Capitulo 8

Tudo Errado

Apesar de estar cercado por centenas de zumbis, eles não conseguiam chegar em Daryl. Ele atirava rápido, mas havia um problema. Quanto mais atirava, mais atraia as coisas para ele. Então voltei a atirar ainda mais avidamente, tentando mantê-los longe de Daryl. Pelo barulho de metal sendo arrastado, obviamente os zumbis estavam quase conseguindo abrir a porta da loja, mas eu não ligava; meu foco estava em manter Daryl vivo. Não que ele precisasse – afinal, estava indo muito bem sozinho - mas algo me compelia a fazer isso.

A culpa já me corroia por dentro por ter saído da segurança de casa e eu queria desesperadamente voltar no tempo para apenas dar um tapa na cara de Ethan e depois ficaria tudo bem.

Continuei atirando como se minha vida dependesse daquilo. E dependia. Quando as flechas que Daryl atirava acabaram meu coração falhou por um segundo, mas ele logo tirou uma arma da cintura e continuou a tirar. Respirei fundo recuperando a concentração e recomecei a atirar.

A maioria dos zumbis arranhavam as paredes com suas unhas tentando subi-las até mim, mas uma grande parte também já tinha sua atenção voltada para Daryl.

Ainda faltava um bocado de zumbis para “matar”, mas nada que não pudesse ser controlado. Chamei Daryl e ele deu uma olhada rápida para mim, mas foi o suficiente para ele entender o que eu iria fazer.

Peguei a sniper e armei End. Desci as escadas rapidamente e os zumbis estavam quase derrubando a prateleira. Como algo morto podia ser tão forte? Fui até a prateleira e contra todos os meus instintos puxei-a dando um vão na porta, num tamanho exato para permitir apenas um deles passar por vez. Atirei no primeiro, depois no segundo, terceiro, quarto...

No ultimo deles, eu já estava cansada, minha pele estava pegajosa pelo suor que o calor dali causava e havia apenas duas balas em End. As duas ultimas. Mirei no ultimo zumbi já sentindo a adrenalina dar lugar ao alívio e quando ia atirar, ele caiu agora totalmente morto. Daryl apareceu ali na porta com uma cara não muito contente. Mordi os lábios pronta para escutar uma bronca – de um cara que eu nem conhecia direito – mas quando abriu a boca para falar, ele se interrompeu e antes que ele pudesse falar o que quer que fosse, algo me prendeu e de repente tudo pareceu acelerar.

Daryl apontou sua arma em minha direção, e nesse mesmo momento mãos pegajosas seguraram meus braços e algo estranho encostou em meu pescoço. E então ficou tudo borrado e senti uma dor incômoda em meu braço e Daryl puxou o gatilho, fazendo o barulho ecoar em meus ouvidos numa altura que pensei que fosse me deixar surda, cega e muda.

O que quer que estivesse me segurando caiu, levando meu corpo junto. Com a visão turva, só consegui distinguir a forma de Daryl á minha frente. Senti meu corpo deixar o chão e então luzes. Elas me cegaram e pude ouvir algumas vozes, mas uma se sobrepunha a todas, parecendo preocupada. Meu corpo passou de um par de braços para outro, e então ele pousar em algo macio.

- Ela só está em choque. – uma das vozes explicou, como se já estivesse cansada de dizer aqui.

- E isso no braço? – perguntaram novamente, mas dessa vez não responderam.

Abri os olhos e encarei o teto branco, tentando raciocinar. Minha cabeça latejava e meus ouvidos estavam preenchidos por zumbidos. Zumbidos. Zumbi.

- Ah, droga! – reclamei, tentando me levantar.

- Hey, hey... Vamos com calma! – Emma falou fazendo uma careta.

- O que aconteceu? – perguntei com a voz um pouco rouca.

- Por acaso você conferiu se havia algum zumbi dentro daquele lugar antes de se trancar nele? – Daryl falou, encostado no batente da porta da cozinha, sem olhar para mim.

Fiz careta, pensando na minha idiotice.

Tinha me lembrado de conferir a loja. Mas não os fundos dela.

Bufei, obviamente insatisfeita comigo mesma. Sentei-me, sentindo a uma pontada na cabeça.

- Onde você conseguiu esses arranhões? – perguntou Herschel examinando meu braço, onde se via três arranhões, logicamente feito por unhas.

Engoli sem seco, sem resposta. Abri e fechei a boca algumas vezes. Olhei de canto de olho para Daryl, que olhava para meus pés. Ele balançou negativamente a cabeça e levantou um pouco os olhos para mim, logo os abaixando novamente.

- Eu me machuquei na parede da loja quando fui arredar uma prateleira. Não foi nada de mais... – falei sorrindo como se acreditasse na minha própria mentira. Olhei em volta, á procura de uma pessoa em especial. – Onde está Ethan?

- Ele está lá em cima, com Lori e as crianças. – Savannah respondeu, jogando-se ao meu lado no sofá.

- Ótimo. Se vir ele, diga que é melhor ele fugir de mim o máximo que conseguir. – falei e me levantei indo para meu quarto.

Tomei um banho não muito demorado e coloquei uma roupa limpa. A que eu usava estava manchada de sangue e com a beirada rasgada pelas... Unhas daquela coisa.

Senti um arrepio percorre meu corpo ao lembrar da sensação de seus braços em volta de mim e um enjoo agitou meu estômago. Analisei melhor os arranhões e constatei que eram apenas superficiais.

Deitei-me na cama me cobrindo totalmente. O tempo estava frio e conhecendo bem aquela região, o clima tendia a esfriar e logo a neve cairia, e então não daria mais para sair e buscar suprimentos. Pelo menos não sem um equipamento adequado para andar na neve, o que não seria nem um pouco fácil de achar.

Peguei-me pensando se os zumbis poderiam ficar congelados, o gelo deixando-os impossibilitados de se mover.

Mas que pensamento idiota!, reclamei comigo mesma.

Abaixei o cobertor em busca de ar e ele raspou em minha recente ferida, fazendo-a queimar como o fogo do inferno. Suspirei passando a mão por eles, sentindo as formas das linhas. Meu estômago se contorceu e no mesmo momento um pensamento me atingiu.

Seriam aqueles arranhões o suficiente para me transformar?