Não sei se chorava de raiva de alguém por ter feito uma brincadeira daquelas, ou se apenas chorava de saudade, dor.

Todo esse tempo, mostrei-me forte, uma garota que não ligava para os pais. Não, eu não sou assim. Querendo ou não. Percebi que Dani estava vindo, escondi a carta debaixo do travesseiro.

– ... estamos fazendo uma torta de li... - ela parou quando viu meus olhos. - O que aconteceu?

– Nada. Só treinando para uma peça do colégio. Tenho que chorar. - menti

– Ah, entendo. - disse ela levantando de onde tinha sentado, ao meu lado. - Depois você me conta ok? tenho que ir terminar a tal torta. Quando estiver pronta - disse ela andando em direção a porta - te chamo.

Peguei a carta de novo. Li de novo. E de novo.

Eu não podia ficar ali, não agora. Arrumei minha bolsa, levei o necessário. Harry Potter e a pedra filosofal, meu celular desligado e uma jaqueta.

Dani e Rafa não me viram saindo, e eu realmente não sabia para onde ir. Fui a um parque que tinha ali perto. Abandonado para o horário, mas eu podia sentar lá. Comecei a ler.

" Ei Harry, como você conseguia em?" eu me perguntava. Depois de alguns 30 ou 40 minutos, um velho senhor chegou ao parque com 2 criancinhas de mais ou menos 5 anos. Elas foram brincar, e eu vi que o homem me observava. "Pronto, é hoje que eu vou ser estuprada" pensei comigo mesma.

– Harry Potter? ótimo livro. Conheci J.K. quando viajei para a Inglaterra. - disse o homem enquanto balançava uma das crianças.

– O senhor conheceu ela? sério? - perguntei enquanto fechava o livro.

– Sim senhorita. Prazer, meu nome é Carlos. - disse o homem

– Paola.

– Sobre J.K. eu a conheci em 2007. Moça bonita, de bom gosto. Só que não consegui conversar com ela muito bem, meu filho teve que traduzir para mim. O pai dessas duas belezinhas aqui. - ele disse enquanto colocava a mão no ombro da menina. Agora que vi melhor, era um casal.

– Eles são realmente lindos. E você, que ótima oportunidade. J.K. é como uma deusa pra mim.

– Ela escreveu no meu livro a seguinte frase: " Nunca desista de quem você é, suas raízes estão aí ". - disse ele como se estivesse recitando exatamente a tradução das palavras. - Não sei porque te conto isso agora Paola, mas você parece uma boa moça.

– Obrigada senhor.

– Tenho que ir agora. Espero vê-la em breve criança. Você parece que gosta de ouvir histórias. Gostaria de contar algumas.

– Obrigada de novo. Nos vemos por aí então. - eu disse, despedindo-me de Carlos.

– Tenha uma boa tarde, Paola.

– O senhor também.

Ele se afastou, com as crianças brincando ao seu redor. Ok, que normal. Um homem de 60 anos (?) que conheceu J.K. e disse-me uma frase assim. Normal, muito normal.

Fui sentar no balanço, e vi uma coisa caída. Era um bloco de anotações, com alguns desenhos. Desenhos realmente lindos. E com a assinatura.

"Carlos Veter"