Medos escrita por RaiscaCullen


Capítulo 1
Capítulo 1




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Prólogo:

Estava em depressão, meus pais tinham acabado de falecer em um acidente de carro e já não sabia o que fazer. Tentava a todo custo me matar. Sem sucesso.

Meus tios Leonard e Marie decidirão me internar em uma clinica psiquiátrica. Desesperei-me, não queria ir, queria ficar em casa com eles, mesmo tendo dentro de mim o conhecimento que estava com problemas...

                                          ...

Estava trancada em uma sala, não respirava direito, estava amarrada na cama, sem me mexer um bom tempo, meus tios me deixaram e não voltaram mais. Passaram-se dias e os dias se transformaram em meses e os meses se transformaram em anos. Hoje não sabia que dia era, mas sabia que era um dia especial e triste para mim. Já podia andar pelo quarto branco sem precisar da camisa de força e também sair pelos corredores.

Fui até os jardins da clinica. Que dia era hoje mesmo? Voltei apressada para dentro, com o coração batendo forte no peito. Esbarrei em alguma coisa e cai de costas no chão.

-Me desculpe não tinha visto voc.. – Pediu um homem lindo, ele se parecia com um ursinho fofinho que via sempre com uma das garotas. Corada de vergonha levantei-me rapidamente e acenei com a cabeça.

-Então... Qual é seu nome? – Perguntou-me se aproximando, fiquei com medo e me afastei. – Bem, eu me chamo Lorenzo Castelane, sou o novo médico. – Disse, concordei com a cabeça e me afastei ainda o olhando ele acenou uma vez e se afastou. Voltei para o meu pedacinho do céu, e ali eu fiquei ate adormecer.

Acordei soando frio, aquelas vozes não saiam de minha mente. Suspirei resignada e levantei. Já era tarde e eu ainda não lembrava porque era um dia especial, talvez porque hoje de manhã eu conheci um lindinho ursinho.

Fui  procurar algo para comer, mas acho que não estava com tanta fome assim, voltei novamente para meu pedacinho do céu e aguardei. Alguém viria.

                                           ...

Despertei mais uma vez dos meus sonhos sussurrados, já deveria ser bem tarde, levantei-me, estava com sede e teria que ir pegar água. Ninguém tinha vindo me ver. Em umas das tantas portas que ali tinha uma delas estava com as luzes acesas, curiosa espiei pela fresta.

-Sabe que terá que ter paciência com ela. Sofia sofreu muito quando criança. Como pode ver em sua ficha, ela sofreu um acidente e perdeu parcialmente a memória aos cinco anos. Aos dez anos o pai virou um alcoólatra e batia constantemente na mulher, e a mãe a batia por apanhar, aos quatorze anos perdeu os pais em um acidente de carro. Os tios não agüentaram, pois as tentativas de suicídio eram constantes até que um dia foi quase fatal, ela cortou a própria garganta e quase morreu. E hoje ela não fala com ninguém, ela não se lembra de nada somente seu nome. E isso é preocupante para mim, eu não sei se realmente ela deveria de estar aqui á seis anos. – Disse o medico suspirando.

-Não se preocupe eu terei paciência, e depois veremos o que fazer em relação ao seu estado. – Falou a voz do ursinho. Não me lembrava de nada que eles falavam, mas sabia que era algo doloroso, pois as lagrimas faziam trilhas, molhando meu rosto. Voltei para meu pedacinho do céu, tinha perdido a sede. Voltei a dormir.

                                       ...

Acordei tarde, trouxeram meus remédios e meu café da manha para tomar no quarto. Terminei de comer e fui tomar meu banho, vesti um vestido florido e rodado, eu amava usá-lo, era tão lindo. Antes que eu pudesse sair alguém bate na porta, fui abri-la e vejo o ursinho parado sorrindo. Franzi  o cenho, ursinhos não  deveriam sorrir. O olhei desconfiada.

-Posso entrar Sofia? – Perguntou-me, dei de ombros e dei passagem, ele sentou-se em minha cama. Olhei brava para ele, esse urso acabou de desarrumar minha cama. – Sei que você não fala. –Arqueei uma sobrancelha o desafiando. – Bom pelo menos os outros me  falaram isso. Por que você não fala? – Perguntou, ele foi a primeira pessoa que me perguntou isso. Dei de ombros. –Então você nunca falou? Nada para ninguém? Ao menos sabe por que esta internada aqui? – O olhei confusa. – Acho que não. – Disse ao abaixar a cabeça e escrever algo.

-Estou aqui porque tentei me matar, não foi isso ursinho?- Falei pela primeira vez em seis anos, ele olhou-me espantado.

-Você realmente fala! – Alegrou-se

-Eu não queria falar com ninguém, eles podem me machucar, e eu tenho medo. – Disse receosa.

-Medo? Medo de que? – Pergunto preocupado.

-Das vozes na minha cabeça, elas são malvadas, me fazem ter medo de falar. - Respondi balançando a cabeça.

-E o que essas vozes falam?- Perguntou interessado.

-Eu não sei, mas e as suas, o que elas estão te falando?

                                      ...

“Você não deveria estar se apaixonando por um paciente”

Era isso que a voz em minha mente falava. No momento em que nos esbarramos me encantei, e conseqüentemente me apaixonei. Isso tudo em um dia.

Já estava em meu escritório, pensando, ela tinha falado comigo e ate me chamou de ursinho. Um sorriso bobo nasceu em meus lábios.

 Como um homem como eu poderia estar apaixonado por uma garota? Eu tinha vinte e cinco anos e ela somente dezenove e ainda era uma criança no corpo de uma mulher. Isso vai ser minha perdição. Suspirei cansado, levantei e fui ate os registros dos pacientes, peguei a ficha de Sofia e levei ate a mesa e sentei.

Realmente ela não deveria estar aqui nesta psiquiatria com um bando de loucos, ela não tinha problemas tão graves assim, somente a perde de memória parcial e uma grande depressão. Sem grandes problemas, mas que poderia ter sido evitado.

Começaria amanha o tratamento, hoje ela falou pela primeira vez em seis anos pelo que eu percebi e ira me aprofundar mais nisso para ela falar mais sobre essas vozes na mente dela. Teria que deixá-la à vontade para falar novamente.

Realmente seria complicado ficar ao seu lado sem suspirar, mas teria que começar a adquirir sua confiança para começar a conversar, e nada melhor do que tentar ser seu amigo... E isso era um grande problema.

                                          ...

DOIS MESES DEPOIS...

Já se passou dois meses. Cada sessão ela só conversava o essencial, ela já não ouvia tanto as vozes na cabeça, comia direito  e falava somente comigo, e sempre me chamava de ursinho. Realmente ainda era uma criança.

Estava arrumando minhas coisas para mais uma sessão quando bateram na porta.

-Entre. – Disse sem tirar meus olhos das fichas que estava arrumando.

-Está ocupado? – Perguntou o Dr. Thomas, diretor da psiquiatria entrando em minha sala.

-Não Dr. Mas o que o senhor gostaria? – Perguntei.

-Só queria saber como anda Sofia! – Disse calmamente. – Pelo que vejo, ela andou falando muito com você esses dois meses.

-Realmente, mas só fala o essencial. E eu estou indo agora para minha cessão diária com ela se o senhor me der licença, tenho um paciente para atender que esta á minha espera. –Disse ao passar por ele e abrir a porta.

-Sim claro, mas não se esqueça Lorenzo, ela é somente sua paciente. –Disse-me ao sair. Não vou me preocupar com isso, não agora.

Com meus papeis em mãos fui em direção ao quarto de Sofia. Bati na porta, como não ouvi nada entrei logo em seguida. Ela estava ali, sentada em sua cama, linda, seus cabelos ruivos brilhantes estavam presos em um rabo de cavalo, mostrando a cicatriz enorme em seu pescoço, estava com um vestido rosa rodado e com sapatilha, estava linda.

-Oi ursinho! – Disse olhando para seus pés.

-Olá Sofia! Como foi a noite? – Perguntei ao me sentar em uma cadeira.

-Bem. – Disse em um sussurro.

-Hum. – Murmurei ao anotar em sua ficha sua evolução.

Acho que fiquei algum tempo em silêncio somente anotando quando ela do nada começou a falar:

-Sabe que eu sempre achei que aqui é um pedacinho do céu, eu sempre fico mais calma quando eu entro aqui no quarto, por isso quase não saio daqui, sei que posso sair do quarto, ir nos jardins, mas aqui é tão mais calmo, mais lindo. –Disse ainda olhando para o chão.

-Entendo. –Falei confuso. Era impressão minha ou ela estava falando por que eu estava calado? Continuei calado, percebi que ela estava desconfortável com o silêncio.

-Ursinho? Você acha que eu um dia eu poderia sair daqui e nunca mais voltar? Eu sempre achei que eu poderia sair daqui e viver feliz, mas o tempo passou e o sonho se foi. Sei que eu deveria ser normal, mas tem coisas que jamais vão mudar. – Ela falou ao apontar para o pescoço. Fiquei olhando para ela um bom tempo ponderando antes de responder.

-Você nunca deveria de estar neste lugar. – Falei, ela somente balançou a cabeça, e ficou olhando para mim.

-Antes eu também achava isso, mas agora sei que nunca deveria de estar aqui. Só que agora já é tarde de mais para mim, e lá fora é muito perigoso para alguém que não vive fora desses portões. – Disse dando um sorriso triste. –Quem sabe um dia eu consiga ser feliz fora do meu pedacinho do céu? – Falou ao se deitar e fechar os olhos.

-Nada é tarde de mais para ser feliz, mas quem sabe um dia isso aconteça antes que você espera! – Disse ao me levantar e cobri-la. – Bons sonhos meu amor. – Desejei beijando sua testa e saindo do quarto. Só Deus poderia saber o quanto eu queria que você fosse feliz fora desses portões ao meu lado.

                                      ...

UM MÊS DEPOIS...

Já havia se passado um mês e estava tudo pronto para a surpresa que iria fazer para Sofia hoje.

Acordei cedo, tomei meu banho e me arrumei com uma calça jeans, camiseta e tênis. Ontem tinha dito á ela para acordar cedo e se arrumar, claro que me esquivei de todas as perguntas curiosas, dizendo somente para ela se arrumar que no outro dia ela  saberia.

Sai do quarto e fui ate Sofia. Bati na porta três vezes e entrei. Ela estava simples e deslumbrante, vestia um vestido tomara que caia com um casaquinho leve, e nos pés calçava uma sapatilha, seu cabelo ruivo estava solto e batia ate sua cintura fina.

-Vamos? –Perguntei estendendo meu braço.

-Aonde nós vamos? –Perguntou com curiosidade.

-Surpresa. Você vai adorar. –Garanti-lhe.

                                        ...

Cada dia que se passava mais me surpreendia com Lorenzo, agora pensava no nome dele assim e não mais no meu ursinho fofinho, ele era encantador, me sentia bem ao seu lado, chego a pensar que ele me fazia muito feliz por somente sentir sua presença no meu pedacinho do céu.

Sempre conversávamos, geralmente eu falava pouco, ainda tinha vergonha e era tão bom ouvir a voz dele que muitas vezes ficava calada só para ouvi-lo falar. Mas um dia ele não falou, somente dizia poucas palavras, me desesperei e comecei a falar para preencher, seu silêncio estava me consumindo, me vi tagarelando sem para.

Ontem ele havia dito para mim acordar cedo e me arrumar, fiquei muito curiosa, perguntei-lhe o motivo, mas ele se esquivava dizendo que no outro dia eu descobriria.

Acordei cedo, tomei meu banho, escolhi um vestido tomara-que-caia e um casaquinho leve, escolhi uma sapatilha que havia ganhado dos meus tios pelo correio, acho que foi isso que disseram.

Fiquei sentada esperando ele, ouvi três batidas e a porta foi aberta. E lá estava ele, lindo com uma camiseta, calça jeans e tênis.

 -Vamos? –Perguntou estendendo seu braço.

-Aonde nos vamos? –Perguntei curiosa.

-Surpresa. Você vai gostar. – Garantiu-me.

Saímos de dentro da clinica e fomos até os portões, o olhei confusa, mas não falei nada. Ele chamou um carro e entramos, olhei para todos os lugares encantada, cada lugar mais lindo que o outro.

-Vamos Sofia. –Disse ao abrir a porta e sair para me ajudar.

-Onde estamos? – Perguntei.

-Estamos no McDonald´s, vamos tomar nosso café aqui. – Falou ao me puxar para dentro.

Olhei para todos os lados deslumbrada, era tudo tão  colorido, alegre, e principalmente cheio de pessoas. Segurei em seu braço com força.

-Não fique com medo. Vem, vamos nos sentar e ver o que vamos comer. – Falou, assenti com a cabeça e o segui de perto, nos sentamos.

-Que tal pedirmos um hambúrguer com batatas fritas e coca-cola? E de sobremesa um grande Milk Shake, o que acha? – Perguntou divertido.

-Acho que é uma ótima ideia, apesar de não saber do que esta falando. –Disse rindo.

-Esta bem, fique aqui que eu já volto. – Falou ao se levantar.

Olhei para os lados vendo as pessoas felizes, algumas crianças estavam no lado de fora brincando nos brinquedos, e os pais estavam lá cuidando delas, pena que meus pais morreram, tinha lembrado recentemente de algumas coisas do meu passado. Lembrei que minha mãe me batia e que papai sempre chegava em casa engraçado durante á noite, e depois a morte deles.

-Desculpe a demora, mas a fila estava cheia. – Levei um susto com a voz de Lorenzo.

-Não tem problema. – Falei sorrindo.

Começamos comer em meio a conversas.

Terminamos de comer e fomos pedir nosso Milk Shake, eu pedi de creme com chocolate e ele pediu chocolate com morango.

Saímos e começamos a caminhar, olhava tudo a minha volta, as pessoas não me olhavam como se fosse um bicho coitado,  somente olhavam, outras até sorriam para mim.

Fomos ate um parque ali perto, continuamos a caminhar.

-Nossa nunca imaginei que seria assim aqui fora. – Disse eufórica.

-E você não viu nada ainda. –Falou ao me puxar, saímos correndo pelo parque ate pararmos em uma enorme arvore. Ele sentou me puxando junto á ele.

-Realmente isso aqui é lindo. –Falei ao observar o lago a nossa frente, as crianças brincando, correndo de um lado ao outro, felizes.

-Não mais que você. –Falo-me. Olhei para ele confusa.

-Eu jamais fui elogiada antes, muito menos por um homem assim como você. –Falei.

-Pois se acostume, pois sempre será elogiada. –Falou-me ao beijar minha bochecha e levantar. Corei muito com seu ato. -Vamos caminhar mais um pouco antes de ir almoçar.

-Que horas são? – Perguntei espantada.

-Já são onze horas da manha. – Disse me estendendo sua mão.

Caminhamos mais um pouco pelo parque, sempre perto um do outro. Depois fomos almoçar em um restaurante lindo, comemos em meio à conversa e risadas, falamos de tudo, nossos desejos, sonhos, vontades, coragens, presente e o futuro.

Saímos de lá e ele me levou em um parque de diversão, foi o dia mais feliz da minha vida, passamos toda nossa tarde nos brinquedos, andamos nos carrinhos de bate-bate, na roda gigante, comemos cachorro-quente e refrigerante, as pessoas á minha volta sorriam para mim, eram gentis e educadas.

Quando voltamos para a psiquiatria já era noite e a realidade me atingiu, estava voltando para meu presídio, meu dia foi incrível, um dia que eu realizei  tudo que eu gostaria de fazer, mas agora chegou o fim.

Entramos silenciosamente pelos portões e fomos em direção ao meu pedacinho do céu. Entramos rindo. Sentamo-nos, levou um tempo para nos acalmar.

-Gostou do meu mundo? – Perguntou-me olhando serio em meus olhos ao segurar minhas mãos.

-Sim, mas para mim acabou quando eu voltei para meu pedacinho do céu, mas agora eu sei que alem desses portões tem outro mundo alem desse que vivo. –Falei sorrindo.

-E você não gostaria de viver nesse mundo? – Perguntou.

-Sim, eu queria muito, queria sair daqui, construir uma família, ter vários filhos, encontra alguém...

-Alguém que te faça feliz. – Falou.

-Sim, alguém que me faça muito feliz. – Disse o olhando.

-E se esse alguém estiver aqui. – Falou-me misterioso.

-Não estou entendendo. – Disse confusa.

-Eu estou apaixonado por você Sofia, desde o dia em que te vi eu me apaixonei por você. Sei que isso parece estranho para se ouvir, sei também que não fui profissional com você, mas eu te amo muito e faria qualquer coisa por você e...

-Às vezes um ato vale muito mais que mil palavras Lorenzo... Meu amor. – Disse ao selar nossos lábios gentilmente, somente experimentando a sensação de seus lábios nos meus. –Eu te amo. – Sussurrei em meio ao beijo.

-E eu te amo mais, minha vida. – Falou me calando.

Agora eu poderia provar da verdadeira felicidade, pois agora o meu pedacinho do céu estava aqui comigo, provando dos meus lábios todo o amor que eu sentia por ele, fazendo-me uma pessoa sem traumas de um passado bem distante. Uma pessoa sem medos.


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