Batter Up escrita por Carol Bandeira


Capítulo 20
Perdendo a cabeça


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O cheiro de café acordou Gil Grissom naquela manhã de Segunda-feira. Seu estômago lhe lembrou de que ele não jantara ontem, e o jovem se espreguiçou na cama e coçou a cabeça. Estava tão cansado da viagem que dormira de roupa e tudo. Um banho devia ser sua prioridade.

Quinze minutos mais tarde e revigorado, Gil foi até a cozinha vestindo somente uma bermuda cinza e uma blusa branca sem mangas. De todos os companheiros da casa Gil era o que menos se expunha. Já cansara de ver Nick andando de cueca pelo apartamento, o que achava o fim. Gil realmente não apreciava o físico masculino em seu café da manhã...ou a qualquer hora do dia.

Quando o jogador chegou à cozinha encontrou-a totalmente tomada por seus colegas e por Catherine, sentada no colo de Warrick.

–Cara, essa melação toda de manhã não faz bem!- ele reclamou em vez de dar um bom dia, e foi pegar na geladeira um leite para acompanhar seu sucrilhos.

–Bom dia Gilbert! Esse mau humor todo é devido ao empate de ontem?- Catherine rebateu, ainda com seu bom humor habitual. Sabia que Gil não era uma pessoa que costumava ficar feliz de manhã, e exatamente por isso adorava mexer com ele.

Gil não se dignou a responder, simplesmente pegando a caixa de cereal e sentando-se no banco em frente ao balcão da cozinha americana. A mesa estava cheia demais.

–Então Gil- Brass chamou sua atenção- de folga hoje?

–Sim, pretendo não fazer nada o dia inteiro!

–Achei que você fosse se encontrar com Sara...estão quase 2 semanas sem se ver, não é?

–Por aí. Marcamos de nos encontrar mais tarde, ela tem uma sessão de vídeo que vai fazer, sei lá.

–Ok...bom, como eu não tenho esse mole todo, então tô indo pro batente. Fui.

A saída de Jim foi a deixa para que os outros companheiros também começassem a se mexer.Gil resolveu matar o tempo no computador, lendo seus jornais favoritos. Já estava nessa há uma meia hora quando, na seção de esportes, ele viu uma reportagem que fez seu sangue gelar. Eram somente algumas linhas, e a foto era de duas pessoas que ele conhecia bem. Correu seus olhos pelo texto e as palavras quase o fizeram ter uma síncope.

“ O gerente dos Las Vegas Devils foi visto em companhia de William Grissom, uma antiga estrela do esporte que está tentando despontar novamente na carreira de treinador, e não é segredo que Doug Donald não está muito satisfeito com o trabalho de Vinny Astaire. Será este o início de uma troca nos recém-chegados Devils? Teremos que esperar para ver.”

–Mas não é possível! Gil sussurrou e foi correndo até seu quarto trocar de roupa. Sua tarde relaxante acabara de descer água abaixo

~*~*~*~*~*~*~*BATTERUP~*~*~*~*~*~*~*

Ao chegar à gerência do quartel dos Devils Gil percebeu que não fora o único a ler aquele trecho do jornal. D.B. e Ian estavam sentados no banco em frente à sala.

–Gil, você ficou sabendo?- perguntou Ian enquanto se levantava e estendia a mão ao companheiro em um cumprimento.

–Acabei de ler.

–Vinny entrou faz uma meia hora- completou DB- Ele não parecia muito irritado, mas...

Os três sabiam que Vinny era um sujeito calmo e que não era dado a perder a cabeça. Era uma das pessoas mais racionais que Gil já vira na vida. Os três jovens então se sentaram no banco, cada um perdido em seus pensamentos. Os companheiros olhavam para Gil e o jovem já imaginava o que passava pela cabeça deles. Afinal, se eles estavam ali era porque leram a reportagem. Se leram a reportagem saberiam que seu pai estava metido naquela estória. E daí não era difícil imaginar que Gil teria alguma informação adicional. Não era verdade, é claro, mas mesmo assim Gil não estava disposto a dizer isso a eles.

Enfim, quando os garotos já não aguentavam mais esperar, a porta da sala se abriu e Vinny saiu. Parecia cansado, estressado... O homem se mostrou surpreso ao dar de cara com seus jogadores ali.

–Rapazes, o que fazem aqui?- Vinny ficou genuinamente surpreso ao ver os garotos ali- Não deviam estar descansando?

–Ficando sabendo o que aconteceu- Gil disse se pondo de pé.

–Ah isso?- ao olhar interrogativo deles Vinny completou- Vamos sair daqui. Se me pagarem uma cerveja eu posso lhes explicar.

O grupo seguiu até um bar nas redondezas do estádio. Somente após terem se sentado e de Vinny se servir de um generoso gole de cerveja que a conversa começou.

–O que querem saber?

–Se é verdade mesmo, ou se é só embromação dos jornalistas- Ian perguntou

–Bem...- Vinny tomou mais um gole de sua bebida e a pôs na mesa, provavelmente pensando bem no que diria- Eu não acredito que tenha sido premeditado, mas Doug encontrou com um outro técnico...disse ele que por acaso- ele olhou para Gil quando disse tais palavras-Parece que eles somente conversaram, não houve proposta nenhuma.

–Então o senhor continua como técnico?- D.B continuou

–Sim. Doug e eu não nos entendemos a maior parte do tempo, mas ele sabe que estou fazendo um bom trabalho com os recursos que temos.

–Não é o que parece- resmungou Gil- Se você não estivesse preocupado com seu emprego não teria vindo aqui hoje por conta da reportagem.

–Eu só quis me assegurar de que Doug lembrava que eu ainda tenho um contrato de quatro anos... disse a ele que não me assustaria com esses golpes de publicidade. Se ele quiser se livrar de mim terá que pagar uma multa rescisória. Confio muito nesse grupo para deixa-los na mão de outro. Escolhi-os dedo a dedo para que tivéssemos uma chance de ao menos chegar nos play-offs.

Ian e D.B pareciam satisfeitos com o que foi dito, mas Gil ainda não se livrara da sensação ruim que tivera ao pensar que seu pai pudesse novamente entrar em sua vida. Pensava que se Doug quisesse mesmo Vinny fora, ele conseguiria.

Ian acabou com sua cerveja e retirou umas notas do bolso.

–Agora que já esclareci suas dúvidas, com licença mas preciso descansar. Vocês também, quarta temos treino. Até mais.

Gil, que não fizera nenhum pedido até agora, também se levantou e, sem se despedir dos colegas, foi atrás do treinador.

–Vinny!

O homem se virou e esperou Gil alcança-lo.

–O que foi agora, Gil. Realmente, hoje tive uma manhã exaustiva. Preciso descansar.

–Se eles te demitirem eu vou junto

–Não faça isso, moleque! Quer mesmo começar uma carreira com o nome manchado? Saindo assim de um clube por troca de treinador? Você tem uma carreira promissora Gil. Não a estrague logo agora por conta de políticas.

–Não me importa. Se Doug realmente te demitir, será por conta de política. Ele não vê o time como uma equipe esportiva, mas sim como uma máquina de fazer dinheiro. Eu não quero me associar à gente assim.

–Seu discurso seria muito comovente Gil, se isso aqui fosse uma novela. Mas é a vida real, e nela gente idealista como você- como eu era no início da minha carreira- ah, meu amigo, esse tipo de gente não tem vez.

–Não é justo ter um babaca destes na administração. Como ele espera que a gente ganhe alguma coisa com ele respirando em nosso pescoço assim?!

–Fazendo o que nós sabemos fazer, que é jogar baseball. Não podemos deixar que ele nos desestabilize- Vinny passou as mãos no cabelo, retirou os óculos escuros do bolso da blusa e os colocou- Escuta aqui, Grissom, se você está mesmo tão preocupado com o meu destino o quanto parece, então preciso que me ajude.

Gil olhou sério para seu treinador e colocou sua mão no ombro dele.

–Faço o que estiver ao meu alcance. Você tem todo o meu apoio, como a todos do time.

–Ótimo. Então eu preciso que você esqueça que ouviu isso. O que Vinny mais quer é me desestabilizar. Não podemos deixar que nada que venha de fora do campo atrapalhe nosso desempenho. Posso contar com você para dar o melhor de si nas próximas partidas?

–Claro, senhor.

Vinny deu um tapa no ombro do jogador

–É só isso que eu preciso...disso e de minha cama. Nos vemos quarta então?

–Sim. Até lá.

E Gil observou seu treinador andar até a calçada do outro lado da rua e desaparecer na esquina. Essa conversa nada fizera para diminuir seus anseios, mas ele bem sabia que o treinador tinha razão. O melhor que eles podiam fazer era continuar jogando.

~*~*~*~*~*~*~*BATTERUP~*~*~*~*~*~*~*

Sara consultava o celular pela vigésima vez aquela tarde. Nenhuma ligação perdida. A jovem estava apreensiva, pensando que algo poderia ter acontecido a Gil. Ele nunca se atrasara antes quando eles combinavam de sair. Já estava quase pegando o número de Warrick para ligar- o de Gil “não estava na área de cobertura, ou desligado”- quando uma buzina soou lá fora. Olhando pela janela e vendo que era o carro do elusivo jogador, Sara pegou sua bolsa e saiu de casa.

Quando entrou no carro percebeu logo que a atmosfera não era das melhores. Ele deu um sorriso fraco e pediu desculpas pela demora, mas não contou o porquê. Somente começou a dirigir pela cidade. Eles haviam combinado de assistir a apresentação que Warrick faria aquele fim de tarde no centro comunitário em que crescera. O problema é que como Gil se atrasara eles já haviam perdido uma boa parte do show. Sara perguntou a Gil se ele queria fazer outra coisa, e o jovem resmungou um cinema.

Enquanto Gil dirigia Sara começou uma conversa qualquer, somente para acabar com o silêncio nefasto daquele carro. Gil pouco contribuía para o assunto, e quando o fazia era só com um “uhum”. Sara, muito conhecida por sua grande paciência, resolveu por fim aquela situação.

–Então, outro dia eu estava com Greg lá no meu quarto, estávamos assistindo a um filme qualquer, quando ele perguntou se eu já havia experimentado sexo a três...eu disse que não gostava, aí ele disse que é porque eu nunca tentei...ele perguntou se nós toparíamos tentar com ele, o que você acha?

O jovem respondeu um sim automático, sem prestar atenção no que ela dizia, mas quando seu cérebro processou a informação ele quase perdeu o controle do carro.

–Cê tá maluca Sara?! Com o teu primo!

–Mas você não havia topado?- ela perguntou com a maior inocência

–Nunca! Só estava distraído- ele quase gritou

–Como você esteve o percurso todo, não é? Não se preocupe, só disse isso para ver se você finalmente me dava atenção.

Sara replicou e depois voltou sua atenção para a janela do carro, visivelmente chateada com a situação. Gil bufou, claramente este não era o seu dia

–Desculpe se eu falhei em lhe dar toda a atenção que a senhorita merece!- sua voz era sarcasmo puro- mas não sei se percebeu que estou dirigindo!

–Ah, foi mal...me esqueci o quão limitado é você que só pode fazer uma coisa de cada vez!

–Qual o seu problema, Sara! O que você quer que eu faça? Decore tudo o que sai da sua boca como se fosse a mais absoluta verdade?!

–Não! Só gostaria de um pouco de consideração! Você chega quase uma hora atrasado, não me dá nenhuma satisfação sobre o que aconteceu e nem se atreve a trocar um gesto ou uma palavra comigo. Claramente quem tem um problema aqui não sou eu!!

–Não sabia que precisava dar um relatório detalhado de como foi o meu dia para você! Nós nem estamos namorando sério

–Eu nunca pedi isso! Afinal, eu sou só aquela “ficante” de fim de semana não é? Eu só queria respeito Grissom, nada mais!

Os dois se calaram naquele instante. Gil dirigia a quase cem por hora, a raiva era tanta que ele descontava no pedal.

–Encosta esse carro agora!

–Eu não vou te deixar aqui! Esse lugar é no meio do nada!

–Não me interessa. Não aguento mais ficar do seu lado...

Gil encostou o carro bruscamente, quase causando um acidente com o carro que vinha logo atrás. Quando o carro freio bem no meio de um posto abandonado, o casal só conseguiu agir alguns minutos depois, quando o coração de ambos desacelerou.

–Satisfeita agora!

–Eu não preciso ficar aturando isso!

Sara desafivelou o cinto, pegou sua bolsa e saiu do carro, batendo a porta com força. Olhando ao redor de onde estava percebeu que Gil tinha razão. Era um lugar sombrio para se estar quando a noite caía. Mas nem morta voltaria para dentro daquele carro. Já fora humilhada o suficiente. Começou a andar na direção oposta de onde vinha quando Gil a alcançou.

–Sara, para com isso! Volta pro carro...me desculpa.

Ela continuou a andar, mas Gil não a deixaria partir assim.

–Não, espera!- ele pegou as mãos de Sara nas dele, beijou-as e olhou nos olhos dela- Desculpe-me, você não merece isso.

–Não, eu não mereço- ela disse séria.

–Vamos voltar para o carro. Ficar parado em um posto abandonado não é legal,

Sara não queria, mas Gil insistiu tanto que ela aquiesceu.

–Só me leva para casa, Gil.

Os dois voltaram para o carro no mais absoluto silêncio. Gil se corroía de raiva por dentro, não pela jovem a seu lado, mas por si mesmo. Ele estava deixando seu pai interferir demais em sua vida.

–Olha...eu tive uma manhã difícil no trabalho...eu sei que você não tem nada com isso, mas eu não estou...

–Tudo bem, Gil- Sara o cortou, vendo a dificuldade dele em falar- Eu não quero saber de tudo na sua vida...não quero controla-lo...é só que...você devia ter me dito que não estava a fim de companhia...eu teria entendido...

–Mas eu queria te ver...

–Não é o que parece. Olha, está obvio que você tá com algum problema, se quiser dividir o que se passa comigo, talvez isso te ajude. Externar um problema pode até não resolvê-lo, mas ao menos você tira um peso de você... Se não quiser tudo bem também...só não me trate mal assim.

Gil concordou com o que ela disse, mas relatou que era algo do trabalho, e que ele tentaria esquecer.Sara não se convenceu muito, mas como não podia obriga-lo a dizer o que o atormentava tentou mais uma vez tirar a atenção dele dos problemas.

–Ok, então me diga,o que você faz para relaxar?

~*~*~*~*~*~*~*BATTERUP~*~*~*~*~*~*~*

O resto da noite do casal se passou em um parque de diversões no hotel “Le Circle”. Gil explicara a Sara o quanto andar de montanha-russa o relaxava. Os loops e a alta velocidade deviam ser os responsáveis, liberando toda a adrenalina do corpo do rapaz, e Sara pode constatar o quão animado ele ficava a cada volta.

Somente quando Sara já não mais aguentava as corridas que o casal se dirigiu para as atrações menos radicais do parque, onde Gil ganhou um grande urso de pelúcia em uma das barracas de tiro ao alvo.

–Toma- ele entregou o bicho e lhe deu um beijo na bochecha- meu pedido de desculpas...por hoje.

Sara agradeceu e os dois foram em direção ao estacionamento, já que o parque estava prestes a fechar. Gil ainda não queria ir para casa, estava com energia demais acumulada para dormir, e sabia que se ficasse sozinho aqueles pensamentos negros invadiriam novamente sua cabeça. Entretanto, não sabia se Sara gostaria de esticar a noite com ele. Ainda estava meio fria com Gil e o jovem sabia que merecia. Só não fazia ideia de como consertar a burrada que fez.

Guardando o urso no banco de trás do carro Gil perguntou a Sara onde ela queria ir agora.

–Você poderia me deixar em casa? Estou morta de cansaço...

Gil ficou desapontado mas não insistiria hoje. Colocou um sorriso no rosto e fez o que ela pediu.

De frente a casa dos avós de Sara, Gil perguntou se ela gostaria de fazer algo no dia seguinte, mas Sara somente lhe disse que ligaria para ele caso quisesse sair. Deu um beijo rápido no rapaz e saiu do carro, sem olhar uma única vez para trás. Ela não esqueceria fácil a desfeita que sofreu.


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