Após uma aula desastrada de Educação Física eu estava pronta para ir embora. Passei no vestiário novamente e troquei de roupa. Pensamentos voltaram a rondar minha mente. Eu estava preocupada com a minha mãe e pensei em ligar para ela. Acho que quanto mais cedo nós conversássemos melhor seria.         

         - Alô!         

         - Mãe?         

         - Sim. Está tudo bem, Mogie?         

         - Está. Quer dizer, não está.         

         - O que aconteceu?        

         - Ontem eu fui muito rude com você mãe. Você não merecia ouvir tudo aquilo. Eu só disse o que estava dentro de mim a muito tempo.         

         - Você não estava errada. Ontem eu fui tentar dormir e fiquei lembrando do que você disse. Doeu, mas foi importante. Valentim disse que você estava certa e eu também acho. Durante todo este tempo eu vi que você estava crescendo e achei que você não precisaria mais de mim. Vi que é agora o momento que você mais precisa de mim. Muitas vezes eu deixei de ser presente na sua vida, e hoje me arrependo muito.         

         - Mas você ainda pode recuperar este tempo, mãe. É só querer!         

         - Quando eu chegar em casa agente recupera o tempo, ok?         

         - Claro mãe!         

         - Tchau filha, até o almoço.         

         - Tchau mãe. Ah mãe...         

         - Sim?         

         - Eu te amo!         

         - Eu também!         

        Desliguei o celular e fui caminhando até o estacionamento. Me lembrei das palavras de Valen sobre um carro pra mim. Eu amava a idéia de ter um carro. Mas enquanto não tinha continuei caminhando. Senti uma mão fria encostando no meu braço e me arrepiei. Como sempre, Filipe.         

         - Oi!         

         - Oi.         

         - Vai aceitar minha carona hoje?       

         - Huum, acho que sim.         

         - Ok!         

         Ele abriu a porta do carona e eu entrei no carro. Era um Mitsubishi Eclipse preto muito bonito. Fiquei ali durante alguns segundos analisando a beleza daquele carro. Acho que Filipe deve me achar uma estranha que entra em um carro e fica perdida com a beleza dele. Todos os pensamentos se quebraram quando ele puxou conversa comigo.         

         - E então, como você está?         

         - Bem. E você?         

         - Eu estou muito bem!         

         Resolvi tirar a limpo a história do baile.         

         - Sobre o baile, você queria me convidar ou só me convidou para cortar com aquelas garotas?         

         - Eu já estava pensando em te convidar então eu encontrei o momento certo.         

         - Ah sim, entendo.         

         - Mas se não quiser minha companhia eu encontro outro par.         

         Ele fez uma carinha de dó e me fez delirar.         

         - Não, imagina! Faço questão de ir com você! Elas pensaram que eu não poderia ser convidada por você.         

         - Por quê?         

         - Talvez porque você seja o mais popular da escola e eu uma garota sem graça, pálida e seca.         

         - Nossa!         

         - Foi isso que elas disseram.         

         - Mas eu não penso isso de você.         

         - Então o que você pensa?         

         - Bem, você não é o que se podem dizer de “atraente”...         

         Vi que ele deu um sorriso um pouco malicioso e fez sinal de aspas com as mãos.         

         - Mas você é muito melhor do que qualquer garota “atraente”.         

         Aquilo foi no fundo do meu coração e naquele momento eu senti uma vontade de abraçá-lo e dizer que eu o amava. O quê? Eu o amava?         

         - Bem... É...         

         - De nada!         

         Sorrimos juntos. Ele sabia decifrar o que eu queria dizer.          

         - A Theresa não vai embora com você?         

         - Vai. Mas hoje ela decidiu me deixar sozinho. Talvez ela tenha ido acertar os ponteiros com o Luke.         

         - Eles estão juntos?         

         - Parece que sim.         

         - Isso é engraçado.         

         - É! O Luke é todo desajeitado. Meu pai gostou dele minha mãe achou que ele é daqueles garotos drogados.         

         - Sério?         

         - Sério.         

         Dessa vez a risada foi mais duradoura. Comecei a reparar no sorriso dele. Eu já tinha reparado nos vários sorrisos dele mas agora ele parecia estar perdido, perdido em meus olhos. Eu não queria quebrar este encanto mas reparei que já estava na porta de casa e pior: Valen também estava na porta.       

         - Valen está na porta- Cochichei para ele- É melhor eu ir.       

         - Ok.          

         - A não ser que você queira conhecê-lo.       

         - Ah seria uma boa ideia.       

         Descemos do carro e seguimos em direção a porta. Valentim estava com um semblante engraçado. Talvez estivesse duvidando do que estava vendo.                  - Oi Valen! Este é o Filipe Wilker.       

          - Muito prazer, senhor!        

        - O prazer é todo meu! Que bom saber que o filho do meu amigo é colega de classe da Mogie.         

        - É muito bom.         

        - Vocês são só amigos não é?         

       Que pergunta!         

       - Sim.         

         - Pensei que talvez vocês estivessem namorando escondido.         

         Meu Deus que mente era aquela? Mas eu me surpreendi mesmo foi com a resposta de Filipe.         

        - Talvez, quem sabe. Seria bom!         

        - Huum...         

        - Ele está só brincando, Valen.       

        Vi que Filipe estava rindo. Ele havia conseguido me fazer ficar confusa e nervosa. Mas em compensação, o sorriso dele era perfeito.       

       - Bom, porque você não aproveita e se apresenta para a sogra?         

      Agora a casa com certeza iria cair! Minha mãe estava chegando e ficou confusa ao me ver com um garoto. Até então ela não sabia quem era ele.         

      - Estou perdendo algo?         

      - Rita, este é o Filipe Wilker, o namorado da Mogie!         

      - Namorado?         

     - O Valen está brincando, mãe!         

     - Olá, senhorita Rita. Muito prazer!         

      - Olá. Então Valentim, vamos lá pra dentro que nós temos que resolver aquelas questões.         

      - Desculpe a minha mãe, ela é assim mesmo.         

      - Tudo bem, eu não devia ter falado que era seu namorado. Foi só uma brincadeira.         

       No fundo eu queria que fosse verdade.         

       - Não se incomode com isso, está tudo bem.         

       - Então tá, eu vou indo. Tchau!         

       - Tchau e obrigada.         

       - Não há de que.         

       Ele se foi e uma onda de tristeza me invadiu. Não podia negar, eu estava apaixonada. Mas não poderia porque minha mãe o odiava. Mas porque? Que eu saiba não havia razões para isso mas eu deveria descobrir o motivo. E eu ia descobrir. Entrei em casa e fui direto a cozinha, o lugar onde ela com certeza estaria.         

       - Mãe eu gostaria de saber porque você tratou o Filipe daquele jeito.         

       - Eu já não deixei bem claro que eu não gosto daquela família?         

       - Mas porque você não gosta? Nós nem conhecemos eles! Eu particularmente só conheço Filipe, Benjamim, Thereza e o Paul. Ou você já os conhece a mais tempo?         

       - Não!         

       Minha mãe respondeu de imediato e aquilo me assustou. Tava na cara que ela estava escondendo algo. Fingi que havia caído na onda dela.         

        - Tudo bem, mãe, vamos esquecer tudo isso. Eu vou trocar de roupa, nós almoçamos e vamos juntas para a lanchonete, ok?         

        - Ok.         

        Valen olhou para mim com um olhar de “Eu sei o que você vai aprontar” mas eu estava decidida. Eu iria descobrir esta história!