Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.

Confúcio

– Capítulo Setenta e Três –

Alívio do Perdão

Melanie se encontrava em seu quarto na mansão Malfoy. O choque do que acontecera com Rose a fez se decidir passar o feriado em casa. Era certo que Melanie sentia uma grande mágoa da prima pelo que ela fez referente à Blake, mas, no fundo Melanie sabia que Rose nunca pensaria que isso levaria a morte dele.

Enquanto escovava seus longos cabelos loiros de frente ao espelho de sua penteadeira, ela pensava em como que Rose deveria estar, como era esse estado vegetativo que se encontrava. Ela suspirou, pegou sua capa de viagem e saiu do quarto, descendo alguns lances de escada após passar por um corredor.

– Josh! – Melanie disse correndo para abraçar o amigo assim que o viu no hall de entrada.

– Como você está? – ele perguntou preocupado.

– Bem. Mas não sei como vou ficar assim que vê-la. – Melanie respondeu apreensiva.

– Eu vou estar com você. – disse Josh com um sorriso sincero.

– Obrigada por vir. – disse Melanie agradecida – Eu acho que não conseguiria fazer isso sem você.

Josh assentiu e Gina apareceu com Andrew no hall.

– Que bom que veio Josh. – disse ela o cumprimentando – Draco foi à frente com Lúcio e Narcisa. Iremos quando estiverem prontos.

Melanie deu um sorriso mínimo sabendo que sua mãe dizia isso mais ela do que para o outros. Ela assentiu e os quatro saíram da mansão em direção ao jardim, Gina e Andrew foram os primeiros a desaparatar.

– Está pronta? – Josh perguntou e Melanie assentiu. Os dois desaparataram em seguida.

Aparataram no Beco Diagonal, em frente ao Hospital San’t Mungus. Gina e Andrew os esperavam e os quatro entraram juntos no hospital. Eles seguiram em direção a um elevador no fundo da recepção e Gina apertou o botão de “quarto andar”. Melanie de repente ficara muito nervosa, depois de tanto tempo ela estaria cara a cara com Rose outra vez, e ainda não sabia se essa era uma boa ou má ideia.

– Estavamos esperando vocês. – disse Harry assim que eles saíram do elevador.

Harry estava acompanhado de Draco, Sarah, Allan e Lúcio. Eles estavam sentados na recepção do quarto andar e Melanie percebera no quanto os olhos de Sarah estavam vermelhos.

– Os outros já vieram? – Gina perguntou deprimida.

– Alguns desceram pra comer alguma coisa e outros estão no quarto – respondeu Lúcio lançando um olhar de preocupação a sua neta.

– Vamos? – Gina perguntou a Melanie.

– É... agora não. – disse Melanie nervosa – Eu vou depois... estou um pouco enjoada.

– Tudo bem meu anjo. – disse Gina amável – Vem Andy.

Melanie observou sua mãe e seu irmão entrarem em um dos quartos. Josh instintivamente pegou em sua mão e a levou para se sentar em um dos sofás.

– Fico feliz que tenha vindo Josh. – disse Draco satisfeito – Assim você pode assinar de uma vez os documentos. Trouxe a procuração do seu pai?

– Trouxe sim, Sr. Malfoy. – disse Josh retirando do bolso uma folha simples de papel. – Tem problema não ser em pergaminho? Meu pai digitou no computador.

– Não tem problema. – disse Draco pegando a folha e entregando alguns rolos de pergaminhos a Josh – Seu pai não quer mesmo assumir a herança?

– Não. – disse Josh dando de ombros – Ele disse que tem tudo o que precisa.

– Então, diante da procuração, você se torna o herdeiro universal da família Black. – disse Draco apertando a mão de Josh.

– Obrigado Sr. Malfoy. – Josh agradeceu, mas, naquele momento via-se que estava mais preocupado com Melanie, que estava sentada olhando para as próprias mãos, do que com a herança que acabara de receber.

Eles permaneceram ali por um bom tempo e Melanie não se manifestava em entrar para ver a prima. Foi quando todos desceram para comer alguma coisa e estavam apenas Josh e Melanie da recepção, que ela decidiu.

– Acho que... vou entrar agora. – disse ela respirando fundo.

– Você quer que eu vá junto? – Josh perguntou.

– Não. – Melanie respondeu se levantando – Eu quero ficar um pouco sozinha com ela – disse firmemente.

– Se precisar, me chama.

Melanie assentiu e se dirigiu até a porta do quarto a abrindo em seguida. Ela fechou a porta atrás de si, e se virou para encarar a prima. O choque não foi forte a primeiro momento, Rose se encontrava deitava na cama, coberta por um lençol branco, seus cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro. Vários pacotes de ovos de páscoa se encontravam em cima de uma mesinha. Foi quando Melanie se aproximou, que viu a nova realidade de Rose. Ela estava muito pálida e também havia emagrecido, Rose era apenas um corpo sem vida descansando em um leito de hospital, a única manifestação de vida que se encontrava em Rose, eram os seus olhos azuis que permaneciam abertos, mas, até mesmo estes, pareciam sem vida encarando o nada.

– Rose? – Melanie chamou baixinho quando se aproximara da prima – Você consegue me ouvir? Se lembra de mim?

Como era esperado, não houve nenhum tipo de manifestação por parte da ruiva, seus olhos continuavam encarando o nada e às vezes davam uma piscada preguiçosa, mas, esse era o único ato que indicava que Rose estava viva, pois, até a sua respiranção era fraca.

– Eu... queria que soubesse que... eu não estou feliz por você estar assim. – disse Melanie nervosa e se perguntando se Rose conseguia ouvi-la. – Eu tenho todos os motivos pra te odiar, mas... acho que não consigo.

Melanie suspirou e uma lágrima involuntária rolou pelo seu rosto.

– Eu sei que nunca fomos amigas... bom eu nunca entendi por que você sempre me odiou, mas, isso não importa agora – ela disse limpando a lágrima – Você está nessa situação e eu não sei se... você vai voltar um dia, mas, espero que como uma verdadeira Grifinória, você lute e... volte pra sua família.

Melanie realmente não esperava que Rose de repente se levantasse e desse um abraço nela, mas, falar com uma pessoa sem receber resposta alguma, era irritante.

– Ok, eu acho que já vou. – disse Melanie retirando do bolso um pequeno ovo dourando dentro uma caixinha de cristal e colocou em cima da mesinha junto com os outros. – Não é de comer, é feito de ouro, mas... eu pedi que gravassem Grifinória nele, eu acho que... você vai gostar.

Melanie se precipitou até a porta para sair, mas, antes ela se virou e disse aquilo que ela mais queria, desde que decidira ir ao hospital.

– Rose eu... eu te perdoo. – disse Melanie soltando outra lágrima antes que saísse do quarto, mas, sem saber que a ruiva deixada para trás, também deixara cair uma lágrima.

***

Melanie retornara a Hogwarts no dia seguinte, não era novidade que ela não gostara como a prima se encontrava, mas, de alguma forma, Melanie se sentia aliviada, aliviada por ter finalmente tirado aquela mágoa do peito em relação a Rose.

– Vem comigo, eu tenho uma surpresa. – disse Allan de repente tirando Melanie da atenção do livro que lia.

– Estou estudando Allan. – disse Melanie entediada.

– Nós dois sabemos que você não está realmente estudando. – disse Allan girando os olhos – Vem comigo, você vai gostar.

– Já passa do toque de recolher...

Allan não esperou que Melanie terminasse e a puxou pela mão em direção à saída do salão comunal.

– Você nunca ligou para o toque de recolher mesmo. – disse Allan animado praticamente correndo com Melanie pelo corredor.

Melanie preferiu não xingar Allan porque muito provavelmente seriam pegos se o fizesse.

– A sala precisa? – disse Melanie quando se aproximaram do corredor em que a sala normalmente aparecia – Como eu não adivinhei antes?

Allan sorriu e a puxou pra dentro da sala assim que a porta apareceu e para surpresa de Melanie, Matthew, Lana e Sarah estavam lá dentro.

– O que está havendo? – Melanie perguntou confusa.

– Bom. – Matthew começou – Allan disse que você voltou a tocar e...

– Gostaríamos de ouvir! – disse Lana empolgada cortando o namorado.

– Sem chance. – disse Melanie apreensiva – Eu não toquei pra outras pessoas desde...

– Relaxa a gente acompanha. – disse Allan mostrando o violão.

– Vai Mel, por favor. – disse Sarah animada.

Melanie olhou de um para o outro a suspirou rendida.

– Ok, mas, eu... acho que ainda não tenho muita experiência – ela disse se encaminhando para o meio da sala onde um piano apareceu.

Eles começaram a tocar, meio que desajeitadamente no começo, mas, logo se encontraram e para Melanie foi como se tivesse feito aquilo a sua vida inteira. A música se tornou tão reconfortante para Melanie como se fosse o próprio ar que a mantinha viva.

Já terminavam a terceira música quando Sarah suspirou e disse em tom sonhador:

– Piano é tão lindo. Queria aprender também.

– Quer tentar? – Melanie perguntou.

– Eu não sei... – ela disse em dúvida.

– Vamos! Pelo menos o do ré mi fá... – Allan falou empolgado.

Melanie escorregara até a ponta do banco do piano para que Sarah se sentasse ao lado dela. Após mostrar para Sarah quais teclas eram “dó ré mi fá sol”, sugere que ela tente tocar. Melanie a ajuda com paciência e mesmo depois da forma desajeitada de Sarah ela consegue aprender uma música infantil.

– Você ensina bem, Melanie. – disse Sarah sincera – Allan não é tão paciente como você.

– Acha mesmo? – Melanie ri sem graça observando Allan lançando a Sarah um olhar de censura.

– Sim. Mas acho que não levo muito jeito... – disse Sarah com um sorriso inocente para Allan.

– Olha só, se você quiser uma aluna, eu gostaria de aprender – disse Lana.

– Hei! – disse Matthew indignado – Eu quis te ensinar!

– Mas a Mel é mais... delicada. – disse Lana com um sorrisinho.

Melanie e os outros gargalharam, mas, por algum motivo, Melanie levou em consideração o que Sarah e Lana falaram.

***

– Oi Josh, você está muito ocupado? – Melanie perguntou quando entrou no salão comunal e avistou o amigo lendo alguns pergaminhos a um canto.

– Não. – ele respondeu – Só tentando entender o que fazer com essa herança e entender o que você fazia fora da cama há essa hora.

– É muita coisa? – perguntou Melanie mudando de assunto.

– É – ele respondeu suspirando – Eu não fazia ideia do tamanho do patrimônio que a família Black tem. Felizmente o Sr. Potter disse que vai me ajudar a administrar. E então o que você fazia fora da cama?

– Tudo bem. Eu ia te falar mesmo. – disse Melanie mais animada – Há algum tempo eu pensei em fazer alguma coisa, para as pessoas saberem que o Blake existiu e que ele foi importante – ela explicou – Hoje o Allan me chamou pra ir a sala precisa e... eu voltei a tocar Josh...

– O Allan ainda está lá? – perguntou Josh reprovador.

– Está. Me deixa terminar – disse Melanie não dando atenção ao olhar questionador de Josh – Josh foi incrível tocar com outras pessoas de novo e... ensinar.

– Você ensinou a quem?

– A Sarah. E ela disse que eu levo jeito pra coisa. – disse Melanie extasiada – E depois a Lana disse que gostaria de ter aulas comigo... eu fiquei com isso na cabeça.

– Deixa eu entender. – disse Josh satisfeito – Depois de tantos anos sem saber o que fazer da vida, você decidiu que quer dar aulas?

– Não simples aulas. – disse Melanie e Josh notou um brilho diferente em seus olhos – Aulas de música.

– Você vai ensinar piano Mel? – disse Josh com um sorriso – Isso é fantástico. Vai fazer algo que realmente gosta.

– Não somente aulas de piano. – disse Melanie mais empolgada – Josh, eu preciso de alguém como você pra me ajudar com o projeto.

– Mas qual projeto?

– Eu quero fazer uma escola de música. – ela disse quase não se contendo de alegria.

– Sério mesmo? – Josh perguntou – Seria um grande projeto pra sua vida Mel. Se é isso mesmo que você quer, pode ter certeza que vou te ajudar.

– Obrigada Josh. – disse Melanie se jogando no pescoço do amigo para abracá-lo. – Você não sabe o quanto isso é importante pra mim. Eu tenho tantas coisas pra arrumar, o lugar, os professores, instrumentos...

– Eu acho que eu tenho o lugar perfeito. – disse Josh entregando um dos pergaminhos para Melanie.

Melanie leu o seu conteúdo e olhou descrente para Josh.

– A Mansão Black?