Sobre Perfumes, Estrelas e Amores escrita por Kaleidoscopio


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Feita pra Mary, de presente de Natal. Meninë, te amo tanto, sua queenie phoddona! Tu merece mais e mais, girl.

E CUIDADO, leitores - vocês podem morrer de diabetes.



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Quando eu acordo, a primeira coisa que eu vejo é mamãe e seus olhos castanhos. Ele sempre me traz o café-da-manhã na cama e nós dois comemos juntos. Papai dorme até tarde, porque ele trabalha muito – ele é médico e mamãe também, mas papai é muito preguiçoso pra levantar cedo como eu e mamãe. Mamãe é uma coisa chamada oncologista, que cuida das pessoas que tem uma doença que faz elas fecharem os olhos pra sempre, elas dormem profundamente. Uma coisa estranha chamada câncer. Mamãe diz que é um trabalho triste dizer para as pessoas que a mulher do capuz preto irá abraçá-las logo, logo – mas é uma coisa que tem que ele tem que fazer. Além disso, mamãe as ajuda a fazer a dor sumir um pouquinho, a fazê-las ficar mais confortáveis, dando a elas uma coisa que parece uma balinha – pílulas é o nome delas. Tipo as que o papai toma. Ou colocando as pessoas numa máquina estranha vária vezes.

Numa noite, papai me disse que já fingiu ter câncer. Disse que Jimmy ficou vermelho de raiva por causa disso e que os seus “ducklings” (como papai chama os médicos que trabalham pra ele) ficaram todos preocupados com ele, tentando cuidar dele. Consigo ver papai rindo da cara de todo mundo enquanto eles ficam com a cara fechada, morrendo de ódio por dentro. É desse jeito que papai demonstra a afeição dele pelas pessoas – brincando com elas. Às vezes pode parecer estranho, ou até mesmo sem respeito algum, mas papai é uma pessoa fora de série – não se pode esperar algo normal dele. E essa é uma das melhores coisas nele: ninguém sabe o que vem depois. Tudo é uma surpresa.

Depois de tomar leite e comer pão, eu arrumo meu quarto, pego minhas tarefas e desço as escadas pra ir pra sala, onde o papai está. Ele sempre me ajuda a fazer as tarefas, e sempre consegue transformar isso em algo divertido. Papai também tem o dom de colocar mágica nas coisas mais diferentes. Se algo não vai como devia, ou está ruim, ou está chato, papai nos faz rir disso. É uma das coisas que me faz amá-lo ainda mais.

Depois, mamãe me deixa assistir televisão. Mas eu não gosto muito de olhar praquela caixa grandona que fica em cima da mesa - eu prefiro pegar os meus livros. Eles me fazem viajar sem que eu saia de casa. É uma sensação tão boa... Sinto que sou dono de meu próprio mundo, e posso fazer o que quiser lá. Sou rei de mil terras, guardião de diversos poderes. Sou tudo o que quiser, é só imaginar.

Mamãe, depois de um tempo, vai no meu quarto e me chama pro almoço. Mamãe sempre cozinha pra mim e pro papai, ele adora cozinhar. E a comida dele é sempre deliciosa. Não existe melhor comida do que a de minha mãe...

Depois, eu vou tomar banho pra ir pra escola. Quando eu vou me vestir, às vezes mamãe me ajuda a pentear meus cabelos e passa o perfume do papai em mim. Eu amo aquele cheiro. Cheiro de papai. Do meu papai.

Eu arrumo meu material, pego meu lanche e eu, mamãe e papai vamos pro carro pra ele me levar pra escola. No caminho ele às vezes passa na tia Remy e no tio Foreman pra levar eles no trabalho. Eu adoro a tia Remy e o tio Foreman porque eles são muito legais comigo, sempre me fazem rir e me dão coisas. E junto com eles vem sempre o Kutner, meu primo. Eu gosto muito do Kutner. Nós sempre brincamos de polícia e ladrão, de vídeo game e de bonecos ou carrinhos. Às vezes, nós fazemos trocas: eu empresto meus livros pra ele e ele me empresta alguns dos brinquedos dele.

Quando a gente chega na escola, eu e o Kutner descemos e damos tchau pra mamãe e pros meus tios. Mamãe sempre me dá um beijo na testa e um abraço, e aí eu consigo sentir o cheiro dele. Mamãe cheira tão bem. Adoro o cheiro dele.

Eu e o Kutner entramos na escola e encontramos nossos colegas. Tem o Robert, um menino de cabelo cor de pena de passarinho que adora ficar com a Cameron, uma das minhas colegas. Chase não gosta de brincar conosco, ele tem medo de se sujar; já Cameron está sempre comigo e com o Kutner a brincar de esconde-esconde. Tem o Taub, um menino que sempre sofre por causa da altura, mas ele é super legal e adora brincar conosco tem a Lisa. Ah, a Lisa. Eu adoro a Lisa. Ela é muito legal comigo. Adoro brincar com ela, adoro estar com ela. Ela é muito divertida. E tem olhos azuis como os do papai, mas também é diferente dos dele. Eu não consigo tirar meus olhos dos olhos dela.
Eu sinto umas borboletas na minha barriga quando eu falo com a Lisa. É estranho. Mas é legal. Um dia, a Lisa me beijou no rosto e riu pra mim. Eu fiquei vermelho. Mas também fiquei encantado com ela; a partir daí, eu nunca mais parei de pensar nela. Mamãe me disse que isso se chama amor e que é o sentimento mais lindo do mundo. É o que eu, papai e mamãe, tia Remy e tio Foreman, Kutner, Taub, Robert e Cameron sentimos. Às vezes é de irmão, outras são de casal. E que nós devemos guardar o amor em um pote, pra que ele sempre esteja conosco, assim como minhas estrelinhas - mamãe, papai e todos que eu amo.

Quando o sino toca, todo mundo vai pra sala de aula. A nossa professora, Brenda, às vezes é muito brava, mas no fundo ela gosta da gente. Ela dá aula de Geografia, Matemática, História e Português. E a gente tem outra professora, Stacy, que nos dá aula de Ciências, Artes, Informática e Filosofia. Uma vez a tia Stacy pediu pra gente desenhar nossa família e eu desenhei papai, eu e mamãe. Quando eu voltei da aula, eu dei esse desenho pro papai e pra mamãe. Quando mamãe viu o desenho, ele deu um largo sorriso pra mim e me abraçou forte. Já papai riu e colocou esse desenho na porta do guarda-roupa dele... E nunca mais saiu de lá. Papai sempre mostra esse desenho pras pessoas que nos visitam aqui em casa, e elas me fazem carinho nos meus cabelos enquanto sorriem pra mim. Elas dizem que eu já sou um homenzinho. Às vezes, quando eu ouço isso, meu peito incha de orgulho de mim mesmo. Estou crescendo, eu penso. E crescer é uma das melhores coisas que eu já experimentei.


 
Minhas aulas preferidas são as de Matemática, porque os números são divertidos, e Ciências, que fala da natureza. Acho a mãe natureza, como a professora a chama, uma das coisas mais bonitas que já vi. Adoraria sempre viver com ela...
Fico na escola até as seis horas, quando o tio Foreman vem me buscar. Ele e a tia Remy sempre vêm me buscar porque eles estão voltando do trabalho. Eles também são médicos e trabalham com o papai.

Quando eu chego em casa, mamãe e papai ainda não chegaram. Então meus tios ficam comigo. Eles brincam comigo de mímica. A tia Remy é muito boa nesse jogo - ela sempre ganha de mim e do tio Foreman. Acho que meu tio perde porque ele fica admirando a tia Remy... Também, não é nenhuma surpresa: a tia Remy é lindíssima.

Meus tios ficam comigo até as oito horas, quando a mamãe e o papai chegam. Deixo-os as sós para eles descansarem um pouco pra ficarem comigo, porque de noite é quando nós podemos ficar juntos sem nenhuma preocupação na cabeça.
E quase sempre, eles aproveitam esse tempo para se beijarem.
Quando eles se beijam, eu fico olhando pra cima, pra eles. Aí, quando eles percebem, papai sempre me faz aquela mesma pergunta:
“O que foi pirralho?”, diz ele, rindo.
“Quero um abraço também”, eu respondo.
“O que você acha Jimmy?”, pergunta ele pra mamãe.
“Por que não?”, ele pergunta de volta.
“Então venha, Lucas” diz papai, com aquele ar de “não tenho escolha mesmo”, me pegando no colo (com uma grande ajuda de mamãe, por causa da perna machucada dele). Aí, ele e mamãe me dão um abraço forte, tipo sanduíche. É tão gostoso, eu sinto um calor dentro de mim. E o cheiro deles, se separado é bom junto é melhor ainda. É uma das melhores coisas dos meus dias.
 
Depois disso, mamãe quase sempre percebe que ainda não fez o jantar e corre pra cozinha. O papai ri dele e comigo ainda no colo ele me leva pro piano ou pra sala de música. Enquanto mamãe faz a comida papai toca pra mim várias músicas, ou simplesmente pega um vinil da estante dele. Mas eu gosto mais de ver ele tocar – papai toca muito bem e já me ensinou várias canções, principalmente no piano. É o instrumento que eu gosto mais, adoro deslizar meus dedos nas teclas do piano. Um dia, eu também irei encantar as pessoas com as notas que saem do piano.

Meia hora depois, mamãe nos chama pra jantar na mesa. Eu e papai conseguimos sentir o cheiro da comida da mamãe de longe e ela sempre está muito gostosa – mamãe nunca fez algo que nos fizesse virar o nariz de tão horrível. Gosto muito do jantar, porque é quando papai fala dos pacientes que ele atendeu durante o dia. Hoje, foi uma mulher que usava a bombinha de asma no pescoço dela e achava que aquilo tava certo. Papai disse que se esforçou pra não rir da cara dela. Mamãe e ele fizeram uma aposta que papai não conseguiria ganhar um presente de algum paciente só por causa de que ele o tratasse bem. Bem, com certeza essa paciente não foi a que fez ele ganhar a aposta... Mas foi uma mulher que papai “provou” que estava grávida mesmo não namorando ainda falsificando os exames. Adoro papai! Sempre brincando de irritar mamãe. Sempre enchendo a paciência dele.

Depois de todo mundo comer, mamãe dá boa noite pra mim, me beija e beija papai e vai pro quarto dormir. Papai sobe comigo e sempre me conta histórias, às vezes inventadas ou outras histórias que ele mesmo viveu. Adoro as histórias que ele me conta, eu sempre sonho com elas. Se for uma história sobre príncipes e princesas, em meu sonho eu sou o valente cavalheiro e a Lisa, minha dama. Papai e mamãe são os reis, meus tios são duques e meus amigos são meus fieis ajudantes. Se for uma história de piratas e sereias, eu sou Peter Pan e Lisa é minha Wendy. Enfrentamos quaisquer desafios à frente, voando pelos céus da Terra do Nunca, a rir das trapalhadas do capitão Gancho junto com os meninos perdidos.

Em dias normais, quando eu pego no sono, papai me cobre e me dá um beijo de boa noite antes de ir pro quarto dele e de mamãe. Mas chove, ele chama mamãe e nós dormimos juntos, abraçados forte um no outro para que eu não tenha medo dos trovões. Aí eu consigo dormir tranqüilo, sabendo que nada pode me acontecer enquanto eu tiver os braços deles nos meus... Porque o amor deles sempre há de me proteger das maldades do mundo.


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Notas finais do capítulo

Amor maior, né?



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