Full moon escrita por VickSousa


Capítulo 6
Dia de sol




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Naquela sexta-feira, algo tinha mudado para Victoria. Não era só o fato de que finalmente descobrira a identidade do rapaz que havia esbarrado na praia. Era também a primeira vez que ela pensava em seu melhor amigo, morto há quase cinco meses, e não sentia a onda de culpa que sempre a atingia quando pensava em Will. Afinal, era ela quem dirigia na noite do acidente. Fora ela que se distraiu com suas palavras e sentimentos, não conseguindo frear a tempo e de maneira segura.

Havia sido incrível poder tocar aquela música e lembrar de Will sem todas aquelas sensações ruins. Claro que ainda sentia tristeza e saudades do rapaz, mas parecia ter se livrado da culpa, que a consumia desde que descobrira que o menino não tinha sobrevivido ao acidente. Depois que o carro capotou, ficou inconsciente antes de ver a ajuda chegando. Quando acordou, já estava no hospital, cheia de bandagens, com a perna engessada e vários aparelhos ligados a seu corpo. Descobrira ali mesmo que o corpo de Will não tinha sido encontrado.  Quando ouviu as palavras, foi como se uma mão invisível esmagasse seu coração, até que ele se quebrasse em milhões de pedacinhos. A dor era tanta que chegava a ser física.

Foram dois meses até que pudesse voltar a sua rotina normal. Isso porque havia se machucado bastante no acidente: teve o fêmur da perna direita quebrado – o que lhe rendera uma longa cirurgia – e diversas partes do seu corpo perfuradas pelas lascas de vidro que se soltaram das janelas. Os cortes mais críticos foram em seu braço esquerdo, onde o vidro atingira uma artéria de médio calibre, causando uma intensa hemorragia; e no abdômen, que havia sido furado na altura de seu intestino. A força aplicada àquela lasca afiada quase fora suficiente para fazê-la atravessar a cavidade peritoneal e abrir um buraco no intestino da menina. Por sorte, ela parou centímetros antes de adentrar no órgão, permitindo uma fácil retirada. Caso contrário, a garota deveria passar por diversas cirurgias invasivas que poderiam, na melhor das hipóteses, lhe deixar sequelas para o resto da vida. Era estranho lembrar disso porque no dia do acidente, as injúrias foram tantas que um torpor havia tomado conta da menina e ela não conseguiu ter dimensão de que estava tão machucada. Quando sua perna se recuperou e os machucados se tornaram nada mais do que feias cicatrizes, Victoria voltou a viver sua vida de maneira “normal”. Acontece que, sua vida jamais voltaria a ser o que era antes. Ela sabia que seria doloroso voltar a seus afazeres de antes, dessa vez sem a presença de Will. No entanto, não era apenas doloroso. Era insuportável. A mão invisível que outrora lhe despedaçara o coração, havia voltado ao trabalho, buscando outros órgãos para dilacerar. Começou com os pulmões, dando a menina uma sensação de falta de ar desesperadora, que a perseguia todos os dias. O estômago também se tornara uma vítima do aperto, regurgitando grande parte dos alimentos ingeridos pela menina. Nem sua mente conseguiu escapar da tortura. Além do pesar, do luto, da culpa e da profunda tristeza, Victoria passou a ter dificuldades para dormir e se concentrar. E o mais estranho: começou a enxergar Will em todo lugar que frequentava.

O ápice da tortura foi quando pôde jurar que tinha visto seu melhor amigo na janela de seu quarto, observando-a. Gritou tanto aquele dia, que sua mãe achou que ela estivesse sendo machucada por algum intruso. Depois daquilo, a mulher sugeriu que a filha se mudasse para casa do pai. No início, a menina relutou. Não queria deixar sua zona de conforto, ainda que essa fosse dolorosa. Porém, conforme as miragens de Will foram ficando mais frequentes e cada vez mais reais, ela pensou que talvez a mudança pudesse ajudá-la. E estava certa. Desde que havia chegado a Forks, a nova rotina havia preenchido seus pensamentos, impedindo-a de remoer a recente perda. Só tinha visto a assombração – diagnosticada por um médico de Seattle como um tipo de flashback de sua vida anteriormente, desencadeado por uma síndrome pós traumática – uma única vez, quando esbarrara em Jacob na First Beach. E a partir dali, sentia que a problemática que girava em torno do acidente estava começando a abandoná-la. Ainda assim, era estranho. Podia sentir a presença de Will perto de si. Como se pudesse vê-la e até mesmo escutá-la. Era como se ao abrir suas cortinas, fosse encontrar Will ali parado, olhando pela janela e fitando-a com seus olhos verde-esmeralda. Pensando nisso, ela sussurrou:

— Sinto sua falta, Will.

A menina forçou seus olhos a ficarem abertos, esperava ouvir a resposta de seu amigo. Contudo, estava exausta. Aquela semana havia sido repleta de trabalhos, estudos e fortes emoções.  Além das obrigações acadêmicas, estava se preparando, junto aos amigos, para a trilha em La Push no domingo. Eles eram tão desorganizados que chegava a ser cansativo acertar todos os detalhes, ainda que não fossem muitos. Para completar, ainda fora pega de surpresa pelo jantar de aniversário na reserva. Não era exatamente um evento desgastante, mas os sentimentos que trouxera consigo eram intensos. A música, as lembranças, a estranha atração por Jacob Black e a fadiga mental causada a todo introvertido que passa mais de uma hora socializando. É, pensando bem, hoje havia sido um dia e tanto. Aliás, ontem. O relógio posicionado na mesinha de cabeceira já marcava uma e quarenta e cinco da madrugada.

Se revirando mais uma vez na cama quentinha, a menina se entregou ao mundo dos sonhos.

Will ainda era vivo nesse mundo. E andava com ela pela First Beach. Estavam em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro. E tinham o mais sincero dos sorrisos no rosto. Era tão real. Podia sentir a presença dele ali. Então, os lobos começaram a uivar, vindos da floresta que cercava a praia. Não sabia como, mas sentia que eles estavam a chamando. Com urgência e até um certo desespero. Foi aí que uma força invisível começou a puxá-la para longe de Will, em direção a floresta. Ela não queria, chamava o amigo que a olhava angustiado. Ele nada fazia. E ela continuava sendo puxada. Então ele disse: “Também sinto sua falta, Vic”. E tudo ficou preto.

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Acordou cansada, com o corpo dolorido como se tivesse ficado acordada e tivesse se exercitado a noite inteira. Malditos sonhos reais demais, pensou. Detestava quando não conseguia ter uma noite bem dormida. Motivada pela exaustão emocional, resolveu tomar um banho. Não tinha nada de especial planejado para o dia de hoje, então provavelmente terminaria os trabalhos da escola e se ocuparia com afazeres da casa.

Ficou dez minutos no banho, tentando deixar que a água levasse consigo todo aquele cansaço emocional e até mesmo físico que os sonhos dessa noite proporcionaram. Os músculos relaxaram devido a temperatura da água, mas a mente ainda vagava pela presença de Will. Então, querendo esquecer tudo aquilo, deu início as suas atividades.

Começou fazendo uma pequena faxina em seu quarto: arrumou a cama e a mesa de estudos, tirou pó da estante que guardava seus livros e separou algumas roupas para serem lavadas. Perguntou a Bella o que ela achava de estenderem a faxina para o resto da casa e a mais velha concordou. Charlie estava trabalhando, o que tornaria o trabalho mais fácil. A casa era grande, mas ambas terminaram o trabalho com rapidez. Enquanto Bella foi para cozinha afim de preparar o almoço, Victoria foi lavar as roupas. Às uma e vinte e cinco da tarde, já estavam na mesa da sala, compartilhando uma deliciosa lasanha à bolonhesa. A mais velha lavou e secou as louças enquanto a mais nova as guardava. Continuaram seus afazeres ali mesmo, na mesa da cozinha, terminando os deveres de casa da semana. Não eram muitos, mas eram bem extensos. Após terminarem, concordaram em assistir um filme de terror na TV da sala. Sentaram-se lado a lado no sofá, e deram start no velho DVD player. Era um filme bizarro e não atraíra muita atenção de Victoria, ela preferia comédias românticas, mas não achava que sua irmã gostaria de assistir alguma no momento.

Charlie chegou em casa no final do filme, alegando estar com muita fome e já ligando para a pizzaria local, encomendando o jantar. Comeram juntos até que Mike ligou na residência dos Swan, confirmando os planos para a trilha de amanhã. Se encontrariam em frente à loja dos pais dele, às 7:00 AM e de lá partiriam para La Push. Victoria aproveitou o pretexto da ligação para convidar a irmã mais uma vez para se juntar a eles na trilha, mas ela recusou timidamente, dizendo que não era o melhor evento para pessoas descoordenadas como ela.  A mais nova compartilhava da mesma característica, - que provavelmente herdaram do pai - no entanto, adorava se divertir ao ar livre. E amanhã o clima estaria perfeito para isso!

Subiu para seus aposentos cedo, com o objetivo de preparar sua mochila e deixar suas roupas já esquematizadas. Acordaria cedo amanhã e pegaria carona com Charlie até a loja dos Newton, portanto não queria se atrasar. Tomou novamente um banho de água quente, com o intuito de relaxar antes de dormir e não acordar cansada as vésperas de fazer uma trilha. Felizmente, deu certo. Se afundou num sono profundo, revitalizante e sem sonhos, acordando disposta na manhã seguinte.

O tempo estava nublado e um vento gelado corria pela deserta Forks. Apenas ela, os amigos e seu pai deviam estar acordados àquela hora num domingo. Saiu da cama e desceu as escadas sem fazer barulho para que não acordasse a irmã, e logo se dirigiu até a cozinha afim de preparar um café da manhã reforçado. Não sabia quanto tempo demoraria até que terminassem a trilha e pudessem almoçar. Charlie já estava na cozinha, com sua habitual farda de xerife da cidade de Forks, terminando um café e lendo o jornal.

— Bom dia, querida. Como está?

— Estou bem pai, e você? - Respondeu enquanto preparava um chocolate quente e sanduíches.

— Um pouco preocupado com essa sua aventura de hoje. Você não tem medo de se perder na floresta ou ser atacada por lobos?

— Pai, meu único medo é que não faça o sol que Mike viu na previsão do tempo. De resto...

— Ter um pouco de medo faz bem, te mantém longe de encrencas – ele falou de maneira apreensiva. – Mas não se preocupe. Todo dia aqui em Forks começa nublado. Quando chegarem em La Push o sol já estará aparecendo.

— Ficarei atenta, não se preocupe tanto. Estarei acompanhada o tempo todo e qualquer emergência posso recorrer a Billy ou a Sue. Vai ficar tudo bem, pai. E obrigada pela dica do tempo.

— Fico preocupado com você e sua irmã sozinhas o tempo todo.

— Já disse, não estarei sozinha, pai! Somos grandinhas, podemos e sabemos nos virar sozinhas.

— Quando foi que minhas menininhas cresceram tanto? – choramingou Charile.

Victoria riu com o comentário do pai. Já tinha terminado de comer os sanduíches e dava o último gole em seu chocolate quente.

— Adoraria consolá-lo, papai. Mas não quero te atrasar para o trabalho e muito menos atrasar o pessoal para a trilha.

Seguiu para seu quarto, vestindo de imediato a roupa que havia separado para a ocasião. Não era nada elaborado, apenas uma legging e um top pretos que vestiria por baixo do casaco corta-vento. Como estaria sol, não usaria muitas peças de roupa, apenas o necessário para permitir que sua pele absorvesse um pouco de vitamina D. Lembrou de pegar prendedores de cabelo, uma toalha caso se molhasse ou suasse demais e uma garrafa de água. Colocou a mochila nos ombros e partiu em direção a Charlie. O mesmo a esperava encostado no batente da porta de entrada, com as chaves da radiopatrulha na mão. Quando a menina passou pela porta, ele estendeu duas barrinhas de cereal extras, para garantir que a filha não ficasse com fome. Ela disse que já havia algumas em sua mochila, mesmo assim aceitou as que seu pai lhe dava, e partiram para a loja dos Newton.

Quando chegaram ao destino, quase todos já estavam lá conversando distraidamente enquanto esperavam pelo resto. Charlie parou o carro com uma certa distância dos adolescentes, pensando que envergonharia Victoria em frente aos amigos, por ela estar pegando carona com seu pai numa viatura de polícia. Sinceramente, achava que ela não ligaria muito, mas já que Bella tinha alguns problemas com isso, resolveu evitar a exposição. Victoria pegou sua mochila e virou-se para Charlie:

— Estou indo, pai. Tenha um bom dia no trabalho. – A menina já ia abrindo a porta, quando Charlie segurou seu braço de maneira delicada.

— Tome muito cuidado, querida. Por favor. Por seu velho pai aqui. E qualquer coisa, não pense duas vezes antes de ligar para Billy ou para mim.

— Pode deixar, papai. Nada de mau vai acontecer. Relaxe. – Então a menina deu um beijo na bochecha do pai, se despedindo. Charlie se espantou com a atitude da menina. Não estava acostumado a receber demonstrações de afeto de suas filhas. Bella sempre fora muito na sua, ficando desconcertada com qualquer tipo de afetividade física. E ainda que Victoria também fosse introspectiva com relação aos seus sentimentos, era bem mais carinhosa do que a irmã. E mais aberta também. Estava um pouco distante desde que chegou em Forks, mas isso provavelmente seria por conta do acidente e da adaptação à mudança. Aos poucos estava se soltando. Por mais que ele mesmo fosse mais parecido com Bella, gostava do jeito doce e carinhoso de sua filha mais nova. Ela trazia mais vida para residência dos Swan. Pensando nisso, ao invés de ficar desconcertado pelo beijo de sua filha, Charlie abriu um sorriso tímido. A menina retribuiu o gesto, saindo do carro e indo em direção a seus amigos do colégio.

Havia dois carros no estacionamento da loja dos Newton: o Suburban de Mike e o Sentra de Tyler. Victoria não sabia em qual dos dois restavam lugares vagos, mas como era mais próxima de Mike, dirigiu- se ao Suburban. Para sua sorte, ainda tinha um lugar disponível no banco de trás. Dentro do automóvel estavam Mike, Jessica, Ben e Angela. A menina entrou no carro cumprimentando os amigos e dizendo o quanto estava animada para o passeio. Ainda ficaram cerca de quinze minutos estacionados esperando por Lauren – uma menina de cabelos cacheados volumosos, pela qual Victoria nutria um certo ranço – que havia perdido a hora de acordar, mas já estava a caminho. Uma onda de alívio percorreu o corpo de Victoria. Seria desagradável compartilhar o caminho para La Push com Lauren ao seu lado. Não que a menina já tivesse feito alguma coisa contra ela, sempre tratava a caçula dos Swan com indiferença, no entanto, a maneira com que Lauren se dirigia a Bella, era completamente maldosa, dotada de comentários pejorativos sobre a melancolia de Bells desde que Edward partira. É claro que Lauren não era corajosa o suficiente para dizê-los diretamente para Victoria, mas também não é como se tentasse esconder dela. A pequena Swan estava apenas esperando o próximo comentário para repreendê-la e dizer o que estava engasgado em sua garganta. Segundo Angela, Lauren não gostava de Bella por puro ciúme, já que grande parte dos meninos da escola se interessaram por ela quando chegou em Forks e segundo a garota dos cachos, Bella não era tão interessante assim para ser cobiçada. Pensando no demônio... Lauren chegou ao ponto de encontro com os cachos em um coque e meio ofegante, provavelmente havia dado uma corridinha para não se atrasar ainda mais. Ela gritou um pedido de desculpas e entrou no carro de Tyler. Com todos a bordo, podiam dar início à pequena viagem até La Push.

Conforme Charlie dissera, o sol começou a aparecer por entre as nuvens no céu. É claro que o conceito de um dia ensolarado em Forks era diferente dos outros lugares. O céu não ficava limpo e azul evidenciando a bola incandescente que iluminava o planeta Terra. Afinal, a cidade era coberta por uma camada de nuvens que jamais permitiria tal exposição. O que acontecia era que as nuvens, usualmente cinzas ou pretas, adquiriam um tom esbranquiçado, permitindo que os feixes de luz as transpassassem com mais facilidade. Vez ou outra, um vento gelado empurrava as nuvens de tal forma que os raios de luz ficassem mais intensos. O verde da floresta que circundava a estrada, cintilava sob a rara luminosidade. Alguns pássaros até mesmo arriscavam sair de suas tocas, cantando uma doce melodia. O dia estava perfeito. Os cinco amigos conversavam animadamente dentro do Suburban, admirando a paisagem e comentando o quanto dias de sol são revigorantes. Aos poucos, começaram a avistar as casinhas da reserva. Em La Push, todos pareciam aproveitar o dia de sol: as crianças brincavam do lado de fora de suas casas enquanto os adultos as observavam sentados também na parte exterior. Victoria estreitou os olhos procurando por rostos conhecidos, mas não os encontrou. Deviam estar dormindo ainda.

Mike parou o carro num estacionamento que provavelmente tinha sido feito para os trilheiros motorizados. O lugar possuía apenas seis vagas pintadas no chão e todas estavam vazias, indicando que a trilha também estaria deserta. Os jovens saíram do carro radiantes pela rara luminosidade que cobria a cidade e pela oportunidade de desfrutarem da linda paisagem da reserva. Trocaram cumprimentos rápidos com o outro grupo que veio de carona no Sentra de Tyler, enquanto adentravam na mata. Era tudo tão lindo e aconchegante que Victoria não conseguia esconder o brilho em seus olhos. As árvores eram altas e possuíam folhas grandes de coloração verde escuro, musgo cobria quase todos os troncos, escondendo a típica coloração amarronzada da madeira. A terra embaixo dos pés dos visitantes era macia e um pouco escorregadia. No meio das árvores, uma placa indicava a direção da trilha e dava boas-vindas aos trilheiros. Os adolescentes se dividiram em pequenos grupos de duas ou três pessoas que caminhavam juntas conversando descontraidamente enquanto davam início a aventura. Victoria ficou ao lado de Eric e logo atrás de Angela e Ben. Conversavam sobre a semana de provas que se aproximava e quais eram as matérias que se garantiam e as que tomariam bomba. A menina com certeza se daria bem nas exatas, era apaixonada por números e fórmulas e por conta disso, vivia com a cara nos livros de cálculo e trigonometria. Também gostava das humanas apesar de não ser exatamente boa com datas de guerras e rebeliões e muito menos em interpretações de poemas, mas sempre ficava na média. Podia ser considerada uma boa aluna.

Foram andando e se entretendo com essa conversa por uns bons vinte minutos, o que correspondia a um quarto do tempo que levariam para chegar ao final da trilha. Mesmo sendo um caminho bem sinalizado, a menina tropeçou algumas vezes nas pedras que se encontravam presas na terra. Quase caíra no chão devido aos tropeços, mas Eric foi extremamente rápido ao segurar seu braço, impedindo que ela se machucasse. Quando finalmente achou que estava livre do perigo, a subida da trilha se afunilou revelando mais rochas de diversos tamanhos dispostas no chão de terra. Entendia que elas estavam estrategicamente colocadas ali para marcar o caminho, evitando que os visitantes se perdessem, mas realmente era necessário que elas ficassem no meio da trilha? Enquanto se questionava sobre isso, Victoria acidentalmente pisou em falso, torcendo o tornozelo no momento que colocou os pés no chão. Primeiro, tudo que sentiu foi uma dor de tirar o ar e imediatamente sua perna fraquejou. Então, quando tentou levantar o pé machucado, a menina reparou que ele estava preso na raiz de uma árvore que tombava na direção da floresta. Era um emaranhado de galhos que se fincavam ao chão e prenderam-se ao pé da menina a ponto de impossibilitar qualquer movimento do membro inferior. Eric que vira tudo, parou imediatamente chamando atenção de Angela e Ben. O resto do grupo estava bem mais à frente já que não precisavam amparar uma descoordenada que tropeçava a cada dois passos.

— Vic! Está tudo bem? – perguntou Eric preocupado com o semblante de dor da amiga.

— Acho que não, meu pé ‘tá preso aqui! – arfou de dor

— Calma, vamos te ajudar. Não consegue mexer nem um pouco? – dessa vez Ben perguntou. A menina tentou movimentar o pé, mas a dor era insuportável mesmo com apenas uma simples menção de movimento.  – Tudo bem, vou tentar te ajudar.

E aí que estava o problema. Provavelmente aquela raiz estava ali há anos. Anos não, séculos. A árvore estava tão fincada na terra que mesmo com seu tronco caído, suas raízes permaneciam presas ao chão. Ben sabia que o pé da menina estava machucado, então não seria prudente tentar movê-lo dali. A força que usaria, poderia agravar a lesão. Tentou então quebrar ou até mesmo afrouxar as raízes e não obteve resultado algum. Eric tentou ajudar e ainda assim, elas não ousaram se mexer, como uma criança teimosa que se jogava no chão para que seus pais não a levassem embora do parque de diversões.

— Não dá, a raiz está fincada, vamos ter que pensar em outra coisa.

— Vic, como está a dor? – Angela perguntou de maneira doce, tocando o ombro da amiga carinhosamente.

— Está melhorando, mas não sei se consigo mexer. As raízes estão apertando.

— Ang, chame Mike e Tyler, talvez com mais alguns braços a gente consiga quebrar pelo menos um dos lados da raiz.

— Tudo bem. – E Angela deu uma corridinha gritando por Mike e Tyler que já estavam distantes. Eles não eram exatamente fortes, mas agora estavam em quatro, todavia nem assim conseguiram danificar a árvore que prendia com tanta força o pé de sua amiga. Essa árvore era provavelmente milenar. A madeira deveria ser daquelas que as construtoras usam para fazer vigas de casas e apartamentos. Não se quebrariam com algumas pedradas. Gotas de suor começavam a brotar no rosto de Mike quando Lauren, que havia voltado para ver o que tinha acontecido, debochou:

— Não vai dar, ela vai ficar presa aí pra sempre.

— Cale a boca, Lauren. Vic, não se preocupe, vamos dar um jeito.

— Não Mike, ela tem razão. Agradeço a ajuda de todos vocês, mas não está dando certo. – Aquilo era péssimo, Victoria pensou. A dor havia diminuído consideravelmente, sobrando apenas um latejo causando pela pressão que as raízes faziam sobre o pé da menina. No entanto, ela sabia que quando movimentasse um músculo, seu tornozelo iria explodir em uma dor excruciante. Os rapazes pararam com suas tentativas de quebrar a árvore e se encararam em busca de alternativas para tirar a amiga dali.

— Talvez possamos ligar pros bombeiros. Eles poderiam serrar a parte da raiz que está prendendo o pé dela! – Foi Angela quem disparou. Para a menina presa, aquilo era igualmente péssimo. Se em um dos seus primeiros passeios com os amigos – ainda mais um que Charlie não estava confiante em permitir – tivesse que ser resgatada pelos bombeiros, seu pai nunca mais a deixaria colocar o pé para fora de casa novamente. Mas o que Victoria diria? Que seus amigos não chamassem ajuda e ficassem ali plantados, perdendo toda a diversão enquanto pensavam em outra coisa? Não era egoísta a esse ponto. E além do mais, seu próprio pé e tornozelo estavam sendo prejudicados, implorando por um analgésico. Sem mais opções, a garota concordou.

Enquanto Mike pegava o celular para fazer a ligação, os amigos ouviram passos em sua direção vindos da mata ao redor da trilha. Eram passos pesados, que amassavam folhas e galhos conforme andavam e não vinham seguidos de nenhum tipo de conversa ou som que evidenciasse a identidade de seus donos. Instintivamente, todos olharam em volta à procura do que podia significar perigo.

— Ah pronto – Eric choramingou – agora seremos devorados por lobos.

— Não são lobos, Eric. Se acalme. Pode ser ajuda.

— Claro, vindo do meio da floresta devem ser fadas vindo salvar a princesa perdida – Mais uma vez Lauren disse em tom de deboche. Victoria não sabia em qual momento a garota resolveu trocar a habitual indiferença pela implicância, mas tinha coisas mais importantes para se preocupar agora. Afinal, aquilo era realmente estranho.

 Ao menos, se fosse devorada por um lobo selvagem não precisaria ouvir as broncas de Charlie.

Então, saídos da mata estavam três rapazes enormes e idênticos, vestidos com apenas bermudas jeans gastas e tênis. Todos possuíam a mesma cor de pele e cabelo e ao perceber isso, Victoria respirou aliviada. Os meninos da reserva estavam ali. Dois deles ela conhecia o rosto embora não se lembrasse o nome. Já o terceiro, se lembrava bem quem era: Jacob Black. Assim que seus olhos se encontraram com os dele, abriu um sorriso de alívio e pura felicidade. Mesmo que não o conhecesse direito, sabia que Jacob faria tudo para ajudá-la.

— Estão perdidos? – Um deles perguntou enquanto Jake sorria de lado, hipnotizado com o sorriso da menina.

— Não – Começou Mike, carrancudo. Lembrou do incidente no cinema, onde Jacob havia atrapalhado suas chances com Bella. É claro que ele conhece Victoria e pelo visto também vai tentar tirá-la de mim, pensou. Respirou fundo tentando ser imparcial e continuou: – Victoria prendeu o pé nessa raiz enorme e não conseguimos tirar.

— Ah – exclamou Jacob, se aproximando da menina – Caramba Vic, pelo visto não ouviu meu conselho sobre olhar por onde anda. – disse rindo com a referência ao primeiro encontro dos dois. – Está tudo bem?

A menina apenas assentiu enquanto sorria.

— Deixa eu adivinhar. Estava andando distraída, torceu o tornozelo e ficou com o pé preso aí. E sente dor quando tenta mexer o pé para sair.

— É muito bom com adivinhações, Jacob. – Conversavam como se só houvesse os dois ali.

— Eu sei, eu sei..., mas hoje é seu dia de sorte. Estávamos passando por aqui e ouvimos vocês falando sobre chamar ajuda. E cá estamos nós. Embry, – Jacob se virou pro menino mais alto, que havia perguntado se estavam perdidos – me ajude aqui.

— Nem adianta, já tentamos quebrar esse tron... – Antes mesmo que Mike pudesse terminar, Jacob e Embry já se encontravam agachados com pesadas pedras nas mãos, golpeando a raiz até que ela se quebrasse libertando o pé da menina.

— Ah – ela deu muxoxo de alívio. – Obrigada rapazes, mesmo. Nossa, bem melhor agora! – Mantinha o pé suspenso no ar, com medo de que ele voltasse a doer quando o colocasse no chão novamente.

Todos pareciam felizes exceto por Mike, que estava um pouco enciumado e Lauren que mantinha uma carranca de desgosto. Assim que levantou, Jacob pegou a mão da menina para impedir que ela perdesse o equilíbrio.

— Veja se consegue andar. – Ela prontamente colocou o pé no chão. O estrago não fora tão grande, conseguia se apoiar no pé que estava preso, mas ainda sim sentia dor no tornozelo.

— Consigo andar, mas dói. Acho que consigo ir mancando. – Definitivamente não queria voltar a andar, mas também não queria atrapalhar o passeio dos amigos por conta disso, e não tinha carro para voltar sozinha. Nem sabia se seria capaz de pisar no freio com o pé contundido.

— Tem certeza? Posso te levar para casa. – Ofereceu Mike.

— Não, que isso! Não quero acabar com o passeio de vocês. Não é sempre que teremos uma oportunidade como essa! – Forçou um sorriso que apenas Jacob percebeu ser falso.

— Bom... eu e os meninos já estávamos indo para casa, só paramos para ver se precisavam de ajuda. Posso te levar para casa. – Jacob ofereceu.

— Acho que é uma boa, Vic. Se continuar andando, pode piorar. – Angela se intrometeu, estava preocupada com a amiga voltar a caminhar com o pé machucado e entendia que a menina se sentisse mal por “incomodar” os amigos. Não que Victoria fosse um incomodo, mas pensava igual a amiga e sabia que se fosse o contrário, também não ia querer que ninguém parasse a diversão por causa dela. Além do mais, não era todo dia que um príncipe encantado olhava tão intensamente para sua amiga. Ela lançou um olhar sugestivo para a menina.

— Sendo assim, aceito a ajuda. Obrigada Jacob. Obrigada pela ajuda também pessoal. Me desculpem pelo imprevisto, espero que se divirtam bastante!

— Depois te ligo para saber se está bem. – Angela acenou juntamente aos outros enquanto voltavam para a trilha. Victoria sabia que ela não ia querer saber apenas do pé machucado.

Então Jacob perguntou:

— Vai precisar de ajuda?

— Ah não, posso ir sozinha. – A menina ajeitou a mochila nos ombros e começou a pular com o pé saudável na direção oposta da que estava indo anteriormente. Jacob olhou para ela, levou a mão na testa como se percebesse uma mancada e disse:

— Como sou burro. Claro que precisa de ajuda. Vai acabar se machucando mais pulando em um pé só nessa terra escorregadia e cheia de pedras. Venha, me de sua mochila que vou te ajudar. – A menina tirou a mochila dos ombros e deu para Jacob, que por sua vez, jogou-a para Embry. Achando que ele iria apenas segurar sua mão para servir de apoio, ela se surpreendeu quando o rapaz colocou um braço atrás dos seus joelhos enquanto o outro dava suporte as suas costas. Ele iria carregá-la pela trilha abaixo.

— Achei que iria apenas servir de bengala. - Brincou.

— Demoraríamos muito. E uma menina magrela e baixinha que nem você, não pesa nada. É fácil de carregar. – Então Victoria notou como Jacob era forte. Além de ter conseguido quebrar aquela raiz apenas com a ajuda de Embry, – enquanto seus quatro amigos se esforçaram ao máximo e não deram a ela nem um arranhão – ele agora a carregava pela trilha como se não pesasse mais de dois quilos. Era como se transportasse um travesseiro de penas. Seguindo esses pensamentos, viu como o corpo de Jacob era perfeitamente definido, desde o peito que encostava diretamente em seu corpo até os braços que serviam de apoio para suas penas e costas. Ruborizou com o pensamento e sentiu seu coração acelerar. Tentou disfarçar para que ele, nem os outros percebessem, mas era tarde demais. Para sua sorte, Embry começou a puxar assunto, fazendo algumas perguntas sobre ela e o passeio com os amigos. O outro menino, que depois lembrara ser Quil, o menino do violão, também contribuiu com a conversa de maneira mais séria, mas ainda assim educada. E nesse ritmo, se dirigiram até a casa de Jacob.

Era extremamente constrangedor ser carregada. Primeiro porque quem a carregava era Jacob, um rapaz que causava as sensações mais estranhas em sua mente. Agora por exemplo, estava demasiadamente envergonhada pela proximidade dos dois, mas ao mesmo tempo sentia que ela não era suficiente. Queria estar mais próxima ainda do rapaz, juntar seus lábios, sentir sua pele junto a dele e tocar cada centímetro de seu corpo quente. Ruborizou novamente com o conteúdo de sua mente, mas ficou feliz pois ele não havia percebido dessa vez. O outro inconveniente de estar nos braços de Jacob era que absolutamente todo mundo encarava os dois com olhares curiosos desde que saíram da floresta. E Victoria odiava atrair olhares para si. Por sorte, foram apenas quinze minutos de caminhada até a casa de Jacob, onde ele pegaria o carro para deixá-la em casa. Quando chegaram na casinha vermelha, Embry e Quil se despediram e foram paras seus respectivos lares, não sem antes lançarem olhares sugestivos para Jacob. Esse, por sua vez, colocou a menina no sofá da sala e depois dirigiu-se até a cozinha.

— Ãhn... eu estava pensando, não quer colocar um gelo no pé antes de ir? – ele perguntou.

— Não quero incomodar. – Sorriu meio sem graça.

— Ah, que isso. Não é incomodo algum – disse Jacob já abrindo o congelador e separando alguns cubos de gelo. Enrolou os cubinhos em uma toalha verde escura e foi até o sofá, sentando-se do lado oposto da menina. – Pode esticar as pernas no sofá.

— Jacob, é sério, não quero ser abusada... está tudo bem, posso fazer isso em casa.

— Relaxa, Vic. É só um gelo, não está sendo abusada por aceitar ajuda de um amigo.

— Huh, então me considera uma amiga?

— Mas é claro! – Ele exclamou como se fosse óbvio e em seguida deu dois tapinhas na perna, indicando que a menina apoiasse os pés ali. Assim que ela o fez, Jacob delicadamente desamarrou os cadarços do tênis preto que ela usava e jogou-os em algum canto da casa, colocando a toalha verde com os cubos de gelo em contato com a região contundida. Victoria se estremeceu pelo contato frio em sua pele, mas logo ficou aliviada devido ao efeito anti inflamatório do gelo.

— Sabe, não sei se somos amigos. – Jacob olhou surpreso para ela. – Ah, qual foi! Você nem sabe minha cor favorita! E eu te conheci há dois dias, literalmente! – Ela sorria mostrando que claramente não estava falando sério.

— Tecnicamente, a gente se conhece desde criança, já brincamos juntos muitas vezes.

— Não me lembro disso e aposto que você também não!

— Tá, ok. Realmente não me lembro. Mas ser amigo é muito mais do que saber cores favoritas e se conhecer desde a infância. É estar lado a lado independente do que acontecer, e você pode contar comigo para isso. – Jacob dissera aquilo de maneira profunda, com sinceridade e com um sorriso de lado.

— Por que quer ser meu amigo?

— Por que não? – Ambos sorriram enquanto se encaravam. Passaram o resto da manhã conversando coisas aleatórias sobre si mesmos, se conhecendo melhor. Victoria podia dizer com toda certeza que estar ali, na sala de estar da casinha vermelha, com os pés apoiados em Jacob e falando sobre banalidades era muito melhor que estar com seus amigos na trilha. Arriscava dizer que era o melhor programa que havia feito desde que chegara em Forks. Nem ao menos se lembrava do pé machucado. Pé esse que estava sendo muito bem cuidado por Jacob. Depois que a menina acomodara o pé em seu colo, ele delicadamente depositou o gelo na região, presentando atenção para que a baixa temperatura não queimasse a pele dela. Ela até arriscaria dizer que, em algumas vezes, sentiu Jacob fazendo um carinho no local machucado.

Quando os assuntos foram ficando escassos, e o estômago de ambos rugia pela hora do almoço, Victoria decidiu que era hora de ir embora. Ao tomar fôlego para anunciar a Jacob que estava de saída, o telefone tocou interrompendo-a. Ele depositou os pés dela no sofá e foi até a cozinha para atender.

— Oi pai. Tudo bem. O que foi? – Victoria percebeu que ele falava com Billy. – Na casa de Harry? – Ele espera a resposta – Ah não sei... Victoria está aqui. – Uma pausa – Não sei pai, vou perguntar. – Outra pausa. – Tá bem, tá bem, vou insistir. Até mais.

Ele desligou o telefone indo até o sofá.

— Espero que esteja com fome – Como se tivesse vida própria, o estômago da menina roncou alto, respondendo à pergunta de Jacob. – Acho que isso é um sim – Ele riu. – Meu pai ligou agora, vai almoçar na casa dos Clearwater, nos convidou para ir.

— Ai, Jacob. Não sei não... Acho que já abusei demais da hospitalidade de vocês por hoje.

— Claro que não! Quando meu pai disse para Sue que estávamos juntos, ela pediu que insistisse pra você ir. Ela parece gostar muito de você!

— Ela é um amor! Como dizer não para Sue?

— Vamos então? – Ela assentiu – Tudo bem se formos de moto?

— Sem problemas!

— Ótimo! Vou só tomar um banho rápido e trocar de roupa, ok?

— Okok – E então ele se dirigiu para o banheiro. Victoria aproveitou para ligar para Charlie e dizer que estava bem. Ele não atendeu o telefone e ela deixou um recado. Optou por omitir a parte do pé torcido e de que estava com Jacob. Se seu pai imaginasse que ela tinha se machucado e não havia procurado um médico, provavelmente iria buscá-la assim que ouvisse a mensagem de voz. E ela não queria ir para casa.

Jacob não mentiu quando disse que seria rápido. Em cinco minutos já estava na sala, vestindo uma calça jeans escura e uma camiseta preta justa ao corpo. Victoria não pôde deixar de notar o quanto a blusa marcava o abdômen definido do rapaz. Quando percebeu o olhar da menina para si, ele sorriu. Ela também sorriu, logo baixando a cabeça de vergonha por ter sido pega no flagra.

— Não precisa ter vergonha, sei que sou muito bonito – Ele disse convencido.

— Ah tá, Jacob. – Riu

— Já não disse que pode me chamar de Jake?

— Ok. Jake. Estava olhando para você pois tem uma coisa na sua blusa. – Ela deu a sorte de encontrar uma sujeirinha na camiseta dele, um emaranhado de linhas brancas que provavelmente se desprenderam de outra vestimenta. Se levantou num rompante, mancando até ele e retirando as linhas dali. Quanto tocou o peito de Jacob sob o tecido da blusa, uma corrente elétrica percorreu seu corpo. Percebeu que os olhos de Jacob a encaravam e sustentou seu olhar. Ficaram assim por alguns instantes. Tudo nela o atraía: os lábios levemente rosados, o rubor nas bochechas, o cabelo acobreado preso em um rabo de cavalo com alguns fios rebeldes lhe tocando a face, os olhos castanho-chocolate e o cheiro de peônias que ela exalava. O imprinting era assim. Tornava um ser humano normal na mais bela das criaturas e fazia o lobo guerreiro um escravo de seu amor. Se Victoria pedisse agora que ele escalasse o Monte Everest até o topo, ele o faria. Faria e seria qualquer coisa por aquela garota. A única coisa que jamais conseguiria fazer, era viver sem ela. Queria tanto beijá-la agora. Mas havia prometido a si mesmo que iria devagar. Não queria agir por impulso e simplesmente dizer a ela que eram almas gêmeas e começar um relacionamento por causa da magia que os ligava. Queria construir uma história, levá-la ao cinema, a um pôr do sol na praia e talvez a um jantar romântico. Seu estômago roncou, acordando ambos para a realidade.

— Podemos ir agora? – Ele perguntou.

— Vou só calçar meu tênis, ainda estou descalça.

— Ah, perai. Vou dar uma olhada nas coisas da minha irmã, Rebecca. Ela deixou algumas coisas aqui quando se mudou, talvez tenha alguma sandália confortável. – Ela ia recusar, achando ser muito incômodo – Nem adianta dizer que não, não vou deixá-la colocar algo que possa te machucar.

— Tudo bem, então!

Ele saiu novamente da sala e logo voltou com um par de chinelos brancos. Era um número maior que os pés da menina, mas era melhor do que apertar o pé ainda dolorido em um tênis de corrida. Jacob então foi até o galpão pegar a moto, enquanto Victoria o esperava na porta de casa. Era uma caminhada ínfima, mas ele insistiu que ela esperasse para não forçar o pé. Estendeu o capacete preto para a menina, que o colocou na cabeça enquanto posicionava as pernas ao redor da motocicleta. O caminho até a casa dos Clearwater era muito rápido, conseguiriam ir a pé se não fosse pelo pé machucado. Ao chegarem na casa, estavam todos sentados na pequena varanda, conversando enquanto esperavam pelo casal. Embora seja branca e um pouco maior, a residência muito se assemelhava com a de Jacob.

Sue logo levantou e se dirigiu até Victoria, abraçando-a maternalmente. Uma vez Miranda, sua mãe, lhe disse que todas as mães estavam conectadas umas as outras, pois só elas entendiam a dimensão e a intensidade do amor que sentiam por seus filhos. E naquele momento, a menina pode perceber que aquilo era verdade. Quando sentiu o abraço de Sue, foi como se tivesse abraçado sua própria mãe. Em seguida chegou Seth, também a abraçando. À Harry e Billy, um aperto de mão bastou como cumprimento. Os patriarcas não eram muito de abraçar. Todos, então, entraram na casa e Sue e Seth foram diretamente esquentar o almoço que a essa altura já deveria estar frio.

A mesa com seis cadeiras já estava posta e enquanto esperavam pela comida Jacob, Victoria, Harry e Billy se posicionaram na mesa a pedido de Sue. O cheiro era delicioso e se tornava tão intenso, que os estômagos de Jacob e Victoria se manifestavam ininterruptamente, causando boas risadas nos dois. Não demorou até que Seth e a mãe viessem com dois refratários onde o peixe se misturava a pedaços de batatas, tomates, pimentões e alguns outros legumes que a menina não conseguia distinguir. Assim que colocaram os recipientes na mesa, mãe e filho se sentaram e Sue anunciou que poderiam atacar.

— Leah não virá para o almoço? – Harry perguntou e o semblante de Victoria se tornou curioso, questionando-se internamente quem devia ser Leah. Na noite da fogueira conheceu apenas Sue e Emily de mulheres.

— Não sei, mas provavelmente não – Sue respondeu um tanto quanto decepcionada, voltando-se para a pequena Swan – Leah é minha filha mais velha, ela não estava na fogueira, mas não faltarão oportunidades para que vocês duas se conheçam. Espero que sejam amigas!

— Ah mas eu duvido! – Seth exclamou divertido e Sue o repreendeu – Qual foi mãe, a gente sabe que Leah não é muito amigável. Eu sou o melhor amigo que você vai encontrar nessa reserva, gata – Ele olhou para Victoria – O mais simpático e divertido dos Clearwater, e provavelmente de La Push.

— E o mais humilde também. – A menina respondeu de maneira irônica, arrancando uma risada de todos, que logo depois concentraram- se no almoço delicioso que fora servido gentilmente pela matriarca da casa. Estavam com tanta fome que comeram sem dizer mais nenhuma palavra. Quando estavam satisfeitos, Billy quebrou o silencio:

— Mas diga-nos querida, por que trocou o passeio divertido com seus amigos por um almoço com a terceira idade da reserva? – Todos riram novamente. Victoria adorava o clima de felicidade que pairava em La Push.

— Bom... eu meio que sofri um acidente no caminho. – Então ela contou para todos como havia torcido o pé e ele ficara preso nas raízes e por sorte, Jacob a encontrou. Quando disse a última parte, Seth deu uma risadinha. Ele sabia bem qual era o nome dessa “sorte”.

— Caramba! Que sorte mesmo que Jake estava por perto – Billy falou com um tom orgulhoso e depois perguntou – Como está o pé? Não sente dor?

— Ah, não muito. Acho que foi apenas uma leve torção. Ainda consigo colocá-lo no chão.

— Ufa! É um bom sinal conseguir andar, mesmo que com dor. Já ligou para Charlie para avisá-lo? – Eles conversavam enquanto os outros apenas ouviam e assentiam concordando.

— Não! E nem vou... Se eu ligar dizendo que me machuquei é capaz dele vir até aqui com as sirenes da viatura ligadas me buscar. É provável até que mande arrancar a raiz da árvore e jamais me deixe fazer trilha por aqui novamente. Vou avisá-lo quando chegar em casa.

— Também acho melhor – Dessa vez foi Sue quem se pronunciou. – Provavelmente ele vai se preocupar a beça e não é nada grave... Um gelo e algumas ervas anti inflamatórias devem resolver o problema! – Victoria então lembrou-se que na noite do aniversário de Billy, Seth comentou sobre Sue e Emily estudarem algumas ervas da região para uso curativo e outras coisas. – Se quiser, posso preparar um emplasto agora mesmo, querida.

— Não precisa se preocupar, Sue! Como disse, não estou com muitas dores. A perda de um dia de sol me incomoda mais que o meu pé...

— Nisso, tenho que concordar. Não é todo dia que o sol resolve aparecer por aqui. Ficar em casa enquanto poderia estar aproveitando é um saco! – Harry fala de maneira descontraída e em menos de dois minutos, Jacob rebate:

— Não perdeu o dia! Ainda é cedo, podemos fazer alguma coisa. – Ele estava no terceiro ou quarto prato de comida. Victoria pensou o quanto deviam ser íntimos para que Jacob tivesse a liberdade de repetir tantas vezes sem nem ao menos pedir. Seth não estava muito atrás dele.

— Não quero atrapalhar o dia de ninguém tendo que ser arrastada ou carregada por aí...

— Já disse que não me atrapalha. Não tenho nada para fazer hoje mesmo. E nem preciso te carregar, podemos apenas nos sentar na praia e pegar um pouco de sol. O que acha? – Jacob pergunta com um olhar esperançoso. E antes que Victoria pudesse aceitar, Seth dispara:

— Acho ótimo! Podemos levar uns biscoitos e... – Sue e Harry olham para Seth com os olhos arregalados, advertindo o filho por se esgueirar no passeio dos outros. E é claro que Victoria percebeu.

— Sei que Seth adoraria acompanhá-los, mas o mocinho precisa estudar. – Ela disfarçou - Tem prova de matemática daqui a duas semanas e até onde eu sei, não estudou nada ainda.

— Dificuldade nas exatas? – Victoria perguntou a Seth.

— Mais ou menos. Sempre gostei e entendi bem, mas precisei faltar algumas aulas porque fiquei doente. Agora estou perdido. – Ele coçou a cabeça.

— Está no segundo ano, não é? O que está dando? – Ele respondeu que o professor maluco estava falando sobre funções e já havia introduzido derivadas, assunto do próximo ano. – Posso te ajudar a estudar. Minha prova é na outra segunda e estamos revisando a matéria para o vestibular. Já estamos em integrais, mas como está tudo interligado, posso voltar um pouco. Além de te ajudar, também estarei estudando para minhas provas.

— Faria isso? – Os olhos de Seth brilharam com a proposta da menina.

— É muito gentil de sua parte, querida. Mas ainda assim não vai sair hoje, senhor Seth. O quanto mais estudar, melhor... – Os olhos dele substituíram o brilho da gratidão pelo desapontamento, provocando mais risadas no grupo.

Então Sue se levantou e começou a retirar a mesa com ajuda de Jacob, que se ofereceu para lavar a louça assim como Victoria. A mulher recusou a ajuda de ambos dizendo que os dois deveriam partir logo para aproveitarem o dia de sol. Acatando o desejo da mais velha, eles se dirigiram até a praia na moto de Jacob, não sem antes agradecerem pelo delicioso almoço promovido pela matriarca dos Clearwater.

A praia, é claro, esta cheia de turistas e moradores que aproveitavam o dia de sol na chuvosa península de Olympic. Mulheres e homens estirados na areia tomando sol, crianças jogando bola, montando castelos de areia e até mesmo arriscando uns mergulhos no mar. O lugar exalava uma energia de felicidade que só poderia estar relacionada com a luminosidade trazida pela grande estrela. Como Jacob conhecia a praia de cor, guiou Victoria para um cantinho desconhecido pelos visitantes, para que pudessem ficar a sós. No início, a menina ficou receosa de se dirigir aquele lugar pois notou ser o mesmo onde flagrara a assombração de Will alguns dias atrás. No entanto, ela não notou nada de diferente ou maligno no lugar e mesmo que tivesse, Jacob estaria ali para protegê-la. Eles subiram numa pedra escondida pelo verde da floresta, que dava a eles não só privacidade, como também uma vista privilegiada do mar.

Quando se sentaram no topo da pedra, a menina respirava de maneira ofegante e sentia gotículas de suor escorrerem por seu corpo. Devido a caminhada até a pedra seguida pela subida – onde negou todas as ofertas de ajuda de Jacob – Victoria sentiu calor dentro do casaco corta vento, que havia comprado justamente para o dia de hoje. Como também pretendia absorver um pouco de vitamina D, resolveu tirar a vestimenta, ficando apenas com seu top preto de ginástica. Ele possuía alças grossas e um tecido liso que escondia perfeitamente seus seios, deixando a mostra apenas parte de seu colo, a barriga e os braços. Ao perceber que a garota ao seu lado havia retirado a peça de roupa que lhe cobria o tronco, os olhos de Jacob logo se voltaram para o corpo dela, analisando minuciosamente a pele que ela escondia por debaixo das roupas.  Durante a sua análise, uma linha fina e esbranquiçada desenhada no braço esquerdo da garota, o chamou a atenção: uma cicatriz. Não era muito grande e ao olhar mais atentamente, via que era um tanto quanto irregular. Aproveitando que a menina estava distraída admirando a paisagem, continuou vasculhando o corpo exposto dela em busca de outras cicatrizes iguais aquela. Não demorou muito até que achasse outra linha esbranquiçada na barriga da menina, em cima de seu umbigo, no entanto, essa era bem maior que a outra e ainda estava um pouco rosada. Jacob sentiu seu coração apertar, perguntando-se o que teria acontecido com sua amada para que ela carregasse consigo essas marcas. Não tinha coragem de perguntar diretamente o que havia acontecido, poderia ser um assunto delicado para ela. Então resolveu que começaria perguntando sobre sua vida fora de Forks.

— Charlie disse ao meu pai que você veio morar em Forks para fugir de encrencas. – Ela tirou os olhos do mar e fitou Jacob, rindo da maneira como o pai chamara o luto que a consumia alguns meses atrás. Ele nunca fora muito bom quando o assunto era lidar com sentimentos.

— Falando assim parece que eu sou uma pessoa que arruma problemas por aí. – Eles riram juntos.

— E, não é? – Jacob indagou esperando obter mais pistas que o levasse ao motivo das cicatrizes.

— Não! Não me meti em encrenca nenhuma.

— Então por que está aqui? – Ele a olhou com os olhos expressivos, tentando convencê-la de contar o motivo de sua mudança.

— Apenas tentando deixar para trás algumas coisas...

— Que seriam...

— Estar aqui é justamente uma maneira de esquecê-las, certo? Que sentido faria contá-las a você?

— Claro, claro. Tem toda razão. – Ele pareceu um pouco desapontado, o que não passou despercebido por Victoria, que imediatamente se desculpou. – Não, não há nada pelo que se desculpar. Entendo, de verdade. Quando minha mãe morreu, minhas irmãs mais velhas não conseguiram mais ficar em casa. Rachel conseguiu uma bolsa de estudos em Washington e raramente vem a La Push, e Rebecca desde que se casou com o surfista havaiano também quase não aparece por aqui.

— Ah sim... Sinto muito, Jake. É, comigo foi por aí também.

— Entendo. E o que está achando de Forks? – Ele perguntou com um sorriso solar no rosto, que fez o coração de Victoria errar uma batida.  Ela percebeu que ele tentava descobrir um pouco mais sobre sua vida sem ser evasivo demais, o que o tornava ainda mais fascinante aos olhos da menina. No entanto, ainda que sentisse essa atração inexplicável por ele e uma crescente sensação de confiabilidade, ainda não conseguia dizer certos assuntos em voz alta.

— Não é muito diferente de Port Townsend, mas até que estou gostando. O que difere mais é a companhia.

— Como assim? - Jacob indagou curioso.

— Ah, meu pai e Bella são muito diferentes da minha mãe. Na minha casa aqui em Forks é tudo muito quieto, quase não recebemos visitas e Charlie é um pouco mais severo que mamãe. Já em Port Townsend é uma bagunça, alunos da minha mãe entrando e saindo da sala de música, amigos dela visitando o tempo todo... ela não se importa que eu chegue de madrugada em casa. Charlie fez de tudo para que eu mudasse de ideia em relação a trilha, por exemplo. Disse que era muito perigoso. Mamãe daria a maior força e me incentivaria a aproveitar o máximo possível, mesmo que isso me colocasse em encrencas.

— Realmente parece uma mudança e tanto... – Voltaram a encarar o mar silenciosamente. Vez ou outra Jacob lançava olhares discretos para a menina, tentando desvendar suas emoções através de seu rosto. Mas essa era uma missão difícil: em alguns momentos Victoria encarava o mar com o semblante tranquilo, como se estivesse relaxando. Já em outras horas, ela franzia a testa de uma forma que não indicava descontentamento e nem raiva, mas dor. No que ela estaria pensando? Jacob perguntou como estava o pé e ela respondera que quase não o sentia mais. O que seria então? Será que deveria perguntar? Ou deveria apenas deixar pra lá? O rapaz não queria ser invasivo, mas também não queria fingir que não se importava. Então, ao invés de ficar se martelando sobre o que dizer ou fazer, simplesmente ouviu seu coração e tocou a mão da menina que se apoiava na pedra. Quando ela dirigiu seu olhar a ele, Jacob sussurrou:

— Vai ficar tudo bem. – Ela sorriu verdadeiramente em agradecimento e depois voltou a encarar o horizonte. Ficaram um bom tempo com as mãos sobrepostas e encarando a imensidão do mar a frente, sem dizer uma palavra. Não parecia necessário. Quando o sol começou a se esconder atrás das montanhas, voltaram a conversar. Falaram sobre si mesmos, as músicas que gostavam de ouvir e cores favoritas. Depois falaram sobre o futuro, o que esperavam da vida e qual sentido viam nela. Iam de papos frívolos para questões existencialistas em segundos, sem nunca deixar de ouvir um ao outro e se admirar com as palavras que diziam. Victoria não tinha dúvidas de que estava no lugar certo.

Quando num desses papos abordaram Charlie, a menina se deu conta de que já deveria ter voltado para casa ou ao menos dado notícias ao pai, que essa hora já havia saído do trabalho e provavelmente estaria preocupado, achando que a filha tinha sido devorada por lobos na floresta. Ao dizer isso para Jacob, ele riu a beça da parte dos lobos e garantiu que isso não aconteceria já que os lobos de La Push são domesticados. Ficaram mais alguns minutos aproveitando a presença um do outro enquanto admiravam a beleza do lugar e então se dirigiram à casa de Jacob para que Victoria pudesse pegar suas coisas. A parada no casebre fora rápida, apenas para que a menina recolhesse seus pertences e o rapaz trocasse a moto pela picape de seu pai. Ele conhecia muito bem o xerife Swan para saber que ele desaprovaria completamente o relacionamento dos dois se ele visse sua filha caçula na garupa de alguma motocicleta. Victoria se despediu gentilmente de Billy, que havia voltado a pouco tempo da casa dos Clearwater, e garantiu ao homem que voltaria a visitá-los em breve.

Já estava ficando escuro quando adentraram na estrada que os levaria para Forks. Ambos sorriam um para o outro toda vez que seus olhares se cruzavam e assim como em alguns momentos na praia, não trocaram uma palavra durante o caminho. O silêncio entre eles não era constrangedor e sim reconfortante. No entanto, além da felicidade, existia uma pontada de tristeza por não saberem quando estariam juntos novamente. Jacob esperava que Seth precisasse muito daquelas aulas de matemática para que a garota passasse mais tempo em La Push. Fez uma nota mental para não esquecer de falar sobre isso com o amigo assim que chegasse na reserva. Na realidade, queria chamá-la agora mesmo para um encontro, alguma ocasião que pudessem ficar a sós como hoje, mas lembrou do acordo que havia feito consigo mesmo de ir devagar. Além de não querer assustá-la, quanto mais tempo a menina passasse sem saber de todos os segredos e perigos de Forks, seria melhor. Por enquanto, tentaria mantê-la do seu lado do tratado e se certificaria de que a alcateia fizesse rondas pelos arredores da residência dos Swan constantemente.

No mesmo instante em que o último raio de sol desaparecia do céu, a picape de Jacob estacionava em frente a casa de Victoria e ambos se preparavam para dizer adeus. O rapaz sabia que seria apenas temporário e que num futuro não muito distante compartilhariam a mesma casa, e não precisariam mais se despedir. A garota, contudo, por mais que sentisse que havia algo diferente em Jacob, ainda não sabia a intensidade daqueles sentimentos. E por mais que lá no fundo soubesse que jamais seria capaz de viver sem aquele sorriso solar – que Jacob exibia em seu rosto nesse mesmo instante – não conseguia entender o que estava acontecendo dentro de si. Depois de se encararem por um breve instante, ela proferiu:

— Bom... acho que é isso...tchau Jake, muito obrigada por hoje, mesmo.

— Não precisa me agradecer, só me promete uma coisa? – ele perguntou, agora com um semblante sério.

— O que? – imitou o semblante do rapaz.

— Que vai se cuidar. Sem mais pés torcidos por aí... – e nem mais cicatrizes, pensou. Ela riu e logo respondeu:

— Não se preocupe, vou evitar passeios em áreas de “risco” por um tempo. Semana que vem minhas provas começam, o máximo que pode acontecer é cair de cara nos livros.

— Só não vá se machucar! – ambos riram, e logo em seguida Victoria saiu do carro, mancando até a porta de casa. Ela ainda não havia decidido se contaria ou não de seu pé torcido para o pai, temendo que ele a repreendesse. Porém, assim que mancou para dentro, Charlie percebeu que a filha estava andando estranho e ela fora obrigada a contar. Para sua surpresa, ele parecia aliviado em saber que a filha não havia se embrenhado naquela mata cheia de lobos, mas que passara a tarde com seus amigos da reserva. Então, ele ajudou a caçula a subir as escadas, preparou uma bandeja com comida enquanto ela tomava um banho e levou até o quarto dela com um saco de gelo para que ela colocasse no tornozelo. A menina adormeceu logo depois de comer as guloseimas que o pai levara.

Jacob permaneceu estacionado na frente da casa até que ouviu o ritmo cardíaco da menina diminuir e sua respiração ficar mais lenta: percebeu que ela estava dormindo e não precisaria mais dele na forma humana. Ligou o carro e fez todo o caminho de volta a La Push. Entrou em casa apenas para se alimentar e logo se transformou. Chamou por Quil e Embry – seus companheiros da ronda desta noite – e adentrou a mata em busca de qualquer intruso no local. Correu por todas as cidades que faziam fronteira com Forks mais de uma vez e quando percebeu que não encontraria nada, permitiu-se voltar para perto da casa dela e tirar um cochilo por ali. Enquanto corria para a casa de sua amada, avistou uma grande placa na estrada que dizia:

                                  “A orquestra sinfônica de Seattle apresenta:

            As clássicas do Aerosmith tocadas pelos melhores pianistas da cidade.”

 

Assim que terminou de ler, teve um flashback da conversa que teve com Victoria na praia, ela havia dito com todas as letras que essa era sua banda favorita.

 BINGO! Já tenho o primeiro encontro perfeito! É daqui a um mês, posso ir conhecendo-a melhor até lá... assim que chegar em casa, pego o carro para comprar os ingressos. Será que ela pode esse dia? Será que é essa banda mesmo que ela disse? Não era The Smiths? E se ela disser não? Ai caramba, aí estou ferrado....

— Cale a boca, Jake. Estamos tentando dormir por aqui... – disse um Quil mal humorado.

— Estou feliz por você mano, mas realmente queria tirar uma soneca. – Embry pensou sonolento.

— Tudo bem, tudo bem. – Jacob estava feliz demais para retrucar a reclamação dos amigos, então apenas se deitou e observou a janela da menina até que adormecesse.

 


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