestida e com os cabelos ainda úmidos, deparou-se com Elijah de pé junto à janela, segurando uma caixinha de madeira nas mãos.

— O que você tem aí, Sr. Mikaelson? - Sophie indaga com um sorriso, aproximando-se dele.

— Isto? - diz ele, balançando a caixa e devolvendo o sorriso. - Nada demais….

— Elijah! - a loira retruca, com um biquinho.

— Escute…. - o moreno pede, aproximando-se dela e ajeitando uma mecha teimosa de cabelo atrás da orelha. - Você está em transição agora, Soph - continua, reparando nas grandes manchas arroxeadas sob os olhos da garota. - E isto - diz ele, retirando a tampa da caixa - é o necessário para o próximo passo, se estiver pronta pra aceitar a eternidade ao meu lado.

Sophie estendeu uma das mãos e tocou no pequeno frasco aninhado em veludo. A mera visão do líquido vermelho fez sua garganta arder como se tivesse acabado de engolir uma tocha, e a dor nos dentes caninos deixou-a momentaneamente desnorteada.

Passado o primeiro instante, sua atenção voltou-se para o colar que jazia ao lado do frasco de vidro. A corrente era feita em prata delicadamente trabalhada, e o pingente trazia um lápis-lazúli lapidado no mesmo formato que as pedras dos anéis de Damon e Stefan, decorado nos mesmos padrões e com a letra S de seu nome.

— Isso é….

— Sua proteção contra a luz do Sol - o Original responde, colocando a caixa sobre o peitoril da janela e pegando o colar. - Minha intenção, na verdade, era lhe dar um anel do Sol como a da família Mikaelson, mas Stefan e Damon foram categóricos em dizer que você é uma Salvatore, e merece a joia da sua própria família - continua, colocando-se às costas da garota para que pudesse prender o colar em seu pescoço. - Bonnie foi muito generosa e já lançou o feitiço sobre ele, estará devidamente protegida.

— Obrigada - Sophie sussurra, virando-se para o noivo e enlaçando o pescoço dele para depositar um selinho em seus lábios. - E agora…. - continua, respirando fundo - Um passo mais perto, rumo à eternidade - completa, levando o frasquinho aos lábios.

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Algumas semanas depois….

Rebekah andava de um lado a outro em seu quarto, sentindo como se mil borboletas estivessem se debatendo em seu estômago. Ansiava por aquele dia havia um longo tempo, e mesmo assim ainda tinha medo de estar apenas sonhando e acordar sozinha em algum lugar frio e escuro.

A vampira olhava pela janela naquele instante, momentaneamente entretida pela movimentação no jardim da propriedade de sua família, quando uma batida à porta chamou sua atenção.

— Bekah? - era Sophie, espiando pela fresta de porta aberta. - Posso entrar? Sei que estou….

— AI MEU DEUS! - a Original exclama, levemente histérica, puxando a outra para um abraço apertado. - Vejam se não é a minha madrinha preferida! - continua, afastando-se apenas o suficiente para encarar a garota à sua frente - Finalmente está aqui, Soph. E... Wow! Cortou o cabelo? - questiona surpresa, vendo o novo corte de cabelo da cunhada, totalmente desfiado e alguns centímetros acima da altura dos ombros. - Está linda!

— Obrigada! Precisava me renovar por fora pra acompanhar todas essas mudanças internas – responde, sentindo-se lisonjeada. - Além do mais, que tipo de madrinha eu seria se não comparecesse ao seu casamento? E até onde sei, sou a única. - a mais nova vampira exclama, sorrindo.

— Isso é verdade, mas não deixa de ser a favorita. Fico feliz que esteja aqui, de verdade!

— Desculpe não ter estado por perto pra ajudar na organização de tudo, nem pra surtar na hora de escolher seu vestido perfeito, e nem pra escolher a valsa dos noivos - a garota Salvatore responde, com os olhos levemente marejados. - E bem... Sei que não sou a Caroline, a super diva e expert em moda, mas se quiser, posso te ajudar com o cabelo e a maquiagem.

— Eu adoraria, obrigada - Rebekah responde, puxando a outra consigo até a penteadeira, onde sentou-se na cadeira acolchoada. - Vou precisar de ajuda com os cachos - continua, apontando para o babyliss. Enquanto Sophie separava as longas mechas douradas da Original para modelar os cachos, a noiva analisou toda a produção de sua madrinha: um vestido de chiffon em rosa envelhecido, justinho no corpo e com a saia toda em camadas, conferindo um ar de sutileza e movimento à peça. Junto ao detalhe em pedrarias da gola, trazia seu colar de lápis-lazúli; e os cabelos mais curtos estavam delineados em grandes ondas. - Você está deslumbrante, sabia? - indaga, com um sorriso travesso. - Acho que vou passar despercebida no meu próprio casamento.

— Deixa de ser boba - a prima de Damon responde, finalizando o penteado da noiva. - Sei que ao menos Stefan só terá olhos pra você - completa, aos risos.

Uma nova batida à porta fez com que as duas parassem de rir e se voltassem rapidamente na direção do som. No instante seguinte, Caroline apareceu à porta, parecendo superansiosa. Vinha pronta para a cerimônia, num vestido de chiffon amarelo com corpete estilo cortininha e cinto de pedrarias.

— Como está a noiva? Está tudo pronto lá embaixo e... - ela paralisa momentaneamente, o olhar passando de Rebekah para Sophie. - Você voltou! - continua, correndo de encontro a melhor amiga e abraçando-a apertado. - Como foram as coisas com o seu avô? Bom , deve ter dado tudo certo, porque está tão diferente, tão... Nem consigo explicar!

— Obrigada, eu acho - a garota Salvatore responde, levemente sem graça. - Agora…. O que estava dizendo? Está tudo pronto?

— Oh, sim. Os convidados estão todos aí, o juiz também está a postos e o noivo não para de andar de um lado para outro, esperando o sinal para caminhar até o altar. Damon também já está a postos, esperando a madrinha da noiva.

— Precisamos de mais alguns minutinhos - diz Rebekah, mal conseguindo se manter sentada. - Maquiagem e vestido, e então estarei pronta pra descer.

— Tudo bem, noivas sempre atrasam um pouco mesmo. É totalmente aceitável. Volto em alguns minutos - a namorada de Klaus responde, deixando-as a sós mais uma vez.

Nos minutos seguintes, Sophie finalizou a maquiagem da noiva, com os olhos bem marcados, sombra mais clara e lábios de um vermelho intenso. Com a make completa, era a hora de abandonar o roupão felpudo e vestir o vestido de noiva estilo vintage, inspirado na década de 20, época em que Rebekah e Stefan haviam se conhecido. A peça com top de rendas em tule e cintura baixa, com alças descendo ao longo das costas, proporcionando um lindo decote parecia feito sob medida para a garota Mikaelson. Conseguia, de alguma maneira, captar a essência da noiva e da época em que se apaixonara pelo primo de Sophie. O último toque foi dado com a headband de renda com aplique de flor vermelha e detalhes champanhe.

— E então…. Como estou? - a Original indaga, de frente para o espelho.

— Está estonteante, simplesmente perfeita! - Sophie responde, fazendo-a virar-se de costas para o espelho. - Sua hora chegou. Está pronta?