Eu realmente não consegui dormir mais, mesmo com sono. E frio. Muito frio. 

Eram 4 da manhã e eu não tinha dormido ainda, fui andar pela casa para ver se achava algo. O que eu acharia eu não sei. 

Primeiro passei pela cozinha com um copo de vidro quebrado pela minha "tia" depois de ter visto o tal corpo lá fora. A polícia e ambulância vieram, perguntaram umas coisas para o pessoal, levaram o cara morto e se foram. 

Decidi ir para o corredor dos quartos, não havia janela e seria mais quente, pelo menos eu acho. E foi aí que comecei a ouvir um barulho, parecia alguém empurrando uma cama. Vinha do quarto de Junior. Bati na porta. Eu estava pensando no que falaria quando a porta se abriu.

- Oi, é, hum, você teria uma coberta a mais, lá na sala está fazendo um pouco, hum, de frio. - eu disse enquanto ele me olhava.

- Entre, tenho café aqui, talvez te esquente. - disse ele abrindo um pouco mais a porta dando espaço o suficiente para eu passar.

O quarto dele era surpreendentemente grande. Havia prateleiras e mais prateleiras de livros, alguns retratos na parede, a cama - que por sinal estava impecável, como se ele nem estivesse relado nela durante a noite -, um guarda roupa, uma mesinha com papéis, outros livros e uma jarra com o provável café. Ele me estendeu uma xícara com café e sentou na mesinha.

- Sabe - começou a falar -, eu não consigo te olhar sem lembrar da minha irmã. 

- Irmã?

- Ela morreu a alguns anos. Ela era parecida com você. 

- Desculpe-me. - e tomei meu café. Por que diabos eu estava pedindo desculpa?

- Paola - ele começou a falar novamente -, eu não iria lhe contar, mas é melhor para você. Rafa e Dani são ótimas pessoas, mas não confie neles tanto. Não se entregue. Eles tem um passado um tanto, desesperador, posso dizer. Eu era pequeno, sempre mantive uma amizade com eles, que nem todos aqui tem. Mas fique calma, que mesmo assim eles estão te protegendo de certa forma. - ele disse tudo muito rápido. E eu não tinha expressão nenhuma, ou tinha e não sei definir. Antes de eu falar qualquer coisa, ouvi passos. Rafael estava na porta.

- Paola, vá se deitar. Está tarde, e iremos viajar cedo. 

Eu fui em direção à sala, mas ele ficou na porta. Ouvi alguns cochichos mas não entendi nada.